“Novas esperanças e velhas feridas.” Parte II

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...**"Na vida, aprendemos a carregar nossas feridas como medalhas de honra, mesmo que o peso delas nos arraste para baixo. O passado é um fantasma que nunca realmente se vai, sempre à espreita, pronto para reemergir nos momentos mais inesperados. Às vezes, a estrada para a cura se parece mais com um labirinto de dor do que com um caminho claro, e cada curva pode nos levar de volta ao que tentamos desesperadamente deixar para trás." **A.E✔️♥️...

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...• Narrado por Liandra Colucci •...

O carro avançava lentamente pela estrada, e o silêncio era ensurdecedor. A única companhia era o som do motor e o suave ruído dos pneus deslizando sobre o asfalto. Joe, sempre discreto, dirigia com a mesma calma de sempre, mas eu não conseguia me concentrar em nada além da tempestade de emoções que se aglomeravam dentro de mim.

A raiva fervia, uma chama que parecia consumir cada parte do meu ser. Como ele podia ter voltado agora, depois de todos aqueles anos? A frustração se acumulava como se eu tivesse engolido uma pedra, e eu sentia vontade de gritar, mas o que isso mudaria? Aquele homem era um fantasma que eu tentei enterrar, e agora ele voltou para assombrar minha vida de novo.

*Cada curva da estrada me afastava de casa, mas a imagem do meu pai estava gravada na minha mente, um lembrete cruel da dor que ele me causou. As memórias se entrelaçavam, e eu podia sentir a raiva transformando-se em pressão no peito. Como ele se atrevia a aparecer novamente, como se nada tivesse acontecido? Eu não tinha esquecido.* Cada momento de solidão, cada lágrima derramada em silêncio, tudo isso ainda doía.

...Flashback ON ...

A casa estava envolta em um silêncio profundo e pesado. Aquela noite estava fria e escura, e o vento uivava como se sentisse a dor que eu carregava. Já faziam meses desde que tudo aconteceu, mas a perda da minha mãe ainda era uma ferida aberta. Enquanto os outros se aglomeravam ao meu redor, oferecendo consolo, eu apenas sentia o vazio se expandir dentro de mim. A única pessoa que deveria estar ali, havia desaparecido. A dor se manifestava em forma de um nó no estômago, e eu precisava desesperadamente do meu pai, mas ele não estava lá. O vazio que ele tinha deixado em minha vida parecia se expandir dia após dia, e eu não sabia como lidar com isso.

Bárbara, sempre ao meu lado, sentou-se no chão do meu quarto, envolvendo-me em seus braços como um abrigo, e eu deixei cair as lágrimas que eu havia guardado por tanto tempo. O peito apertava como se uma mão invisível estivesse me sufocando.

— Não chore, minha pequena. — Bárbara sussurrou, me apertando ainda mais em seus braços. Sua presença era um abrigo, mas não preenchia o vazio que eu sentia dentro de mim.

Eu olhei para ela, com os olhos banhados em lágrimas. — Por que ele não está aqui, Bá? Ele deveria estar aqui comigo! — A raiva e a tristeza se misturavam, e eu não sabia para onde direcionar essa dor.

Bárbara acariciou meu cabelo, seu toque delicado me fez sentir um pouco mais segura. — Às vezes, as pessoas não sabem como lidar com a dor. Eles se afastam, mesmo quando precisamos deles. Mas eu estou aqui, Li. Nunca se esqueça disso.

O desespero tomava conta de mim, e eu não conseguia entender por que meu pai tinha escolhido a distância em vez de estar ao meu lado. Ele era o único que poderia me fazer sentir melhor, e a falta dele era como um buraco negro em meu peito.

— Eu só queria que ele me dissesse que tudo vai ficar bem. — Eu me encolhi contra Bárbara, e as lágrimas escorriam pelo meu rosto sem controle. — Eu queria que ele estivesse aqui para me abraçar, como você faz.

Bárbara me apertou mais forte, e eu podia sentir seu coração batendo perto do meu. — Eu sei, querida. Eu sei. Mas você não está sozinha. Você tem a mim, e eu prometo que sempre estarei aqui para você.

O calor de seu abraço era reconfortante, mas naquele momento nada poderia substituir a presença do meu pai. Aquele momento se tornou um lembrete constante de sua ausência, uma ferida que nunca cicatrizaria completamente. Enquanto as lágrimas continuavam a rolar, eu percebi que, naquele instante, Bárbara era a única família que eu tinha, e ela faria o possível para me manter a salvo em meio à qualquer tempestade.

...Flashback OFF ...

A lembrança daquelas noites solitárias, da dor da ausência dele em todos os momentos que consigo me lembrar, só aumentou a minha raiva. Agora, ele estava de volta, e eu não sabia como lidar com isso. O caminho à frente parecia escuro e tortuoso, e eu desejava poder deixar todas aquelas emoções para trás, mas a verdade era que elas me acompanhavam, como sombras que nunca se dissipavam.

A respiração de Joe era naquele momento era a única coisa constante, quase hipnótica. Ele conhecia bem meu passado, mas nunca se intrometia. Um amigo leal, mesmo quando eu estava perdida em minha própria revolta. Naquele momento, queria que ele dissesse algo, qualquer coisa, mas o silêncio só intensificava minha agitação interna.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, chegamos à Elite Coorp. Eu precisava me concentrar no trabalho, desviar o foco da tempestade emocional. A empresa era meu refúgio, o lugar onde poderia deixar para trás a bagagem familiar e construir algo que valesse a pena. Mas, ao sair do carro, a tensão continuava a pulsar em mim, como um fio prestes a se romper.

A porta da empresa se abriu, e o ar fresco da recepção me atingiu como uma lufada de esperança. Eu respirei fundo, tentando me ancorar naquele ambiente familiar. A equipe estava em movimento, cada um focado em suas tarefas, e isso me trouxe uma breve sensação de normalidade. Mas o eco da presença dele ainda pairava sobre mim, como uma sombra que eu não conseguia afastar.

