...ISABELLA...
Eu havia desligado o celular quando estava no trem e deixei assim pelo resto do dia. Tirando a jornada entre a Penn Station e a cobertura, eu fiquei sozinha. E, pela primeira vez, isso não era uma reclamação.
Estar sozinha significava que eu não seria alvo de olhares curiosos nem de perguntas indecentes. Significava que eu estava segura. Eu sabia que todos tinham visto aquela imagem e formado uma opinião sobre a garota que tirou a foto e vazou o arquivo.
Eu não queria ver essa opinião nos olhos de ninguém. Eu não queria que a Lucille, o Marco ou até o Christian tivessem a chance de fazer qualquer pergunta. Eu não suportaria.
Eu estava jogada na cama, finalmente permitindo que as emoções aflorassem. As lagrimas vieram rapidamente e eu enfiei a cara no travesseiro para não fazer barulho. Então veio a raiva, que transformou meu choro em clamor.
Isso não é justo. NÃO É JUSTO! Eu comecei a socar o travesseiro, os punhos afundando na superfície macia. A minha vida foi de medíocre a horrorosa, de típica a completamente atípica, em apenas um mês.
E tudo tinha começado com David Knight. Com uma oferta que supostamente resolveria todos os meus problemas num piscar de olhos, uma oferta que eu havia aceitado sem considerar as consequências.
Eu sabia que Lemor tinha visto fotos do casamento no jornal ou ouvido falar sobre a cerimônia, e era por isso que ele voltou a me perseguir. Ele não queria que eu fosse de mais ninguém.
Se eu só tivesse pedido um empréstimo ao banco ou encontrado um emprego em outra área, uma em que o Lemor não fosse influente, eu teria conseguido pagar pelo tratamento sozinha. Mas, no fundo, eu sabia que estava me enganando.
A conta já estava em mais de cinquenta mil dólares antes do tratamento experimental. Assa era a única saída. E será que teria valido a pena destruir minha vida? Enquanto eu não saísse dessa torre de marfim, eu não saberia a resposta.
Talvez, largar tudo o voltar ao anonimato fosse a melhor maneira de conseguir outro trabalho e juntar dinheiro pra ajudar meu pai. Sem que nenhum bilionário interferisse. Eu tinha certeza de que conseguiria um plano de pagamento.
Eu liguei o celular e ignorei todas as mensagens e chamadas perdidas. Eu só queria falar com uma pessoa: David Knight.
Isabella: Posso ir te ver?
David: Claro, nos encontramos lá fora.
Eu troquei de roupa e sai da cobertura. Chamei um carro que já esperava do lado de fora. Quando passei pelo lobby, mesmo tentando passar despercebida, ouvi uma voz dizendo algo pra mim. Eu mudei a direção do olhar pra procurar quem estava falando e a pessoa repetiu,
“Uma vergonha”, o porteiro, Pete, disse. Ele abriu a porta e eu não conseguia distinguir se ele estava me julgando ou sentindo pena. Voltei a olhar pra baixo e entrei no carro. Ele parou na frente do edifício comercial onde ficava a sede do Grupo Empresarial Knight.
David me esperava do lado de fora e se enfiou no carro assim que o viu. “Querida”, ele me sufocou num abraço. Eu achei que estava melhor, mas comecei a chorar sem parar. “Tudo bem, isso, põe pra fora”, ele disse, alisando minhas costas.
“Me... me desculpa”, eu falei com a cara enfiada no ombro dele.
“Vai ficar tudo bem, já estamos resolvendo”.
“Resolvendo?”
“A gente tem a melhor equipe de Relações Públicas, Isabella, e resolver essa situação é a nossa prioridade. Qualquer blog, site, jornal ou revista que compartilhar essa foto, ou simplesmente mencionar o seu nome, vai ser processado. Entendeu?”
Eu fiz que sim, mas o peso ainda parecia estar sobre os meus ombros, me lembrando de como era difícil permanecer de cabeça erguida perto dos Knight. “David, a gente... precisa conversar”. Eu dei uma fungada e ele me passou um lenço.
“O que foi?” Ele me olhou com tanta gentileza, tão genuinamente preocupado, que eu me sentia mal pelo que estava prestes a dizer. Mas eu precisava desabafar.
