Traços de Traição

O fim da tarde trouxe consigo uma sensação pesada de mudança. As sombras dos altos muros do castelo se alongavam pelo chão, e o silêncio nos corredores era apenas interrompido por passos apressados de servos e guardas. Mas nos bastidores, o verdadeiro movimento estava acontecendo — e, aos poucos, as peças no tabuleiro começavam a se mover de maneira cada vez mais imprevisível. Eu sentia o perigo crescendo, mesmo que, à superfície, tudo parecesse estar sob controle.

Após deixar o jardim, onde encontrei Celia, retornei aos meus aposentos para refletir sobre o próximo passo. A promessa de Roderick de "considerar" a aliança já era um avanço, mas nada podia ser tomado como certo. Sua lealdade ainda oscilava, e enquanto ele continuava a jogar nos dois lados, eu precisava garantir que, no momento crucial, ele se inclinaria para mim. Mas havia uma questão que não me saía da cabeça: se eu havia conquistado Roderick, o Duque também estaria em movimento. Ele não ficaria parado enquanto eu manipulava seus peões.

Enquanto pensava sobre isso, uma batida urgente na porta me tirou de meus pensamentos. Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, e Marienne entrou apressada, seu rosto pálido, os olhos arregalados de preocupação. "Algo aconteceu", ela sussurrou, fechando a porta atrás de si. "Preciso te contar agora, antes que seja tarde."

Fiz sinal para que ela se aproximasse e a observei sentar-se à minha frente, respirando de maneira irregular. Marienne, normalmente controlada e cuidadosa, agora estava à beira de um colapso, e isso significava que as notícias que ela trazia não eram nada boas.

"Fale", disse com firmeza, tentando manter o controle da situação. "O que você descobriu?"

Ela se inclinou para frente, quase como se estivesse temendo que alguém pudesse ouvir do lado de fora. "O Duque... ele sabe. Não tudo, mas já suspeita mais do que deveríamos ter permitido. Ele não falou abertamente, mas um dos espiões dele me abordou hoje, fazendo perguntas. Sobre você."

Meu coração acelerou. O jogo estava apertando, e o Duque estava começando a apertar as amarras ao redor de mim. Se ele estava enviando espiões para sondar Marienne, isso significava que ele já tinha noção de que algo estava acontecendo, mesmo que ainda não soubesse todos os detalhes. O perigo estava mais perto do que nunca.

"O que exatamente eles perguntaram?" Minha voz soou mais fria do que eu pretendia, mas a gravidade da situação era clara.

"Queriam saber com quem você tem se encontrado nos últimos dias, se suas movimentações estavam sendo diferentes do normal. Também perguntaram sobre Roderick, mas não diretamente. Pareciam estar montando um quebra-cabeça, peça por peça." Ela esfregou as mãos nervosamente. "Eu tentei despistá-los, mas não sei quanto tempo isso vai durar. Eles vão continuar investigando, e mais cedo ou mais tarde, o Duque vai ligar os pontos."

Sabia que Marienne estava fazendo o possível para proteger nossa causa, mas os espiões do Duque eram astutos, e se estivessem farejando algo, logo teríamos um grande problema em mãos. Era hora de acelerar o plano, e isso significava tomar decisões que até agora eu vinha postergando. Não podíamos mais agir com cautela — a hora de atacar estava próxima.

"Precisamos agir rapidamente", falei, me levantando e começando a andar de um lado para o outro no pequeno aposento. "Se o Duque está sondando, ele está perto de descobrir algo. E se isso acontecer, ele não vai hesitar em eliminar qualquer ameaça. A próxima jogada precisa ser nossa, antes que ele tenha a chance de agir."

Marienne balançou a cabeça, concordando, mas o medo ainda era evidente em seu rosto. "O que você planeja fazer?"

Respirei fundo, sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. "Roderick precisa ser convencido de uma vez por todas. Se ele vacilar, será o fim. Ele é a chave para termos o poder necessário para desafiar o Duque de frente."

Antes que Marienne pudesse responder, uma outra batida ecoou na porta. Dessa vez, era mais suave, quase como se quem estivesse do outro lado não quisesse ser ouvido. Fui até a porta e abri-a devagar, revelando um jovem servo que mantinha os olhos fixos no chão.

"Mensagem urgente para o senhor", ele disse, entregando-me um pequeno pergaminho lacrado.

Tomei o pergaminho em minhas mãos e o abri rapidamente, com Marienne observando de perto. O conteúdo da mensagem era breve, mas cada palavra tinha um peso devastador:

"O Duque convoca uma reunião com o Conselho ao pôr do sol. Ele já sabe quem é o traidor. Esteja preparado."

As palavras pareciam queimar em minha mente enquanto as lia. O Duque sabia. Ou, pelo menos, acreditava saber. E estava se preparando para fazer um movimento decisivo. Não havia mais tempo para hesitações.

Fechei o pergaminho e me virei para Marienne, que parecia entender o que estava acontecendo sem que eu precisasse dizer uma palavra. "Estamos sem tempo", sussurrei. "Precisamos garantir que, quando essa reunião acontecer, teremos uma vantagem."

Marienne ficou em silêncio por um momento, a gravidade da situação claramente tomando forma em sua mente. Finalmente, ela falou, sua voz cheia de determinação. "O que você precisa que eu faça?"

Pensei por um momento antes de responder. O Duque estava prestes a fazer um movimento, e nossa única chance de sobreviver seria nos anteciparmos. Eu precisava de Roderick ao meu lado, e Marienne teria que desempenhar um papel crucial nos bastidores.

"Você precisa se aproximar mais dos servos do castelo", disse finalmente. "Eles sempre sabem mais do que dizem. Quero que descubra quem está passando informações para o Duque. Precisamos cortar essa fonte antes que ele tenha mais dados sobre nós."

Marienne assentiu, sem hesitar. "Eu farei isso. Mas, e você?"

Sorri de maneira sombria, sabendo que a verdadeira batalha estava para começar. "Eu vou até Roderick. Ele vai tomar uma decisão hoje, quer ele queira ou não."

Enquanto Marienne saía silenciosamente pela porta, deixei meu olhar vagar pela janela do meu quarto, observando o céu começar a tingir-se de tons alaranjados com o crepúsculo se aproximando. A reunião do Conselho seria o ponto de ruptura. O Duque havia mostrado suas cartas, e agora era minha vez de jogar.

Sabia que a partir daquele momento, não havia mais espaço para erros. O confronto que eu tanto tentara evitar estava prestes a acontecer, e eu precisaria de todas as minhas habilidades para sobreviver à tempestade que estava prestes a cair sobre todos nós.

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