O galpão estava mergulhado em sombras, um cenário perfeito para a verdade se revelar. O professor de biologia foi arrastado para dentro pelos soldados, os passos vacilantes denunciando o pânico em seu olhar perdido. Cada som ecoava nas paredes frias, e a respiração acelerada dele era a melodia da própria culpa.
Tio Dante estava ao meu lado, o rosto impassível, mas eu podia sentir a fúria emanando dele. Fiquei apenas observando enquanto o professor tentava falar, tropeçando nas palavras antes mesmo de lhe darmos qualquer instrução.
__ Por favor... eu... eu só fiz o que me pediram... — Ele tremia, a voz entrecortada, enquanto olhava ao redor em busca de uma saída que não existia — Um homem me pagou... queria uma lista das alunas... fotos também. Eu não sabia que era... importante assim. Ele se apresentou como Giano.
O nome escapou dos lábios dele como um sussurro envenenado, mas soou vazio, como um fantasma sem rosto. Giano. Podia ser qualquer um. Podia não ser ninguém. Mas o fato de que alguém, com qualquer nome que fosse, havia ousado se aproximar de Julia... isso era imperdoável.
__ Você tirou fotos de Julia — Dante rosnou, dando um passo à frente. A ira queimava nas palavras dele, e o professor encolheu ainda mais, os olhos arregalados de terror. — E entregou a um estranho?
__ Eu... eu... não sabia! Foi só... por dinheiro. Só dinheiro! — A voz dele era um lamento patético, cheio de desespero.
Assoviei, e Thor entrou. O rosnado profundo reverberou no silêncio, e o professor sabia o que estava por vir antes mesmo de eu dar o sinal. Ele caiu de joelhos, as súplicas jorrando de sua boca como um fluxo sem sentido, mas não havia espaço para misericórdia ali.
__ Você fez sua escolha — murmurei, o olhar firme em Thor. O sinal foi dado. E o cão, um reflexo da minha própria ira, saltou, cumprindo a sentença com ferocidade. As súplicas transformaram-se em gritos, e logo o galpão estava em silêncio outra vez, exceto pelo ressoar das sombras.
Olhei para meu tio.
__ Giano ou não, vamos descobrir quem está por trás disso. — Essa caçada estava apenas começando, e eu já sentia o gosto do sangue que seria derramado para proteger Julia, finalizando ali iriamos até a escola, achava mais seguro falar direto com o diretor e já trazer Julia para casa.
Julia:
A escola parecia me engolir. O silêncio nos corredores era diferente, carregado de algo que eu não conseguia entender. Desde que o professor sumiu hoje cedo, tudo tinha um ar estranho, como se o ambiente soubesse de coisas que eu não sabia. E, ainda assim, uma parte de mim sabia que não era apenas a ausência dele; havia algo sombrio e intrusivo pairando sobre mim.
Quando o celular vibrou na minha mão, meu coração acelerou. As mensagens tinham voltado, mas dessa vez eram piores. Havia revelações sobre coisas que eu jamais quis lembrar, detalhes que deveriam ter ficado enterrados para sempre. As palavras invadiam meus pensamentos como se alguém estivesse abrindo à força portas que eu mantinha trancadas dentro de mim. Coisas que eu passei… Eu era tão pequena.
O pânico se instalou, crescendo dentro de mim com uma rapidez aterradora. Cada letra nas mensagens parecia gritar para mim, jogando na minha cara aquelas lembranças sujas, distorcidas. Eu não conseguia mais respirar. Precisava sair dali, precisava escapar. Corri. Nem pensei, só saí em disparada, quase tropeçando em meus próprios pés, o coração batendo tão forte que doía.
Quando cheguei ao portão, a única coisa que eu vi foi Giovanni. Ele estava ali, como se soubesse que eu ia desmoronar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me envolveu em seus braços, e o mundo pareceu parar por um momento.
__ Está tudo bem, bambina, estou aqui — ele disse, mas as palavras dele não alcançavam o caos que rodopiava dentro de mim.
Senti meu corpo começar a tremer, as lágrimas descendo descontroladamente. As mensagens... eu só conseguia pensar nelas.
Meu pai pegou o meu celular, e o olhar dele mudou assim que viu as palavras que eu não conseguia mais esquecer:
__ Ele é louco... ele é louco... eu era apenas uma criança — repeti, quase em um sussurro, como se isso fosse aliviar a dor, mas não aliviava. Só fazia tudo ficar mais real.
Giovanni me apertou contra ele, e por um instante eu me senti um pouco menos sozinha, mas o medo continuava lá, agarrado a mim. Ele tentava me proteger, mas como alguém pode proteger você de um passado que se recusa a ficar onde deveria?
Giovanni:
O pânico nos olhos de Julia era inconfundível, algo havia acontecido e o alivio em seu olhar quando me viu era a prova, não importava o que era, eu estaria ali, só não imaginava que fosse aquele maldito.
Seu rosto perdeu a cor rapidamente, e eu soube, naquele momento, que ela não aguentaria por muito mais tempo. Antes que seu corpo fraquejasse por completo, avancei para segurá-la. Quando finalmente desmaiou, a peguei no colo com cuidado, sentindo o peso não apenas de seu corpo, mas de tudo o que estava se acumulando em nossa vida.
Corri com ela até o carro e dirigi rápido, o mais rápido que podia, rumo ao hospital. Cada segundo parecia se arrastar, e a tensão que me dominava fazia minhas mãos tremularem no volante. Julia parecia tão frágil, e a cada curva eu olhava para ela, rezando para que acordasse, para que estivesse bem.
Quando finalmente chegamos, os médicos a atenderam rapidamente. Eu sabia que estavam fazendo o melhor, mas o nervosismo era incontrolável. O medo por ela era um nó constante na minha garganta. Enquanto esperava notícias, meu tio Dante apareceu ao meu lado, com o semblante sério e preocupado.
— Tio, — falei em um tom baixo, tentando manter o controle. — Você acha que devemos contar a ela sobre Giano? Sobre o que descobrimos?
Dante me olhou com uma mistura de cautela e determinação, mas não respondeu imediatamente. A dúvida queimava dentro de mim. Eu queria protegê-la, mas como poderia fazer isso se ela não soubesse do perigo que a rondava?
__ Devemos falar sobre o casamento, adiar para o quanto antes, faremos com que esse desgraçado pague por cada gatilho que despertou nela e pelo que fez a minha filha quando era uma menina — falou meu tio enquanto olhamos para ela aguardando que despertasse da sua crise de pânico e que pudéssemos ir para casa.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
virginia Alecrim
Em pensar que situações como a da Júlia acontecem nesse mundo. Onde crianças são vendidas por aqueles que deveriam proteje-las ou são raptadas para satisfazer mentes demoníacas .
2025-03-15
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