Estava com trinta semanas de gestação, divorciada e morando em um minúsculo apartamento. Otávio havia ganho na justiça, alegando ser o homem traído, e ainda sofreu um acidente por estar bêbado e chorando após descobrir a suposta traição. Fui obrigada a indenizá-lo. Era uma grande injustiça, mas eu não tinha como provar minha inocência, então ficou por isso mesmo. Emma continuava me odiando.
Às vezes, eu me sentia a pior mãe do mundo. Meu bebê merecia uma mãe que trouxesse luz e risadas, mas tudo o que eu parecia fazer era deixá-lo em lágrimas. Rebecca insistia que eu me mudasse para sua casa, mas a ideia de ser um fardo me deixava angustiada. Com o pouco dinheiro que me restou, comprei este pequeno apartamento, um espaço que, apesar de modesto, se tornou meu refúgio em meio ao turbilhão emocional. Consegui um emprego como assistente home office para meu advogado, que, tocado pela minha situação, decidiu me apoiar. Ele prometeu que, quando o bebê nascer, poderei trabalhar diretamente com ele, aproveitando minha formação em administração jurídica. Essa promessa acende uma chama de esperança em meio à incerteza que me cerca, mas a sombra da dúvida ainda se instala em meu coração.
Sete semanas depois...
Estava faltando pouco para o meu pequeno príncipe chegar. Ainda não havia decidido o nome, a ansiedade estava a mil, e, apesar de toda a luta, eu estava feliz. Emma ficou comigo neste final de semana, mas ela ainda não acredita em mim. Disse que veio apenas porque o pai a obrigou, mas ele só fez isso porque queria passar o final de semana com a Safira, que agora é a absoluta dele.
Mais tarde, eu e Rebecca fomos comprar as últimas coisinhas que faltavam para o enxoval do bebê. Minha barriga estava tão pesada que essa gestação estava literalmente acabando comigo. Meus pés inchados, a vontade de fazer xixi a cada cinco minutos, azia, refluxo e insônia eram o brinde desse pacote.
— Acho que compramos tudo — digo, sentindo toda a exaustão da correria que foi andar por todo o shopping.
— Sim, mas agora estou morrendo de fome — ela diz, passando a mão na barriga.
— Eu também. Vamos ao restaurante novo que inaugurou aqui esta semana. Está sendo um sucesso — respondo.
Fomos ao restaurante, um ambiente muito aconchegante, bem iluminado, com um toque sofisticado. Sentamos em um lugar mais discreto e fizemos nossos pedidos, que não demoraram a chegar.
Aquele era o momento de relaxar, após um dia tão longo e exaustivo. Enquanto esperávamos nossos pratos, minha mente voltou para Emma. Sua visita foi fria, e o jeito como ela me olhava com desconfiança doía. Ela ainda era minha filha, mesmo que a situação entre nós estivesse complicada. Talvez, com o tempo, ela entendesse as escolhas que precisei fazer, mas por enquanto, só me restava a esperança.
Rebecca percebeu meu silêncio e sorriu, tentando me animar.
— Ei, não fica assim. Essa fase vai passar, e logo seu príncipe estará aqui, trazendo ainda mais felicidade — disse ela, me entregando um guardanapo.
— Eu sei. Só fico pensando em como vai ser depois... Como tudo vai se ajeitar.
— Tudo vai dar certo. Sempre dá, de um jeito ou de outro.
Quando a comida chegou, a distração foi bem-vinda. O sabor estava incrível. Comemos, e meu bebê parecia aprovar a comida. Cada garfada da massa ao pesto era acompanhada por um chute suave, como se estivesse dançando dentro de mim. Aquele movimento me fazia sorrir, trazendo um misto de felicidade e ansiedade. Como de costume, bastou um copo d'água para que a urgência de ir ao banheiro surgisse com força.
— Preciso ir ao banheiro, minha bexiga vai estourar! — brinquei, tentando disfarçar o desconforto, enquanto Rebecca sorria, compreensiva.
— Vai lá, eu vou pagando a conta — ela respondeu.
Caminhei apressada até o banheiro, sentindo a pressão constante na bexiga. Parecia que havia bebido o oceano inteiro. Depois de finalmente aliviar essa necessidade, lavei as mãos e, ao olhar para o espelho grande à minha frente, fui tomada por um sentimento de ternura. Minha barriga, tão redonda e imensa, parecia quase surreal. Como algo tão pequeno poderia ocupar tanto espaço na minha vida, no meu coração? Aproveitei o momento para tirar uma foto, um registro desse último mês de gestação.
Foi nesse instante que uma mulher loira e extremamente elegante entrou no banheiro. Ela tinha um ar sofisticado, mas seu sorriso simpático me fez relaxar.
— Sua barriga é linda! De quantas semanas? — perguntou com um olhar doce.
