Página 18. Treinado o coração

Após chegarem à casa de Graziela, Tainá ajudou as meninas a se acomodarem.

— Só não levo vocês ao hospital porque preciso treinar... — disse Tainá.

— Você treina para quê, Tainá? — perguntou Babi, curiosa.

— Quero prestar concurso para a polícia legislativa — respondeu Tainá.

— Hum... Do Jeito que falou Pensei que fosse esportista.

— Não, não tenho esse dom — respondeu Tainá.

— E você nem combina com ser policial, combina mais com professora de geografia. Eu tinha uma professora que se parecia muito com você... — disse Babi.

Tainá deu de ombros, enquanto Theodora ficou sem graça.

— Bom, já vou indo — disse Tainá.

— Eu te levo até a porta — falou Theodora.

— Eu sei o caminho da porta — respondeu Tainá, sem perceber que tinha sido grossa, mas logo depois riu para quebrar o clima.

Quando Tainá saiu, Theodora ficou triste pelo clima estranho.

— Por que você falou aquilo para a Tainá? — perguntou Theodora, irritada.

— Ué, ela parece nossa antiga professora Dolores — respondeu Babi, dando de ombros.

— Não, não se parece em nada... E você veio o caminho inteiro sendo grosseira com ela. O que há com você? Você não é assim — disse Theodora.

— Amor, só estou com medo. Quero que dê certo, mas ando muito nervosa.

— Tudo bem. Vamos guardar as malas no quarto e nos trocar para irmos ver a Graziela — disse Theodora, tentando se acalmar.

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Já no treino, Rui apontava os erros de Tainá.

— Esse planejamento que você fez não é muito bom. Excesso de exercícios pode atrapalhar mais do que ajudar. Posso criar um cronograma mais adequado? Ah, e outra coisa: você corre bem, mas gasta muita energia no início e perde fôlego do meio para o fim.

— Estou ferrada, comecei tudo errado. Tenho pouco tempo para me recuperar...

— Tainá... Vamos conseguir, eu acredito em você. Só precisamos ajustar um pouco essa rotina — disse ele, colocando a mão no ombro dela.

— Agradeço por me ajudar... Mas você não veio pelo Fagner?

— Fiquei sabendo dos seus treinos por ele... Mas estou aqui apenas por você, como antes — disse ele, sorrindo para ela.

Tainá ficou sem graça e rapidamente mudou de assunto.

— Você se lembra da Grazi? — perguntou ela.

— Claro que me lembro. Ela tinha um tio policial, certo? — respondeu ele.

— Sim, isso mesmo. Ela está no hospital agora, vai operar a hérnia de disco. Eu e ela treinávamos juntas, ela também quer entrar para a polícia.

— Parece que ter alguém da polícia como referência foi importante nas escolhas de vocês, né? Pena que não foi assim no meu caso…

— Rui, quero pedir desculpas pelo que meus avós fizeram com você. No passado. — falou Tainá, tentando não se lembrar dos fatos dolorosos.

— Você não tem que pedir desculpas pelo que eles fizeram — disse ele, ainda com dor.

Os dois focaram em silêncio.

— Vamos apostar uma corrida até o hospital geral? — propôs ela, mudando de assunto.

— Aí sim, gostei do ânimo, mas você vai perder — respondeu ele, começando a correr.

— Não vale... — disse ela, correndo atrás dele, tentando alcançá-lo.

As lembranças dos dois adolescentes, correndo juntos, vieram à tona. Logo, estavam lado a lado, rindo como antes.

Até que ele a encurralou perto de uma parede e a beijou. Apesar de ser pega de surpresa, Tainá correspondeu. Os dois se beijavam como se quisessem tirar de si algo que lhes havia sido proibido.

— Rui... Não faça mais isso...

Ela se afastou, andando, e ele a seguiu.

— Por que não? — perguntou ele, sem entender.

Ela continuou andando, até que ele falou:

— Eu não sou homem suficiente para você?

— Você sabe que não é isso…

— Então, por que não me quer?

Tainá olhou para ele, sem saber o que responder.

— Rui, não vai rolar de você me treinar — disse ela, completamente atordoada.

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