Capítulo 3. “Entre o Desejo e a Renúncia.”

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..."Mesmo quando o coração tenta se proteger da dor, o amor verdadeiro nunca se apaga, apenas espera pacientemente pelo momento em que se tornará visível novamente."...

...A.E✔️...

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...•Liandra narrando •...

O calor do fim da tarde se fazia sentir, mas a brisa suave que passava pelo jardim indicava que a noite logo chegaria, trazendo consigo um toque de frescor. As palavras de Mia giraram pela minha mente por um breve momento, sem que eu conseguisse deixar de me perder na profundidade do olhar dela.

Liandra — Admirando? — Perguntei, um sorriso brincando nos meus lábios. — O que exatamente você está admirando?

Mia Corbell — A vista, a companhia, e... — Ela hesitou por um momento, como se pesasse suas palavras. — E a maneira como as coisas parecem tão... confortáveis aqui.

Apesar do tom brincalhão, havia uma sinceridade inegável nas suas palavras. O sorriso dela, o jeito como ela me olhava, tudo estava carregado de uma tensão elétrica que eu mal sabia como lidar.

Liandra — Bem, se você estava admirando, espero que tenha gostado do que viu.

Mia Corbell — Com certeza! E se eu puder ser sincera, tenho que dizer que é bom estar aqui, especialmente depois de tanto tempo.

Eu me aproximei um pouco mais, não conseguindo resistir à tentação de ficar mais perto dela, de respirar o mesmo ar e sentir a presença dela que, por tanto tempo, foi apenas uma memória distante presente apenas nas minhas lembranças. O silêncio que se seguiu foi carregado, como se ambos estivéssemos conscientes de tudo o que ficou por dizer ao longo dos anos.

Liandra — E o que você achou, até agora, do que encontrou? - Perguntei, tentando puxar uma conversa mais leve, mas sabendo que cada palavra nossa carregava um peso especial.

Mia Corbell — Sinceramente? — Ela fez uma pausa, os olhos fixos nos meus. — Que é lindo.

Ela riu e desviou os olhos pra paisagem a nossa frente, e eu me perdi mais uma vez naquele som que sempre foi como música harmoniosa pra mim.

Liandra — É eu tenho que concordar com você, amo este lugar e não me imagino vivendo em nenhum outro canto do mundo.

Mia Corbell — E nem tem por que. Olha só para essa vista… Esse pôr do sol… Essa casa. — Ela disse enquanto olhava ao redor, maravilhada com tudo que via.

Liandra — Ah, mas você deve ter conhecido muitos lugares lindos nas suas viagens, estou certa? Muitos até mais bonitos que esse.

Ela se apoiou no parapeito da sacada, respirando fundo, olhando para o horizonte e depois de volta para mim. Havia um misto de emoções nos olhos dela, na respiração profunda, e no jeito como falava que fazia com que eu me perdesse, sem de fato estar perdida.

Liandra — Desculpe se eu disse algo qu—

Mia Corbell — Não precisa se desculpar, só passou um turbilhão de coisas aqui dentro nesses poucos segundos. Então você acabou falando sobre minhas viagens e os lugares por onde passei…

Liandra — Sim, tenho certeza de que muito era de tirar o fôlego.

Mia Corbell — Sim, mas este tem uma diferença que o distingue de todos os outros. Uma que torna tudo único e perfeito. — Ela fitou meus olhos, fazendo com que meu coração acelerasse.

Liandra — E posso saber o que é? — Questionei, curiosa.

Mia Corbell — É simples. — Ela fechou os olhos e inspirou. — Aqui tem cheio de lar!

A sinceridade dela fez meu coração acelerar. Eu me lembrei de todas as conversas que tivemos, das promessas feitas e quebradas, e do espaço que criamos entre nós ao longo dos anos. Mas ali, naquela varanda, com o sol se pondo, parecia que o passado estava tão vivo quanto o presente.

