“Entre novas esperanças e velhas feridas: Cicatrizes.”

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..."A vida nos molda através das escolhas que fazemos e das ausências que suportamos. Somos esculpidos tanto pelos abraços que recebemos quanto pelos que nunca vieram. Com o tempo, aprendemos que a verdadeira força não está em suportar a dor calados, mas em encarar nossos fantasmas e escolher, mesmo que em pedaços, seguir em frente. Mas e quando o fantasma não é uma lembrança distante? Mas sim, uma presença constante, uma ferida que nunca cicatriza. Enfrentar a verdade é uma batalha interna entre a pessoa que fomos, a que nos tornamos e a que desejamos ser. E, às vezes, quando essa guerra começa, as feridas causadas podem deixar cicatrizes que jamais deixarão de sangrar." A.E✔️...

...•••...

...• Narrado por Liandra Colucci •...

Ainda sentindo o calor do beijo de Mia nos lábios, respirei fundo, tentando processar a vulnerabilidade que aquela simples troca de afeto havia despertado em mim. A sensação de me permitir sentir, de me despir das armaduras que eu havia carregado por tanto tempo, era aterrorizante e libertadora ao mesmo tempo. Nunca pensei que pudesse me sentir assim—tão leve, tão exposta. Mas ali estava eu, no calor da sala, segurando as mãos da loira de lindos olhos azuis como se ela fosse minha âncora.

A verdade é que, após aquele breve momento, a realidade começou a se infiltrar, se espalhando pelo meu corpo como um veneno lento. O jantar com meu pai se aproximava, e a ideia de enfrentar o poderoso Franco Mendonça me deixava inquieta. Ele era um homem que sempre me observou com um olhar crítico, como se eu fosse um projeto que ele não tinha conseguido moldar a seu gosto.

Mia Corbell — Vem, vamos para a cozinha — disse, puxando-me suavemente. Olhei para ela, buscando o apoio que sempre me confortou. Juntas, nos dirigimos ao espaço onde o cheiro da comida começava a preencher o ar, um aroma que normalmente eu associava ao lar. Mas hoje, era apenas um lembrete de que o jantar estava prestes a se tornar um campo minado, um prelúdio de algo que eu desejava evitar a qualquer custo.

A simples ideia de estar na presença dele era como uma tempestade se formando dentro de mim. O pai que eu precisava, o homem que nunca esteve ao meu lado, agora retornava como um fantasma que eu não conseguia exorcizar. As memórias de sua ausência, de suas escolhas egoístas, sempre traziam uma raiva que queimava o meu peito como brasa. Era impossível ignorar a dor, a mesma dor que ele causou ao desaparecer quando eu mais precisei dele. Agora, ele estava ali a poucos metros de distância, e o simples pensamento de encará-lo fazia meu estômago se revirar.

Eu queria fugir, deixar aquela casa, escapar da presença dele e da dor que ele representava. Mas eu havia prometido a Mia que participaria daquele jantar, e cumpriria aquela promessa, mesmo que o silêncio ao meu redor me esmagasse.

Assim que entramos, Bárbara veio até mim, como sempre fazia, a figura de conforto que minha infância conheceu tão bem. Ela tocou meu braço, como se perguntasse silenciosamente se tudo estava bem. A dor dela também estava estampada em seus olhos; ela sabia o que a presença de Franco significava para mim. Meu sorriso foi apenas uma máscara, uma tentativa de protegê-la do turbilhão de emoções que eu estava carregando.

Liandra — Estou bem, Bá — menti, inclinando-me para beijar sua testa, um gesto que eu usava para agradecer por sua presença constante. Eu sabia que aquele beijo era mais para confortar a mulher que eu mais admirava no mundo do que para acalmar a mim mesma. Ela não precisava de mais preocupação do que já tinha.

Mas eu sabia que não estava tudo bem. Nada estava. A cozinha, tantas vezes o coração da casa, agora parecia uma sala de espera antes de um julgamento.

Bárbara de certa forma foi a única que sempre esteve ao meu lado, desde que minha mãe se foi. Ela, Mia e a família Corbell, Joe, e meu padrinho Samuel foram minha rede de apoio. Mas nem mesmo eles conseguiram preencher o vazio deixado pela perda da minha mãe e a ausência de Franco.

