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...**"Às vezes, o desejo mais profundo é escondido no toque mais sutil." **A.E✔️...
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...• Narrado por Liandra Colucci •...
Quando acordei pela manhã, ainda estava no mesmo lugar, coberta por uma manta macia. O cheiro delicioso que vinha da cozinha me chamou a atenção, e, com o estômago roncando de fome, forcei-me a levantar e caminhei rapidamente para descobrir o que dona Bárbara estava preparando.
Ao chegar à cozinha, parei na porta, admirando a mulher que me criou e ensinou todos os valores que tenho hoje. Ela estava cozinhando e conversando com Joe, que logo percebeu minha presença e me deu um sorriso caloroso. Fiz um gesto de silêncio para ele, e Joe entendeu imediatamente. Caminhei devagar até Bárbara e a abracei por trás, enchendo seu rosto de beijos.
Liandra — Bom dia, bom dia, bom dia! Como a mulher mais maravilhosa do mundo está hoje? — exclamei, abraçando-a mais forte.
Bárbara se virou para mim, sorrindo, e me retribuiu o carinho. Joe, por sua vez, nos observava com uma sobrancelha arqueada.
Joe — Vejam só quem acordou de bom humor. — brincou, sua voz carregada de sarcasmo afetuoso.
Liandra — Quieto, Joe — retruquei, rindo.
Bárbara — Bom dia, menina. Eu estou bem, e você, como está? — disse, ainda dentro do meu abraço.
Liandra — Estou bem muito bem, melhor que isso até. Estou ótima. — Afirmei com convicção.
Joe olhava para nós duas, claramente sem entender o que estava acontecendo, enquanto eu e Bárbara trocávamos sorrisos cúmplices.
Liandra — Joe, não fique aí parado! Venha aqui me dar um abraço!
Ele hesitou, mas não resistiu, vindo até nós para se juntar ao nosso abraço.
Tanto Bárbara quanto Joe cuidaram de mim desde sempre, e eu decidi que, a partir de hoje, vou retribuir esse carinho todos os dias.
Joe — Bom dia, menina — disse ele, enquanto me apertava com força.
Liandra — Bom dia meu velho.
Joe — E a quem devo agradecer por esse bom humor? — perguntou, afastando-se, com uma expressão divertida.
Liandra — Estou sempre de bom humor, Joe — afirmei, brincalhona.
Joe — Ah, claro… — zombou, revirando os olhos de forma exagerada. — Sempre de ótimo humor…
Nós rimos, e eu joguei uma uva nele, que a pegou no ar.
Bárbara — Ele tem razão, filha. Nós te amamos, por isso não te julgamos — disse amorosa.
Foi nesse momento que me dei conta do quanto eu havia sido insuportável com as únicas pessoas que sempre estiveram ao meu lado.
Liandra — Me perdoem por isso. Prometo que vou prestar mais atenção — fui sincera. — E Joe?
Joe — Sim, menina?
Liandra — Hoje eu vou dirigindo pra empresa, tire o dia de folga.
Eles me olharam incrédulos.
Joe — Como é? — questionou, confuso.
Liandra — Isso mesmo, e você também, dona Bárbara. Quero os dois descansando hoje.
Eles continuaram a me olhar, como se eu tivesse virado um alienígena.
... “Sorri com aquele pensamento.”...
Liandra — Vamos, pessoal — disse, um pouco frustrada.
Joe — Como quiser, menina — Ele levantou as mãos em rendição.
Liandra — E você, Bá?
Bárbara — E o que vou fazer com meu dia livre? — perguntou, cruzando os braços.
Liandra — Eu não sei, só sei que não quero ver nenhum de vocês dentro dessa casa hoje.
Eles finalmente concordaram, e tomamos café da manhã juntos, como sempre fazíamos, mas com mais risos e brincadeiras do que de costume.
Depois de tomar café, fui me arrumar, mas algo me fez voltar.
Liandra — E Bá?
Bárbara — Sim, menina?
Liandra — Obrigada… eu não sei o que seria de mim sem vocês.
Não esperei nenhuma resposta, apenas subi para me arrumar, decidida a não ser mais uma idiota com as pessoas que sempre estiveram ao meu lado sem pedir nada em troca, apenas por me amarem… por gostarem de mim exatamente como eu sou.
...•Narrador•...
Liandra saiu, deixando Joe e Bárbara na cozinha, ambos claramente tentando processar o que acabara de acontecer.
Joe — Então, vai me contar o que foi isso? — perguntou, olhando para Bárbara. — Não estou reclamando, é bom vê-la assim novamente. Só estou curioso.