Na empresa, para minha surpresa, tudo estava em ordem; nenhum projeto atrasado, nenhuma reunião perdida. Sara estava me contando que Mia e Caroline haviam cuidado de tudo na minha ausência.

Liandra — E eu pensando que estaria cheia de trabalho atrasado — comentei, a incredulidade transparecendo na minha voz.

Sara Miller — Não, a Srta. Forbes cuidou de todas as reuniões e supervisionou todos os projetos junto com a Srta. Mia — respondeu Sara, e ouvir o nome dela fez meu coração vacilar.

Liandra — Mia participou das reuniões junto com a Caroline? — questionei, ainda cética sobre aquilo.

Sara Miller — Ó sim. Os clientes pareciam muito satisfeitos, inclusive.

Liandra — Não acredito.

Estava incrédula, não porque elas não fossem excelentes profissionais — elas realmente eram —, mas porque Caroline odiava determinadas coisas, e uma delas era “babar velhos ricos”, como costumava dizer. Isso tornava tudo aquilo um pouco mais difícil de acreditar.

Thomas Jeferson — Pois pode acreditar, fiquei exatamente como você no começo — A voz de Thomas, ecoou pelo cômodo.

Olhei em sua direção e o vi entrar acompanhado de Caroline.

Caroline Forbes — Eu estou aqui, sabia? — Caroline revirou os olhos, irritada.

Thomas Jeferson — Só estamos enchendo você — Thomas retrucou, com um sorriso provocador.

Liandra — Isso mesmo, Carol. Parabéns pela competência e obrigada por ter cuidado de tudo — eu disse, tentando ser mais cordial.

Caroline Forbes — Não me agradeça, mas sim à Mia. Ela foi quem, de certa forma, nos guiou enquanto você esteve ausente — respondeu Caroline, e não consegui evitar um sorriso, imaginando aquilo.

— Caroline está sendo modesta — a voz da loira que tanto tem feito morada em meus pensamentos ecoou na sala, e eu a procurei até encontrá-la escorada na porta. — Ela foi excelente.

Liandra — Bom dia, Srta. Corbell — eu disse, tentando esconder a emoção que seu sorriso me provocava.

Mia Corbell — Bom dia — Mia respondeu, um brilho travesso brincando em seus olhos. — Carol está sendo modesta; ela sabia exatamente o que fazer. Eu apenas ajudei.

Sara Miller — Todos foram muito elogiados pelos acionistas e clientes — interveio Sara.

Liandra — Pronto, eu confio no julgamento da Sara; afinal, ela é meus olhos e ouvidos aqui dentro. Então, meninas, parabéns.

Nós conversamos por mais algum tempo, revisamos alguns dos projetos em andamento e discutimos os planos para a próxima reunião com o grupo Alpha. Quando me dei conta, o dia já estava acabando e eu tinha vontade de tudo, menos de voltar pra casa… pro lugar onde aquele homem certamente estaria.

— Minha casa... — murmurei, suspirando. — Por que ele voltou?

Sara me interrompeu, trazendo-me de volta à realidade.

Sara Miller — A Srta. ainda vai precisar de mim? — perguntou.

Liandra — Não, fique tranquila, você pode ir — respondi, tentando me concentrar nos documentos à minha frente.

Sara Miller — Então, boa noite, senhorita, e até amanhã — disse ela, antes de sair.

Fiquei sozinha, focando no trabalho, mas a sensação de estar cercada por paredes frias começou a pesar em meu coração.

— Você não vai pra casa? — ouvi a voz de Mia e levantei a cabeça.

Liandra — Vou, só não agora. Talvez nem hoje.

Mia Corbell — Está tudo bem? — ela questionou, sua voz transparecendo preocupação.

Liandra — Está sim. Não se preocupe — afirmei, tentando me convencer mais do que a ela. — E você, como está?

Mia Corbell — Eu estava pensando em jantar e Sara me disse que você ainda não tinha ido, então vim te buscar — Mia disse, sorrindo, e meu coração acelerou.

Liandra — E no que está pensando? — perguntei, intrigada.

Ela me observou com um brilho travesso nos olhos.

Mia Corbell — Uhmmm, não conto nem sob tortura.

Não pude evitar um sorriso enquanto me levantava e caminhava em sua direção, puxando-a para mim e envolvendo-a em um abraço forte, um gesto que eu sabia que precisava, mas que me enchia de orgulho e relutância.

Liandra — Parece tentador, mas será que podemos deixar pra outra hora? — pedi, torcendo para que ela cedesse e não fizesse perguntas.

Eu não queria ter que explicar as milhares de coisas que fervilhavam dentro de mim naquele momento, mas quando Mia se afastou e buscou meu olhar, soube que ela sabia que eu podia estar tudo, menos bem.

Mia Corbell — Você tem duas opções: continuar mentindo pra mim ou me contar o que está havendo. Então, qual vai ser? — questionou, sustentando meu olhar.

Liandra — Não estou mentindo pra você; está tudo bem — afirmei, mas sabia que não a convenceria. Afinal, eu não conseguia convencer nem a mim mesma.

Ela ponderou por um momento, parecendo avaliar o que dizer a seguir.

Mia Corbell — Então você não querer ir pra casa e estar desse jeito não tem nada a ver com o fato do seu pai ter atendido o telefone ao invés de Bárbara mais cedo, quando liguei?

Aquilo me pegou desprevenida. Eu não sabia o que dizer, então apenas me desfiz do abraço e me afastei, virando as costas para ela.

Mia Corbell — Ei, por favor, sabe que pode confiar em mim — Mia insistiu.

Liandra — A questão não é essa, Mia; só não sei o que você quer que eu diga.

A frase saiu um pouco mais dura e arrogante do que eu pretendia.