No fundo, tudo em mim gritava para evitar aquele jantar, para não ter que encarar o homem que havia me abandonado quando eu mais precisava dele. Ele deveria ter sido meu porto seguro, mas em vez disso, foi um fantasma, ausente em todos os momentos importantes da minha vida.

Bárbara ainda ficou ao meu lado por alguns minutos antes de se afastar, mas mesmo seu toque, que costumava me acalmar, não conseguia silenciar as lembranças que me atormentavam. Aquelas noites frias, quando eu, menina, chorava a ausência dele, ansiando por uma palavra, um gesto que nunca veio. Em vez disso, tudo o que recebi foi o silêncio, um abismo que só se alargou com o tempo.

E agora ele ousava voltar, como se nada tivesse acontecido, como se os anos de dor e abandono não significassem nada. Mas eu não tinha mais nada da menina que implorava por seu afeto. Tinha apenas a mulher que ele ajudou a moldar, endurecida pela dor, pela ausência, e pela necessidade de ser forte quando ele se recusou a ser.

A raiva queimava em meu peito, e por um momento, senti que não conseguiria respirar. Mas Mia estava ali, e eu sabia que precisava manter a compostura, pelo menos por ela.

Ela apertou minha mão levemente, e aquele simples gesto me trouxe de volta ao presente. Havia algo de reconfortante na presença dela, mesmo quando eu estava à beira de desmoronar. A cozinha estava cheia de vozes e sons, mas tudo parecia distante, como se eu estivesse presa em um vórtice de emoções que ninguém mais conseguia ver.

Eu queria estar em qualquer outro lugar, menos ali. Sentada à mesa, prestes a jantar com o homem que mais me decepcionou na vida. E, no entanto, com Mia e Bárbara ao meu lado, eu sabia que, de alguma forma, sobreviveria a mais essa noite. Afinal, eu já havia sobrevivido à ausência dele antes. Mas esta noite era diferente. A mágoa e a raiva estavam à flor da pele, e cada respiração que eu dava parecia alimentar o vulcão prestes a entrar em erupção dentro de mim.

Quando Bárbara anunciou que serviria o jantar, seus olhos encontraram os meus, como se buscassem a garantia de que eu conseguiria suportar por aquilo. O ambiente estava carregado, a tensão no ar era palpável. O murmúrio das conversas ao redor parecia distante, abafado pela tempestade que rugia em minha mente. Eu me sentia uma estranha em minha própria casa, e isso só se intensificou quando ele, Franco, resolveu quebrar o silêncio.

Franco Mendonça — Então, Mia, o que te trouxe de volta ao lar? — A voz dele era casual, mas carregada com uma cordialidade que me irritava profundamente.

Eu vi os olhos de Mia se moverem de relance para mim antes de responder.

Mia Corbell — Saudades e alguns assuntos inacabados… — respondeu ela, com um sorriso frágil, como se tentasse manter a paz.

As palavras dela eram leves, mas eu sentia a tensão subterrânea se acumulando, enquanto chegamos à mesa de jantar.

Todos se acomodaram em seus lugares, exceto Bárbara. Ela se manteve de pé, com as mãos entrelaçadas a sua frente, e o olhar nervoso. O que havia de errado?

Por um breve momento, observei-a em silêncio, tentando entender por que ela não se juntava a nós. Era raro ver Bárbara hesitante. Seu papel, desde sempre, era ao meu lado, de meu porto seguro, aquela que sabia como me acalmar até as situações mais tensas. Mas agora, sua expressão carregava algo diferente. Incômodo? Culpabilidade?

Liandra — Bá, você não vai se sentar? — Perguntei, com a voz mais baixa do que gostaria, tentando mascarar minha crescente inquietação.

Ela desviou o olhar por um segundo, como se procurasse uma saída invisível pela janela. Meu desconforto aumentou. Eu conhecia aquela reação. Algo estava muito errado.

Bárbara Bianchi — Espero que gostem do jantar. — Sua voz soou suave, mas vacilante. — Vou deixá-los à vontade.

