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..."Às vezes, é preciso enfrentar o que mais tememos para redescobrir quem realmente somos." A.E ✔️...
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...• Narrado por Liandra Colucci •...
Eu me pergunto o porquê. O porquê de Mia ainda mexer tanto comigo, mesmo depois de tanto tempo. Meu coração age como um completo idiota perto dela, e isso é irritante. É como se, quando ela estivesse por perto, eu não conseguisse ser eu mesma em nenhum dos aspectos.
Por mais que eu tente me convencer de que posso manter a compostura, basta um olhar, um gesto, e tudo desmorona. É como se ela tivesse algum poder sobre mim, algo que me desarma completamente. Eu, Liandra Colucci, que enfrento empresários, lidero reuniões, e tomo decisões que afetam o futuro de milhares de pessoas, fico pateticamente vulnerável quando se trata dela.
Isso me irrita. Me faz questionar quem eu sou quando estou ao lado dela. Porque, honestamente, a última coisa que eu quero é perder o controle. E Mia tem essa capacidade de me fazer sentir... indefesa. É frustrante, porque eu sei o quanto ela significa para mim, e talvez seja exatamente isso que me assusta. Ela me faz sentir coisas que eu não quero sentir, coisas que eu achei que poderia simplesmente enterrar e seguir em frente.
Mas aqui estou, anos depois, ainda com o coração acelerado, ainda lutando contra essa sensação de não ser completamente eu quando ela está por perto. É como se ela fosse a única que pudesse ver além das minhas barreiras, que pudesse enxergar a Liandra real, aquela que eu tento esconder de todos, inclusive de mim mesma. E talvez, no fundo, eu tenha medo de que ela veja algo que nem eu mesma sei lidar.
...Eu odeio essa vulnerabilidade, odeio como ela me faz questionar tudo. Mas, acima de tudo, odeio o fato de que, mesmo sabendo de tudo isso, eu ainda desejo estar perto dela....
Mais ainda a algo que me perturba ainda mais. Tem algo por trás dessa volta repentina dela que eu não consigo entender completamente. Talvez seja a inquietação que ela não conseguiu esconder... ou o medo. Sim, ela parecia assustada. Mas com o quê?
Essa pergunta me atormenta. Conheço Mia desde sempre, sei quando algo a perturba, quando ela tenta mascarar suas emoções. E aquela expressão no rosto dela, aquele olhar que ela mal conseguiu disfarçar... não era o olhar de alguém que simplesmente voltou para casa. Era o olhar de alguém que carrega um fardo, algo que a persegue, e que ela não consegue soltar.
Mas por que ela não diz nada? Por que Mia, que sempre foi tão transparente comigo, agora esconde algo tão importante? É como se tivesse uma barreira entre nós, uma parede que ela ergueu para se proteger de algo, ou de alguém. E isso me deixa inquieta, porque eu costumava ser a pessoa em quem ela mais confiava, a pessoa para quem ela corria em momentos como esse.
Enquanto eu mergulho nesses pensamentos, Bárbara surge, interrompendo meu fluxo de raciocínio.
Bárbara Bianchi — Mais vinho, meu bem?
Eu aceito, forçando um sorriso enquanto ela enche minha taça.
Liandra — Obrigada. Você percebeu como Mia estava estranha quando mencionamos a volta dela?
Ela assente, refletindo por um instante.
Bárbara Bianchi — Sim, percebi. Parecia... inquieta. — Começou.
Liandra — Diria até... assustada. — Acrescentei.
Bárbara Bianchi — Mas por quê?
Liandra — Isso só ela pode dizer.
Ela se acomodou na poltrona à minha frente, pensativa. Eu conhecia bem aquele olhar, sei que ela queria discutir algo, então decide me dar a chance de começar.
Liandra — No que você está pensando?
Bárbara Bianchi — Nada em especial. — Ela respira fundo antes de continuar. — Só estava pensando em como as coisas podem ser surpreendentes.
Liandra — Como assim? — pergunto, agora curiosa.
Bárbara Bianchi — Bem... — ela faz uma pausa, me deixando ansiosa. — Eu não te vejo assim há muito tempo.
Franzi a testa, confusa.
Liandra — Assim como?
Bárbara Bianchi — Sorrindo.
Isso me pegou desprevenida. Como assim, sorrindo?
Bárbara Bianchi — Hoje você parecia não ter problemas na cabeça, nem preocupações. Parecia até…
Liandra — Até?
Bárbara Bianchi — Até como você era antes.
Antes. Eu sei exatamente do que ela está falando. Mas não quero ir por esse caminho, não de novo.
Liandra — Eu não quero falar sobre isso. — corto, mais firme do que pretendia.
Bárbara Bianchi — Sobre o quê? Sam? — pergunta ela, fingindo ingenuidade.
