O silêncio que envolvia a câmara era pesado, como se o próprio ar estivesse hesitante em se mover. Alrek permanecia de joelhos, sentindo a exaustão se instalar em seu corpo. O brilho das runas em seus braços diminuía lentamente, assim como o poder que ele acabara de canalizar para derrotar a entidade. Ele olhou para o centro da sala, onde antes a figura do coração do ciclo pairava imponente. Agora, tudo o que restava eram partículas de luz flutuando no ar, se dissipando como cinzas ao vento.
A mulher se aproximou, cautelosa. Seus olhos estavam fixos em Alrek, mas havia uma sombra de medo neles. Mesmo depois de tudo que haviam enfrentado juntos, ela agora via nele algo diferente — algo que a fazia hesitar.
— Você o destruiu, — ela disse em um sussurro, como se ainda estivesse processando o que acabara de acontecer. — Mas... o ciclo foi realmente quebrado?
Alrek sentiu a pergunta reverberar em sua mente. Ele havia derrotado a figura que proclamava ser o coração do ciclo, mas as palavras dela ainda ecoavam em sua memória. "O ciclo é eterno." Havia algo mais profundo, algo que ele ainda não conseguia compreender totalmente. As runas em seus braços estavam silenciosas agora, mas ele sabia que elas ainda mantinham uma conexão com a verdade oculta daquele lugar.
Levantando-se lentamente, ele sentiu suas pernas vacilarem, o peso de sua jornada finalmente o alcançando. Mas ele se obrigou a continuar, pois sabia que aquilo ainda não era o fim. O ciclo, apesar de ter sido abalado, ainda estava de alguma forma presente. A torre estava calma, mas o poder que antes preenchia o ar não havia desaparecido completamente.
— Há mais, — Alrek disse finalmente, a voz grave. — O ciclo ainda não foi rompido completamente.
A mulher franziu a testa, confusa.
— Mas como? Você derrotou a entidade. Que mais pode haver?
Alrek olhou para as paredes da câmara, seus olhos seguindo as inscrições antigas que cobriam cada superfície. Agora que a luz dourada da esfera havia desaparecido, os símbolos nas paredes bruxuleavam com um brilho fraco, como se estivessem reagindo à ausência do coração do ciclo. Era como se a própria torre estivesse esperando algo — ou alguém.
— Esses símbolos... — Alrek começou, aproximando-se de uma das paredes. — Eles estão conectados ao ciclo. Ele estendeu a mão, sentindo o toque frio da pedra. As runas em seu braço brilharam fracamente em resposta ao contato. — Eles contam uma história.
A mulher se aproximou, observando os símbolos com atenção.
— Uma história? — ela perguntou, com a voz cautelosa. — O que você está vendo?
Alrek passou os dedos sobre os símbolos, tentando entender o que eles representavam. As formas gravadas na pedra eram antigas, muito mais antigas do que qualquer coisa que ele havia visto antes. Mas, à medida que olhava mais de perto, ele começou a perceber padrões — imagens que se repetiam.
— Isso não é apenas uma linguagem, — ele disse, a compreensão lentamente se formando em sua mente. — Esses símbolos mostram o ciclo. Eles mostram como tudo começou.
Ele olhou para a mulher, seus olhos agora mais claros, mais focados.
— O ciclo que enfrentamos é uma criação — uma repetição constante de vida e morte, de provações e falhas. Mas ele não é eterno por natureza. Ele foi feito para ser assim. Alguém, ou algo, deu início a isso.
A mulher parecia intrigada, mas ainda havia dúvida em seus olhos.
— Então se o ciclo foi criado, pode ser destruído, — ela concluiu, quase como uma pergunta.
Alrek assentiu.
— Sim. Mas o verdadeiro poder que sustenta o ciclo ainda está escondido. O coração do ciclo que eu destruí era apenas um guardião, uma manifestação da força que mantém tudo em movimento. Se quisermos realmente quebrar o ciclo, precisamos ir mais fundo. Precisamos encontrar a fonte.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade da situação. O ciclo não era apenas uma força que eles podiam desafiar diretamente — era algo que estava enraizado na própria estrutura daquele mundo. Mas, se o ciclo havia sido criado, então deveria haver um caminho para desfazê-lo.