Bárbara deu de ombros.
Bárbara — Digamos que aconteceu o que precisava.
Joe — hmm..
Joe não parecia satisfeito com a resposta e continuou encarando Bárbara, até que ela suspirou e decidiu contar.
Bárbara — Tá. Nós conversamos. — Admitiu.
Joe — E por que isso soa como se você tivesse feito exatamente o que disse que não faria? — perguntou, sarcástico.
Bárbara havia prometido nunca se meter nesse assunto. Ela jurou que só estaria lá para Liandra, sempre, para o que precisasse.
Bárbara — Não me julgue, velho. Eu não aguentava mais vê-la desperdiçando a própria vida daquele jeito. — disse, um pouco ríspida.
Joe — Eu não estou julgando. Você sabe que há muito tempo eu queria ter feito o mesmo, mas ela nunca dava espaço. E, para constar, eu não sou velho. — repreendeu, sorrindo.
Bárbara — Eu não pedi permissão a ela, Joe. Simplesmente fui lá e a confrontei. E foi ótimo. Só me arrependo de não ter feito antes.
Joe — Entendi. Tomara que isso não mude Bárbi. Nossa menina merece ser feliz.
Bárbara — Não vai mudar, Joe, e tenho a impressão de que isso está prestes a virar rotina — disse ela com um sorriso confiante nos lábios.
Joe — Tomará.
...• Liandra narrando •...
Liandra — Tomará o quê? — perguntei curiosa, interrompendo a conversa.
Bárbara — Ó, filha, não faça isso, você me assustou! — Bárbara exclamou, levando as mãos ao peito.
Liandra — Desculpe. — Pedi sorrindo, e olhei para Joe. — Sobre o que falavam?
Joe — Bárbara disse que, se der tempo, vai fazer pizza de lombo e aquela nossa sobremesa... — Joe começou.
Liandra — Sorvete de baunilha com framboesa e brownie? — completei, já sentindo minha boca salivar.
Joe — Isso.
Liandra — Então pra nossa sorte, tomará mesmo.
Nós rimos juntos, e senti o calor da familiaridade preencher o ambiente.
Liandra — Meus amores eu preciso ir… se divirtam ok?
Despedi-me deles com um beijo rápido e segui para a empresa. Mesmo sem dirigir há tempos, não tinha perdido o jeito. Assim que cheguei, decidi passar pelo jardim. Sorri, surpresa ao perceber que teria que dar razão à loira.
Liandra — Não é que ela tem razão? Esse jardim é...
...— Horroroso? — completou uma voz familiar, com uma pitada de deboche....
Virei-me e me deparei com Mia, que estava parada ali, observando o jardim com um sorriso brincando nos lábios.
Liandra — Ei, bom dia pra você também, mocinha. E eu não diria horroroso, só... minimalista.
Ela riu com gosto, e eu não pude evitar encará-la incrédula.
Mia — É sério? Minimalista? Você tá brincando, né? — Minimalista? Você tá brincando, né? — ela zombou, e eu revirei os olhos.
Liandra — Tinha me esquecido de como você é convencida. — Cutuquei, mas ela pareceu não se abalar.
Mia — Não sou convencida, só realista — ela piscou para mim, claramente se divertindo.
Liandra — Tá tá você tem razão.
Mia — Eu sei, sempre tenho — respondeu com um sorriso provocador, e eu não pude evitar rir.
Liandra — Tá bom, senhorita realista. — cutuquei de leve sua costela. — Estarei na minha sala. Se precisar de mim, é só chamar ou mandar uma mensagem.
Mia — Tudo bem, obrigada. Bom trabalho.
Liandra — Obrigada, pra você também Srta Corbell.
Respondi de forma debochada e saí em direção à minha sala, sem dar espaço para ela retrucar minha provocação. Hoje era um dia crucial, um que eu esperava há meses. Tinha uma reunião marcada para apresentar um projeto a um dos nossos clientes mais importantes.
Assim que entrei no prédio, fui recebida por Sara, que já estava à minha espera com o cronograma em mãos.
Liandra — Bom dia, Sara.
Sara — Bom dia srta Colucci. — Ela me acompanhou até a sala, colocando os documentos sobre a mesa. — Aqui está o plano para a reunião de hoje. O Sr. Thomas e o Sr. Reis já estão na sala de reuniões, esperando por você.
Liandra — Obrigada, Sara. Providencie café e água, por favor. — Pedi, e ela assentiu. — A Srta. Forbes já chegou?
Sara — Não, senhora. E não a vejo desde sexta-feira — respondeu, e eu franzi as sobrancelhas.