Mia Corbell — Ok, essa doeu — disse ela, e eu suspirei, ainda de costas.

Liandra — Desculpa, eu não quis ser rude; só não quero falar sobre isso.

Ela se aproximou, envolvendo os braços ao meu redor, e eu consegui sentir sua respiração quente nas minhas costas. Aquilo, de certa forma, me acalmou.

Mia Corbell — Tudo bem, só estou brincando — disse, simples, enquanto iniciava um carinho lento em meu braço.

Liandra — Eu só não quero falar sobre isso — reafirmei, minha voz mais suave.

Mia Corbell — Copiado, senhorita Colucci — respondeu Mia.

Eu não precisava olhar para saber que ela estava rindo.

Liandra — Sério? — questionei, incrédula, enquanto me virava para olhá-la de frente.

Mia Corbell — Não achou que ia se safar fácil assim, né? — ela provocou, e nós rimos, como se aquele sentimento ruim tivesse se dissipado por um momento.

Ficamos ali por mais alguns minutos, envolvidas, até sermos interrompidas pelo toque do celular de Mia.

...• Narrando por Mia Corbell •...

Enquanto o toque do celular interrompia nosso momento, um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim. Meu coração ainda pulsava acelerado pela proximidade de Liandra, e hesitei antes de olhar para a tela, me afastando um pouco para atender ao ver quem era.

Mia Corbell 📱— Oi — atendi, tentando manter a calma.

📱— Você conversou com ela? — questionou a voz do outro lado da linha.

Mia Corbell 📱— Digamos que sim, se é que dá para chamar aquilo de conversa. — Sorri, lançando um olhar rápido para Liandra, que me observava com as sobrancelhas franzidas, claramente confusa. Fiz um gesto com as mãos pedindo para que ela aguardasse.

📱 — Eu fiz o que me pediu. Tem certeza que é uma boa ideia? — A preocupação na voz do outro lado era palpável.

Mia Corbell 📱 — Se é boa, eu não sei. Mas alguém precisava fazer alguma coisa. — Afirmei, sentindo uma onda de nervosismo. A expectativa do que estava por vir pesava sobre mim.

📱— Tem razão. Então eu espero vocês.

Mia Corbell 📱— Tá bom, até. — Encerrei a ligação e busquei os olhos da morena, que me observava com uma mistura de curiosidade e apreensão.

Liandra — Então? — perguntou, quebrando o silêncio.

Mia Corbell — O que? — Questionei, sem entender sua curiosidade.

Liandra — Tudo bem? — Sua voz tinha um tom de preocupação que não passava despercebido.

Mia Corbell — Claro, por que a pergunta? — Tentei soar casual, mas sabia que não estava convencendo.

Liandra — Você parecia nervosa. — O olhar dela me avaliava com atenção, como se quisesse desvendar cada pensamento oculto.

Mia Corbell — É impressão sua. sua. — Respondi, embora soubesse que mentir não era meu forte, e Liandra tinha um talento especial para perceber a verdade.

Ela me observou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse avaliando o que fazer a seguir. Então, com um movimento decidido, sentou-se sobre a mesa, a uma distância que não era mais do que alguns centímetros. Quando me aproximei, a morena me puxou para mais perto, encaixando-me entre suas pernas, colocando uma mecha do meu cabelo para trás, deslizando suavemente seu polegar sobre meu rosto.

Liandra — Sério? Não vai mesmo me dizer? — Ela perguntou, a provocação em seu olhar.

Mia Corbell — Isso é covardia. — Eu sorri, tentando manter a compostura.

Liandra — Isso é um “não”? — Ela arqueou uma sobrancelha, um sorriso travesso nos lábios.

Mia Corbell — Será que pode confiar em mim só desta vez? — Pedi, meu coração acelerando.

Ela sorriu, um brilho travesso iluminando seu rosto, e sua expressão mudou, tornando-se mais intensa, mais próxima.

Liandra — Me pergunto se você mudaria de ideia se eu beijasse aqui. — A mão dela deslizou para trás do meu pescoço, e antes que eu pudesse protestar, seus lábios tocaram minha pele, começando uma trilha de beijos desde abaixo da minha orelha até o canto da minha boca.

Senti o calor dos lábios de Liandra se espalhar pelo meu corpo, cada beijo mais próximo do canto da minha boca fazia meu coração acelerar ainda mais. Minha respiração ficou irregular, e por um momento, todo o controle que eu tentava manter escapou pelas minhas mãos.

Mia Corbell — Li... — Murmurei, meu corpo respondendo à sua provocação de uma forma que eu não conseguia mais controlar.

Ela parou, apenas a milímetros dos meus lábios, e seu olhar se fixou no meu, intenso e cheio de algo que fazia meu estômago revirar em expectativa.

Liandra — Não vai mudar de ideia? — Sua voz saiu baixa, rouca, como uma carícia que percorria minha pele. O polegar dela continuava a desenhar círculos suaves no meu rosto, cada toque acendendo um desejo latente que eu já quase não conseguia mais esconder.

Eu não podia negar que parte de mim queria ceder, queria esquecer todas as preocupações e me perder nela. A morena sempre soube como me desarmar, como me deixar sem palavras, sem defesa.

Mia Corbell — Isso é injusto... — Respondi, a voz quase falhando enquanto minhas mãos deslizaram por suas pernas, parando em seus quadris. Puxei-a mais para perto, sentindo a tensão elétrica entre nós aumentar.

Ela sorriu, aquele sorriso que me tirava o ar, e aproximou seus lábios ainda mais, quase roçando os meus. O calor do corpo dela parecia se fundir ao meu, e eu me perdi em seus olhos por um segundo, antes de sentir o toque leve de seus lábios finalmente contra os meus.

O beijo começou suave, mas carregado de algo profundo, algo que vinha crescendo entre nós há tanto tempo. Eu senti a maciez de sua boca, o sabor que me fazia querer mais. E então, quando menos esperava, ela intensificou o beijo, seus lábios se movendo com uma urgência que fez meu corpo inteiro reagir.

