A Transcendência

O mundo ao redor de Alrek se dissolveu em um mar de luz e energia. Tudo o que ele conhecia, a câmara, a mulher ao seu lado, até mesmo o próprio guardião, desapareceu enquanto ele era envolvido pelo brilho das runas. Seu corpo parecia estar sendo desintegrado e reconstruído ao mesmo tempo, como se estivesse sendo transformado de dentro para fora. A sensação era esmagadora, como se a própria essência do universo estivesse fluindo através dele.

— Você escolheu o caminho mais difícil, — a voz do guardião ecoou na escuridão brilhante. — A escolha de transcender, de se tornar parte do ciclo, exige mais do que coragem. Exige sacrifício. Mas saiba que, ao tomar essa decisão, você carrega o destino de todos sobre seus ombros.

As palavras eram severas, mas Alrek as aceitava com uma estranha sensação de paz. Ele sabia que, ao aceitar a transcendência, estava abrindo mão de sua identidade, de tudo o que o tornava quem ele era. Mas ele também sabia que era a única maneira de trazer a mudança necessária para romper o ciclo. A ordem precisava ser preservada, mas o sofrimento e as provações eternas não poderiam continuar.

Enquanto ele flutuava nesse estado de transição, Alrek começou a sentir algo diferente dentro de si. Era como se, ao abrir mão de sua identidade, ele estivesse se fundindo com algo muito maior — o próprio tecido do universo, o próprio fluxo do destino. As runas em seus braços estavam brilhando intensamente, e ele percebeu que elas não eram apenas marcas de poder. Elas eram a linguagem da criação, a chave para moldar o destino.

De repente, ele viu cenas de vidas que nunca havia conhecido. Fragmentos de memórias e destinos se desenrolaram diante dele: guerreiros lutando, crianças nascendo, deuses caindo e reinos sendo destruídos e reconstruídos. Era como se ele estivesse assistindo à história do mundo se repetindo em ciclos, cada vida uma peça no grande tabuleiro que ele agora compreendia.

— Então esse é o ciclo... — ele murmurou, sua voz reverberando no vazio. — Todos esses destinos, todas essas vidas, repetidas indefinidamente.

E, de repente, ele compreendeu o poder que estava em suas mãos. As runas não eram apenas ferramentas para moldar o ciclo. Elas eram a própria base da criação e da destruição. E agora, com o poder fluindo através dele, ele poderia transformá-las.

— Você entende agora, Alrek? — a voz do guardião soou novamente. — Você está à beira da criação. Tudo o que acontecerá depende de sua escolha. Você pode reescrever o ciclo ou deixá-lo como está. Mas, ao fazer isso, você perderá sua humanidade. Não há volta.

Alrek sentiu o peso dessa responsabilidade. Ele sabia que sua transformação era irreversível. Não havia mais Alrek, o guerreiro de Midgard, apenas uma entidade que moldaria o destino. Mas, com essa transcendência, ele teria o poder de quebrar a repetição cruel e criar algo novo.

— Estou pronto, — ele disse, a voz firme e clara.

Nesse momento, a luz ao seu redor explodiu, e tudo se tornou silêncio.

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Quando Alrek abriu os olhos novamente, ele estava em um lugar diferente. O céu acima era escuro, mas não opressivo, e o ar ao redor estava calmo. Ele sentia uma nova consciência dentro de si. Não estava mais no corpo de carne e osso que conhecia. Ele não sentia o peso da mortalidade ou a pressão do tempo. Ele era algo mais agora — uma força que existia além da compreensão humana.

Ele olhou para os braços, mas as runas não estavam mais lá. Elas não precisavam estar. O poder que as runas continham agora fazia parte de sua essência, fluindo através de cada fibra de seu ser. Ele sentiu o ciclo ao seu redor, ainda pulsando, ainda tentando se manter intacto, mas sabia que agora tinha o controle para moldá-lo, mudá-lo ou destruí-lo.

— Então, esse é o verdadeiro poder do ciclo... — ele murmurou, enquanto sentia a conexão com o universo.

Aos poucos, ele começou a perceber as presenças ao seu redor. Fragmentos de almas, ecos de vidas passadas, tudo parte do grande ciclo que ele agora governava. Mas algo estava diferente. A dor, o sofrimento que ele sentira ao longo de sua jornada, não estavam mais presentes. Havia um equilíbrio, uma harmonia que antes não existia.

— Eu... consegui? — ele perguntou em voz alta, ainda tentando assimilar o que havia acontecido.

Foi então que ele viu uma figura conhecida à distância. A mulher. A mesma que havia estado com ele durante toda a jornada. Mas algo nela havia mudado. Ela estava mais calma, quase etérea, como se também estivesse à beira de uma transcendência própria.

— Alrek? — sua voz soou suave, mas carregada de emoção.

Alrek olhou para ela, e embora soubesse que havia perdido parte de sua identidade, parte de sua humanidade, ainda havia uma conexão. Algo dentro dele reconhecia a importância daquela mulher em sua jornada.

— Você conseguiu, — ela disse, aproximando-se lentamente. — Você mudou o ciclo. Eu... posso sentir. Não há mais dor, não há mais repetição. Você o transformou.

Alrek sentiu uma onda de alívio percorrer seu ser. Ele havia conseguido. O ciclo, embora ainda presente, não era mais uma prisão de sofrimento e provações eternas. Ele havia encontrado uma maneira de mantê-lo em equilíbrio sem destruir as vidas que dependiam dele.

— Eu mudei o ciclo, — ele repetiu, quase incrédulo. — Mas a que custo?

A mulher olhou para ele com um olhar triste, mas compreensivo.

— Você sacrificou quem era, Alrek. Você se tornou algo mais, algo além do humano. Mas sem você, o ciclo teria continuado da mesma maneira, perpetuando o sofrimento. Você deu a todos nós uma chance de liberdade.

Alrek assentiu lentamente. Embora ele soubesse que havia perdido sua antiga identidade, ele também sabia que havia criado algo novo — uma ordem mais justa, onde as almas não estavam mais presas em um ciclo de dor. Ele havia sacrificado a si mesmo para que outros pudessem viver em paz.

— E agora? — ele perguntou.

A mulher sorriu levemente, e Alrek viu que, apesar de tudo, ela ainda tinha esperança.

— Agora você governa o ciclo, — ela disse. — Mas não como antes. Agora, ele está em equilíbrio. Não mais como uma prisão, mas como uma escolha. E você é o guardião desse equilíbrio.

Alrek ficou em silêncio, sentindo o peso da nova responsabilidade, mas também a paz que vinha com ela. Ele não era mais Alrek, o guerreiro. Agora, ele era o guardião do ciclo, uma força que garantiria que o universo continuasse em harmonia, sem o fardo da repetição eterna.

Ele olhou para o horizonte, onde o céu escuro começava a clarear com uma luz suave e dourada. Era um novo começo, não apenas para ele, mas para todos os mundos, para todos os destinos.

— Eu estou pronto, — ele disse, sua voz ecoando suavemente na imensidão.

E assim, Alrek, agora transcendendo sua humanidade, tornou-se o guardião do ciclo renovado, garantindo que o equilíbrio fosse mantido e que a liberdade de escolha prevalecesse.

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