Liandra — E foi por isso que voltou? — Questionei tentando mudar o foco dos meus pensamentos. Mas quando vi sua expressão mudar, percebi que talvez tivesse ido longe demais. — Mia, tudo bem? Me desculpe, eu não quis ser intrometida.

Mia Corbell — Tudo bem, você não foi. É só que… — ela começou, mas eu a interrompi.

Liandra — Não precisamos falar disso. Podemos só mudar de assunto. — falei tentando desviar o foco, mas minha mente estava inquieta, e minha consciência agora mais crítica do que nunca, parecia se deleitar em me atormentar. Faz tanto tempo que Mia foi embora... como ainda posso sentir tudo isso de forma tão intensa?

Ela estava tão perto que eu podia sentir a leveza do seu perfume, e aquilo era um lembrete constante do quão ela ainda afetava profundamente meus sentimentos.

Liandra — Podemos falar da empresa. Se gostaria de mudar algo. — Falei, tentando parecer indiferente, quem visse não dizia que a um dia atrás eu estava em pânico…

...— “ Trouxa. “ —...

...Bradou minha consciência....

...🤦🏻‍♀️🧠...

Mia Corbell — Me parece ótimo.

Senti outra vez o meu corpo estremecer diante do olhar dela e estava começando a me irritar comigo mesma por isso. Afinal, não há motivo para me sentir assim, não é?

...— “ Se você diz. ” — ...

...Minha consciência parecia ter virado outra, Caroline, pois não me dava sossego um minuto....

Faz muito tempo que Mia foi embora, não é possível que antigos sentimentos ainda continuassem vivos, certo? Certo! Pelo menos era isso que eu dizia pra me consolar.

Mia Corbell — Bom, acho que pelo que você disse agora, minha mãe deve ter feito parecer que eu quero mudar algo, não é? — Ela questionou, tirando-me dos meus pensamentos.

Liandra — E você não quer?

Mia Corbell — Claro que não, você é excelente no que faz e sempre cuidou de tudo sem a intromissão da minha mãe ou de nossa família por um motivo…

Havia um brilho nos olhos dela que me deixou desconcertada.

Liandra — Desculpe, eu não estou entendendo… — franzi as sobrancelhas, tentando acompanhar.

Mia Corbell — Confiamos em você… — ela fez uma pausa antes de continuar. — Li, eu não quero roubar o seu lugar, se é isso que você está pensando… Eu só quero poder trabalhar com você.

Aquela declaração me pegou de surpresa. A sinceridade presente em suas palavras fez meu coração acelerar, e, por um momento, me vi presa em um conflito interno entre o que sentia e o que deveria fazer. Ela não estava aqui para me substituir, mas para estar ao meu lado. E, apesar de todos os medos e dúvidas, essa ideia trouxe uma sensação de conforto que eu não esperava sentir.

Liandra — Eu agradeço toda confiança que sua família tem em mim… — Agradeci sem jeito, enquanto ela fitava meus olhos.

Mia Corbell — Você não tem que agradecer, é a verdade… Você é brilhante. Você tornou a Elite Corp/Enterprise uma corporação respeitada no mundo inteiro. Seu trabalho é incrível.

Ok. Eu corei violentamente diante daquele elogio, ainda mais por ter vindo dela. Mia é uma engenheira renomada, com várias especializações e também um doutorado em arquitetura e urbanismo. No nosso meio de trabalho, ela é considerada uma das melhores.

Liandra — É muito gentil da sua parte dizer isso, e eu agradeço por isso. — Fui sincera.

Mia Corbell — Não estou sendo gentil, só sincera. Tanto que minha mãe confia totalmente em você pra não se envolver… O que, convenhamos, é um feito e tanto, já que ela não confia em ninguém. — brincou. — Nem mesmo no David. — Rimos.

Liandra — Outra vez, agradeço a confiança que sua família deposita em mim… Mas você também é incrível no que faz. Sempre gostei muito dos seus projetos de arquitetura verde e autossustentável.

Mia Corbell — Sério? — Questionou, surpresa.

