As Correntes do Destino

O calor da esfera de energia que pulsava no centro da câmara subterrânea parecia quase tangível. O poder que ela emitia era diferente de tudo que Alrek havia sentido até então — não era apenas a força bruta das runas que ele carregava, mas algo muito mais profundo, mais antigo. O ar ao redor vibrava com a intensidade da energia, e cada fibra do corpo de Alrek sentia que estava diante de algo imensamente poderoso e perigoso.

A figura na luz, que proclamara ser o coração do ciclo, observava Alrek com uma expressão impenetrável. Seus olhos brilhavam como estrelas distantes, e sua presença preenchia o espaço, imponente e intimidadora.

— Você ainda não entende o que está enfrentando, — disse a figura, sua voz ecoando nas paredes da câmara. — O ciclo é eterno. Ele existe antes de você, antes dos deuses, antes do mundo. Muitos vieram até aqui, muitos tentaram me destruir. Todos falharam.

Alrek sentiu um frio profundo atravessar sua espinha, mas não podia permitir que o medo o dominasse. Ele havia enfrentado os guardiões, vencido o "primeiro" dos marcados, e aprendido a controlar as runas. Agora, tudo se reduzia a esse momento. O que quer que fosse aquela figura, ela era a chave para entender o ciclo — e, se necessário, destruí-lo.

Ele deu um passo à frente, sentindo as runas em seus braços começarem a brilhar intensamente. O poder dentro dele reagia à presença do coração do ciclo, como se estivesse se preparando para uma batalha final.

— Se o ciclo é eterno, — Alrek disse, sua voz firme, mas carregada de dúvida — então por que existem marcados como eu? Por que você nos testa, nos coloca através dessas provações, se não há esperança de romper o ciclo?

A figura observou Alrek por um momento antes de responder.

— Vocês são peças do jogo, marcados para desafiar a ordem, mas sempre destinados a falhar, — respondeu a entidade. — Vocês existem para garantir que o ciclo continue. A cada fracasso, a ordem é reforçada. Cada tentativa de quebrá-lo o fortalece.

As palavras do coração do ciclo eram como veneno nos ouvidos de Alrek, mas algo dentro dele se recusava a aceitar. O poder das runas em seus braços vibrava em resposta, como se reagisse àquelas palavras, como se houvesse algo mais ali, uma verdade que o ciclo tentava esconder.

— Não acredito em você, — Alrek murmurou, estreitando os olhos. — Se o ciclo fosse realmente inquebrável, você não teria medo de mim. Você não precisaria se proteger.

A figura sorriu, um sorriso frio e distante, como se o achasse ingênuo.

— Medo? Eu não sinto medo, Alrek. Eu sou o ciclo. Sou eterno. Você não é uma ameaça para mim. Mas eu lhe permito tentar, como a todos os outros antes de você. Pois é assim que o ciclo continua.

Alrek sentiu seu sangue ferver. Ele sabia que precisava agir, precisava lutar, mas havia algo nas palavras daquela figura que o incomodava profundamente. A sensação de ser uma peça em um jogo maior o irritava, mas ele sabia que não poderia agir apenas com a raiva.

Ele olhou ao redor da câmara, notando os símbolos nas paredes e as vibrações sutis no ar. Tudo naquele lugar estava interligado com o ciclo, como se o próprio ambiente fosse parte da entidade diante dele. A luta que ele enfrentava não era apenas física, mas algo muito mais profundo — uma batalha pelo controle do destino.

— Então você nos usa, — Alrek disse, sua voz mais controlada agora. — Usa os marcados como ferramentas para garantir que o ciclo continue. E se alguém falhar, como o "primeiro", eles se tornam parte desse sistema, presos aqui para sempre.

A figura assentiu lentamente, sem emoção.

— Exato. Cada um que falha fortalece o ciclo. Eles se tornam parte dele, mantêm a ordem. Você também se unirá a eles, em breve.

— Isso é o que você pensa, — Alrek respondeu, sentindo a fúria crescer dentro dele novamente. Mas vou provar que você está errado.

Com um grito, Alrek avançou em direção à figura. A luz das runas em seus braços brilhou com intensidade, canalizando toda a energia que ele podia reunir em sua adaga. Ele sentiu o poder fluir através de seu corpo, a energia das runas pulsando como uma correnteza violenta. Mas, ao se aproximar da figura, a esfera de energia ao redor dela brilhou com ainda mais força, criando uma barreira invisível.

