Página 8. Aceitação

— Eita, calma aí, coração, sou amigo dela desde criança. A gente brinca assim — disse Fagner, finalmente descendo Tainá.

— E eu já te falei que odeio isso — Tainá respondeu, visivelmente irritada. — Obrigada por me defender desse grude todo — disse ela para Theodora antes de sair.

— Mulheres… vai entender — murmurou Fagner, dando de ombros e saindo.

Graziela olhou para a irmã, intrigada.

— O que foi isso?

— O cara tava agindo feito um babaca. Era evidente que ela estava desconfortável — disse Theodora.

— Babaca ou não, ele é o queridinho da dona Ângela. Ela quer unir ele e Tainá — explicou Graziela, dando uma bronca na irmã.

— A Tainá já é bem grandinha pra isso, não? — perguntou Theodora, surpresa.

— Sim, mas… a vó acha que ela tá “ficando pra titia” — Graziela deu de ombros.

Mais tarde, eles foram jogar sinuca. Os times foram divididos em Theodora e Graziela contra Tainá e Fagner. O jogo era competitivo, e tanto Tainá quanto Fagner mandavam bem, o que começou a irritar Graziela. Enquanto todos levavam na esportiva, Fagner não perdia a chance de lançar suas cantadas para Tainá.

— Essa tacada é difícil… posso te dar uma dica? — disse ele, posicionando-se atrás dela.

Theodora sentiu o rosto esquentar, incomodada com a cena.

— Fagner, dá um espaço. Eu consigo sozinha — Tainá respondeu, empurrando-o de leve.

— Assim eu me apaixono… adoro uma mulher bravinha — murmurou ele, com um sorriso convencido.

Tainá ignorou o comentário, mas Theodora não conseguiu esconder o incômodo.

"Que cara mais babaca, não se toca?", pensou Theodora.

Quando Tainá acertou a tacada, o rosto de Fagner ficou vermelho; ele claramente esperava que ela errasse.

— Viu? Eu consigo — disse Tainá, com um tom de deboche.

— Foi sorte. Disse ele, e Tainá revirou os olhos.

Fagner se aproximou e murmurou, apenas para que ela ouvisse:

— Quero ver você revirar esses olhinhos na cama.

Antes que Tainá pudesse responder, Theodora disparou em voz baixa, mas audível o suficiente para que os dois escutassem:

— Chegou tarde.

Fagner ficou sem entender, enquanto Tainá tentava disfarçar a irritação e um toque de embaraço.

— Ai, gente, cansei. Vou me deitar… — disse Graziela, exausta.

— Vai ter sopa à noite, vai perder — comentou Fagner.

— Quando eu estiver pronta, eu como. — Graziela respondeu, visivelmente cansada.

— Então acabou os grupos. Vou ver o jogo do meu time, se a internet aqui funcionar — ele comentou, saindo em seguida.

Quando Theodora estava prestes a sair também, Tainá a segurou pelo braço.

— Quero ter uma conversa séria com você, garota.

— Já está com saudades? — Theodora respondeu, com um sorriso provocador.

— Não estou brincando, Theodora. Não quero essas brincadeiras e indiretas para cima de mim na frente dos outros. Entendeu?...e não faça essa cara de deboche tá ouvindo?

— Não, você está falando muito baixo… por que não grita? — Theodora provocou, cruzando os braços.

— Então é assim que você quer jogar? Deveria imaginar… o que esperar de uma…

— Uma o quê, Tainá? — Theodora a desafiou, sem desviar o olhar.

— Uma garota que acha que tudo é uma piada. O que a gente está fazendo é errado, e se alguém descobrir? Você ao menos se importa?

— Eu?

— Sim, tenho uma reputação a manter!

— Que piada. Sua reputação é se esconder atrás do armário?

— Eu… eu não estou me escondendo. Eu não sou lésbica, Theodora. O que aconteceu com você foi um caso isolado.

— Pode mentir para todos e até para você mesma… mas eu serei sempre o lembrete de que, mesmo que por um segundo, você viveu o que desejava há tempos.

— Que absurdo! Está me forçando a sair do armário, sua menina abusada? — disse Tainá, já perdendo a paciência.

— Não, Tainá. não estou querendo que você saia do armário. Porque nem no armário você está. Deve estar no fundo de algum baú velho, junto com todo o seu preconceito — respondeu Theodora, saindo furiosa, deixando Tainá encarando o vazio, lutando com seus próprios sentimentos.

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