Minhas mãos se apertaram contra seus quadris, e ela me puxou para ainda mais perto, como se não quisesse me deixar escapar. Seus dedos deslizaram do meu rosto para o meu pescoço, e depois pelos meus ombros, até que ela finalmente segurou firme em minha cintura.

O mundo ao nosso redor desapareceu. Não havia mais trabalho, não havia mais responsabilidades ou segredos. Só havia o momento — só havia ela.

Liandra — Ainda quer que eu confie em você? — Ela sussurrou contra meus lábios, sua voz carregada de desejo.

Eu ri, um riso baixo, quase sem ar, perdido no calor que nos envolvia. Meu coração batia tão rápido que parecia impossível mantê-lo sob controle. Minha cabeça girava, minhas pernas tremiam, como se o peso de tudo o que estávamos compartilhando fosse demais para suportar.

Eu queria continuar. Queria me perder nela para sempre. Mas sabia que naquele momento não podia.

Mia Corbell — Por favor. — pedi num sussurro.

Liandra — Tá bom, tá bom. — Ela levantou as mãos em rendição, seu sorriso malicioso me aquecendo por dentro.

Mia Corbell — Obrigada. — Murmurei com um sorriso, mas ela não me deixou afastar muito antes de me puxar de volta para perto.

Liandra — Senti sua falta, sabia? — A forma como ela me olhou, como se estivesse enxergando direto na minha alma, fez algo dentro de mim se quebrar, mas de um jeito bom. Um sorriso involuntário brotou em meus lábios, tão natural quanto meus braços se enlaçando ao redor do seu pescoço.

Mia Corbell — Eu também senti a sua, Cinderela. — Respondi, minha voz suave, carregada de todas as emoções que eu não conseguia colocar em palavras. Foi tudo o que consegui dizer antes de nossos lábios se encontrarem novamente, em um beijo lento, cheio de tudo aquilo que nunca foi dito.

Quando nos afastamos, nossas testas permaneceram unidas, nossas respirações sincronizadas. O sorriso que iluminava o rosto da morena era tranquilo, quase sereno, e ela manteve os olhos fechados, como se quisesse prolongar aquele momento o máximo possível. Ver aquele sorriso, saber que eu era o motivo dele, fez algo em mim florescer. Era uma sensação nova, uma mistura de paz e euforia.

Deslizei meus dedos suavemente pelos lábios dela, como se quisesse memorizar cada detalhe daquele sorriso, daquele momento que eu sabia ser precioso demais para se perder.

Mia Corbell — Nunca quero me acostumar com isso. — Sussurrei, quase como uma promessa para mim mesma.

Ela abriu os olhos, e o que vi me fez prender a respiração. Seus olhos castanhos estavam mais claros, brilhantes e intensos, quase como se ela estivesse vendo o mundo de uma forma diferente. Era como se, naquele momento, ela estivesse em paz.

Liandra — Eu também não. — Sua voz era suave, sincera, e fez meu coração disparar mais uma vez.

Mia Corbell — Às vezes me pergunto como teria sido se… — Deixei as palavras escaparem antes que eu pudesse me conter, mas Liandra não me deixou continuar.

Liandra — Pois não pense, Mia. Eu estou aqui agora, nós estamos, e eu não vou a lugar algum. — Sua voz carregava uma convicção inabalável, que acalmava a tempestade dentro de mim. Ela não me deu tempo para responder, tomando meus lábios em outro beijo. Profundo, possessivo, como se ela quisesse selar aquela promessa com cada toque.

Deus, como eu não queria me acostumar com isso. Seus beijos, sua presença, seu cheiro… tudo nela era intoxicante. Era como se ela fosse uma droga, da qual eu estava perigosamente viciada. O calor de sua pele, o jeito como nossos corpos se moldavam perfeitamente um no outro, me fazia desejar que o mundo lá fora simplesmente desaparecesse.

Mas eu sabia que tínhamos compromissos, e por mais que minha mente implorasse por mais um momento de fuga, minha racionalidade me puxava de volta.

Mia Corbell — Não é que eu queira estragar o momento… — Murmurei contra seus lábios, lutando para manter o controle dos meus pensamentos, que estavam completamente tomados pelo desejo. — Mas nós temos que ir.

Ela franziu as sobrancelhas, seu olhar intrigado e, talvez, um pouco relutante em deixar a intimidade do momento se esvair.

Liandra — Temos? — Sua voz era uma mistura de curiosidade e diversão, o que fez um pequeno sorriso aparecer nos meus lábios.

Mia Corbell — Sim, eu pedi à Baah pra avisar ao Joe que eu levaria você. — Expliquei rapidamente, tentando não perder o fio da conversa enquanto ainda sentia seus dedos em minha pele.

Liandra — Hmm, quase um sequestro. — Ela provocou, arqueando uma sobrancelha com aquele sorriso travesso que sempre me desarmava.

Mia Corbell — Não, mas vou anotar isso. — Respondi, rindo junto com ela. Havia algo tão natural em nós duas rindo daquele jeito, como se cada palavra trocada fosse uma melodia que apenas nós duas sabíamos tocar.

Liandra — Tenho escolha? — Perguntou, fingindo seriedade, mas havia um brilho divertido em seus olhos.

Neguei com a cabeça, sorrindo.

Liandra — Pode ao menos me dizer o que está aprontando? — Ela insistiu, com uma pitada de curiosidade que fazia seu olhar brilhar ainda mais.

Mia Corbell — Não. Hoje, você só obedece. — Declarei com firmeza, enquanto ela revirava os olhos em uma falsa rendição.

Liandra — Ok, manda quem pode… — Começou, seu tom carregado de sarcasmo e diversão.

