Gavin dirigia apressadamente pela avenida, enquanto eu me agarrava ao cinto de segurança, tentando controlar a respiração a cada nova contração que surgia sem misericórdia. De repente, senti o calor do líquido quente escorrendo pelo meu vestido.
— Minha bolsa rompeu — anunciei, com a voz trêmula, enquanto uma onda intensa de dor se espalhava pelo meu corpo.
Gavin arregalou os olhos, claramente tomado pelo pânico. — Ai, meu Deus! — exclamou, batendo no volante com frustração. — E esse trânsito que resolveu parar justo agora?
O carro estava preso em uma longa fila de veículos, e as luzes vermelhas dos freios se estendiam à nossa frente como uma barreira intransponível. Gavin alternava entre olhar para mim e para o trânsito, visivelmente desesperado, enquanto eu tentava me preparar para a próxima contração que já se aproximava.
— Eu vou ver o que está acontecendo. Fica tranquila, vamos chegar a tempo no hospital — ele diz, tentando me tranquilizar. Eu apenas aceno com a cabeça, incapaz de formar palavras.
Assim que ele sai do carro, sinto uma onda de calor seguida de um frio cortante que me faz tremer. A dor é intensa e começa a tomar conta do meu corpo. Meu Deus, não posso entrar em pânico agora! Fecho os olhos com força, tentando respirar profundamente, mas outra contração me pega de surpresa, me arrancando um gemido.
Alguns minutos depois, Gavin volta com um semblante mais aliviado. — Um acidente, mas tem um médico a caminho do hospital e ele vai vir ver você. Vai ficar tudo bem — ele diz, claramente tentando me confortar.
— Está bem... mas pela dor que estou sentindo... e pela força que meu corpo está fazendo... — minha fala é interrompida por outra contração, dessa vez mais forte. Eu sei o que isso significa. Está chegando a hora.
Quando a dor diminui, tento focar meus pensamentos. Não temos muito tempo. — Acho que não vamos chegar ao hospital a tempo — minha voz sai trêmula, ofegante.
Gavin se vira para mim, o rosto agora marcado pela preocupação. — Você acha que não vai dar tempo?
— Não, acho que não. É melhor eu ir para o banco de trás. Ainda bem que seu carro é espaçoso — murmuro entre respirações pesadas, sentindo outra contração se aproximar.
— Então vem, vou te ajudar — Gavin diz, apressado, mas cuidadoso ao me apoiar enquanto me desloco para o banco de trás.
Cada movimento parece aumentar a intensidade da dor, como se meu corpo estivesse se preparando para o inevitável. Assim que me acomodo, começo a me contorcer novamente com outra onda de contrações, suando frio enquanto Gavin olha desesperadamente pela janela, procurando sinais do médico.
— Graças a Deus, ele está vindo! — Gavin solta um suspiro aliviado, enquanto eu apenas consigo soltar um gemido entrecortado.
— Ai... que bom... — mal consigo terminar a frase antes de outra contração me atravessar como uma lâmina, rasgando-me de dentro para fora.
— Ela está aqui, doutor! — ouço Gavin dizer, sua voz cheia de alívio e urgência.
Sabe aquela expressão "se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come"? Era exatamente como eu me sentia agora. Uma ironia cruel do destino. Não podia ser verdade... o médico de quem Gavin falou não podia ser ele. Meu Deus, era ele. O pai do meu bebê.
Nossos olhos se encontraram, e o tempo pareceu parar. Ele me olhava com uma mistura de surpresa e choque, talvez até confusão. Ficamos ali, imóveis, como se o mundo tivesse parado, até que outra contração violenta nos trouxe de volta à realidade.
— Eu sou o doutor Cristhian Moretti. Sou neurologista, mas já fiz partos de emergência antes. Fique tranquila — ele disse, recuperando a compostura e abrindo a maleta com mãos ligeiramente trêmulas. — De quantas semanas você está?
