Resultado certo

Maya

Caminho em círculos pela sala, sentindo o chão de mármore gelado sob os meus pés. Cada passo que dou parece cantar pela casa uma melodia sobre a ansiedade que sinto. Olho para o relógio na parede pela vigésima vez em menos de cinco minutos.

— Por que eles não mandam logo esse e-mail? — murmuro para mim mesma, tentando controlar a impaciência.

Heyde está sentada no sofá com um saco de Doritos no colo, observando-me com uma expressão que mistura tédio e inquietação. Os seus dreads balançam levemente enquanto ela balança a cabeça.

— Pelo amor de Deus, Maya, você precisa se acalmar. Andar em círculos não vai fazer o e-mail chegar mais rápido.

— Eu sei, eu sei — respondo, parando por um momento, tento me sentar ao seu lado, mas isso não dura nem meio segundo e me levanto para começar a andar novamente. — Mas não consigo evitar. Esse papel é tão importante para mim. E se eu não conseguir? E se eles não gostaram do meu teste? Eu realmente acho que poderia ter feito melhor..

— Você foi ótima e é incrível. Eles vão ver isso — Heyde diz, tentando me tranquilizar. Mas suas palavras, embora reconfortantes, não conseguem dissipar a nuvem de incerteza que dança sobre mim.

— E se o que fiz não foi suficiente? — pergunto, mais para mim mesma do que para ela. A insegurança é uma velha conhecida minha, sempre presente, sempre sussurrando dúvidas em meu ouvido como uma amante safada tentando acabar com um casamento.

Heyde suspira e se levanta, caminhando até mim. Ela coloca as mãos nos meus ombros, forçando-me a parar e olhar para ela.

— Maya, você precisa acreditar em si mesma. Você tem talento e muita paixão pelo que faz. Isso é o que importa. Agora, respire fundo e tente relaxar ou eu te jogo do terceiro andar.

Assinto, tentando seguir seu conselho e até rir de sua piada. Respiro fundo, sentindo o ar encher meus pulmões, e solto lentamente. Mas a ansiedade ainda está lá, uma presença constante. Volto a me sentar no sofá, pegando meu celular e verificando o e-mail pela milésima vez.

— Nada ainda — digo, frustrada. Novamente a ansiedade me toma e Heyde revira os olhos balançando as mãos no ar. — Por que eles demoram tanto?

— Porque é assim que funciona — responde, sentando-se ao meu lado. Ela pega seu saco de salgadinho que deixou de lado antes e volta a comer. — Eles têm muitos candidatos para avaliar. Mas eu tenho certeza de que você se destacou.

Olho para ela fazendo uma cara enojada, pois a vejo falar enquanto mastiga e lambe os dedos, mas ainda assim me sinto grata por seu apoio. Heyde sempre esteve ao meu lado, me incentivando e empurrando-me para ser melhor. Sem ela, eu não estaria aqui, esperando por uma resposta que pode mudar a minha vida. Deixo sua nojeira de lado e dou um sorriso sutil, então estico a mão para pegar um pouco da guloseima, porém recebo um tapa em retribuição.

— Aqui não, mocinha — ela me repreende e aponta para o meu pacote que ainda está fechado na mesa de centro.

O tempo parece se arrastar e cada minuto se torna uma eternidade até que finalmente, o meu celular vibra, e o meu coração pula uma batida. Olho para a tela, constatando a notificação de um novo correio eletrónico.

— É deles — digo com minha voz tremendo de emoção.

Heyde se inclina para mais perto e os seus olhos brilhando de expectativa como se ela estivesse ansiosa agora.

— Então, abra logo!

Com mãos trêmulas, abro o e-mail e começo a ler. As palavras parecem dançar na tela, mas uma frase se destaca:

"Parabéns, você passou para a próxima fase da seleção."

— Tô na segunda fase! — grito, pulando do sofá. — Eu estou na segunda fase!

Heyde me abraça, rindo e quase chorando em simultâneo.

— Viu só como você é exagerada e ansiosa demais? — Heyde diz, ainda rindo enquanto me abraça apertado. Sinto uma onda de alívio e felicidade me inundar, como se um peso enorme tivesse sido tirado dos meus ombros.

— Sei disso — respondo, rindo também. — Mas não consigo evitar. Esse papel significa tanto para mim.

Heyde se afasta um pouco, para olhar diretamente nos meus olhos.

— E você vai conseguir. Eu acredito em você, Maya. Agora, vamos comemorar essa quase vitória, mesmo que seja apenas a primeira fase.

— A gente não vai sair — minha cara muda na hora, pois tudo para ela é motivo de dançar na noite.

Heyde ri, percebendo minha expressão. Eu não gostava de nenhum dos rolês dela, embora tentasse sempre me enturmar e me divertir com algo para não parecer a amiga chata, mas agora, não tenho a menor vontade de ir a lugar algum.

— Ah, vamos lá, Maya! Só uma saída rápida para comemorar. Nada de ficar até tarde, prometo. Só um drink e um pouco de diversão. Você merece!

— Heyde, eu realmente estou cansada — tento argumentar, mas ela já está pegando minha jaqueta e me puxando do sofá como se eu já tivesse aceitado.

— Nada disso! Você precisa sair um pouco, relaxar e se divertir. Vai fazer bem para você. E quem sabe, pode até encontrar alguém para te dar uns pegamos hoje — ela diz com um sorriso travesso. — Já pensou ter uma boa notícia e uma gozada em um dia só?

Suspiro, sabendo ser inútil resistir quando Heyde está determinada.

— Para de falar essas coisas e eu vou — falo fazendo careta e ela ri. — Mas só por um tempo, ok? Nada de virar a noite e se você beber até esquecer seu nome, eu te largo lá.

— Combinado! — ela exclama, animada. — Vamos nos divertir!

Heyde coloca as mãos nos joelhos e mexe a bunda como se dançasse uma batida de funk, fazendo-me rir descontroladamente.

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