Ela começou a se virar, pronta para sair da sala, e aquilo me atingiu como um golpe.

Liandra — Espera, Bá. — Minha mão se estendeu quase involuntariamente, segurando gentilmente seu braço antes que ela pudesse dar outro passo. — Onde você vai?

Ela respirou fundo, sua postura rígida. Os olhos não encontravam os meus.

Bárbara Bianchi — Vou para a cozinha, meu bem. — respondeu, com um sorriso fraco que não chegou a seus olhos.

Eu franzi o cenho, sentindo uma irritação que não conseguia identificar se vinha de Franco, de mim mesma, ou do vazio deixado pelo que ela estava omitindo.

Liandra — Por quê? — minha voz saiu mais firme dessa vez, exigindo uma resposta real.

Bárbara hesitou por alguns segundos, mordendo o lábio como quem escolhe as palavras com cuidado. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Franco interveio.

Franco Mendonça — Eu pedi a Bárbara para preparar um jantar especial, para que pudéssemos aproveitá-lo em família.— A voz dele cortou o ar como uma lâmina, carregada com aquela arrogância calculada.

Meu olhar se moveu da expressão vacilante de Bárbara para Franco. As palavras dele demoraram a afundar, mas quando o fizeram, senti como se tivesse levado um soco no estômago. Família. A palavra ficou ecoando na minha mente, distorcida, quase grotesca e amarga. Ele sequer entendia o significado daquela palavra.

Meu olhar foi para a mesa. Quatro lugares. Um para mim, um para Mia... e os outros dois, para Alma e…

Foi como um clarão de compreensão, seguido imediatamente por uma onda de fúria incontrolável. Minha visão ficou turva por um segundo, e o som ao meu redor parecia abafado, como se eu estivesse submersa em um oceano de raiva.

Liandra — Você fez o quê? — Minha voz soou baixa, mas cada sílaba estava carregada de um veneno que eu mal conseguia conter.

Franco me olhou com aquele olhar confuso, como se fosse incapaz de compreender por que eu estava reagindo daquela forma.

Franco Mendonça — Não vejo problema. — Ele deu de ombros, tão desinteressado quanto sempre foi com tudo o que envolvia meus sentimentos. — Estamos todos aqui, não estamos?

Foi a gota d'água. Toda a raiva acumulada ao longo dos anos, toda a dor que eu sufoquei, veio à tona com uma força que nem eu sabia que possuía.

Liandra — Ah, você não vê problema? — Minha raiva explodiu, atravessando cada nervo do meu corpo como uma tempestade prestes a desabar. — Você realmente acha que é tão simples assim? Que pode simplesmente aparecer e agir como se fosse parte de algo? Como se fosse... família?

Franco recostou-se na cadeira, um olhar desdenhoso no rosto, como se eu fosse uma criança birrenta. Como se tudo o que eu estivesse dizendo não tivesse o menor peso.

O clima na mesa estava se deteriorando, e eu podia sentir a tensão no ar. Bárbara parecia nervosa, hesitando entre nós dois, enquanto Mia tentava me transmitir calma com um olhar. Mas era tarde demais para controlar a tempestade que eu havia soltado.

Bárbara Bianchi — Filha, está tudo bem. Eu não me importo. — Ela firmou com um sorriso curto.

Liandra — Mas eu me importo! Você é a minha família!

Bárbara Bianchi — Eu sei, meu bem, mas por favor, aproveite seu jantar. Está tudo bem. — Reafirmou tentando me tranquilizar.

Liandra — Não, não está tudo bem! — Eu não podia mais me segurar. Levantei-me, batendo as mãos na mesa com força. O olhar de Franco me atravessou. — E você nunca mais faça isso novamente! — berrei. — Ela pode não ter meu sangue, mas sempre foi muito mais família para mim do que você!

A raiva transbordou. O sangue pulsava em meus ouvidos, e tudo ao redor parecia desacelerar, exceto o ódio queimando em mim.

Franco Mendonça — Já chega! Olha como fala comigo! — gritou, e eu senti meu corpo inteiro estremecer.

