Amuletos estranhos

Sebastian

Estou sentado na pequena sala do quarto, observando o colar que Maya esqueceu comigo. A corrente de prata brilha sob a luz suave me dando aquela sensação estranha de alergia que a prata sempre traz, mas é o pingente que realmente chama a minha atenção. O pássaro na gaiola parece estar com medo de sair dali, como se aquele lugar fosse protegê-lo do mundo. Há algo estranho naquele objeto que prende a minha atenção sempre que fixo os olhos nele, algo que não consigo identificar completamente.

Dimitry bate na porta e entra no quarto quando me escuta permitir sua invasão. Sua presença interrompe meus pensamentos e ele não parece se importar.

—Hey, bobão. Por que essa cara? O que você está olhando? — ele pergunta, se aproximando.

— O colar de Maya. Ela esqueceu no meu quarto anteontem. — Respondo, entregando o objeto a ele.

Dimitry examina o colar com cuidado e seus olhos estreitam-se enquanto ele estuda o pingente. Sua mãe é a curandeira da matilha, então ninguém melhor que ele para me dizer se um simples colar pode ser tão intrigante como aquele.

— Nossa tem algo forte aqui, colocaram muita energia nesse objeto. Não é um colar comum, Sebastian. — Ele diz com sua voz tomando um ar de seriedade. — Parece um amuleto de ocultação. Foi projetado para desviar toda a essência de alguém para ele como um espelho refletor.

— Se torna mais estranho saber disso — sussurro, surpreso. — O que isso pode significar?

— Significa que alguém está tentando esconder algo ou uma pessoa. Tem muita energia aqui, então julgo que seja uma pessoa. — Ele responde, devolvendo o colar. — E ver isso me faz lembrar de algo que vi no quarto de Heyde. Disse que esse colar é de Maya, certo?

Afirmo enquanto ele se serve do café da garrafa térmica em cima da mesa que nos separa.

— O que você viu? — Pergunto com minha curiosidade despertada. Dimitry toma dois goles do líquido antes de seguir.

— Alguns amuletos estranhos, símbolos que não consegui identificar. Tem objetos assim espalhados pelo apartamento em forma de decoração. Muito sutil para uma pessoa comum perceber que é proteção. — Ele diz, franzindo a testa. — Na noite em que dormimos juntos, percebi que ela tinha vários desses objetos espalhados pelo quarto e pensei que ela fosse uma dessas doidas que acredita em cristais e tudo mais, porém a energia na casa me deixou realmente intrigado e agora com esse amuleto de Maya, fico ainda mais.

— Isso seria trabalho de uma bruxa, não? Você acha que Heyde pode ser uma? — Pergunto, tentando juntar as peças daquele quebra-cabeça.

— É uma possibilidade. — Ele responde, pensativo. — As bruxas se sentem bem desse lado e elas são até admiradas pelos jovens aqui. Algumas têm até perfis públicos em redes sociais onde mostram tudo das suas vidas e como os humanos são alienados, deixam elas fazerem o que bem entendem, pois, acham que são algum tipo truque. Poucos acreditam de verdade. Mas o que não entendo é por que uma bruxa estaria tentando esconder uma humana comum. Não sinto nada mágico em Maya.

Fico em silêncio por um momento, tentando processar essa nova informação. Se Heyde realmente é uma bruxa e está usando amuletos de ocultação, isso significa que há algo muito mais profundo acontecendo ou talvez não queira que a sua amiga se machuque. De qualquer forma é estranho que ela se afogue na proteção daquela maneira.

— Ela pode ser uma fugitiva tentando se esconder e, por isso, protege Maya também. Assim não teria a eventualidade de descobrirem o seu paradeiro através de uma humana.

Dimitry pensa sobre aquilo e sua expressão parece concordar com meu raciocínio. Seria uma coisa plausível a julgar pela situação, mas lembro-me da superproteção de Heyde com Maya e as peças do quebra-cabeças continuam se multiplicando ao meu redor.

— Precisamos descobrir mais sobre essa garota. Não sei porque, mas estou com uma coceira atrás da orelha com isso. — Digo finalmente. — Maya pode estar em perigo.

Dimitry assente, concordando com minha avaliação.

— Concordo. Mas precisamos ser cuidadosos. Se Heyde realmente é uma bruxa, ela pode estar monitorando nossos movimentos. Não é fácil nos identificar nessas formas, mas se ela for realmente boa, uma hora vai perceber.

— Vamos manter isso entre nós por enquanto. — Sugiro. — E vamos investigar mais antes de confrontá-la.

Dimitry concorda, e começamos a planejar os nossos próximos passos. A segurança de Maya é minha prioridade, e farei o que for necessário para protegê-la.

O celular vibra no meu bolso durante o nosso debate e quando o pego vejo a mensagem de Maya no visor.

"Oi! Acredito que esqueci o meu colar no seu quarto. Posso passar para pegar? Ele é muito importante para mim, tenho desde pequena".

Ao ler aquilo viro o celular para Dimitry que franze a testa assim que terminar de ler também.

— Elas se conhecem desde crianças, então Heyde não poderia estar foragida. — Uma criança não seria culpada de um crime e isso faz o meu primeiro palpite ser descartado.

Dimitry pensa por mais algum tempo até que os seus olhos são iluminados por algo e ele estala o dedo no ar.

— Ela é um escudo — diz um pouco animado por ter aquela revelação. — Uma bruxa de fato, mas escolhida a dedo pelos anciões. A sua mãe tinha uma que se passava por amiga dela, também quando a Luna vivia entre os humanos.

— Sim! Minha tia Brenda, mas minha mãe era filha da deusa e o ciclo delas acabou. — Ressalvo, pois geralmente esses escudos servem para proteger alguém desse porte. — A Lua já disse que não irá mandar mais seus filhos para viver entre os humanos.

— Precisamos avisar seus pais imediatamente, Sebastian — ele volta a Franzir a testa, morde o lábio por pequenos antes de formular sua próxima frase. — Acho que só eles vão conseguir nos dizer o motivo de Maya ter um escudo.

Afirmo, pois aquela conversa realmente chegou em um patamar que nós dois não podemos mais alcançar. Aquilo precisa de olhos mais sábios e mais experientes.

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