Liandra — Veja se a encontra, por favor. E peça para que se junte a nós na sala de reuniões.
Sara — Farei isso agora mesmo.
Assenti e caminhei em direção a sala de reuniões que pra minha surpresa estava com uma participante inesperada.
Liandra — Senhores, bom dia. Peço desculpas pelo atraso.
Thomas — Bom dia, Colucci — Thomas respondeu.
Miguel Reis — Bom dia, Srta. Colucci. — Miguel Reis acrescentou.
Liandra — É um prazer vê-lo novamente, Sr. Reis. — Olhei na direção da integrante inesperada. — Mia.
Mia — Olá senhorita Colucci. — Disse sorrindo e eu não consegui evitar de rir também, afinal ela claramente estava devolvendo a minha gracinha de antes.
Liandra — Que prazer em vê-la se juntar a nós, Srta. Corbell.
Mia — Ah, isso? — Mia gesticulou entre ela e Miguel Reis. — Eu não vim fazer parte da reunião...
Liandra — Não? — Franzi as sobrancelhas, intrigada.
Mia — Não. Eu só encontrei o Miguel lá embaixo, enquanto cuidava do projeto da reforma do jardim, e ele pediu para que eu o acompanhasse até aqui.
Liandra — Desculpe, vocês se conhecem? — Perguntei, e Miguel foi quem respondeu.
Miguel Reis — Ah, sim, a conheci há alguns anos. O trabalho dela é simplesmente incrível. Não acha? — Ele perguntou, visivelmente orgulhoso.
Liandra — Acho sim, ela é maravilhosa — respondi, deixando um sorriso escapar ao ver como Mia ficava um pouco sem jeito com o elogio.
Miguel Reis — Tenho certeza que se tudo correr como planejado, esse será o início de uma grande parceria, Srta. Colucci.
Liandra — Estamos torcendo para isso. E estou confiante de que conseguiremos fechar um acordo vantajoso para ambos os lados, sem deixar de fora nenhum dos pontos que o senhor nos listou.
Thomas, que até então estava observando, finalmente se pronunciou.
Thomas — Eu estava exatamente falando sobre isso quando você chegou.
Mia — Bom… eu não quero atrapalhar então já vou indo pessoal. Vou deixá-los com as coisas chatas de adultos. — disse sorrindo. — Miguel foi um prazer revê-lo.
Miguel Reis — O prazer foi todo meu, minha querida — Miguel respondeu enquanto eles se despediam. Thomas, então, me puxou de canto.
Thomas — Onde está a Caroline?
Liandra — Eu também adoraria saber.
Thomas — Isso é alguma brincadeira? — Questionou irritado. — Ela é a arquiteta que elaborou o projeto e ele é..
Liandra — Eu sei quem ele é, Thomas. E não se preocupe, eu ajudei a criar esse projeto. — Afirmei confiante. — E quanto à Srta. Forbes, vou lidar com isso mais tarde.
Ele assentiu com a cabeça e voltamos a atenção pra reunião assim que Mia saiu da sala.
Liandra — Sr. Reis, nossa arquiteta responsável pelo projeto não está no momento... Ela teve um imprevisto e ainda não chegou, mas posso começar a apresentação eu mesma, tudo bem?
Miguel Reis — Bom, sobre isso, eu gostaria de fazer um pedido — Miguel começou, e confesso que gelei ao ouvi-lo. Quero muito esse contrato e estou disposta a fazer qualquer coisa para consegui-lo.
Liandra — E o que seria? Estamos aqui pra deixá-lo satisfeito.
Miguel Reis — Bom... sendo assim, gostaria que a senhorita Corbell fosse a responsável pelo projeto. Se isso for possível, fechamos o acordo agora mesmo, sem nem precisar avaliar o pré-projeto.
Eu fiquei em choque por um minuto enquanto Thomas me observava com um olhar que eu sabia bem o que queria dizer.
Liandra — Isso sem dúvidas é um pouco inusitado, mas... — fiz uma pausa, ponderando o que dizer. — Thomas, você pode fazer companhia ao Sr. Reis? Eu vou resolver isso e volto num instante.
Ele assentiu, e eu saí da sala à procura da loira de olhos azuis e sorriso fácil.
Pedi a Sara para verificar com a portaria se ela havia saído e me avisar. Minha suspeita se confirmou quando vi uma mensagem no meu telefone, avisando que Mia estava indo para o estacionamento.
Liandra — Droga como vou correr até la com esses saltos...
Resmunguei comigo mesma enquanto tirava os saltos dos pés e disparava em direção ao estacionamento, na esperança de ainda encontrar Mia.
