Quando saímos do escritório, minha mente estava fervendo. Ver Julia sendo forçada a reviver essas situações era algo que eu jamais deveria ter permitido, mas agora que tudo estava à vista, seria a última vez. Caminhamos até a sala, onde os empregados já se reuniam, e senti o peso de todos os olhares sobre nós. Julia se manteve firme ao meu lado, mas eu sabia que ela estava lutando para não desmoronar.
Assim que nos posicionamos diante do grupo, chamei-a para se colocar à frente:
__ Julia, dê um passo à frente — pedi, com um tom firme. Quando ela obedeceu, o silêncio se tornou quase palpável — Quero que aponte cada pessoa que te desrespeitou ou fez comentários impróprios. Não se preocupe, estamos aqui para você — acrescentei, tentando transmitir a segurança que eu sabia que ela precisava.
Julia, embora hesitante, ergueu o braço e começou a apontar. Um por um, os nomes eram pronunciados: Afonso, Arthur, Filipe, Ítalo. Por fim, como já esperávamos, ela indicou Joana. Eu sentia minha raiva fervendo sob a superfície enquanto cada nome era revelado.
__ São só esses? — perguntei, e Julia assentiu silenciosamente.
Tomei a mão dela com força, como se quisesse transmitir toda a proteção que sempre senti por ela. Olhei para os empregados que ainda esperavam em silêncio:
__ Julia é minha noiva — anunciei, deixando o peso das palavras cair sobre o ambiente — Ela é uma Rossi, como todos nós, e tem o mesmo valor que qualquer membro desta família. Quem se atrever a tocá-la ou desrespeitá-la estará lidando diretamente comigo.
Quando terminei, Enrico deu o sinal para que todos fossem dispensados. Meu tio, no entanto, deu um passo à frente:
__ Vamos todos para o galpão — ele disse com a voz carregada de autoridade — Quero entender como tiveram a audácia de desrespeitar minha filha.
Minha mãe veio direto em direção a Joana, sua expressão era de pura indignação:
__ Você se atreveu a maltratar a minha filha? — ela exigiu saber\, voltando-se para Julia com os olhos marejados. __ Julia\, me diga o que essa mulher fez.
Julia parecia desconfortável. Era visível que ela não queria expor mais detalhes.
__ Mãe, não foi nada de mais — começou ela, mas eu sabia que não era verdade — A cozinheira do orfanato costumava fazer coisas piores. Eu não me importo em ajudar — disse ela, quase como se estivesse tentando proteger Joana.
Isso fez o sangue ferver nas veias da minha tia:
__ Ela não tem o direito de mandar você fazer nada — gritou, sua voz falhando com a emoção — Essa infeliz só vivia se oferecendo para os meninos e agora, por perder a oportunidade de dar um golpe, quer descontar em você — Ela virou-se para Julia, lágrimas escorrendo pelo rosto — Estou decepcionada por você não ter confiado em nós. Achei que soubesse que, para mim, você e Serena são iguais.
Ver minha tia se afastar, magoada, me atingiu como um soco. Meu tio a seguiu, mas antes deu um abraço reconfortante em Julia, sussurrando que tudo ficaria bem. Em meio à dor, Julia abaixou a cabeça.
__ Eu não queria incomodar — disse com a voz pequena — sinto muito.
__ Cuidaremos disso. A partir de agora, ninguém tem culpa alguma. Julia vai aprender a se defender, e estaremos todos atentos — falou Enrico antes que saíssemos pela porta e seguimos em direção à casa da árvore onde eu cuidaria dela.
Quando chegamos à casa da árvore, Julia estava visivelmente abalada. O peso do que aconteceu hoje parecia estar se revelando em cada expressão, em cada olhar perdido. Ela se sentou no chão de madeira, puxando os joelhos para perto do peito como se precisasse se proteger de algo invisível. Eu me ajoelhei ao lado dela, sentindo uma onda de impotência, mas decidido a fazer o que fosse preciso para aliviar sua dor.
__ Você está segura aqui, Julia — sussurrei, tentando tranquilizá-la, não mais como o primo, mas como seu futuro marido, eu queria arrancar dela a dor, mesmo que saiba que isso é impossível — Ninguém vai te machucar novamente.
Ela não respondeu, apenas deixou que suas lágrimas silenciosas escorressem pelo rosto. Peguei sua mão com cuidado, como se qualquer movimento brusco pudesse fazê-la se despedaçar.