Liandra — Eu falo como bem entender! Não ouse achar que sua opinião representa algo pra mim!

Liandra — Ei, ei, vamos nos acalmar! — Ela pediu se aproximando de mim, mas era tarde demais, eu estava além de qualquer razão.

Ele estufou o peito, como se estivesse pronto para uma batalha, e eu sabia que havia cruzado uma linha, mas não me importava mais.

Franco Mendonça — Chega, Li, não vou mais tolerar suas birrinhas e infantilidades! Eu sou seu pai e você me deve respeito!

Mia Corbell — Li, por favor… — sussurrou ao meu lado, mas eu estava além de qualquer controle.

Liandra — Não, Mia, chega. — Levantei-me bruscamente, minhas mãos batendo com força na mesa. — Ele nunca esteve aqui. Ele nunca foi uma família para mim. — Me virei para Franco, meu corpo inteiro queimando de raiva. — Você acha que tem o direito de sentar aqui e agir como se realmente tivesse algum papel na minha vida? Como se fosse meu pai? — A ironia gotejava das minhas palavras. — Você quer que eu te respeite? Então me diga, Franco, onde você estava quando eu precisei de você? Onde você estava quando eu chorei sozinha, quando fiquei doente e implorei chamando por você? Onde você estava no dia da minha formatura? No meu aniversário, ou no Dia dos Pais? Onde você estava em todas as vezes que levei flores ao túmulo dela? Me diz!

Franco, pela primeira vez, pareceu se encolher sob o peso da minha acusação. A sala inteira havia se calado. Mia me olhava com os olhos arregalados, e Bárbara estava imóvel ao fundo, as mãos trêmulas. Mas eu não estava mais buscando validação, eu estava libertando uma verdade que havia sido sufocada por tempo demais.

Franco Mendonça — Eu... estava ocupado com os negócios. — Ele murmurou, como se isso fosse uma justificativa.

Uma risada amarga escapou dos meus lábios antes que eu pudesse impedir.

Liandra — Negócios? — Eu repeti, incrédula. — Negócios? Foi isso que substituiu a sua única filha? Os seus negócios? E agora você acha que pode simplesmente voltar e se sentar à mesa como se nada tivesse acontecido? Como se o seu abandono não tivesse me marcado?

Franco Mendonça — Li, isso já passou. Eu estou tentando me reconectar a você. — Sua voz estava ficando mais defensiva, irritada.

Liandra — Reconectar? — Eu ri de novo, mas dessa vez foi um som cheio de raiva e desespero. — Você nunca esteve conectado a nada além do seu próprio ego. E agora você quer usar a palavra “família”como se soubesse o que ela significa? Bárbara é e sempre foi mais mãe para mim do que você jamais poderia ser pai!

Ele me olhou com uma mistura de indignação e desconforto. Mas eu não tinha terminado. Eu não iria deixar que ele passasse impune.

Liandra — Se você acha que vai entrar aqui e mandar na minha casa, você está muito enganado. Esta é a MINHA casa, Franco. E você... — Apontei o dedo para ele, meu coração batendo descontrolado. — Você aqui não passa de um hóspede indesejado.

Ele me encarava com um misto de raiva e indignação, os olhos faiscando como se tentasse me intimidar. Eu sentia o peso do olhar dele, e a tensão na sala aumentava, transformando cada segundo em um desafio.

Franco Mendonça — Você não tem o direito de falar assim comigo! — ele disparou, a voz carregada de desprezo.

Liandra — E você não tem o direito de chegar aqui e tratar quem eu amo como se fosse nada! — retruquei, firme.

Franco Mendonça — Você gostando ou não, eu sou o seu pai. Então baixe o seu tom de voz pra falar comigo. — Ele esbravejou entre os dentes, sua voz carregada de autoridade forçada, como se cada palavra fosse uma ordem imposta a ferro e fogo.

Alma se agitou ao lado dele, os olhos se estreitando em desaprovação.

Alma Ferri — Franco, para com isso! — Ela o interrompeu, a tensão crescente pesando no ar.

Pai? Ele? Eu não consegui conter a risada que escapou dos meus lábios, seca, ácida e amarga, rasgando o silêncio como uma faca. O som ecoou pela sala, carregado de desprezo.