...Q.D.T ...
Quando cheguei ao estacionamento, vi Mia já saindo com o carro. Um pânico irracional tomou conta de mim. Eu precisava falar com ela, agora. Sem pensar direito, executei uma das ideias mais idiotas que já tive… E quero dizer mais idiota porque essa superou todas.
Tudo aconteceu rápido demais. O som dos pneus cantando no asfalto, o choque do para-choque contra meu corpo, a dor súbita no meu tornozelo. Senti o impacto me derrubar no chão, e antes que pudesse reagir, minha cabeça encontrou o concreto duro.
A dor era intensa, uma pulsação constante que tomava conta da minha cabeça. Ouvi Mia gritar meu nome, a voz dela continha medo e irritação. Eu queria responder, dizer que estava bem, mas as palavras não saíam. Tudo que conseguia fazer era focar na dor que latejava em minha cabeça e no zunido constante em meus ouvidos.
Mia — Li? Você tá bem? Droga, você ficou maluca! — A voz de Mia era uma mistura de raiva e preocupação.
Eu a ouvia, porém não conseguia responder… só sentia uma dor aguda na cabeça.
Mia — Ei, Cinderela, vamos, não faz isso comigo. — A voz dela suavizou, carregada de carinho enquanto verificava se eu estava respirando.
Por alguns minutos, deixei que ela cuidasse de mim, concentrando-me na sensação do toque dela, tentando encontrar forças para finalmente dizer algo.
Liandra — Mia... — murmurei, abrindo os olhos devagar.
Mia — Oi, eu tô aqui. — Ela passou a mão no meu rosto com carinho. — Você me assustou.
Liandra — Minha cabeça... — Cada palavra parecia exigir um esforço enorme.
Mia — Mas que droga estava pensando quando entrou na frente do carro daquele jeito? — Ela perguntou, irritada.
Liandra — Eu... queria falar com você... — Respondi com dificuldade, a dor na minha cabeça ainda intensa.
Mia — E não pensou que podia me ligar? — A ironia na voz dela era inconfundível, mas eu sabia que ela tinha razão. Eu fui impulsiva, estúpida.
Liandra — Desculpa... eu realmente... não pensei... Pode me ajudar a levantar? — Pedi, tentando mover o corpo e sentindo uma pontada aguda no tornozelo.
Ela assentiu e se levantou me estendendo a mão pra me ajudar, mas soltei um gemido de dor assim que apoiei o pé no chão.
Liandra — Aiii.
Mia — O que foi? — Perguntou, preocupada.
Liandra — Meu pé... dói muito. Acho que torci. — Admiti, me sentindo ainda mais estúpida.
Mia — Eu vou te levar ao hospital, vem. — Ela afirmou com firmeza, passando o braço pela minha cintura para me apoiar.
Liandra — Não, espera... não podemos fazer isso agora... — Tentei argumentar, mas a dor estava tornando tudo difícil de processar.
Mia — Por que não? — Ela questionou, mas não parou de me apoiar.
Liandra — A reunião... o Sr. Reis... está esperando... — Tentei explicar, cada passo era como se minha cabeça fosse explodir.
Mia — Esperando o quê? — Ela parecia confusa, mas ainda assim não me soltou.
Liandra — A sua resposta. — Eu não conseguia falar direito. Minha cabeça estava doendo muito assim como o meu pé que não parava de latejar.
Mia — Você vai precisar ser mais específica, Li. Eu não estou entendendo nada.
Respirei fundo e tentando buscar as palavras na minha mente.
Liandra — Ele quer que você seja responsável pelo projeto do resort... Se você aceitar... ele fecha o contrato agora mesmo... — A explicação saiu em fragmentos, mas eu sabia que ela entenderia.
O olhar que ela me deu fez um arrepio percorrer minha espinha. Havia algo profundo nos olhos dela, uma mistura de incredulidade e... algo mais.
Mia — Me diz que não foi por isso que entrou na frente do carro… — disse e eu assenti. — Eu vou te matar.
A ameaça foi dita em tom de brincadeira, mas eu sabia que ela estava furiosa.
Liandra — Pode fazer o que quiser comigo depois, prometo... Mas por favor, aceita e me ajuda a subir até lá pra terminarmos a reunião. — Insisti, mesmo sabendo que ela jamais aceitaria.
Mia — Você não… — Ela interrompeu, seus olhos semicerrados. — A única coisa que você fará agora é ir para o hospital.
Liandra — Mia, por favor — eu implorei.
