**Um mês depois...**
Dói-me ver o medo nos olhos de Emma. Ela teme que o pai não acorde mais. Todos os dias, ouço-a orando, pedindo a Deus que ele melhore. Agora, a caminho do hospital, temo a notícia que me darão. Ligaram cedo, pedindo que eu fosse até lá. Deixo o carro no estacionamento e, com o coração batendo forte, passo pela porta de emergência.
Observo o ambiente ao redor. Duas mulheres choram desesperadamente. Mais à frente, uma mulher abraça um médico com um sorriso largo e olhos lacrimejando. Com certeza, recebeu uma boa notícia.
Me pergunto se receberei também uma boa notícia para Emma.
— Senhora Raquel, como tem passado? — O médico que tem cuidado do Otávio me pergunta.
— Levando a vida, e preocupada com a ligação de vocês — respondo.
— As notícias são boas, fique tranquila, o Otávio acordou, continua um pouco desorientado, o que é normal no quadro dele, já que sofreu algumas lesões no cérebro e ficou em coma — ele me explica, me deixando aliviada.
— Ótimo, graças a Deus, posso vê-lo? — pergunto.
— Claro.
Já na porta do quarto, respiro fundo antes de girar a maçaneta, sinto um mal-estar, uma náusea horrível, sintomas que mostram que a minha ansiedade está nas alturas. Quando entro, uma enfermeira estava aplicando remédio em sua veia. Sinto um nó se formar em minha garganta, a mágoa crescente em mim, lembrando-me da noite anterior ao acidente. Quando percebe a minha presença, ele abre um sorriso, já eu mal consigo olhar nos olhos dele.
— Amor, que bom te ver, até que enfim um rosto familiar. Vem aqui — ele pede, com a voz fraca, como se nada tivesse acontecido. Como tem coragem de ainda me chamar de amor?Me aproximo e sento na cadeira ao lado do leito dele.
— Está em choque, né? Imagino como foi desesperador para você pensar que eu ia te deixar sozinha com nossa Emma ainda tão pequena — ele diz, e acho estranho.
— Seria difícil para ela ficar sem você. Ela é muito apegada a você — digo, fria.
— Você está bem? Está chateada com alguma coisa? — ele pergunta. Deve estar de brincadeira, ainda pergunta isso.
— Acho que depois do que aconteceu, não tem como não ficar chateada — digo.
— Amor, você continua triste porque não fui com você prestigiar sua amiga? — ele pergunta, e não entendo do que ele está falando.
— Que amiga? — pergunto.
— Denise, a exposição dos quadros da Denise — ele diz, e não pode ser. Isso foi há dez anos, quando Emma tinha três anos. Ele ficou até tarde no trabalho e esqueceu de ir ao meu encontro na exposição.
— Otávio, do que você se lembra? De antes do acidente, do que você se lembra? — pergunto.
— A minha última lembrança é da semana da exposição dos quadros da Denise. Ela havia feito umas pinturas da Emma e da nossa família para expor na inauguração da galeria dela — ele diz, e que merda! Não acredito que esse miserável não se lembra de nada do que fez nos últimos dez anos.
— Vou chamar o médico — digo, saindo do quarto. Me sinto tonta, acho que tudo isso ainda vai acabar com meu psicológico.
Pedi a uma enfermeira para chamar o médico e voltei para o quarto. Ele me olhou, visivelmente confuso com o meu comportamento.— O que está acontecendo? — ele perguntou, preocupado.
— Vamos esperar o médico, mas parece que você se esqueceu de alguns eventos da sua vida — respondi, tentando manter a calma.
Pouco depois, o médico entrou no quarto, e eu o chamei para conversar em particular do lado de fora.
— Doutor, meu marido só se lembra de coisas que aconteceram há dez anos. Para ele, os últimos dez anos simplesmente não existiram — expliquei, a preocupação evidente na minha voz.
— Vamos fazer novos exames para entender o que pode estar acontecendo. Mas já adianto que, dada a gravidade das lesões que ele sofreu, a perda de memória é algo relativamente comum. Pode ser temporária, mas também pode ser permanente.