— Então, como encontramos a fonte? — a mulher perguntou, sua voz agora mais determinada.
Alrek olhou ao redor da câmara novamente, seus olhos fixos nos símbolos que cobriam as paredes.
— Esses símbolos são a chave, — ele disse, finalmente. — Eles mostram o caminho. O ciclo foi criado aqui, e é aqui que podemos destruí-lo.
Ele estendeu a mão para um dos símbolos maiores, uma inscrição que parecia central a toda a história que se desenrolava nas paredes. Quando seus dedos tocaram o símbolo, as runas em seu braço brilharam intensamente, e a parede diante dele começou a se mover.
A pedra se abriu lentamente, revelando uma passagem secreta, iluminada por uma luz fraca e azulada. Alrek sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas ele sabia que aquele era o próximo passo. A passagem levava para ainda mais fundo na torre — para o coração do ciclo, para o verdadeiro segredo que o sustentava.
— Vamos, — ele disse, sem hesitar.
A mulher o seguiu de perto enquanto os dois entravam na passagem estreita. O ar ao redor parecia mais frio, e o som de seus passos ecoava nas paredes estreitas. A cada passo, a sensação de estarem sendo observados crescia, mas Alrek sabia que não havia mais volta.
Eles caminharam por um tempo que parecia se estender indefinidamente, até que, finalmente, chegaram a uma grande sala circular, muito maior do que a câmara anterior. No centro, havia um pedestal de pedra, e flutuando sobre ele, uma pequena esfera de luz azul, muito mais suave do que a anterior.
— Esse é o coração, — Alrek murmurou, sentindo o poder emanar da esfera.
Mas antes que pudessem se aproximar, a esfera começou a mudar. Ela se expandiu lentamente, formando a figura de um homem — alto, com uma presença quase divina, seus olhos brilhando com a mesma luz azulada da esfera. Ele parecia mais sólido do que a figura anterior, como se fosse a verdadeira manifestação da força que eles estavam enfrentando.
— Vocês chegaram longe, — disse o homem, sua voz ecoando pela sala. — Mas aqui é onde tudo termina.
Alrek sentiu as runas em seus braços reagirem violentamente à presença da figura. Ele sabia que este era o verdadeiro guardião do ciclo — a fonte do poder que sustentava tudo o que eles haviam enfrentado até agora.
— Você não pode manter o ciclo para sempre, — Alrek disse, a voz firme. — Ele foi criado, e agora pode ser destruído.
O homem sorriu levemente, seus olhos brilhando com uma luz fria.
— O ciclo é mais antigo do que vocês podem compreender. Ele é a essência da ordem. Sem ele, tudo cai no caos. Você acha que pode trazer algo melhor ao destruí-lo?
Alrek sentiu o peso da responsabilidade em suas palavras. O ciclo, por mais cruel que fosse, também mantinha a ordem do mundo. Destruí-lo significaria desfazer a própria base do universo que conheciam. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que a repetição eterna de dor, fracasso e provação não poderia continuar.
— Eu não sei o que virá depois, — ele admitiu, sua voz mais baixa. — Mas sei que o que está acontecendo agora não pode continuar. O ciclo aprisiona tudo e todos. E isso precisa acabar.
A figura avançou levemente, sua expressão impassível.
— Então você está disposto a sacrificar tudo? Está pronto para lidar com as consequências?
Alrek olhou para a esfera, para as runas em seus braços, e depois para a mulher ao seu lado. Ele sabia que não havia escolha. Ele não poderia continuar permitindo que o ciclo se repetisse, aprisionando mais e mais almas.
— Sim, — ele disse, sua voz firme. — Estou pronto.
A figura sorriu, e a luz ao redor deles começou a brilhar intensamente, preenchendo a sala com uma energia poderosa.
— Então prove, — disse o homem, e o verdadeiro teste começou.
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Atualizado até capítulo 26
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