Mia — Nem adianta. Eu vou mandar uma mensagem pro Miguel explicando tudo. — Disse, enquanto voltava a me oferecer apoio, me guiando até o carro.
Eu ainda tentei argumentar, mas era inútil. Se eu era teimosa, Mia era pior. E ela ainda tinha sempre um jeito de me fazer ceder ao que queria.
Liandra — Tá bom, tá bom. Você venceu. — Admiti, derrotada
Mia — E você ainda achou por algum instante que me convenceria de algo diferente? — Ela perguntou, com um sorriso nos lábios.
Liandra — Pensando bem... acho que não. — Respondi, meio envergonhada.
Nos apoiamos uma na outra, e continuamos em direção ao carro. No caminho, tropecei e desequilibramos nós duas, caindo uma sobre a outra. E de repente, ela estava ali, tão perto que eu podia sentir a respiração dela no meu rosto.
Liandra — Ai... — Murmurei, sentindo o impacto.
Mia — Machuquei você? — Os olhos dela brilhavam com preocupação.
Liandra — Não, tudo bem... acho que foi só a queda mesmo. — Respondi, tentando sorrir.
Mia — Tá doendo muito? — questionou, afastou uma mecha de cabelo do meu rosto com os dedos, e eu fiz o mesmo com uma mecha do cabelo dela, colocando-a atrás da orelha.
Liandra — Um pouco. — sussurrei observando ela fechar os olhos aos meu toque.
Nossos olhos se encontraram, e por um momento, a dor pareceu desaparecer. Ela estava tão perto... Eu poderia beijá-la ali mesmo, mas antes que pudesse agir, um barulho súbito nos fez voltar à realidade, e Mia começou a sorrir.
Liandra — Do que está rindo?
Mia — Do quanto você é maluca — respondeu, debochada, mas com um tom de carinho.
Liandra — Vamos, pare de debochar de mim, princesinha, e me ajude a levantar — retruquei, e ela revirou os olhos com um sorriso.
Mia — Estou vendo que já está melhorando, está até fazendo piadas.
Mia odeia ser chamada de "princesinha", mas eu sempre gostei de provocá-la. Na verdade, não sei por quê, mas adorava vê-la irritada.
Mia — Você tem sorte por estar machucada agora — ameaçou, uma leve ironia na voz.
Liandra — Claro, claro, princesinha. Agora me ajuda — brinquei, e ela revirou os olhos mais uma vez.
No caminho para o hospital, Mia ligou para Sara.
Mia — Sara?
Sara — Oi, senhorita Mia. A Srta. Colucci está lhe procurando.
Mia — Sim, Sara. Ela está comigo. Preciso que faça algo para mim… Vá até a sala de reuniões e informe ao Sr. Reis que a Srta. Colucci não poderá terminar a reunião com ele, pois sofreu um pequeno acidente.
Revirei os olhos impaciente. Será que realmente precisava detalhar isso?
Sara — Acidente? — A voz da minha assistente soou preocupada do outro lado da linha.
Mia — Isso. Não tenho como explicar agora. Apenas diga que não precisa se preocupar e que ligo para ele assim que possível, ok?
Sara concordou e ela encerrou a ligação e se virou pra mim com um sorriso nos lábios.
Mia — Ainda não acredito que fez isso. — disse incrédula e eu dei de ombros. — Como você está?
Liandra — Com dor.
Mia — Se tivesse juízo não estaria. — zombou.
Liandra — Eu já expliquei sobre isso. — Retruquei irritada.
Mia — Claro, mais isso não torna sua idéia menos estúpida.
Ela estava claramente se divertindo.
Quando chegamos ao hospital, forneci as informações necessárias, e fui levada a contragosto para fazer exames…
Depois de um tempo no quarto do hospital, aguardando a alta, Mia apareceu. Seu rosto estava suavizado pela preocupação, e seus olhos procuravam os meus com uma intensidade que me fez sentir um misto de conforto e nervosismo.
Mia — Oi. Como está se sentindo? — Sua voz era suave e cheia de cuidado.
Liandra — Ainda sinto um pouco de dor. Mas no geral estou bem. O médico disse que logo me dará alta. — Respondi, tentando manter o tom leve apesar da dor persistente.
Ela assentiu e ficamos conversando até o medico aparecer.
Dr — Olá, meninas. — O médico cumprimentou com um sorriso. — Como está minha paciente se sentindo?
Liandra — Sinto um pouco de dor, mas, no geral, estou bem. — Respondi, forçando um sorriso.