A lâmina de Alrek bateu contra a barreira com um som surdo, e a força do impacto o empurrou para trás. Ele caiu no chão, ofegante, sentindo a frustração crescer. A figura nem sequer havia se movido.

— Você não pode me tocar, — a figura disse calmamente. — Você não entende o que é necessário para me derrotar.

Alrek levantou-se novamente, sentindo a adrenalina e a raiva pulsarem dentro dele. Ele precisava pensar, precisava encontrar uma forma de romper aquela barreira. As runas estavam conectadas ao ciclo, isso ele sabia, mas havia algo mais, algo que ele ainda não havia percebido.

Enquanto se levantava, ele percebeu que a mulher, que até então havia permanecido em silêncio, observava a cena com uma expressão intensa.

— As runas, Alrek... — ela começou, hesitante. — Elas não são apenas poder. Elas são uma parte do ciclo, mas também podem ser a chave para destruí-lo.

Alrek olhou para ela, tentando entender o que ela estava dizendo.

— O que você quer dizer?

— Você viu como elas reagem ao poder da torre, como elas se conectam a tudo aqui, — ela explicou, sua voz urgente. — Elas foram criadas como parte do ciclo, mas eu acredito que, se você aprender a controlá-las completamente, poderá usá-las para desfazer o ciclo.

Alrek ponderou sobre as palavras dela. Ele já havia percebido que as runas estavam conectadas à torre e ao ciclo, mas ele as havia usado principalmente como uma arma, como uma fonte de poder bruto. Talvez o verdadeiro segredo estivesse em usá-las de forma diferente, em enxergar além da força que elas ofereciam.

Ele olhou para as runas em seus braços, respirou fundo, e fechou os olhos. Em vez de tentar forçar o poder das runas, ele se concentrou em senti-las, em entender o fluxo de energia que percorria seu corpo. Era como um rio calmo agora, diferente das ondas de poder brutais que ele havia usado antes. Ele sentiu a conexão das runas com o ambiente ao redor, com a torre, com o ciclo.

Quando abriu os olhos novamente, havia uma calma diferente dentro dele. Ele sabia o que precisava fazer.

Alrek avançou em direção à figura novamente, mas desta vez ele não tentou atacá-la diretamente. Ele canalizou a energia das runas, não para romper a barreira, mas para se conectar a ela. As runas começaram a brilhar mais intensamente, e ele sentiu a resistência da barreira diminuir.

A figura, pela primeira vez, franziu a testa, como se algo estivesse errado.

— O que você está fazendo? — a entidade perguntou, sua voz carregada de um leve tom de preocupação.

Alrek sorriu levemente. Ele havia descoberto o segredo.

— Eu estou me tornando parte do ciclo, — ele respondeu. — E é assim que vou destruí-lo.

A barreira ao redor da figura começou a tremer, rachaduras invisíveis aparecendo no ar. Alrek sentiu a conexão com as runas se aprofundar, e, em vez de lutar contra o ciclo, ele se tornou uma parte dele, usando o próprio poder que o coração do ciclo havia criado para desmoronar sua defesa.

A entidade recuou, surpresa e enfurecida.

— Isso... isso não é possível! — a voz dela ecoou, cheia de incredulidade.

Com um último impulso, Alrek avançou novamente, e dessa vez, sua adaga atravessou a barreira, cortando através da luz e atingindo o centro da figura. A luz ao redor deles explodiu em um clarão cegante, e o som de algo se rompendo ecoou pela câmara.

A figura soltou um grito de dor e raiva, antes de desaparecer em uma nuvem de energia dispersa.

A câmara ficou em silêncio novamente, mas o ar estava diferente. O tremor da torre havia cessado, e Alrek sentiu o peso das runas diminuir. Ele caiu de joelhos, exausto, mas sabendo que havia feito algo significativo.

A mulher se aproximou, seus olhos cheios de admiração e medo.

— Você... você o derrotou, — ela murmurou. — Mas... o ciclo... o que acontece agora?

Alrek levantou-se lentamente, ainda sentindo o impacto da batalha.

— Eu não sei, — ele admitiu

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