Liandra — Pai? Você? — Gargalhei, o gosto metálico da raiva se espalhando pela boca. — Isso deve ser uma piada. Você não passa de um imbecil, hipócrita!

Franco Mendonça — CHEGA! — Ele rugiu, a palavra explodindo no ar.

A sala ficou em silêncio, e antes que eu pudesse reagir, senti o impacto. O estalo ressoou pela sala. Minha cabeça girou para o lado, o choque foi tão rápido quanto doloroso. O mundo pareceu se partir em dois naquele momento. O calor em meu rosto queimava, mas não tanto quanto o ódio que fervia dentro de mim.

A dor me atingiu como uma onda de calor. Por um momento, tudo ficou quieto. O ardor no meu rosto era um reflexo perfeito do que eu estava sentindo por dentro: raiva, humilhação, e uma fúria primitiva que agora vinha a tona como um vulcão extinto entrando em erupção.

Alma Ferri — Que droga, Franco! Está louco? — A voz de Alma ecoou pela sala, carregada de fúria e descrença.

Eu toquei meu rosto, ainda atordoada, enquanto a dor se espalhava não só pela pele, mas por todo o meu ser. Aquilo era mesmo real? Eu, a mulher poderosa e inabalável que construí, estava ali, sendo reduzida a nada por um homem que nunca soube ser meu pai.

Mia e Bárbara correram até mim, os rostos delas marcados pela mesma incredulidade e preocupação.

Mia Corbell — Li, você tá bem? — A voz de Mia soou trêmula, mas seu toque era firme. Sua mão repousou no meu braço, tentando me ancorar à realidade, mas eu estava perdida, flutuando entre a dor e a indignação.

Franco Mendonça — Bárbara, nos dê licença, por favor. — Ele ordenou com frieza, ignorando completamente o que tinha acabado de acontecer, como se fosse um detalhe insignificante.

Bárbara Bianchi — Claro, senhor. — A submissão de Bárbara ao comando dele me atingiu ainda mais forte que o tapa.

Liandra — NÃO! Ela não vai a lugar algum! — Gritei, minha voz saiu como um grito rouco, cheia de determinação. Eu não ia deixar que ele continuasse a controlar as pessoas que amo.

Bárbara, visivelmente abalada, hesitou. Seus olhos, sempre tão calorosos e protetores, agora estavam cheios de desconforto e dor. E aquilo me despedaçou.

Bárbara Bianchi — Filha, está tudo bem. — Ela tentou sorrir, mas a preocupação estava ali, evidente em cada palavra. — Vou preparar um chá pra você e pegar uma bolsa de gelo.

Eu segurei sua mão.

Liandra — Você não precisa ir, Bá! — implorei, a dor e o medo misturados nas minhas palavras.

Ela me deu um beijo suave na testa, como fazia quando eu era criança, e se virou. Ver ela partir me fez sentir uma solidão sufocante. Eu estava sozinha, presa em meio ao caos que Franco mais uma vez havia causado.

Alma, sem perder tempo, se aproximou de Franco, sua fúria prestes a transbordar.

Alma Ferri — O que deu em você? — perguntou, com a voz baixa e cheia de descrença e raiva.

Franco Mendonça — Não se meta, Alma! — Ele disparou de volta, mas sua voz estava trêmula, como se ele soubesse que tinha cruzado uma linha perigosa.

Alma Ferri — Como é? Eu me meto sim! Você está agindo como um idiota! — Ela avançou, e sua indignação me deu forças.

Mia ainda estava ao meu lado, sua mão descansando na minha, seus olhos me implorando para voltar à calma. Mas não havia mais calma dentro de mim.

Mia Corbell — Será que todo mundo não percebe que isso não vai ajudar em nada? — Mia finalmente falou, sua voz desesperada. Eu podia sentir a angústia dela, mas eu estava cega pela dor e pela raiva.

Franco cruzou os braços, os olhos fixos em mim, como se fosse um juiz esperando meu veredito.