Mia — Alguma coisa para nos preocuparmos? — Mia perguntou, apertando minha mão de forma quase imperceptível, mas o suficiente para enviar um arrepio pela minha coluna. O toque dela, mesmo que leve, sempre parecia ter um impacto desproporcional em mim.
Dr. — Bom, ela bateu a cabeça, o que gerou um hematoma considerável, mas nada grave. A dor de cabeça deve passar com o tempo e a medicação adequada. Ela também fraturou o pé direito, o que requer repouso absoluto por pelo menos uma semana. — O médico explicou, detalhando o suficiente para me deixar desconfortável com a ideia de ficar inativa.
Mia — Entendi… E quais são as orientações?
Dr. — Como mencionei, repouso absoluto. Imobilizei o pé da senhorita Colucci, mas ela deve evitar apoiar o pé no chão por pelo menos uma semana. — O médico reforçou, e eu senti a necessidade de protestar.
Liandra — Mais eu preciso trabalhar. — Retruquei.
Mia olhou para mim com um misto de irritação e preocupação.
Mia — Não dê ouvidos a ela, doutor. Vou garantir que ela repouse. — Ela afirmou com firmeza, deixando claro que não cederia às minhas tentativas de ignorar as recomendações médicas.
O médico sorriu, evidentemente acostumado a ver esse tipo de dinâmica, e assinou o papel da minha alta.
Dr. — Tudo bem, então. Como vejo que tem uma ótima enfermeira particular, não vejo motivos para mantê-la aqui por mais tempo. — Disse ele, e eu agradeci com um sorriso cansado.
O hospital forneceu uma cadeira de rodas para facilitar o deslocamento até o carro, e Mia me ajudou a descer com cuidado. Ela me entregou um par de muletas.
Mia — Comprei para você. — Disse gentilmente, e eu sorri, tocada pela consideração.
...Q.D.T...
Quando chegamos em casa, Mia me ajudou a sentar no sofá e acomodou meu pé em uma almofada. Cada gesto dela era cuidadoso, como se temesse que eu pudesse quebrar a qualquer momento.
Mia — Eu vou procurar a Bá. — Anunciou.
Liandra — Não precisa, ela e o Joe saíram e ainda não voltaram. — Informei, tentando encontrar uma posição confortável.
Mia — Ok. Vou pegar água para você tomar o remédio. — Ela disse e saiu, voltando logo em seguida com um copo d'água e o comprimido na mão.
Liandra — Obrigada. — Disse enquanto tomava o remédio, sentindo o gosto amargo se dissolver em minha boca. — Se você quiser, pode ir. Eu ficarei bem agora. — Completei, tentando soar convincente, embora parte de mim não quisesse que ela fosse.
Mia — De jeito nenhum, eu vou ficar aqui com você. — A firmeza em sua voz não deixava espaço para discussão. — Precisa de alguma coisa?
Ponderei por um momento, hesitando em pedir ajuda, mas finalmente cedi.
Liandra — Na verdade, eu adoraria subir e tomar um banho para tirar esse cheiro de hospital de mim. — Confessei, sem conseguir esconder o desconforto.
Mia assentiu e me ajudou a subir as escadas até o meu quarto. Cada degrau parecia uma pequena vitória, e a presença dela ao meu lado tornava tudo um pouco mais suportável. Já no quarto, ela me ajudou a tirar a bota ortopédica para que não se molhasse.
Mia — Você consegue sozinha? — Perguntou com uma suavidade que quase me fez dizer "não" só para prolongar aquele cuidado.
Liandra — Acho que sim. — Respondi, com menos confiança do que gostaria.
Mia — Tem certeza? Eu posso ajudar. — Ela ofereceu novamente, e a tentação de aceitar foi grande.
Liandra — Eu vou tentar. — Respondi, tentando soar mais confiante. Ela assentiu e saiu do banheiro, respeitando meu espaço.
...Tomar banho foi um desafio maior do que eu esperava. Cada movimento parecia um esforço monumental, e o simples ato de me secar sem poder apoiar o pé no chão era quase impossível. E ainda tinha o fato de não ter conseguido colocar a bendita calça do meu pijama. 🤦🏻♀️...
Mia — Tudo bem aí? — a voz dela soou do outro lado da porta.
Liandra — Mais ou menos. — Respondi, sem muita confiança.
Mia — Quer ajuda? — Ela ofereceu novamente, e dessa vez eu hesitei por um longo momento.
Liandra — Naa… Não tudo bem. Eu consigo. — Gaguejei nervosa ao imaginar seus dedos tocando a minha minha pele. — Jesus — sussurrei. — Preciso parar com isso.
