Seja paciente

Sebastian

Acordo no meio da tarde com o som do meu celular vibrando na mesa de cabeceira. Olho para a tela e vejo o nome do meu pai. Suspiro, sabendo que ele provavelmente quer uma atualização sobre as negociações com os humanos. Atendo a ligação de imediato, tentando parecer mais acordado do que realmente estou.

— Bom dia, pai — falo, tentando soar animado, pois sei que do outro lado amanheceu a pouco tempo.

— Bom dia, Sebastian — responde ele com sua voz firme e autoritária como sempre. — Como estão indo as negociações?

— Estão progredindo — solto, levantando-me da cama e caminho até a janela. — Os humanos parecem mais receptivos às novas propostas, mas ainda há algumas questões a serem resolvidas.

— Entendo — disse ele, com um tom pensativo. — Continue trabalhando nisso. É crucial que alcancemos um acordo que beneficie ambos os lados.

— Claro, pai — olho para a vista da cidade. — Farei o meu melhor.

Uma pausa na linha faz o ambiente se tornar tenso, e eu sei que era agora ou nunca. Tomo um fôlego profundo e decido perguntar o que está me incomodando desde o encontro com Maya.

— Pai, posso te perguntar uma coisa? — digo, tentando manter a voz firme.

— Claro, filho. O que foi? — seu tom se torna curioso e a forma suave como diz "filho" me deixa mais relaxado para seguir.

— É possível que um lobo tenha uma humana como companheira? — pergunto, sentindo meu coração acelerar com qualquer que seja sua resposta. — Eu conheci uma garota... e senti uma ligação muito forte com ela.

Há um silêncio do outro lado da linha, e eu quase posso imaginar meu pai franzindo a testa e acariciando a barba. Finalmente, ele me responde com sua voz mais suave do que eu espero.

— Sebastian, a ligação entre um lobo e sua companheira é algo muito poderoso e raro. Não é comum encontrar sua companheira entre os humanos, mas não posso dizer que seja impossível. Se você realmente sentiu essa ligação, deve seguir seu instinto. Mas lembre-se que isso pode trazer complicações, tanto para você quanto para ela. É melhor verificar e ter certeza disso.

— Eu entendo, pai, — respondo, sentindo um misto de alívio e preocupação. — Mas sinto que ela está segurando a minha alma nas suas mãos.

— Como se ela fosse todo seu mundo — ele completa e eu afirmo com um murmurar.

— Sim, exatamente, — digo, sentindo um peso sair dos meus ombros ao compartilhar isso com ele. — Nunca senti algo assim antes. É como se cada fibra do meu ser estivesse conectada a ela.

— Então, ela é mesmo — ele diz mais para si mesmo do que para mim. — Precisamos verificar, mas ela precisará vir até sombria para fazermos isso.

Deixo um suspiro escapar, pois não sei como dizer para uma garota comum que sou um híbrido humano e lobo e nem que meu mundo está escondido em um túnel protegido pela deusa da Lua.

Então me lembro das histórias que meus pais me contavam, de quando o alfa da matilha precisou buscar sua Luna no meio dos humanos. Embora minha mãe não tenha um lobo, ela é a filha da deusa da Lua e isso a torna mágica da mesma forma, porém ela viveu entre os humanos até seus 27 anos e quando meu pai foi buscá-la, ela não acreditou nele de início.

Lembro-me de como meu pai descreveu a paciência e a determinação que ele precisou ter para ganhar a confiança dela. Ele teve que mostrar a ela, pouco a pouco, a verdade sobre nosso mundo e sobre quem ele realmente era. E, eventualmente, ela aceitou e se tornou parte da nossa matilha.

Com isso em mente, sei que preciso ser paciente com Maya. Não posso simplesmente jogar todas essas informações sobre ela de uma vez. Preciso ganhar sua confiança e mostrar a ela, aos poucos, a verdade sobre mim e sobre nosso mundo.

Mas também tem a questão do portal. Os humanos não conseguem atravessar o arco de árvores que dá até Sombria e isso me intriga. Porque a deusa me daria uma companheira humana se ela não poderia viver comigo em meu mundo?

— Como ela entrará? — pergunto e meu pai fica em silêncio por um longo tempo, até que suspira.

— Tem certeza que ela não tem um lobo?

— Tenho — respondo, com convicção. — Ela é completamente humana.

Meu pai suspira novamente, e posso sentir a preocupação em sua voz quando ele fala.

— Isso complica as coisas — ele admite. — O portal foi criado para proteger nosso mundo e só permite a passagem daqueles que têm a essência de um lobo ou sua mãe. Mas se a deusa realmente a escolheu para você, deve haver uma maneira.

— Mas qual? — pergunto, frustrado. — Como posso levá-la para Sombria se ela não puder atravessar o portal?

— Talvez a resposta esteja na própria deusa, — diz meu pai, pensativo. — Vou conversar com sua mãe e tentaremos entrar em contato com a deusa.

Deixo um suspiro escapar, sentindo um pouco de alívio. Se alguém pode encontrar uma solução, são meus pais. Eles têm uma conexão profunda com a deusa da Lua e, se há uma maneira de trazer Maya para Sombria, eles a encontrarão.

— Obrigado, pai — digo. — Vou esperar por notícias suas.

Desligo a chamada e observo a cidade mais um pouco.

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