As palavras do médico foram como um golpe. A ideia de que Otávio pudesse nunca mais lembrar dos últimos dez anos era um pesadelo. Como isso podia estar acontecendo comigo? Como, depois de tudo o que Otávio fez? Que ironia cruel do destino... Será que esse traidor vai realmente sair impune, sem se lembrar dos próprios pecados?
A raiva em mim era crescente; eu queria entrar naquele quarto e bater na cabeça de Otávio até ele lembrar toda a dor que me causou. Comecei a chorar descontroladamente.
— Acalme-se, senhora Raquel. Sei que é uma notícia difícil, mas tenha esperança de que essa perda de memória seja temporária — o médico tenta me consolar, pensando que choro por pena de Otávio. Na verdade, choro de raiva. Não é justo que eu tenha que permanecer como esposa de Otávio quando, na verdade, quero ele bem longe de mim.
Começo a respirar fundo, tentando me controlar. O impacto é tão forte que a vontade de vomitar vem. Levo a mão à boca e entro correndo no banheiro, onde vomito tudo que comi.
Quando saio do banheiro, sentindo-me fraca, o médico e Otávio me encaram, como se tentassem entender o que aconteceu comigo.
— A senhora está bem? — pergunta o doutor, se aproximando.
Antes que eu consiga dizer algo, sinto minha visão ficar turva e meu corpo perder completamente a força. Acordo em um quarto que não é o de Otávio, com um acesso no meu braço ligado a uma bolsa de soro.
— A senhora se sente melhor? — pergunta uma enfermeira.
— Estou. Eu desmaiei? — pergunto, confusa.
— Sim, está muito desidratada. Vou colher seu sangue para exames, tudo bem? — Ela pergunta, e eu balanço a cabeça, consentindo.
Ela vem com uma seringa, amarra uma borracha mais acima no meu braço e, após achar a veia, espeta a agulha, causando um pequeno desconforto.
— Prontinho. Em algumas horas os resultados estarão prontos — ela diz, sorrindo de forma gentil.
— Obrigada.
Ela sai e, antes que a porta se feche, Rebecca entra.
— Mana, o que houve? Vim visitar o Otávio e ele me disse que você passou mal — ela diz, com um semblante preocupado. Me dá um beijo na testa e senta ao meu lado na cama.
— Eu acho que todo esse estresse e correria, sem me alimentar direito por causa da ansiedade, fez meu corpo não aguentar — digo, sentindo-me exausta.
— Eu imagino, minha irmã. Mas, em meio a tudo isso, o Otávio finalmente acordou e logo você terá seu marido em casa — ela diz, segurando minha mão e fazendo carinho com o polegar. Mal sabe ela o turbilhão que está aqui dentro de mim e que até agora não tive a oportunidade de contar para ela tudo que aconteceu.
— Sim, logo ele vai para casa — digo, soltando um longo suspiro.
Rebecca ficou comigo esperando o resultado dos meus exames para voltarmos juntas para casa. O médico chegou finalmente com meus exames em mãos.
— Já analisei seus exames. A senhora está com anemia e grávida. Meus parabéns, senhora Raquel — suas palavras me atingiram em cheio. Ainda bem que estou deitada, porque com certeza eu cairia no chão. Não, não pode ser, deve haver um engano.
— Eu não posso estar grávida — digo, me negando a aceitar, enquanto Rebecca me abraça chorando de felicidade. Meu estado é de pânico total.
— Um bebê, minha irmã, que dádiva — ela diz.
— Não deve haver um engano — digo, sentindo o ar fugir dos meus pulmões.
— Os exames não mentem, senhora Raquel. Está aqui. Olhe, a senhora está grávida. — O médico me mostra o exame. Pego com minhas mãos trêmulas e vejo o resultado positivo para beta-HCG.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Solange Maria Martins
ele ta fingindo
2025-03-09
1
Bell Belmonte
grávida
2025-03-09
2
Bell Belmonte
Faria ele lembrar rapidinho,safado
2025-03-09
2