Depois de muito tentar, saí do banheiro ainda molhada, sem conseguir terminar de me secar direito, e com a calça do pijama ainda fora do lugar. Mia estava sentada, olhando pela janela, mas virou-se assim que me viu.
Mia — Ei, por que não me pediu ajuda? Você está toda molhada. — Repreendeu com doçura, mas o suficiente para me fazer corar de vergonha.
Liandra — Desculpe, eeee… Eu não queria incomodar. — Falei envergonhada, puxando a camiseta que consegui vestir para baixo, tentando disfarçar a falta da calça do pijama.
Mia — Não é incômodo algum. Espera, eu vou te ajudar.
Ela foi até o banheiro e voltou segundos depois com uma toalha nas mãos.
Ela se aproximou e abaixou para secar meus pés, seus movimentos cuidadosos e gentis. Quando ela passou a toalha pelas minhas coxas, senti um arrepio percorrer meu corpo. Meu coração começou a bater descontrolado, minhas mãos tremiam, e eu respirei fundo, tentando manter o controle.
...“Eu sabia que isso ia dar merda.”...
Era como se o simples toque dos dedos dela tivesse o poder de mexer com algo profundo dentro de mim, algo que eu não conseguia controlar. Cada vez que ela passava a toalha pelo meu corpo, meu coração acelerava ainda mais, e minhas tentativas de disfarçar o nervosismo tornavam-se cada vez mais inúteis.
...Merda, merda, merda....
...Por que isso mexe tanto comigo? Será que estou carente? ...
Tentei ocupar minha mente com perguntas sem resposta, pois a única coisa que eu sabia naquele momento era que quanto mais perto ela chegava, mais nervosa eu ficava.
Mia — Você está com frio? — Questionou e eu olhei pra ela confusa. — Você está tremendo. — Afirmou.
...Inferno. ...
Liandra — Um pouco. — Admiti, sentindo o calor subir pelas minhas bochechas, enquanto o frio que ela mencionava era muito mais emocional do que físico.
Ela se sentou ao meu lado na cama, passando a toalha por meus braços em um movimento repetitivo, na tentativa de me esquentar. O calor do corpo dela tão próximo do meu fazia meu coração bater ainda mais rápido, e eu lutei para controlar a avalanche de emoções que ameaçava me dominar.
Pode ter sido impressão minha, mas por um breve momento, sua mão pareceu descansar propositalmente em cima da minha, e eu senti um frio na barriga.
Mia — Agora só falta o cabelo. — Mia disse, e eu assenti, incapaz de formular uma resposta coerente.
Ela se aproximou ainda mais, secando meu cabelo com um cuidado que parecia quase íntimo. O perfume dela preenchia o ar ao nosso redor, e o calor de sua proximidade era quase demais para eu suportar.
Mia — Você está se sentindo bem? Está melhorando o frio? — Perguntou, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse buscando algo mais profundo dentro de mim.
Eu apenas assenti, incapaz de encontrar palavras. A proximidade dela estava me desarmando completamente, e eu me encontrava em um estado de vulnerabilidade que não sabia como lidar.
...O que eu poderia dizer afinal? Se você se afastar um pouco, talvez eu pare de tremer? ...
...Estou ficando louca, só pode....
Ela terminou de secar meu cabelo, descendo a toalha pelo meu pescoço, e eu não consegui evitar suspirar. Meu corpo reagia a cada toque dela, e a tensão entre nós parecia palpável.
Mia — Tudo bem mesmo? — Mia perguntou novamente, sua voz baixa e quase sussurrada.
Eu queria responder, dizer que estava tudo bem, que só precisava de espaço, mas as palavras pareciam presas na minha garganta. Quando olhei para ela, vi um brilho nos olhos dela, algo que eu não conseguia decifrar, mas que me fez sentir um calor ainda maior.
Liandra — Por que está me ajudando? — Perguntei finalmente, quebrando o silêncio que parecia estar nos consumindo. Era uma pergunta simples, mas que carregava um peso maior, algo que eu não conseguia evitar questionar.
Ela olhou para mim, sua expressão suavizando em algo que parecia... carinho?
Mia — Porque eu gosto. — Respondeu, e eu vi um sorriso de canto aparecer em seus lábios, um sorriso que fazia meu coração saltar no peito.
Eu olhei para os lábios dela, e senti um desejo profundo, algo que eu tentava esconder há tanto tempo, mas que estava borbulhando sem controle na superfície agora, impossível de ignorar.
Liandra — Obrigada por me ajudar. — Respondi finalmente, desviando o olhar com um sorriso sincero.
Mia — Foi um prazer. — Disse, e a frase ressoou com um duplo sentido que fez meu coração disparar ainda mais.