__ Estou aqui com você — continuei, puxando-a para perto de mim e abraçando-a com força. Seu corpo tremia de forma quase imperceptível, mas eu sentia. Sentia como se aquela dor estivesse transbordando dela e se espalhando por todo o ambiente.
Deitei ao seu lado na cama, puxando-a para mais perto, envolvendo-a em meus braços. Queria ser o escudo que a protegesse de tudo, queria ser o muro entre ela e qualquer sombra que ainda a atormentasse.
Julia se aconchegou em meu peito, como se buscasse algum tipo de refúgio, mas eu sabia que os pensamentos ainda a perseguiam. Quando ela finalmente adormeceu, o sono não foi tranquilo.
Os pesadelos vieram, e eu senti a agonia em seus movimentos inquietos, nos gemidos abafados de dor que escapavam de seus lábios. Cada espasmo, cada sobressalto, era uma memória que voltava para assombrá-la.
A vi estremecer, a respiração irregular e ofegante. Eu sabia que aquelas lembranças estavam voltando, aqueles momentos horríveis que ela viveu no orfanato, as marcas invisíveis deixadas pelo abuso. Ela murmurou algo, a voz fraca e quebrada, chamando por socorro em um pesadelo que eu não conseguia ver, mas que a torturava sem misericórdia.
Meu coração se apertou, sentindo uma mistura de raiva e impotência. Ela não deveria estar passando por isso. Não agora, não nunca mais.
Apertei-a um pouco mais forte, como se meu toque pudesse espantar os demônios que a atormentavam.
__ Estou aqui, Julia. Estou aqui — sussurrei, mesmo que ela não pudesse ouvir, mesmo que estivesse presa naquele lugar escuro e solitário da mente dela. Beijei o topo de sua cabeça e senti suas lágrimas úmidas contra minha pele, e naquele momento eu desejei poder trocar de lugar com ela, carregar toda a dor para que ela pudesse finalmente ter paz.
Quando a madrugada avançou, os pesadelos começaram a ceder, mas Julia continuou a soluçar em silêncio, como se as lembranças ainda se agarrassem a ela, como garras que não se desfazem facilmente.
Passei os dedos por seus cabelos, murmurando palavras suaves que talvez não fizessem sentido, mas que vinham do fundo do meu ser.
Eu queria que ela soubesse, mesmo em seu subconsciente, que não estava sozinha, que eu estava ali e que ficaria ao seu lado por quanto tempo fosse necessário.
No meio da noite, quando ela finalmente se acalmou, olhei para o rosto dela. Parecia tão vulnerável, tão jovem e marcada pelas cicatrizes de um passado cruel. Ali, em seus traços delicados, vi toda a força que Julia carregava dentro de si, mesmo quando não conseguia perceber isso. E ali, jurei para mim mesmo, e para ela, mesmo que ela não pudesse me ouvir:
__ Você nunca mais vai viver aquilo. Eu juro, Julia, por tudo o que sou. Nunca mais.
Minha voz soou firme, carregada da promessa que eu faria o impossível para manter. A apertei ainda mais em meus braços, como se isso fosse selar meu juramento. Eu sabia que a estrada até a cura seria longa, mas também sabia que estava disposto a caminhar ao lado dela, um passo de cada vez, até que todas as sombras se dissipassem. Julia não estaria sozinha, e nada nem ninguém a faria reviver aqueles horrores. Não enquanto eu tivesse força para protegê-la.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Jeanne Bispo
O amor e o instinto de proteção dele por ela é Surreal...ele sofre por ela sofrer.....Ele sofre pela simples possibilidade de se houver conforto os soldados não protegerem ela como os demais da família .....Que amor lindo..... Ele ainda é uma menina e carrega consigo uma das dores mais nocivas,dor da alma, ela a está quebrada e ele quer juntar os pedacinhos dela ,mesmo sabendo que uma vez o cristal quebrado jamais será como antes, que Amor lindo ele a ama com todas as dores e com todos os monstros do seu passado.
2024-12-26
2
Summer 🔥
Achei Luna dura, principalmente pelo histórico da Júlia.
Seria o momento de acolher e mostrar que poderia contar tudo pra ela!
2024-12-19
2
Wanessa Brasil Lopes
Um príncipe
2024-11-06
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