Cap 14 : Conexão

Eu não podia acreditar que, mais uma vez, a mulher que tira o meu sono estava bem aqui, diante dos meus olhos, prestes a dar à luz, e que eu seria o responsável por ajudá-la a trazer seu filho ao mundo. Saber que ela perdoou o marido e que tiveram um filho me dilacera por dentro. É como se toda a minha esperança tivesse sido arrancada violentamente dos meus braços.

Ela faz uma última força, e, embora eu devesse estar focado, todo esse momento me deixa profundamente emotivo. Quando o bebê finalmente nasce — um menino lindo, saudável —, fico ali, hipnotizado. Não sei explicar, mas sinto como se houvesse uma conexão entre nós. Sei que preciso entregá-lo à mãe, mas uma parte de mim não quer. Quero segurá-lo por mais tempo, admirar cada detalhe daquele pequeno ser. Seu choro é forte, é lindo. Por um breve instante, só por um momento, eu desejava que essa mulher fosse minha e que esse bebê fosse meu filho. O desgraçado que a tem não merece essa riqueza, não quando ele não sabe valorizar.

Com relutância, entrego o pequeno a ela, que chora emocionada ao finalmente tê-lo nos braços. Eu a havia encontrado, mas não foi como imaginei. Nos meus sonhos, eu me apresentaria a ela, a convidaria para sair, já que estaria divorciada, e diria que nunca a esqueci. Enquanto minha mente vagueia pelos meses, tentando lembrar a data exata em que possivelmente ficamos juntos, uma possibilidade me passa pela cabeça: eu precisava olhar minha agenda.

— Obrigada, doutor Cristhian — suas palavras de agradecimento me tiram do transe.

— Foi um prazer ajudá-la novamente — digo, olhando para o bebê, buscando alguma semelhança. Seus cabelos, ainda sujos de sangue e restos do parto, parecem ser dourados ou ruivos, como os meus quando eu era criança. Mas o marido dela tem cabelos loiros.

— Ela está bem, doutor? — A voz do marido dela corta o momento tenso entre nós.

— Sim, ela e o bebê parecem estar bem — respondo.

Os sons de buzinas ecoam pela avenida, indicando que a via foi liberada, e motoristas impacientes querem seguir seus caminhos.

Tiro meu cartão do bolso e o entrego para ele. Em seguida, verifico se tudo está sob controle. Após fazer tudo o que era possível ali, oriento-os a procurar o hospital mais próximo, onde o cordão umbilical poderá ser cortado de forma adequada. E eu sabia que seria o meu hospital. Assim, eu tiraria minhas dúvidas.

Corri para o meu carro, que estava a uns dez carros à frente. Entrei apressadamente e dei partida em direção ao hospital. Ao chegar, vi que a ala de traumas estava lotada.

— Dr. Moretti, que bom que chegou. Temos uma adolescente de catorze anos. Ela escorregou na escada, caiu e bateu forte a cabeça. Teve perda de consciência no local, e fizemos o primeiro atendimento. Está vomitando e sente tontura — Dr. Sherlla me passa a triagem enquanto caminhamos até o quarto onde a paciente está.

É uma linda adolescente, com cabelos castanhos escuro e olhos claros. Ela está pálida.

Emma

— Qual é o seu nome? — pergunto.

— Emma — ela responde, fraca.

— Seus pais estão com você? — pergunto enquanto a examino.

— Sim, meu pai e minha madrasta — ela responde, com a voz debilitada.

— Emma, você vai precisar fazer um exame, tudo bem? Assim que tivermos o resultado, decidiremos o melhor tratamento para você — digo, e ela apenas acena com a cabeça.

— Leve-a para fazer uma tomografia e, assim que o resultado sair, traga-o para mim — peço à Dr. Sherlla.