Mia Corbell — Exatamente, e obedece quem tem juízo. — Finalizei, saboreando a última palavra como se fosse uma vitória momentânea. Nós rimos juntas novamente, o som da nossa risada preenchendo o silêncio ao nosso redor, tornando o mundo exterior distante e sem importância.

Ao sairmos da empresa, caminhamos lado a lado em direção ao estacionamento. Meus dedos roçavam a palma da mão dela, e por um breve momento, desejei entrelaçar nossas mãos, sentir a certeza daquele toque. Mas me contive. Ainda não era o momento.

Paramos em uma adega no caminho, onde eu precisava buscar algo importante. Ao sair do carro, senti o olhar da morena em mim o tempo todo, como se ela estivesse tentando desvendar o que eu cuidadosamente estava fazendo.

Mia Corbell — Obrigada, Mark. Diga à Jess que passo aqui depois. — Falei rapidamente ao atendente, que me entregou uma embalagem com todo cuidado. Guardei o pacote no banco de trás, ciente de que ela continuava me observando com aquele olhar curioso e um sorriso divertido no rosto.

Liandra — Tão misteriosa.— Provocou, cruzando os braços e apoiando-se no carro, com os olhos fixos em mim.

Mia Corbell — Fará sentido e garanto que valerá muito a pena depois, eu prometo. — Disse, esperando que minhas palavras a tranquilizassem um pouco. Ela assentiu, mas seu sorriso sugeria que o mistério estava apenas aumentando.

Depois disso, aproximei-me lentamente dela, toquei de leve em seu braço, guiando-a para o carro novamente. Ela me olhou com um brilho desconfiado nos olhos, e antes que pudesse perguntar mais alguma coisa, recostei o banco dela para trás.

Mia Corbell — Agora preciso que você deite aí. — Falei, tentando soar casual, embora soubesse que o pedido era, no mínimo, estranho.

Ela riu, o som ecoando pela pequena cabine do carro, enquanto me observava.

Liandra — Está brincando, não é? — Perguntou, incrédula, ainda rindo.

Mia Corbell — Por favor, só dessa vez não questione. — Supliquei, com um sorriso que eu esperava ser convincente o suficiente para que ela cedesse. Havia algo naquele pedido que era mais importante do que ela podia imaginar, e eu precisava que ela confiasse em mim, como sempre confiou.

Ela me encarou por alguns segundos, avaliando a seriedade em meus olhos, antes de finalmente ceder com um suspiro longo, deitando-se no banco.

Mia Corbell — Obrigada. — Murmurei com alívio, e me inclinei sobre ela, aproximando nossos rostos mais uma vez. — Agora, o mais importante: prometa que não vai se levantar até chegarmos.

Ela me olhou com uma sobrancelha arqueada, mas a confiança mútua que construímos ao longo dos anos estava ali, inabalável.

Liandra — Tá bom, eu prometo. — Disse com um sorriso que me fez suspirar, aliviada.

Busquei seus lábios em um selinho demorado, tentando acalmar o turbilhão de emoções que estava sentindo, antes de me afastar e ligar o carro novamente. Enquanto dirigia, a tensão dentro de mim só aumentava. Será que ela vai reagir bem? E se tudo desse errado? Eu tentava me concentrar na estrada, mas a ansiedade me fazia apertar o volante com força.

Depois de um tempo, estacionei o carro, tirei o cinto e me virei para Liandra. Ela ainda estava deitada, me olhando com aquele sorriso que fazia meu coração derreter. Mas, no fundo, eu sabia que assim que ela percebesse onde estávamos, as coisas mudariam.

Mia Corbell — Por favor, não me odeie. — murmurei, com a voz quase falhando.

O seu sorriso se desfez no momento em que ela se levantou no banco e olhou pela janela. Seus olhos percorreram o ambiente, e então, lentamente, ela percebeu onde estávamos. Sua expressão mudou instantaneamente.

Mia Corbell — Li... por favor... — comecei a dizer, mas a raiva já estava estampada em seu rosto.

Liandra — Não! — Ela exclamou, claramente irritada, os punhos cerrados ao lado do corpo. — Eu não quero ficar aqui.

Eu podia sentir o peso do momento esmagando meu peito. Merda. Tudo estava desmoronando rápido demais.

Mia Corbell — É só um jantar. — tentei remediar, com a voz trêmula, como se isso pudesse diminuir a intensidade do que estava acontecendo. Mas o olhar que ela me lançou foi frio, cheio de decepção e incredulidade.

Liandra — Sério, Mia? — Sua voz era cortante, e eu sabia que havia perdido o controle.

Mia Corbell — Para com isso, Li... não seja criança. Você não pode fugir pra sempre.n— As palavras saíram antes que eu pudesse controlá-las. A merda estava feita. Merda, merda, merda.

Ela me olhou como se eu tivesse acabado de apunhalá-la.

Liandra — Fugir? — repetiu, incrédula, com os olhos faiscando de raiva. — Você está brincando comigo?

Eu abri a boca para falar, mas nada saía. Meu coração estava pesado, e o arrependimento já começava a tomar conta de mim.

Liandra — Eu nunca fugi de nada, Mia. Pelo contrário, eu sempre enfrentei as merdas que apareceram no meu caminho! — A voz dela estava carregada de frustração, e cada palavra era como uma faca cravando-se mais fundo.

Mia Corbell — Eu sei, não quis dizer isso, desculpe... — tentei explicar, mas sabia que as desculpas não seriam suficientes para consertar o estrago.

...• Narrado por Liandra Colucci •...

O silêncio entre nós era sufocante. O olhar de Mia, antes tão cheio de ternura e carinho, agora estava distante, tingido por uma tristeza que eu sabia ser culpa minha. Ela sabia o que aquilo significava para mim, sabia que eu não queria estar ali. Mesmo assim, por mais irritada que eu estivesse, vê-la de cabeça baixa, brincando com os dedos das mãos como sempre faz quando está chateada, me fez hesitar.