Liandra — Claro, Mia. Mesmo que você tenha ido embora, deixando tudo para trás, a história que você escreveu lá fora repercutiu aqui... Seu trabalho é maravilhoso.

No final da frase, senti que havíamos voltado para um tempo onde ainda éramos inseparáveis.

Mia Corbell — Obrigada, não sabe como isso é importante para mim. — Ela sorriu, e eu retribuí, sentindo que, talvez, algo entre nós ainda pudesse ser restaurado.

Liandra — E aí, não há nada que você queira mudar? — Perguntei, rompendo o silêncio confortável que nos envolvia.

Mia Corbell — Na verdade, tem uma coisinha...

Liandra — E o que seria? — Perguntei, curiosa.

Bárbara Bianchi — Mia, meu bem, espero que seja aquele jardim horroroso... — Disse esperançosa, enquanto Mia sorria divertida.

Mia Corbell — Viu só?

Liandra — Ei, espera aí, meu jardim não é horroroso coisa nenhuma! — Exclamei, fingindo indignação.

Mia Corbell — Sério? Para alguém que construiu o próprio paraíso aqui, aquele jardim é quase uma piada. — Debochou.

Bárbara Bianchi — Ela tem razão, querida.

Liandra — Isso por acaso agora é um complô contra a minha pessoa? — Levei as mãos ao peito, fingindo mais indignação, e a loira gargalhou.

Mia Corbell — Não é contra você, e sim contra o jardim.

Todas nós rimos.

Liandra — Ok, vocês me convenceram.

Mia Corbell — Sabia que não ia se opor. — Disse, presunçosa.

Liandra — Você é a expert na área, então sem discussão. — Arqueei as mãos em sinal de derrota. — “Mas por que isso é importante?”

Mia Corbell — Bom, somos uma das únicas corporações de alto nível que visa proteger o meio ambiente, criando projetos sustentáveis que não afetam a natureza de forma negativa. Então acho que deveríamos expressar isso também na nossa entrada... Não concorda?

Liandra — Você tem toda razão.

Continuamos a conversar por algum tempo até que Bárbara chamou pra nos juntarmos a ela numa taça de vinho. 🍷

Mia Corbell — Bá, eu adoraria, mas preciso ir. Tenho um compromisso mais tarde. — Explicou.

Bárbara Bianchi — Ah que pena.

Mia Corbell — É um encontro, na verdade. — Disse, tímida, e meu coração pareceu errar uma batida.

...“Como assim, ela tem um encontro? Não acabou de voltar?” ...

Minha mente fervilhava cheia de perguntas sem resposta, enquanto eu sorria sem humor, observando a interação das duas.

Liandra — Bom, então você não deve se atrasar e deixar o sortudo esperando.

...“Mas que droga você está falando?”...

...🙄🧠...

...— minha consciência gritava enquanto eu tentava manter um sorriso nos lábios....

Bárbara Bianchi — Exatamente, mas o convite está de pé caso mude de ideia.

Mia Corbell — Obrigada, eu adoraria poder ficar. — Concluiu, olhando diretamente nos meus olhos, fazendo novamente meu corpo arrepiar por inteiro.

Enquanto ela se despedia, um misto de emoções me invadiu. Eu sabia que deveria estar feliz por ela, mas não conseguia. Tentei não demonstrar, mantendo a compostura, mas a verdade era que aquilo me afetou mais do que eu estava disposta a admitir.

Bárbara Bianchi — Obrigada por ter vindo, querida.

Mia Corbell — Eu que agradeço o convite. — Ela se virou para mim. — Te vejo na empresa amanhã?

Liandra — Claro. E, por favor, volte quando quiser.

Mia Corbell — Vou me lembrar disso, senhorita Colucci. — Sorriu divertida, e eu revirei os olhos.

Liandra — Voltamos a isso?

Mia Corbell — Nós algum dia paramos?

Rimos juntas.

Liandra — Acho que não... — respondi e respirei fundo. — “Boa sorte no seu encontro.” — Disse, com um sorriso que eu sabia que estava mais forçado do que genuíno.

