Símbolo amigável

Maya

Acordo cedo, sentindo a ansiedade pulsar nas minhas veias. Levei muito tempo na noite passada tentando convencer Heyde de que eu não estava alegando estar bem sob ameaça de morte. Foi difícil convencê-la que Sebastian é um bom rapaz, embora eu tenha as minhas ressalvas.

Hoje é o dia da segunda fase do teste de elenco, e estou determinada a dar o meu melhor. Heyde está ao meu lado, me ajudando a ensaiar ainda com seu olhar desconfiado.

— Vamos lá, Maya — diz ela, entregando-me o roteiro. — Você consegue. Só precisa se concentrar e acreditar em si mesma.

Afirmo, tentando acalmar meus nervos. Respiro fundo e começo a recitar minhas falas, tentando incorporar cada emoção e nuance do personagem. Heyde observa atentamente, corrigindo minha postura e entonação quando necessário.

— Lembre-se — ela diz, interrompendo-me gentilmente. — Essa personagem passou por muita coisa. Você precisa mostrar a dor e o desespero dela. Sinta isso.

Fecho os olhos por um momento, tentando me conectar com as emoções do personagem. Quando abro os olhos novamente, sinto-me mais focada. Recomeço a cena, desta vez com mais intensidade e profundidade. Algo que impressiona até a mim mesma.

Heyde sorri, satisfeita com meu progresso.

— Isso, Maya! Agora está perfeito. Continue assim.

Passamos a manhã inteira ensaiando, repetindo as cenas até que eu me sinta confiante. Heyde é uma treinadora exigente, mas sei que ela só quer o melhor para mim. Sua presença e apoio me dão forças para continuar.

Finalmente, chega a hora de ir para o teste. Meu coração bate acelerado enquanto nos dirigimos ao local. Heyde segura minha mão, oferecendo-me um sorriso encorajador.

— Você vai arrasar, Maya. Acredite em si mesma.

Afirmo, tentando absorver sua confiança. Quando chegamos ao teatro, vejo outros candidatos esperando nervosamente. Respiro fundo, lembrando-me de todo o esforço e dedicação que coloquei até aqui.

— Boa sorte — diz Heyde, me abraçando antes de eu entrar.

— Obrigada. — Respondo, sentindo uma onda de energia boa por tê-la ao meu lado.

Entro no palco, sentindo a luz dos refletores sobre mim. O diretor e os jurados me observam atentamente. Respiro fundo mais uma vez e começo a cena, deixando todas as emoções fluírem.

Enquanto atuo, sinto-me conectada ao meu personagem de uma maneira que só me beneficia. Cada palavra minha, cada gesto que faço, tudo parece natural e verdadeiro. Quando termino, há um momento de silêncio antes de os jurados começarem a aplaudir.

Saio do palco, sentindo uma mistura de alívio e euforia. Heyde está esperando por mim, um sorriso radiante no rosto.

— Foi incrível! — ela exclama, me abraçando.

— Espero que eles concordem. O resultado sai hoje.

— Vai dar tudo certo. — Heyde fixa os seus olhos no meu pescoço e o seu sorriso desaparece. — Onde está o seu colar?

Só então me dou conta de que o meu pescoço está nu. Uso o colar que ela me deu desde o dia em que nos conhecemos, pelo menos é o que Heyde sempre diz, pois, eu era tão nova que não me recordo. Aquele objeto já se tornou parte de mim, ao ponto de não ter percebido que estava sem.

Vasculhei os meus pensamentos tentando me lembrar em que momento o tirei e só então recordo que na noite de amor intenso com Sebastian, ele retirou o objeto cuidadosamente.

— Ah, eu… devo ter tirado naquela noite — digo, tentando soar casual, mas Heyde não parece convencida.

— Maya, você nunca tira esse colar. Foi sua promessa, se lembra? — Ela pergunta com sua voz cheia de preocupação e um ar de repreensão.

— Foi só um momento, Heyde. Eu estava com Sebastian e… — minha voz falha, e vejo a preocupação nos olhos dela se intensificar. Ela pega meu pulso rapidamente e tira a blusa de frio do seu caminho. Nesse instante parece que relaxa, pois a pulseira que faz par com o colar continua no seu devido lugar.

— Você precisa ser cuidadosa. Esse colar é importante... Quero dizer é o símbolo da nossa amizade, certo? — Ela segura minhas mãos com seu olhar firme e eu afirmo mesmo com uma confusão me consumindo. — Prometa que vai recuperá-lo.

— Prometo. Vou pegar de volta hoje mesmo. — Respondo, sentindo a urgência na voz dela que me deixa em alerta.

Deve ser caro, então não vou questionar. Ela suspira, parecendo um pouco mais aliviada.

— Não sei porque essa preocupação toda. Você sumiu com o lindão albino e eu não fiquei assim paranoica. — Fiz um moxoxo enquanto falava e ela sorriu.

— Pelo contrário, estávamos lá em casa e se você tivesse dormido no seu quarto, saberia. — Rebate ela. — Tenho as minhas necessidades, sim, mas jamais te deixaria desprotegida.

— As vezes você fala como se fosse uma guarda-costa, sabia?

Heyde ri, mas há uma seriedade em seus olhos que não passa despercebida.

— Talvez eu seja, de certa forma. — Ela diz, dando de ombros, mas antes que eu possa falar qualquer coisa, o diretor surge com um sorriso enorme no rosto, me olhando com simpatia.

— Advinha o que tem nas minhas mãos? — Ele agita a folha no ar e o meu coração dispara junto com os gritos das meninas espalhadas pelo teatro.

Uma fila de empolgação se forma atrás dele enquanto caminha até o mural. Heyde e eu nos entreolhamos com a ansiedade crescendo a cada segundo. Quando ele finalmente prende a folha no mural, todos se apressam para ver os resultados e é quase impossível ver a folha em meio a tantas pessoas.

— Vamos, Maya! — Heyde me puxa pela mão, e nos juntamos à multidão, nos espremendo entre eles até finalmente alcançar o mural onde meu destino está.

O meu coração bate tão rápido que parece que vai sair do peito, pois é agora que vou saber se passarei o fim de semana me sentindo vitória ou a maior fracassada.

Não quero ficar trancada no quarto repassando meus erros e por isso torço para os céus me abençoarem.

Quando finalmente conseguimos chegar perto o suficiente para ver a lista, meus olhos percorrem os nomes rapidamente. E então, lá está: meu nome, destacado entre os selecionados.

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