— Quarenta semanas exatas — respondi, tentando manter a respiração sob controle, mesmo com o coração disparado. Não conseguia acreditar na situação absurda que eu estava vivendo.
Ele passou álcool nas mãos, agindo com profissionalismo, mas seus olhos denunciavam o choque de me ver ali, naquele momento. Parecia fazer um esforço tremendo para se concentrar.
— Certo, retire a calcinha, por favor. Preciso ver como está a evolução do parto — disse ele, sua voz firme, mas seus olhos... era como se ele estivesse me vendo pela primeira vez, e não como mãe do bebê que ele desconhecia.
Senti meu rosto queimar de vergonha. Deus, que situação! Mas segui suas instruções, enquanto ele, com um olhar de desculpa silenciosa, pediu licença e examinou minha intimidade.
— Não vai dar tempo de chegar ao hospital — disse ele, a voz séria. — Seu bebê já está nascendo. Na próxima contração, faça força prolongada na intensidade da dor.
Mal ele terminou de falar, outra contração me atingiu com força. Gemi alto e, como ele instruiu, empurrei com toda a minha força, sentindo cada músculo do meu corpo colaborar no esforço.
— Trouxe as coisas do bebê? Vou precisar de uma manta — ele disse a Gavin, que estava logo ali ao lado, visivelmente nervoso.
Gavin, visivelmente nervoso, entrega a manta para o bebê com as mãos trêmulas. Enquanto isso, Cristhian se inclina para mim, a voz calma, mas firme.
— Vamos, o seu bebê já está quase nascendo. Preciso que você faça mais força agora. Controle a respiração, você está indo muito bem — ele me incentiva, sua presença tentando transmitir confiança. — Qual é o nome do bebê?
Balancei a cabeça, ofegante, com lágrimas já se acumulando nos meus olhos, mais pelo momento do que pela dor.
— Ainda não escolhi o nome — respondo, minha voz saindo entrecortada, enquanto respiro pesadamente.
Ele me dá um sorriso suave, um gesto pequeno, mas reconfortante no meio daquele caos. — Tudo bem. Na próxima contração, reúna toda a sua força. Seu bebê está quase aqui.
Sinto o corpo se preparar enquanto outra contração se aproxima, mais forte, quase brutal. Cristhian continua a me orientar, sua voz guiando minha concentração, e quando a dor atinge seu ápice, eu junto cada fragmento de energia que ainda tenho, empurrando com força.
A sensação é indescritível, como se o bebê estivesse me rasgando por dentro, cada centímetro trazendo uma mistura de dor e alívio. Solto um grito primal, mas ao mesmo tempo, sinto o movimento — o bebê está vindo.
Com meu último fio de força, nasce meu bebê. O som de seu primeiro choro é como um bálsamo que cura cada ferida aberta dentro de mim. Cristhian segura o bebê nos braços, com os olhos cheios de admiração e emoção, sem saber que está segurando seu próprio filho. Talvez o destino tenha guiado suas mãos, sem que ele percebesse, para que estivesse aqui neste momento. Eu choro, profundamente emocionada, ao ver essa cena diante de mim. Choro de alegria ao ver meu bebê forte e saudável, e ao sentir que, com o nascimento dele, também renasci.
— Meus parabéns , o seu filho é lindo — diz Cristhian, sua voz carregando uma leve pontada de tristeza. Ele coloca meu pequeno sobre meu peito com todo cuidado, sem saber que é seu próprio filho. Sinto o calor do meu bebê contra mim, e as lágrimas que já estavam em meus olhos transbordam ainda mais. É uma mistura de alegria e dor, sabendo que ele não faz ideia da verdade enquanto o observa com carinho e emoção.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Eura Tavares Pessoa
Que capítulo maravilhoso demais emocionante parabéns escritora nota mil para você.
2025-03-07
8
Sandra Pereira
Que lindo...o pai fazendo o parto do próprio filho sem saber./Heart//Heart//Heart/
2025-03-11
1
Vilma Pereira
Esse momento foi divino, um pai fazendo o parto do filho sem saber
2025-03-10
1