Eu queria que o dia fosse diferente. Queria que fosse especial, só nós duas, longe de todo esse tormento que ter meu pai de volta em minha vida trazia. Mas, ao invés disso, parecia que só tinha conseguido afastá-la ainda mais.

Liandra — Mia, olha pra mim. — pedi, suavizando o tom.

Ela continuou de cabeça baixa, sem dizer uma palavra. Um nó se formou na minha garganta. Eu estava sendo uma idiota, e ela não merecia isso. Era a última pessoa no mundo que merecia a minha raiva. Suspirei, sentindo o peso das minhas emoções me esmagar.

Liandra — Eu não quis ser idiota com você. — murmurei, tentando consertar as coisas.

Mia Corbell — Você não é idiota, só tá chateada. — respondeu, a voz dela tão suave, ainda sem me olhar. — Mas eu só queria ajudar.

Algo dentro de mim cedeu. Sabia que iria me arrepender, mas mesmo assim me inclinei para ela.

Liandra — Eu sei... Me desculpa. Vamos fazer um trato? — propus, esperando que a tensão entre nós diminuísse.

Ela finalmente levantou o olhar, os olhos azuis fixos nos meus. Um brilho de esperança passou por seu rosto.

Liandra — Eu faço isso, se você colocar um sorriso no rosto. — completei, forçando um pequeno sorriso.

O sorriso que ela me deu em resposta desarmou todas as minhas defesas.

Mia Corbell — Jura? — perguntou, me puxando para um abraço que me surpreendeu, mas que, de alguma forma, fez tudo parecer um pouco mais leve.

Liandra — Sim, mas com uma condição. — repliquei, ainda um pouco rígida no abraço, mas já me sentindo menos sufocada.

Mia Corbell — Tá, e qual é? — perguntou, soltando-me apenas o suficiente para me encarar.

Liandra — Nada de forçar a barra... e muito menos de abraços dentro daquela casa que não venham da Bá ou de você, ok? — disse, tentando manter o tom firme.

Mia Corbell — Combinado. Algo mais? — Ela parecia animada agora, o que só me fazia sorrir junto, mesmo que relutante.

Liandra — Você vai ter que entrar comigo pra jantar, e se nada der certo, vai prometer que nunca mais vai tentar isso de novo.

Ela bateu palmas como se fosse uma criança, e o sorriso que iluminou seu rosto me fez esquecer, por um breve momento, o motivo de toda a minha relutância. Eu sorri junto, sabendo que, por ela, eu sempre cederia, mesmo quando não queria.

...• Narrado por Mia Corbell •...

Depois de concordar com as condições da morena, seguimos em direção à sala. Assim que entramos, percebi que, além de Franco e Bárbara, havia mais uma pessoa ali. Alguém que nem eu, e pelo olhar confuso da morena ao meu lado, nem ela conhecia. Mas eu estava determinada a fazer aquilo funcionar, não importava quem estivesse presente.

Mia Corbell — Olá, boa noite a todos. — Cumprimentei, tentando quebrar o clima pesado que se instalou no momento em que todos os olhares se voltaram para nós.

Bárbara Bianchi — Olá, querida. Que bom que chegaram, o jantar está quase pronto. — respondeu com seu típico carinho, me recebendo com um beijo no rosto. Liandra, por outro lado, permaneceu em silêncio, seu corpo tenso ao meu lado. Eu sabia que estar ali era difícil para ela.

Mia Corbell — Tio Franco, que prazer em vê-lo. — Falei com a melhor das intenções, tentando quebrar o gelo.

Franco Mendonça — Olá, Mia. Digo o mesmo. Já faz tempo... e está fantástica! — Ele respondeu sorrindo, sem conseguir disfarçar o tom nervoso, tentando ser afável, mas algo parecia fora de lugar.

Agradeci com um aceno de cabeça e logo depois Bárbara anunciou que iria verificar o andamento do jantar na cozinha. Assim que ela saiu, o silêncio se instalou de novo, espesso e desconfortável, mas eu me recusei a ceder à tensão. Tinha vindo aqui para fazer isso dar certo, e era exatamente o que eu faria.

Mia Corbell — E essa bela dama, quem é? — Perguntei, mantendo o sorriso nos lábios enquanto olhava para a mulher sentada ao lado dele. Até então, assim como a morena, ela havia permanecido calada.

Ela era impressionante. Uma mulher de beleza refinada, com cabelos loiros impecáveis, olhos âmbar brilhantes que pareciam calorosos e um sorriso que me transmitia uma estranha sensação de conforto.. Ela era bonita. Havia algo intrigante nela, mas minha intenção era manter as coisas leves.

Franco Mendonça — Ah, sim, perdão. — Ele pareceu ser pego de surpresa, o que não passou despercebido por mim, mas ignorei, focada em manter a harmonia. — Esta é Alma Ferri, minha...

Ele se engasgou um pouco com as palavras, hesitando em como definir a relação, mas eu segui em frente. Meu objetivo era claro: manter a noite no caminho certo, independentemente das pequenas falhas de comunicação.

Mia Corbell — É um prazer conhecê-la. — Sorri, estendendo a mão e me aproximando para lhe dar dois beijos no rosto, como de costume.

Alma Ferri — O prazer é todo meu, querida. — Ela respondeu, retribuindo com um sorriso genuíno, parecendo mais à vontade agora.

Franco Mendonça — Essa é Mia Corbell. — continuou, parecendo querer retomar o controle da situação.

Alma Ferri — Filha da Tina, certo? — Ela indagou, erguendo uma sobrancelha enquanto um brilho curioso passava por seus olhos.

A pergunta dela me pegou um pouco de surpresa, e meu sorriso vacilou por um instante enquanto franzi as sobrancelhas, me perguntando como ela conhecia minha mãe, enquanto Liandra continuava em silêncio ao meu lado, o desconforto evidente em sua postura.