Franco Mendonça — Eu perdi a cabeça, ok? — Ele exclamou, irritado. — Posso não ter sido o melhor dos pais, mas ainda sou o pai dela e ela me deve respeito!

Minha risada amarga ressoou novamente.

Liandra — Respeito? — sussurrei, minha voz saindo como veneno. — Eu não lhe devo nada! — Girei o corpo para encará-lo, minhas palavras atravessando o silêncio como uma faca. — Nunca mais ouse dizer quem senta ou deixa de sentar à minha mesa. — Apontei para a cadeira de Bárbara, vazia. — Ela pode não ter meu sangue, mas ela sempre esteve aqui! Ela abriu mão da vida dela pra cuidar de mim. — Levei a mão ao peito e bati, orgulhosa antes de finalizar. — Eu sou a mulher que sou hoje graças aos valores que ela e Joe me ensinaram, não você!

As palavras dele morreram em sua garganta. Ele sabia que eu tinha razão. E eu sabia que não queria mais ouvir sua voz, suas justificativas vazias.

Liandra — Me desculpem por isso. — Murmurei, dirigindo-me a Alma e Mia, minhas pernas já prestes a se mover em direção à porta. — Eu realmente sinto muito. Se me derem licença...

Alma assentiu, sua expressão suave, mas cheia de empatia.

Alma Ferri — Não se preocupe, querida. — disse, mas o peso do que aconteceu não se dissiparia com palavras gentis.

Eu já estava de costas quando me virei uma última vez, meu olhar firme pousando em Franco.

...Liandra — E antes que eu me esqueça... — minha voz saiu baixa, mas as palavras saíram com uma precisão cruel, quase mortal. — Nunca mais, na sua vida, por nenhuma hipótese, ouse encostar em mim de novo....

...•••...

...Palavras do autor...

“Hoje, a reflexão ficará por conta de vocês. Sinceramente, não tenho palavras para descrever esse capítulo. Às vezes, certas histórias falam mais com o coração do que com qualquer explicação. Este capítulo é um daqueles que desafia qualquer tentativa de descrição. A emoção, a dor e a raiva dançaram juntas, criando uma tapeçaria complexa que só pode ser sentida, não expressa.

E assim, deixo vocês com a liberdade de interpretar, de sentir, de se conectar com o que não foi dito. Desejo que cada um de vocês encontre seu próprio eco nas entrelinhas, descubra seu próprio significado nas sombras e na luz. Porque, no final, o que realmente importa não são as palavras, mas a experiência que nos une.

Que as dores e alegrias que não consegui descrever ressoem em vocês de maneira única, e que cada um possa encontrar sua própria cura nessa dança de sentimentos. Às vezes, é na falta de palavras que encontramos a verdadeira profundidade de nossas almas. Sigam em frente, não apenas aqui na ficção, mas com a sua própria história, mas com as lições que ela carrega — a beleza do humano em suas imperfeições, é a força que encontramos na vulnerabilidade. Pois, no fim, somos todos parte dessa mesma tapeçaria, entrelaçados por nossas histórias não contadas.”

...•••...

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Comments

Maria Andrade

Maria Andrade

mais que pai escroto esse da Leandra, se eu fosse ela teria o expulsado ele a ponta pés de sua casa

2024-10-16

1

Ana Faneco

Ana Faneco

Eu o teria expulsado da minha casa 😡

2024-09-30

1

Maria Fabiana

Maria Fabiana

Não pensei que esse jantar fosse com esse nível de tensão. Uma coisa é certa temos que pôr as pessoas que amamos e que nos amam em primeiro lugar se a outra parte não enxerga isso é bom que vá embora.