— Trinta e sete semanas. Está bem perto, e eu já estou nervosa com medo das dores — respondi, tentando brincar, mas no fundo havia uma ponta de verdade. A aproximação do parto me dava calafrios.
— Eu também tive medo na minha gestação — ela disse, se aproximando, e algo em seu tom sugeria que havia mais por trás de suas palavras.
— Você tem filhos? Nem parece, com esse corpinho de modelo — comentei sem pensar, mas logo me arrependi ao ver a tristeza em seus olhos.
— Eu perdi meu bebê... Se tivesse dado certo, ele teria dois meses agora. Foi muito difícil, principalmente porque era o sonho meu e do meu noivo — sua voz ficou embargada, e senti uma onda de compaixão percorrer meu corpo.
De repente, meu desconforto com a gravidez pareceu insignificante diante da dor dela.
— Sinto muito... — disse, tentando encontrar palavras que a confortassem, ainda que soubesse que nenhuma palavra seria suficiente. — Não perca a esperança. Você é jovem, e logo terá essa dádiva novamente.
Ela suspirou e sorriu tristemente. — Deus te ouça. Quero muito dar um filho ao meu noivo. Quem sabe assim ele se anima a apressar o casamento — murmurou enquanto retocava o batom no espelho.
Ao sairmos juntas do banheiro, ela se despediu e seguiu para uma mesa. E foi nesse momento que o chão pareceu sumir sob meus pés. Não, não pode ser... Será ele? Meu Deus... é ele! O pai do meu bebê. O homem que pensei que nunca mais veria. Minha mente entrou em um turbilhão de emoções, e meu corpo reagiu antes que eu pudesse entender. Senti as pernas vacilarem, meu coração descompassado e a boca seca, como se todo o ar tivesse sido arrancado de mim.
Lá estava ele. E, quando seus olhos encontraram os meus, percebi que ele também me reconhecia. O mundo ao meu redor pareceu se dissolver, e tudo o que eu queria era sumir. Como isso é possível? Justo agora? Justo aqui? O medo de encarar o passado e a confusão sobre o que fazer me dominavam. Cada passo que dei em direção a Rebecca foi como caminhar em areia movediça.
— Rebecca, precisamos ir — sussurrei apressada, sem conseguir esconder o tremor na minha voz.
Ela olhou para mim, surpresa, mas não fez perguntas. E enquanto saíamos daquele lugar, meu coração martelava forte no peito, como se quisesse fugir de mim, tal como eu queria fugir daquele homem, daquele reencontro inesperado. Já no carro, soltei um suspiro de alívio, mas minhas mãos ainda tremiam com a adrenalina do momento. O coração batia forte, ecoando o turbilhão de emoções que eu mal conseguia controlar.
— O que aconteceu? Por que está assim? Parece que viu um fantasma — perguntou Rebecca, o rosto preocupado, enquanto me observava atentamente.
Engoli em seco, sentindo um nó na garganta que mal me deixava falar, e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
— Eu... eu vi ele, Rebecca. O pai do meu bebê — confessei, a voz embargada.
Rebecca me encarou, surpresa. — Tem certeza? Você só o viu uma vez, e naquela noite... você estava tão fora de si. Talvez não seja ele — disse, tentando encontrar alguma lógica.
Balancei a cabeça, limpando as lágrimas com pressa. — Era ele, tenho certeza. Eu o reconheci assim que nossos olhares se cruzaram. E pela expressão no rosto dele... ele também me reconheceu — afirmei, sentindo a dor misturada à certeza.
Rebecca franziu o cenho, processando minhas palavras. — Então vamos até ele. Ele tem o direito de saber que daquela noite surgiu uma vida — sugeriu, com a voz cheia de urgência.
— Não posso — murmurei, desviando o olhar para a janela, as memórias da conversa no banheiro ainda pesando sobre mim. — Ele tem uma noiva, Rebecca. Ela estava grávida quando ele ficou comigo. Acabei de conhecê-la no banheiro do restaurante. Ela me contou que perdeu o bebê... se não tivesse perdido, ele teria dois meses de vida agora. Ele é um traidor, igual ao Otávio — desabafei, a mágoa transbordando em cada palavra.
Rebecca ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que eu acabara de dizer. — Isso é tão surreal... Como pode ser? — murmurou, tentando assimilar o choque da situação.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Zilda Praxedes
ele já não gostava mas dela por causa da personalidade dela que ele descobriu que ela só se aproximou dele por interesse e aí ele engravida dele pra segura lo pois ela sabe do desejo dele ser pai
2025-02-20
6
Onilda Furlan
a namorada só tem interesse nele, vai ver que forçou um aborto pra não ter que levar a gravidez até o fim
2025-03-08
1
Bell Belmonte
é a interesseira do pai do bebê
2025-03-09
2