Mia Corbell — Obrigada, Li. Até amanhã. — Ela me lançou um último olhar com um sorriso suave nos lábios, antes de se afastar.

Quando ela finalmente desapareceu pela porta, deixei escapar um suspiro pesado. Bárbara, sempre atenta, não deixou de notar.

Bárbara Bianchi — Querida, você está bem? — A pergunta dela era carregada de preocupação.

Liandra — Estou. Só estou cansada, acho. — Respondi, tentando afastar qualquer sinal de vulnerabilidade.

Bárbara Bianchi — Sei que tem sido difícil pra você nos últimos anos. Mas dê tempo ao tempo, querida. — Ela se aproximou e me envolveu em um abraço caloroso, algo que sempre fazia com que eu me sentisse segura, era como se o mundo não pudesse me alcançar enquanto estivesse ali, em seus braços.

Liandra — Eu sei. Só... às vezes acho que nunca vou deixar de me sentir assim. — Confessei.

Bárbara Bianchi — Assim como? — Questionou, confusa.

Liandra — Vazia! — Respondi, sem confiança, e ela me olhou com ternura parecendo compreender todas as palavras não ditas.

Bárbara Bianchi — Sei que o destino foi cruel com você ao escrever sua história, menina, e também sei que histórias assim não desaparecem da noite para o dia. Mas saiba que o que é seu, querida, sempre encontrará uma forma de chegar ou até mesmo voltar pra você.

Ela me olhava, parecendo saber perfeitamente tudo o que se passava dentro de mim. Eu sabia que ela tinha razão, mas naquele momento, era como se um espinho estivesse cravado no meu peito, me fazendo sangrar constantemente, dia após dia.

Liandra — Obrigada, Bá. Você sempre parece saber o que dizer. — Agradeci, e beijei sua testa com carinho.

Bárbara Bianchi — Eu sempre estarei aqui para você, meu amor. Sempre. — Ela deu um último aperto antes de me soltar.

A verdade é que, embora Mia tenha saído pela porta, sua presença ainda pairava no ar. Era como se o lugar estivesse impregnado com a energia dela, com o cheiro... o sorriso. Por um momento, me perguntei se havia uma chance, se algum dia eu conseguiria ser mais para ela do que apenas a amiga de infância... a figura presente em quase todas as memórias do seu passado.

O jardim, o vinho, a brisa da noite que agora chegava... tudo me lembrava de como era fácil estar com ela, mas também de como tudo parecia ainda ser igualmente doloroso. Mia era, e sempre foi, pra onde eu corria quando tudo parecia desabar ao meu redor, mas o destino sempre pareceu gostar de encontrar maneiras cruéis de colocar barreiras entre nós.

Peguei a taça de vinho que Bárbara havia me oferecido e fui até o parapeito, onde a loira de lindos olhos azuis e um sorriso de tirar o fôlego havia se apoiado momentos antes. A vista estava linda; o pôr do sol, que há pouco tingia o céu com tons de laranja e rosa, agora dava lugar ao brilho das estrelas. Mas minha mente estava em outro lugar, presa em lembranças, em palavras não ditas e em possibilidades que poderiam nunca se realizar.

...“Vazia… vazia… vazia… vazia…”...

...Aquela palavra ecoava na minha mente....

Liandra — E se eu estivesse me enganando o tempo todo? — Murmurei para mim mesma, sentindo a angústia se instalar em meu peito mais uma vez.

Aquela noite, eu sabia, seria longa. O vinho seria, mais uma vez entre tantas outras, apenas uma companhia temporária, enquanto minha mente continuaria a vagar pelos sentimentos que Mia sempre fez questão de despertar em mim.

E por mais que tentasse afastar o pensamento, a verdade era que eu nunca estaria pronta para vê-la nos braços de outra pessoa. Pelo menos, não enquanto o meu coração ainda batia tão descompassado por ela.

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..."Às vezes, o maior desafio não é lidar com o que sentimos, mas aceitar que alguns vazios só podem ser preenchidos por aquilo que mais tememos perder."...

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