Liandra — Isso. E qualquer coisa relacionada.
Bárbara Bianchi — Mas por quê?
Senti a irritação começar a crescer dentro de mim. Por que todo mundo resolveu tocar nesse assunto agora?
Liandra — Por que você e Caroline resolveram tocar nesse assunto agora? Será que ninguém pode aceitar que isso é PASSADO?
Eu enfatizo a última palavra, na esperança de que ela entenda. Mas Bárbara não é como Caroline, que eu consigo ignorar ou controlar. Ela não se deixa intimidar.
Bárbara Bianchi — Passado? — arqueou uma sobrancelha.
Liandra — Sim. — Afirmei sem muita confiança.
Bárbara Bianchi — Então me diga, por que você continua se torturando com isso há tanto tempo?
Eu abro a boca para responder, mas as palavras desaparecem.
Liandra — Eu... eu... — gaguejo, tentando encontrar uma resposta.
Bárbara Bianchi — Não sabe?
Liandra — Não é isso.
Bárbara Bianchi — Então me diga o porquê...
Ela me olha fixamente, esperando. Eu sei que ela não vai parar até que eu responda.
Liandra — Porque ainda dói, tá legal? Satisfeita? Realmente dói como se fosse ontem… — minha voz fica embargada. — O que mais quer que eu diga? Hã? — questiono, irritada. — Ela morreu naquele dia para mim e espero que vocês parem de tentar fazer seja lá o que isso for.
As lágrimas agora ameaçam cair, mas nem isso a faz parar.
Bárbara Bianchi — Então é isso? Uma garota parte seu coração e você simplesmente desiste? Acha que todas as outras pessoas que se aproximarem vão fazer o mesmo?
Eu a encarei, descrente do que acabei de ouvir.
Liandra — Como é?
Bárbara Bianchi — Exatamente o que você ouviu, Srta. Colucci.
Ela nunca usa o meu sobrenome. Desde que me lembro, sempre fui "sua menina". Isso só pode significar uma coisa... e não podia ser boa.
Bárbara Bianchi — Já chega. Estou cansada de te ver fugir disso. — afirma, chateada.
Liandra — Por que está falando assim comigo? — Questionei, inquieta.
Bárbara Bianchi — Assim como?
Liandra — Como se eu fosse a culpada…
Bárbara Bianchi — Eu não disse que você é culpada, nem é isso que estou tentando dizer.
Liandra — Então o que você quer?
Bárbara Bianchi — Quero que você viva, meu amor. — Ela fala com uma voz suave, doce e gentil enquanto se aproxima de mim. — Não importa como, só que viva.
Liandra — Eu vivo, trabalho…
Bárbara Bianchi — E o que mais? — perguntou mesmo já sabendo a resposta.
Liandra — Ora, muita gente vive assim. — retruquei, confiante.
Bárbara Bianchi — Isso não é viver. Você não era assim. Adorava viajar, sair com seus amigos.
Bárbara continuou, pintando um retrato de uma vida que eu costumava ter. Uma vida que parece tão distante agora. Minhas lágrimas agora estão fluindo sem controle, e eu escondi a cabeça entre os joelhos na esperança de encerrar o assunto. Mas nem isso a fez parar.
Liandra — Bá, por favor. — Supliquei entre soluços.
Bárbara Bianchi — Já não acha que está na hora de seguir em frente?! — Ela rebateu parecendo não se importar com o meu estado.
...Que lindo, eu que não era nem de andar sorrindo agora estou aqui encolhida como um bichinho assustado. 🤦🏻♀️🧠...
Liandra — Eu não sei como fazer isso.
As palavras saíram antes que eu pudesse pensar, e de repente, todo o peso daquela confissão me atingiu. Não só a mim, pois Bárbara parou, sua voz suavizou.
Bárbara Bianchi — Ó minha menina, me desculpe. Eu só não aguento mais ver você desperdiçar sua vida assim. Sofrendo por algo que não tem mais conserto.
Liandra — Eu sei, Bá. Mas estou bem. — Afirmei tentando demonstrar uma confiança que não tinha.
Bárbara Bianchi — Você está tudo, querida… Menos bem! Você não vai mais à casa onde cresceu, e sua mãe te deixou porque tudo te lembrava ela.
Liandra — Não! — corto, quase desesperada.
Bárbara Bianchi — Como assim? — ela perguntou, visivelmente confusa.
Liandra — Eu não fiz isso porque me lembrava dela. — Afirmei confiante.
Bárbara Bianchi — Fez por qual motivo então?
Liandra — Fiz porque tudo lá me lembrava daquele maldito dia. Dia esse que eu não queria mais falar ou lembrar.
Bárbara Bianchi — E você conseguiu o que queria?
