O Teste do Guardião

A floresta permanecia inalterada enquanto Alrek e a mulher misteriosa corriam, o som de seus passos abafados pelo manto de folhas mortas que cobria o chão. O ar estava denso, e cada respiração era um esforço. Alrek sentia o coração batendo mais rápido, não apenas pela corrida, mas também pela súbita manifestação do poder que ele ainda não compreendia. As runas em seus braços, embora agora apagadas, pareciam pulsar suavemente, como se tivessem sido ativadas por algo além de sua própria vontade.

— Continue correndo! — a mulher gritou, sem olhar para trás. — Se eles nos alcançarem, não haverá escapatória!

O peso das palavras dela o impulsionava a continuar. Ele não conhecia os inimigos que os perseguiam, mas sabia, instintivamente, que eram implacáveis. Aqueles homens, ou criaturas, que o atacaram mais cedo não eram como os guerreiros comuns que ele enfrentara em sua vida anterior como Erik. Eles eram algo além — algo sombrio, criado por uma força que ele ainda não compreendia.

Mas conforme os dois avançavam pela floresta, o som dos passos dos perseguidores começou a desaparecer. A floresta se tornava cada vez mais silenciosa. Era como se o próprio ambiente estivesse mudando, a escuridão ao redor deles se fechando, engolindo todos os sons. Alrek percebeu, de repente, que o ar não se movia mais. Não havia vento. Não havia vida. Apenas o som de suas respirações ofegantes.

Ele parou, segurando a mulher pelo braço para fazê-la parar também.

— Espere, — disse ele, ofegante. — Ouça. Eles pararam de nos seguir.

A mulher, ainda assustada, olhou para trás, com os olhos arregalados, tentando ouvir o que Alrek havia percebido. Ela ainda estava tensa, seus músculos prontos para continuar correndo, mas a ausência de sons — até mesmo dos passos dos soldados sombrios — confirmou a suspeita dele. O que quer que os estivesse perseguindo havia desaparecido, pelo menos por enquanto.

Alrek olhou ao redor. A floresta, antes densa e sufocante, agora parecia mais aberta, mas ainda mais estranha. As árvores não pareciam naturais. Os galhos estavam imóveis, como se tivessem sido congelados no tempo. O chão estava coberto de uma névoa rasteira, e havia um silêncio que o deixava inquieto.

— O que é este lugar? — Alrek perguntou, mais para si mesmo do que para a mulher.

Ela olhou para ele, ainda tentando recuperar o fôlego, mas com a expressão de alguém que sabia mais do que estava disposta a dizer. Por um momento, ela hesitou, como se estivesse ponderando se deveria falar.

— Você realmente não sabe, não é? — ela disse, finalmente, sua voz agora mais baixa e controlada. — Você não faz ideia do que está acontecendo.

Alrek franziu a testa.

— Eu não sei o que está acontecendo, — ele admitiu, com raiva contida em sua voz. — Acordei aqui, sozinho. Tenho essas runas em meus braços, um poder que não entendo, e agora estou sendo caçado por criaturas que parecem ter saído de pesadelos. O que é tudo isso?

Ela suspirou, passando a mão pelos cabelos sujos.

— Você foi marcado, Alrek. Assim como eu. — Ela ergueu a manga de sua túnica, revelando uma série de marcas semelhantes às que ele tinha. Runas. — Esse lugar... este mundo... ele é uma prisão. Uma prisão para aqueles que foram trazidos de volta para algo maior.

Alrek ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que ela disse. Ele olhou para os braços dela, notando que suas runas eram ligeiramente diferentes das suas. Mas ainda assim, a conexão entre eles era clara. Eles estavam presos no mesmo destino, seja lá qual fosse.

Antes que ele pudesse perguntar mais, um movimento no canto de sua visão chamou sua atenção.

Das sombras entre as árvores, uma figura familiar emergiu.

O homem do capuz.

Alrek apertou os punhos, instintivamente em guarda. Ele se lembrava desse homem do encontro anterior, no segundo capítulo. O homem que falava em enigmas, que parecia saber mais sobre ele do que qualquer um, mas que sempre desaparecia sem dar respostas.