Após a Dra. Sherlla sair, peço a um dos enfermeiros que me avise se um casal com um bebê recém-nascido chegar. Enquanto isso, vou examinando outros pacientes que estão sendo trazidos para mim. Logo, Dra. Sherlla retorna com o resultado da tomografia, e foi exatamente como eu imaginei: trata-se de uma concussão leve.

Dirijo-me ao quarto da Emma para explicar aos pais dela  o tratamento que ela precisará seguir. Chegando ao quarto, encontro uma mulher ao lado da garota, que suponho ser a madrasta.

— Com licença. Prazer, sou Dr. Moretti, neurocirurgião, estou com os resultados do exame dessa mocinha — digo sorrindo gentilmente para Emma.

— Sou a madrasta dela. Safira. E é grave, Dr. Moretti? — ela pergunta com uma voz que me lembra a Natasha.

— Não, pode ficar tranquila, que foi uma concussão leve, ela vai precisar ficar aqui em observação pelas próximas quarenta e oito horas, será medicada com medicamentos para controlar as náuseas e soro para hidratar. Mas em casa, vai precisar manter repouso, sem telas, esforço físico por pelo menos duas semanas. Após duas semanas do repouso, retorna para fazermos uma nova tomografia — digo e percebo que a madrasta dá um sorriso forçado.

— Ai, graças a Deus! Essa mocinha me deu um susto, estava tão preocupada com você, amor — ela diz, acariciando os cabelos da menina. Mas percebo um leve desconforto da Emma ao toque de sua madrasta.

— Emma, mais tarde volto para ver como está — digo, enquanto a garota ri timidamente.

No caminho para o meu consultório, torci para que nenhum paciente aparecesse para a parte de neuro, porque agora eu queria pegar minha agenda e procurar a data em que possivelmente estive com Hanna.

Já no meu consultório, comecei a procurar na minha agenda e, finalmente, encontrei minhas anotações daquele dia. Peguei uma calculadora e, por coincidência, descobri que eram exatamente quarenta semanas. Esse bebê poderia ser meu. Não sabia se era uma possibilidade real ou se eu apenas não aceitava que uma mulher tão maravilhosa como Hanna pudesse ter perdoado o crápula do marido e ainda engravidado dele.

O que eu pensava em fazer a seguir era antiético e poderia me causar problemas, mas eu precisava descobrir se aquele lindo bebê era meu filho. As batidas na minha porta me tiraram dos pensamentos.

— Pode entrar — digo, e o enfermeiro que estava lá quando ela chegou entra.

— Mil perdões, Dr. Moretti. Faz um tempo que a moça que ganhou o bebê no trânsito chegou, mas parece que o ex-marido dela apareceu também, e está rolando um barraco lá embaixo.

— Ex-marido? — pergunto, confuso.

— Sim, ela está com o atual, e o ex chegou — ele diz, deixando-me ainda mais intrigado.

— Eu vou lá averiguar — digo, apressando-me em direção ao elevador.

Já lá embaixo, os seguranças tentavam conter dois homens. Um deles eu reconheci como o marido de Hanna, mas o outro eu nunca havia visto antes. Ela estava com o bebê no colo, chorando e parecendo desnorteada. Meu coração doeu ao vê-la naquele estado, especialmente depois de toda a emoção do parto normal; aquela situação não era boa para ela.

Com passos largos, caminhei até os dois homens, sentindo uma fúria crescer dentro de mim.

— Os dois babacas se esqueceram de que estão em um hospital? — falo firme, fulminando-os com meu olhar cheio de raiva.

— Qual é, doutorzinho? Está se achando o dono do hospital para falar assim? — diz o homem desconhecido, enquanto um segurança o imobiliza, segurando seus braços para trás. Olho para ele e dou um sorriso sarcástico antes de responder.

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Comments

Onilda Furlan

Onilda Furlan

esse ex dela é um idiota mesmo

2025-03-08

1

Solange Maria Martins

Solange Maria Martins

Otávio idiotas

2025-03-10

1

Sheyla Cristina

Sheyla Cristina

Eita barraco de feira

2025-02-13

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