Mia Corbell — Conhece minha mãe? — Perguntei, tentando soar despreocupada.

Franco Mendonça — Digamos que elas são de tomar longos chás e muitas garrafas de vinho quando se encontram. — ele brincou, mas a risada soou forçada, o que me fez lançar um olhar mais atento para ele.

Alma Ferri — Não ligue pra ele. — Ela interveio com um sorriso tranquilizador. — Agora entendo por que sua mãe fala tão bem de você. Além de linda, é muito simpática e educada.

Senti um calor subir pelo meu rosto com o elogio, mas ao mesmo tempo, a tensão ao meu lado era quase palpável. Olhei para Liandra de relance, ainda esperando algum sinal dela, mas tudo que recebi foi o silêncio da morena. Algo estava claramente fora do lugar, e por mais que eu tentasse manter as coisas leves, a tensão crescente começava a fazer efeito.

O clima na sala estava estranho, e apesar das palavras gentis de Alma, eu sentia o desconforto de Liandra ao meu lado crescer. Ela permanecia em silêncio, mas seu corpo denunciava cada emoção reprimida. O ambiente parecia sufocante, e por mais que eu tentasse manter a conversa fluindo, sabia que nada disso estava ajudando.

Alma e meu tio trocavam olhares que sugeriam que havia mais naquela situação do que eu compreendia. E enquanto eu lutava para manter uma postura positiva, por dentro, meu coração se apertava ao ver a morena cada vez mais fechada. Parte de mim queria pegar sua mão, puxá-la para longe dali, mas outra parte sabia que precisávamos enfrentar isso. Ela precisava.

Liandra e eu sempre tivemos uma dinâmica em que uma era a calmaria da outra quando nos perdíamos em meio ao caos. Mas hoje, parecia que eu estava falhando miseravelmente em acalmá-la. Senti seus olhos queimando em mim por um momento, mas quando me virei para encontrá-los, ela desviou o olhar rapidamente, como se estivesse se segurando para não explodir.

...Eu tinha prometido a mim mesma que faria isso funcionar, mas será que realmente estava ajudando?...

O silêncio se arrastava, e Alma, tentando quebrá-lo, se dirigiu a Liandra, mas o tom da morena era tudo menos amigável.

Alma Ferri — Eu ouvi falar muito de você também. — Disse com um voz calma e um sorriso gentil e eu voltei meu olhar em direção a morena, que parecia confusa.

Liandra — Você está falando comigo? — Sua resposta era um desafio.

Alma Ferri — Sim, seu pai fala muito de você. — Ela continuou com um sorriso, mas eu percebia que isso apenas intensificava o desdém de Liandra.

Liandra — Duvido. — A resposta dela foi um soco no estômago.

Tio Franco ficou visivelmente irritado, e uma onda de culpa me atingiu. A última coisa que eu queria era uma briga familiar. Por instinto, me virei para ele.

Mia Corbell — Tio, por favor. — O tom da minha voz era suplicante. — Será que vocês podem nos dar licença um momento?

Alma, compreensiva, concordou e se ofereceu para ajudar Bárbara na cozinha. Tio Franco parecia confuso, mas o olhar de Alma fez com que ele assentisse e saísse, deixando-nos a sós.

Mia Corbell — O que pensa que está fazendo? — Questionei, minha calma começando a se esvair. — Quem é você?

Ela me encarou, sua expressão era uma mistura de ceticismo e desespero.

Liandra — Sério? — A incredulidade na voz dela era evidente.

Mia Corbell — Custava ser gentil com alguém que nunca lhe fez absolutamente nada? — As palavras saíram com mais força do que eu pretendia. A dor na minha voz era real, e o coração apertava ao ver a mulher que eu amava se fechar.

Liandra — Porque está brigando comigo? — Sua pergunta era quase um lamento, e eu me senti culpada por estar levando-a ao limite.

Mia Corbell — Porque essa não é a Li que conheço. Porque está sendo tão idiota? — Eu não queria que ela se sentisse atacada, mas a frustração estava transbordando.

O olhar dela, carregado de raiva e dor, me fez hesitar. Eu sabia que estava cutucando feridas, mas talvez isso fosse necessário. Então, sem pensar, continuei.

Mia Corbell — Como acha que tia Sara ia se sentir vendo você agir assim? Se me lembro bem, ela prezava por fazer as pessoas se sentirem bem em sua presença.

As palavras pairaram no ar como um véu, e eu sabia que estava tocando em um ponto sensível. O rosto dela se contorceu de dor e desespero e meu coração apertou.

Liandra — Você não tá fazendo isso. — A súplica na voz dela era quase insuportável.

Mia Corbell — Como era mesmo a frase que ela costumava usar? — Pensei por um momento, buscando uma maneira de trazer a essência da mulher que ambas amávamos à tona.

Liandra — Mia, por favor. — A voz dela estava embargada, e eu sabia que não tinha como voltar atrás.

**Mia Corbell **— Ah, lembrei: "Quando precisar escolher entre ter razão e ser gentil, escolha ser gentil." — Falei, e o efeito foi tão imediato, quanto meu arrependimento. Ela abaixou a cabeça, os olhos brilhando de lágrimas, e se afastou, enfiando o rosto nas mãos.

Liandra — Desculpe. — Não era comum vê-la vulnerável e tão exposta daquela maneira, e ver aquilo me cortou ao meio. Caminhei até ela e a abracei, desejando poder proteger seu coração.

Mia Corbell — Ei, olha pra mim. — Pedi em um sussurro, mas ela não se moveu. — Por favor, Cinderela.

Aquele apelido parecia um encantamento, pois depois de segundos que pareceram uma eternidade, ela finalmente se entregou ao meu abraço.

Mia Corbell — Eu sei que é difícil pra você, que está chateada, mas não precisa agir assim. Essa não é você. — As palavras saíram com a esperança de que ela pudesse me ouvir.