Eu assoei o nariz e comecei. “Eu não posso mais continuar com o acordo. É demais. É muito difícil. O Christian me odeia, eu sei que sim, e o resto dos meus conhecidos não entende nada da minha nova condição. E, pra ser sincera, nem eu, David. Eu me sinto uma alienígena na minha própria casa. Eu não sei como falar, como agir, e os olhares sempre estão voltados pra mim. É muita pressão. E agora isso...” Eu expirei, supressa por ter conseguido falar tudo. “As pessoas querem me atingir”.
Esperava que David me enxotasse do carro, me desse uma bronca, gritasse comigo ou me chamasse de imbecil. Mas, em vez disso, ele pegou minha mão. “Minha querida, você é tão preciosa. Obrigado por ser tão sincera comigo. Sabe, devem ter milhares de garotas que matariam a própria mãe pra estar no seu lugar. É verdade. Eu peço desculpas pela morbidez, mas você conseguiu ter acesso ao dinheiro e ao status que costuma ser tangível apenas em sonhos.”
“Mas eu não... eu não quero nada disso”.
“Exatamente”, ele disse, enquanto tocava a pontinha do meu nariz. “Eu sei que você está se sentindo perdida. Mas vai conseguir se adaptar. Você é inteligente. Vai aprender que as noticias do dia já são passado. As pessoas querem te atingir porque você tem o que elas querem. Mas não só isso, você também tem um exército pronto pra te proteger. E o Christian...”, ele disse, olhando rapidamente pela janela, para o prédio em que o filho estava.
“Tem muita coisa que você não sabe sobre ele, minha linda. Muita coisa mesmo. Eu sei que todos os defeitos propagados pela imprensa são verdade. Que ele é festeiro, mulherengo, gasta dinheiro a torto e a direito”.
“Eu não quero ofender seu filho, David, mas não consigo imaginar a gente... dando certo. Somos muito diferentes...”
“Ah, mas é aí que você se engana. É verdade que seu coração é puro e o dele é imperfeito, mas eu te garanto que ele é um bom rapaz. Só está um pouco perdido”. Eu franzi a testa, sem saber ao certo se David conhecia o próprio filho. “Deixa eu te contar uma história. A história de um jovem que se apaixonou por outra jovem. Ele estava tão perdidamente apaixonado que ofereceu tudo à mulher que amava. O mundo inteiro. E a data do casamento já estava marcada, ele nunca esteve tão feliz. No dia antes do casamento, a moça foi embora. Sumiu. Com o anel de noivado que poderia lhe comprar uma vida nova e o melhor amigo do jovem”.
Eu demorei um pouco pra processar a informação. Fiquei chocada. O Christian teve seu coração partido, o anel roubado. Ele foi traído pela própria noiva e pelo melhor amigo. A festança, os gritos, a inabilidade de confiar em qualquer desconhecido, tudo começava a fazer sentido.
“Por favor, minha querida. Dê outra chance ao meu filho. Uma oportunidade ao acordo. Ele está ali em algum lugar e eu sei que você pode ajuda-lo a encontrar o caminho de volta pra luz”.
Eu olhei pros olhos daquele bilionário altruísta diante de mim, que desejava desesperadamente que o filho se tornasse o homem que ele sabia que poderia ser. E eu só consegui pensar no meu pai, deitado naquela cama de hospital, orgulhoso da filha e prestes a começar um tratamento que poderia salvar sua vida.
Talvez aquele peso ainda estivesse sobre os meus ombros e talvez eu não tivesse a mínima ideia de quais traumas o amanha despejaria em mim. Mas sentada ali, naquele carro que estava parado na frente de um prédio comercial tão chique, eu sentia que tinha um proposito.
Como se eu pudesse fazer alguma coisa. E foi naquele momento que eu percebi que não estava ali apenas pra ajudar meu pai. Eu precisava ajudar meu marido, aquele homem de coração partido.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Patricia Mariana
abre todo o jogo pra ele..tudo que o filhote aprontou..e tb tudo que o asqueroso do lemor aprontou
2025-02-15
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Jorgete Das Chagas Scramignon (Gete)
Que palhaçada esse velho arrumou!! E ela não conta nada da vida dela pra ele!! Irrita demais!
2025-02-17
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Patricia Mariana
saí dessa nenhuma mulher merecer essa carga de " salvar/concertar" homem escroto
2025-02-15
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