Ela não vai mesmo parar, não é?
Liandra — Você sabe que não. — respondi, sincera. Não tinha como mentir. Não pra ela.
Bárbara Bianchi — Não se cobre tanto e muito menos se culpe pelo que não é sua culpa.
Liandra — Como você pode saber que não foi?
Ela se ajeitou e me olhou diretamente nos olhos.
Bárbara Bianchi — Nunca mais diga ou sequer pense isso, ok? Você não tem culpa das ações ou escolhas de outras pessoas.
Liandra — Mas não pode afirmar para mim que não foi algo que eu fiz ou deixei de fazer que fez com que ela...
Antes que eu termine, Bárbara me interrompeu.
Bárbara Bianchi — O que posso afirmar é que você fez tudo para fazê-la feliz. Que você enfrentou tudo. Se ela não soube valorizar e amar você como deveria, isso não é culpa sua. — Ela faz uma pausa, me olhando com ternura. — Você é incrível, querida, e acho uma pena que só você não veja isso.
Suspirei, sentindo uma gratidão que mal consiguia expressar.
Liandra — Obrigada.
Bárbara Bianchi — Pelo quê?
Liandra — Por tudo. Por nunca ter ido embora e me deixado. Por ter me priorizado, ficado ao meu lado depois que minha mãe morreu.
As palavras saiam acompanhadas de soluços e lágrimas. Eu nunca havia agradecido por ela ter escolhido ficar, por ter me dado tanto quando eu não tinha mais ninguém. Eu a abracei com ainda mais força e continuei.
Liandra — Você nunca me pediu nada, sempre esteve ao meu lado nos meus melhores e piores momentos, até mesmo quando eu nem merecia. E eu nunca te agradeci por isso.
Nesse momento ela também já havia se entregado as lágrimas.
Bárbara Bianchi — Não tem que agradecer, minha menina. Eu prometi à sua mãe que cuidaria de você.
Eu sei disso. Sei da promessa. Mas sei também que não é só por isso que ela está aqui.
Liandra — Sei que não é só por isso. Você poderia ter tido uma vida diferente, uma família, filhos e mesmo assim cumprir a promessa, mas não o fez.
Bárbara Bianchi — Vamos parar, menina. Você está me fazendo chorar. — Ela ri entre lágrimas.
Liandra — Foi você quem começou!
Nós rimos e nos abraçamos, finalmente aliviadas. A tensão se dissipou, e a conversa continou num tom mais leve.
Bárbara Bianchi — Eu sei que não tive filhos próprios, biológicos. Mas Deus me deu você, e isso é muito mais do que eu já pedi a Ele algum dia.
Ouvir aquilo me trouxe uma paz e uma segurança que não experimentava há anos. Era como se todas as minhas inseguranças se dissipassem naquele momento. Eu sabia, de forma inabalável, que não importava o que acontecesse ou quantos erros eu cometesse, ela sempre estaria lá para me proteger.
Liandra — Obrigada, Bá. Quero que saiba que te amo muito, como se fosse minha própria mãe. E se Deus me desse a chance de viver mil vidas, eu só queria vivê-las se tivesse você comigo em todas elas.
Bárbara sorriu suavemente, seus olhos brilhando com uma ternura infinita.
Bárbara Bianchi – Eu também te amo, minha menina — sussurrou, beijando o topo da minha cabeça com tanto afeto que senti meu coração se aquecer.
Aquela sensação de segurança e proteção era tudo o que eu precisava. O cansaço emocional e físico me pegaram de surpresa, e eu simplesmente deixei que o sono me envolvesse, sabendo que estava segura.
Naquela noite, apesar de todos os meus medos e inseguranças, senti algo que há muito tempo não sentia: esperança. Esperança de que, talvez, um dia eu pudesse encontrar a paz que tanto procuro.
E, talvez, até mesmo descobrir como lidar com os sentimentos que Mia desperta em mim. Porque, no fundo, eu sabia que fugir deles não seria uma solução para sempre. Se Mia estava de volta, era porque havia algo que ainda precisávamos resolver, algo que talvez, só ela pudesse me ajudar a entender.
Mas isso... isso ficaria para outro dia. Hoje, eu só precisava descansar, sentindo o calor e o conforto dos braços de Bárbara, a única constante em minha vida caótica. E enquanto o sono me envolvia, uma última pergunta se formou em minha mente:
...Estaria eu finalmente pronta para enfrentar tudo o que o passado e o presente ainda tinham guardado para mim?...
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...*"Às vezes, para encontrar a paz que tanto buscamos, precisamos encarar as feridas que tentamos esconder e acolher as partes de nós mesmos que ainda têm medo de se revelar." **A.E ✔️*...
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Atualizado até capítulo 48
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