Liandra — Eu não quis ser idiota, eu não sou assim, mas… eu também não sei fingir. — Sua voz tremia, e eu percebi que ali estava a raiz de toda aquela dor.

Neste momento, a voz de Alma soou próxima.

Alma Ferri — Será que posso me sentar aqui? — Ela apontou para o espaço vazio ao lado da morena.

Assenti e me levantei, dando espaço. Ao me acomodar na poltrona da frente, observei as duas com atenção.

Alma Ferri — Por que você acha que precisa fingir? — Alma fez a pergunta com um tom suave, e a resposta ficou suspensa no ar, enquanto eu segurava a respiração, esperando que a morena falasse.

•••

Continua…

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Comments

Maria Fabiana

Maria Fabiana

que capítulo 👏👏👏👏.
esse foi pra nos deixarmos sem palavras.

2024-09-27

0

Licinha

Licinha

nem sei o que dizer desse capitulo,tanta dó,tanto medo,mesmo mia tendo razão de suas palavras mais não e fácil a pagar o passado que corrói alma,o que será que passou na cabeça na morena nesse estante?

2024-09-26

3

Noemy A

Noemy A

Nss que pancada de capítulo meu . E final foi foda

2024-09-26

0

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo.
2 Capítulo 01: A tempestade antes da calmaria. Narrado por Liandra Colucci.
3 Capítulo 2. “Reencontros: Entre as sombras do passado e a tensão do presente.”
4 Capítulo 3. “Entre o Desejo e a Renúncia.”
5 Capítulo 4. “Ecos do passado.”
6 Capítulo 5. “Sombras do Passado.”
7 Capítulo 6. “A Beira do Incontrolável.”
8 Capítulo 7. “O silêncio das Palavras não Ditas.”
9 Capítulo 8. “Coração em Colapso.”
10 Capítulo 9. “Entre o Silêncio e a Esperança.”
11 Capítulo 10. “O caminho para Aceitação.”
12 Capítulo 11. “Uma Guerra Silenciosa.”
13 Capítulo 12. “O Reencontro Após o Silêncio.”
14 “Além das Palavras.”
15 “Um passo de cada vez.”
16 “ A cada batida, um momento entrelaçado.”
17 “Novas esperanças e velhas feridas.”
18 “Novas esperanças e velhas feridas.” Parte II
19 “Novas esperanças e velhas feridas.” Parte III
20 “Entre novas esperanças e velhas feridas: Cicatrizes.”
21 “Entre as chamas do passado: Um lugar chamado você!”
22 “Um lugar chamado você.”
23 “Entre beijos e sussurros.” +18
24 “A calmaria antes da tempestade.”
25 “O início da tempestade.”
26 “Jogo de poder.”
27 “O peso dos segredos: A escolha da proteção.”
28 “Verdades e suas consequências.”
29 “Ecos de um desastre.”
30 “Ecos da dor.”
31 “Entre a verdade e a omissão.”
32 “Medos e lembranças.”
33 “Entre silêncios e promessas.”
34 “Escolhas e confrontos.”
35 “No limite entre o medo e a coragem.”
36 “Reflexos de uma relação complicada.”
37 “ A tempestade interior.”
38 “O despertar.”
39 “Conselho.”
40 “Entre o dever e o desejo.”
41 “Entre confrontos e decisões; Vínculos.”
42 “Promessas e sacrifícios.”
43 “Correntes.”
44 “Entre nós.”
45 “O que sempre foi nosso.”
46 “ O mar dentro dela.”
47 “A arte de te resistir.”
48 “A arte de me perder em você.”
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Prólogo.
2
Capítulo 01: A tempestade antes da calmaria. Narrado por Liandra Colucci.
3
Capítulo 2. “Reencontros: Entre as sombras do passado e a tensão do presente.”
4
Capítulo 3. “Entre o Desejo e a Renúncia.”
5
Capítulo 4. “Ecos do passado.”
6
Capítulo 5. “Sombras do Passado.”
7
Capítulo 6. “A Beira do Incontrolável.”
8
Capítulo 7. “O silêncio das Palavras não Ditas.”
9
Capítulo 8. “Coração em Colapso.”
10
Capítulo 9. “Entre o Silêncio e a Esperança.”
11
Capítulo 10. “O caminho para Aceitação.”
12
Capítulo 11. “Uma Guerra Silenciosa.”
13
Capítulo 12. “O Reencontro Após o Silêncio.”
14
“Além das Palavras.”
15
“Um passo de cada vez.”
16
“ A cada batida, um momento entrelaçado.”
17
“Novas esperanças e velhas feridas.”
18
“Novas esperanças e velhas feridas.” Parte II
19
“Novas esperanças e velhas feridas.” Parte III
20
“Entre novas esperanças e velhas feridas: Cicatrizes.”
21
“Entre as chamas do passado: Um lugar chamado você!”
22
“Um lugar chamado você.”
23
“Entre beijos e sussurros.” +18
24
“A calmaria antes da tempestade.”
25
“O início da tempestade.”
26
“Jogo de poder.”
27
“O peso dos segredos: A escolha da proteção.”
28
“Verdades e suas consequências.”
29
“Ecos de um desastre.”
30
“Ecos da dor.”
31
“Entre a verdade e a omissão.”
32
“Medos e lembranças.”
33
“Entre silêncios e promessas.”
34
“Escolhas e confrontos.”
35
“No limite entre o medo e a coragem.”
36
“Reflexos de uma relação complicada.”
37
“ A tempestade interior.”
38
“O despertar.”
39
“Conselho.”
40
“Entre o dever e o desejo.”
41
“Entre confrontos e decisões; Vínculos.”
42
“Promessas e sacrifícios.”
43
“Correntes.”
44
“Entre nós.”
45
“O que sempre foi nosso.”
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“ O mar dentro dela.”
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48
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