A mulher ao lado de Alrek recuou instintivamente, como se a presença daquele homem a deixasse desconfortável. Mas Alrek permaneceu firme, seu olhar fixo na figura encapuzada que se aproximava lentamente.

— Você novamente, — Alrek disse, a raiva em sua voz evidente. — Você sabia que eu estava sendo caçado. Sabia o que estava acontecendo, mas desapareceu. Quem é você? E o que você quer de mim?

O homem parou a poucos metros de distância, seu capuz ainda ocultando a maior parte de seu rosto. Mas quando falou, sua voz era a mesma: calma, quase hipnótica.

— Você ainda não está pronto para todas as respostas, Alrek, — ele disse, cruzando os braços por dentro do manto. — Mas está chegando mais perto de entendê-las. O fato de que você sobreviveu até agora é uma prova disso.

Alrek deu um passo à frente, os punhos cerrados.

— Eu não tenho tempo para charadas, — ele disse, a frustração crescendo dentro dele. — Se sabe algo sobre o que está acontecendo, diga agora. O que eu sou? O que essas runas significam?

O homem ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando o quanto deveria revelar. A névoa ao redor deles parecia se intensificar, tornando a atmosfera ainda mais densa.

— Você está em um lugar onde as regras do mundo dos vivos não se aplicam, — o homem disse, sua voz baixa, mas firme. — Este lugar, esta floresta, é um teste. Um teste para aqueles que foram trazidos de volta. Apenas os dignos podem atravessar. E essas runas... — Ele olhou para os braços de Alrek. — São as chaves que vão decidir se você vai sair daqui ou se vai perecer. Elas representam o poder, mas também o destino. Elas estão ligadas a você agora. E se você não aprender a controlá-las, elas vão consumir você.

Alrek ficou em silêncio por um momento, sentindo o peso das palavras do homem. Um teste. Ele sabia que não havia pedido por isso. Mas agora entendia que estava sendo jogado em um jogo que não compreendia completamente. E esse homem... ele sabia mais do que estava dizendo.

— E você? — Alrek perguntou, seu tom mais calmo agora. — O que você é neste teste? Um guardião? Um guia?

O homem riu suavemente, um som sem alegria.

— Eu sou um observador, Alrek. Mas, às vezes, observadores precisam interferir. E neste momento... eu estou aqui para ver até onde você consegue ir.

Antes que Alrek pudesse responder, o homem estendeu a mão para frente, e as runas nos braços de Alrek começaram a brilhar novamente, dessa vez com uma intensidade que ele não conseguia controlar. O calor percorreu seu corpo, e ele caiu de joelhos, ofegando enquanto as runas pulsavam com poder.

— Se você quiser sobreviver, — o homem disse, sua voz mais distante agora — precisará dominar esse poder.

Alrek cerrou os dentes, lutando contra a onda de energia que percorria seu corpo. Ele olhou para a mulher, que estava parada ao lado, com uma expressão de horror no rosto. Mas, de alguma forma, ele sabia que precisava fazer isso sozinho.

Ele fechou os olhos e tentou se concentrar, tentando controlar o poder que queimava dentro dele. As runas pulsavam descontroladamente, mas ele, lentamente, começou a sentir que podia domá-las. Com esforço, ele se ergueu de novo, com o corpo ainda tremendo, mas agora sentindo que o poder estava sob controle.

O homem, ainda encapuzado, deu um pequeno aceno de cabeça.

— Você está no caminho certo, Alrek. Mas este é apenas o começo. — Ele começou a se afastar, suas palavras ecoando na névoa. — Lembre-se: o poder pode ser uma bênção ou uma maldição. A escolha é sua.

E, assim como antes, o homem desapareceu na escuridão, deixando Alrek e a mulher sozinhos na clareira, com o silêncio da floresta envolto ao redor deles.

Alrek olhou para seus braços, as runas agora brilhando suavemente, mas sob seu controle. Pela primeira vez desde que acordara neste mundo, ele sentiu que tinha algum poder sobre o que estava acontecendo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que esse era apenas o primeiro passo em uma jornada muito maior e mais perigosa.

— Precisamos continuar, — disse ele à mulher, sem olhar para ela, ainda observando as runas. — Há mais respostas à nossa espera.

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