Mia — Deveria sorrir mais vezes, sabia? — Disse, acariciando meu rosto com o polegar. — Você fica linda sorrindo.
Eu correi violentamente paralisada, enquanto debatia com meu cérebro para encontrar uma resposta adequada.
Liandra — Assim você vai me deixar sem jeito. — Respondi, tentando disfarçar o nervosismo.
Mesmo sendo uma resposta estúpida. Respondi sem tirar os olhos dela. Eu sabia que aquilo era perigoso, mas não estava me importando… só queria continuar ali curtindo seja lá o que fosse aquele momento. Imóvel. Era como se tivesse medo de me mover ou falar e estragar o clima.
Mia — Não fica eu só disse a verdade. — Disse e sorriu.
...E pqp, que sorriso....
A conexão entre nós sempre foi inegável, uma força silenciosa que nos unia, mas que nenhuma de nós ousava admitir. Agora, tudo o que eu conseguia pensar era: quem cederia primeiro?
E, nesse caso, o destino parecia querer dar uma ajudinha, fazendo com que as moletas caíssem no chão.
...— Eu pego. — Dissemos simultaneamente, nos abaixando para pegar....
...E claro que ia dar ruim, né?...
Mas esse foi um "ruim" maravilhoso. Eu me desequilibrei, e ela, ao tentar me segurar, me puxou para perto. Caímos na cama, uma sobre a outra… Desta vez, eu estava por cima, e não havia mais nada para nos distrair.
Liandra — Acho que precisamos parar de fazer isso. — Sussurrei, enquanto afastava uma mecha do cabelo dela do rosto.
Mia — O quê? Ficar tão perto assim uma da outra ou cair? — Ela perguntou, a voz rouca e os olhos fixos nos meus. Por um instante, pude sentir as batidas do coração dela ecoando contra o meu.
...O que aquilo queria dizer? ...
Liandra — Acho que os dois. — Sorri.
Mia — Mesmo? — Questionou novamente, só que dessa vez eu um sussurro rouco e malicioso.
Liandra — Acho que sim. — Respondi, deixando minha mão deslizar gentilmente pelo rosto dela.
Mia — E por quê? Isso te incomoda? — Ela murmurou, as palavras tão próximas dos meus lábios que pude sentir seu hálito quente, seguido por um sorriso que era tanto uma provocação quanto um convite…
Ela estava brincando comigo, e eu sabia que poderia brincar de volta. Mas, naquele momento, percebi que o controle havia escapado por entre meus dedos. Com ela, qualquer jogo de sedução era um desafio que eu estava fadada a perder.
Liandra — Não, mas assim fica difícil de controlar. — Respondi, observando enquanto seus olhos percorriam o caminho dos meus até meus lábios.
Mia — Controlar o que exatamente? — Sussurrou, com uma malícia clara em sua voz.
Deslizei para o lado dela, espelhando seus movimentos. Meus olhos desceram dos dela para seus lábios, depois voltaram a se encontrar com os seus, enquanto eu acariciava lentamente o queixo dela, cada toque era uma provocação silenciosa.
Liandra — A vontade. — Finalmente respondi.
Mia — E o que te impede de saciar essa vontade? — Ela perguntou, puxando-me para mais perto, nossas testas se tocando, e o nariz dela roçando devagar contra o meu.
Liandra — Eu não sei se tenho permissão. — Respondi, espelhando a provocação, roçando meu nariz no dela. Ouvi o leve suspiro que escapou de seus lábios.
Ouve uma pausa silenciosa, podia ouvir o som dos galhos de árvore estralando lá fora enquanto eram balançandos pelo vento. Aquele roçar de narizes era uma tentação silenciosa, um convite sem palavras. Estava prestes a me afastar, quando senti sua mão deslizar para meu rosto, seus dedos traçando linhas suaves antes de ela começar a depositar beijos leves sobre minha pele.
Mia — E isso é permissão sufuciente pra você?
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...*“Às vezes, a maior batalha não é entre o que desejamos e o que devemos fazer, mas entre o que o coração anseia e o que a mente teme.” **A.E✔️*...
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Noemy A
só mais um capítulo
2024-09-14
0
lele
amei seu trabalho, continuei assim vc tem talento como escritora , sua obra leva agente pensa como é bom lê, e saber que tudo nessa vida não é fácil, como vc escreve cada personagem cada tem vai além de cada expectativa da vida ...
2024-09-14
4
Licinha
o capitulo de hj foi sensacional a bordagem da liandra com a mia foi perfeito
2024-09-14
3