As Sombras da Traição

A multidão se aglomerava em torno do Duque, sua voz ressoando na praça, tentando acalmar os ânimos exaltados. Enquanto isso, eu me afastava rapidamente, meus instintos me dizendo que precisava encontrar Célia antes que ela pudesse colocar em prática qualquer plano que comprometesse ainda mais a situação. O festival estava se desenrolando ao meu redor, mas a alegria que deveria estar presente agora era ofuscada por um pressentimento sombrio.

Caminhei entre as pessoas, ignorando os olhares curiosos e os comentários sobre o que estava acontecendo. O desfile de dançarinos e músicos que deveria ser o ponto alto da celebração agora parecia apenas um pano de fundo para a crescente tensão. As palavras do homem com a cicatriz ainda ecoavam em minha mente: “Roderick e seus aliados querem derrubar sua liderança.” A ideia de uma traição interna me deixava inquieto.

Por fim, avistei Célia à distância, em um canto mais afastado da praça, próximo a um grupo de nobres que pareciam discutir em voz baixa. O olhar dela estava fixo em um ponto, e eu não pude evitar que um frio percorresse minha espinha. O que ela estava tramando? Apressando-me, fiz meu caminho até ela, tentando parecer discreto.

“Célia!”, chamei, minha voz baixa mas urgente. Quando ela me viu, seu olhar se desviou, e por um breve momento, percebi um vislumbre de nervosismo em seu rosto. “O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar com o Duque?”

Ela me encarou, a expressão agora fria e calculada. “Estou apenas observando. Às vezes, é melhor ficar à sombra e ouvir o que os outros têm a dizer”, respondeu, sua voz suave, mas com uma dureza subjacente.

“Você não pode ser tão imprudente, Célia. Precisamos nos unir neste momento. O Duque está lidando com uma situação delicada, e se você estiver envolvida em algo que comprometa isso, todos nós estaremos em perigo”, eu a avisei, tentando fazê-la entender a gravidade.

Ela deu uma risada suave, mas não havia humor em sua expressão. “Você ainda não entendeu, não é? A situação já é mais complicada do que parece. Às vezes, os verdadeiros inimigos estão mais próximos do que você imagina.”

“Do que você está falando?” perguntei, a ansiedade crescendo. “Se Roderick está planejando algo, precisamos trabalhar juntos para detê-lo, não ficar em lados opostos.”

Célia olhou para o grupo de nobres à sua frente, que agora parecia mais agitado. “Essas pessoas têm interesses próprios. A lealdade deles não é garantida. E você, Conselheiro, deve ser cuidadoso. Não confie em ninguém além de nós dois.”

“Como assim?” eu disse, tentando processar suas palavras. “Você está insinuando que até mesmo o Duque pode ser uma peça nesse jogo?”

Ela hesitou, sua expressão se endurecendo. “O Duque pode ser manipulado. Ele é uma marionete, e aqueles que o cercam podem não ser tão leais quanto parecem. Você deve começar a fazer perguntas, descobrir quem realmente está ao seu lado.”

Enquanto ela falava, percebi que a multidão ao redor começava a se agitar novamente. Os gritos de algumas pessoas indicavam que a situação estava se deteriorando. “Precisamos voltar”, eu disse, forçando um tom de urgência. “Se o Duque perder o controle sobre a situação, pode ser o fim para todos nós.”

Célia olhou para mim com uma mistura de desdém e curiosidade. “Você ainda acredita que as coisas podem ser resolvidas pacificamente? O conflito é inevitável, e o festival é apenas a chama que acenderá a fogueira. Prepare-se, Conselheiro. O jogo está apenas começando.”

Antes que eu pudesse responder, um grito alto cortou o ar. “Roderick! Roderick!” O nome do antagonista ecoou pela praça, e uma onda de inquietação percorreu a multidão. As pessoas começaram a se afastar, formando um círculo. O que estava acontecendo?

Eu olhei para Célia, mas ela já estava se movendo em direção à confusão. Sem pensar, a segui. Ao nos aproximarmos, vi Roderick no centro do tumulto, cercado por alguns dos seus aliados. Ele parecia estar em plena discussão com um dos nobres, um homem de cabelo grisalho e expressão severa.

“Você não pode simplesmente ignorar o povo! Eles têm o direito de saber a verdade!”, gritou o nobre, sua voz carregada de indignação.

“E o que você sugere? Que eu me curve diante dos plebeus? Eles não entendem a complexidade da política que estamos enfrentando. É melhor que fiquem em silêncio e deixem as questões aos que realmente governam”, Roderick respondeu, seu tom arrogante.

O ar estava carregado de tensão enquanto o nobre respondia, “Mas você está enganando o Duque, e isso não ficará impune. O povo merece saber o que realmente está acontecendo!”

A multidão começou a se agitar, e percebi que o festival estava prestes a se transformar em um motim. Era necessário agir rapidamente. “Precisamos fazer algo”, disse a Célia, minha mente correndo com possibilidades.

“Calma. Espere um pouco. Deixe que eles se desgastem. Não se esqueça de que o caos também pode ser uma arma”, ela respondeu, observando a cena com um sorriso sutil que me deixou inquieto.

A discussão entre Roderick e o nobre aumentava de intensidade. “Se você continuar a tentar desacreditar minha autoridade, fará o povo se voltar contra você, e eu não posso permitir isso!” Roderick gritou, seu olhar ardente.

Nesse momento, alguém da multidão gritou: “Se ele é um traidor, devemos nos levantar contra ele!” O clamor rapidamente se espalhou, e logo a maioria das pessoas estava unida em protesto.

“Roderick, você deve se justificar!”, gritou outro. A pressão estava se acumulando, e eu sabia que a situação estava prestes a explodir.

“Chega!”, Roderick gritou, sua frustração evidente. “Se querem guerra, eu trarei guerra! Mas saibam que suas ações terão consequências!”

Foi então que percebi que Célia estava se movendo para a frente, se juntando ao grupo de nobres que estavam confrontando Roderick. “Célia, o que você está fazendo?”, perguntei em um sussurro desesperado.

Ela olhou para mim com um brilho provocativo nos olhos. “Deixando que as peças se movam. Confie em mim. Isso é apenas o início.”

Antes que eu pudesse protestar, ela estava lá, em pé entre Roderick e o nobre, sua postura desafiadora. “O povo tem o direito de saber a verdade, Roderick. Sua manipulação não será tolerada. O Duque precisa saber quem realmente está ao seu lado.”

O silêncio caiu sobre a multidão, os olhares se voltando para Célia, enquanto Roderick a encarava, seu rosto contorcido de raiva. O jogo havia mudado, e o resultado parecia cada vez mais incerto. Célia havia feito sua jogada, e agora todos nós estávamos presos nas consequências. O que aconteceria a seguir? A linha entre aliados e inimigos estava se tornando mais nebulosa, e a verdade que estávamos buscando parecia mais distante do que nunca.

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