2024-09-29

2

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo.
2 Capítulo 01: A tempestade antes da calmaria. Narrado por Liandra Colucci.
3 Capítulo 2. “Reencontros: Entre as sombras do passado e a tensão do presente.”
4 Capítulo 3. “Entre o Desejo e a Renúncia.”
5 Capítulo 4. “Ecos do passado.”
6 Capítulo 5. “Sombras do Passado.”
7 Capítulo 6. “A Beira do Incontrolável.”
8 Capítulo 7. “O silêncio das Palavras não Ditas.”
9 Capítulo 8. “Coração em Colapso.”
10 Capítulo 9. “Entre o Silêncio e a Esperança.”
11 Capítulo 10. “O caminho para Aceitação.”
12 Capítulo 11. “Uma Guerra Silenciosa.”
13 Capítulo 12. “O Reencontro Após o Silêncio.”
14 “Além das Palavras.”
15 “Um passo de cada vez.”
16 “ A cada batida, um momento entrelaçado.”
17 “Novas esperanças e velhas feridas.”
18 “Novas esperanças e velhas feridas.” Parte II
19 “Novas esperanças e velhas feridas.” Parte III
20 “Entre novas esperanças e velhas feridas: Cicatrizes.”
21 “Entre as chamas do passado: Um lugar chamado você!”
22 “Um lugar chamado você.”
23 “Entre beijos e sussurros.” +18
24 “A calmaria antes da tempestade.”
25 “O início da tempestade.”
26 “Jogo de poder.”
27 “O peso dos segredos: A escolha da proteção.”
28 “Verdades e suas consequências.”
29 “Ecos de um desastre.”
30 “Ecos da dor.”
31 “Entre a verdade e a omissão.”
32 “Medos e lembranças.”
33 “Entre silêncios e promessas.”
34 “Escolhas e confrontos.”
35 “No limite entre o medo e a coragem.”
36 “Reflexos de uma relação complicada.”
37 “ A tempestade interior.”
38 “O despertar.”
39 “Conselho.”
40 “Entre o dever e o desejo.”
41 “Entre confrontos e decisões; Vínculos.”
42 “Promessas e sacrifícios.”
43 “Correntes.”
44 “Entre nós.”
45 “O que sempre foi nosso.”
46 “ O mar dentro dela.”
47 “A arte de te resistir.”
48 “A arte de me perder em você.”
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Prólogo.
2
Capítulo 01: A tempestade antes da calmaria. Narrado por Liandra Colucci.
3
Capítulo 2. “Reencontros: Entre as sombras do passado e a tensão do presente.”
4
Capítulo 3. “Entre o Desejo e a Renúncia.”
5
Capítulo 4. “Ecos do passado.”
6
Capítulo 5. “Sombras do Passado.”
7
Capítulo 6. “A Beira do Incontrolável.”
8
Capítulo 7. “O silêncio das Palavras não Ditas.”
9
Capítulo 8. “Coração em Colapso.”
10
Capítulo 9. “Entre o Silêncio e a Esperança.”
11
Capítulo 10. “O caminho para Aceitação.”
12
Capítulo 11. “Uma Guerra Silenciosa.”
13
Capítulo 12. “O Reencontro Após o Silêncio.”
14
“Além das Palavras.”
15
“Um passo de cada vez.”
16
“ A cada batida, um momento entrelaçado.”
17
“Novas esperanças e velhas feridas.”
18
“Novas esperanças e velhas feridas.” Parte II
19
“Novas esperanças e velhas feridas.” Parte III
20
“Entre novas esperanças e velhas feridas: Cicatrizes.”
21
“Entre as chamas do passado: Um lugar chamado você!”
22
“Um lugar chamado você.”
23
“Entre beijos e sussurros.” +18
24
“A calmaria antes da tempestade.”
25
“O início da tempestade.”
26
“Jogo de poder.”
27
“O peso dos segredos: A escolha da proteção.”
28
“Verdades e suas consequências.”
29
“Ecos de um desastre.”
30
“Ecos da dor.”
31
“Entre a verdade e a omissão.”
32
“Medos e lembranças.”
33
“Entre silêncios e promessas.”
34
“Escolhas e confrontos.”
35
“No limite entre o medo e a coragem.”
36
“Reflexos de uma relação complicada.”
37
“ A tempestade interior.”
38
“O despertar.”
39
“Conselho.”
40
“Entre o dever e o desejo.”
41
“Entre confrontos e decisões; Vínculos.”
42
“Promessas e sacrifícios.”
43
“Correntes.”
44
“Entre nós.”
45
“O que sempre foi nosso.”
46
“ O mar dentro dela.”
47
“A arte de te resistir.”
48
“A arte de me perder em você.”

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