...ISABELLA...
“Você é boa demais pra Curixon mesmo”, a Emily disse, colocando outro sashimi de salmão na boca. Eu mergulhei meu niguiri de atum no shoyu, cantarolando qualquer coisa.
“Eu ainda não entendo”, murmurei. “Eu fui tão bem nas entrevistas”.
“Bem, de qualquer forma, eles que saíram perdendo”, Emily disse enquanto pegava mais sushi de salmão da esteira à nossa frente. Ela já tinha empilhado vários pratos vazios ao lado dela.
Eu mastiguei minha comida, mas não a saboreei. Se ao menos tivesse dado certo com a Curixon. Talvez eu não precisasse ficar noiva de um bilionário tão desagradável. Meus olhos vagaram lentamente pela esteira diante de mim.
Eu tinha várias opções, mas nenhuma me parecia muito atraente. Emily colocou um sushi de salmão no meu prato vazio. “A gente não veio aqui pra chorar as pitangas”. Ela sorriu pra mim e eu fiquei um pouco mais animada. “Feliz pré Ação de Graças.”
“Feliz pré Ação de Graças”, eu respondi e nós brindamos com os sushis antes de devorá-los. Nós tínhamos essa tradição anual de comemorar a data juntas um pouquinho antes de irmos passa-la com a família.
“Bom”, Emily disse de boca cheia, “você viu o que aconteceu no Central Park hoje?”
“Oi?”
“Aparentemente, um casal riquíssimo fez uma sessão de fotos. Eles até interditaram uma parte do parque pra que ninguém atrapalhasse”. Eu engasguei, me esforçando pra não cuspir um monte de pedaços de salmão.
“Pois é, né? Que loucura”, ela suspirou melancolicamente. “Imagina ter tanto dinheiro e ser tão apaixonada que você pode reservar o Central Park”.
Eu dei umas goladas de água e limpei a garganta. “Caramba, que doideira...” eu não podia contar pra ela que era o meu ensaio pré-casamento. Mas também não podia corrigi-la.
Sim, o Christian era muito rico, mas nós com certeza não estávamos apaixonados. O olhar de ódio e desgosto de Christian voltou a me assombrar. Nada poderia estar mais longe da verdade.
“Isabella, você está bem?”
Eu pisquei, me desvencilhando das ideias. “Claro”, eu menti.
“Parece que você viu um fantasma...”
“Ah, só tô um pouco cansada, eu acho.”
A Emily ficou em encarando, seus olhos procurando os meus. Eu nunca menti muito bem e ela sabia disse melhor do que ninguém. Mas eu não podia contar a verdade mesmo se quisesse.
Eu não podia contar a ninguém. Nem para a minha própria família. Uma hora todo mundo iria descobrir. Seria impossível esconder um casamento pra sempre, mas ninguém nunca poderia saber a verdade sobre o meu acordo com David Knight.
Eu assinei um contrato, portanto era literalmente obrigada a mentir. Então eu menti. “Bom, eu preciso fazer umas coisas de ultima hora antes da Ação de Graças amanhã”, eu menti de novo. “Acho que já vou embora.”
“Tudo bem”, Emily disse, com um tom neutro. Eu não consegui distinguir se ela acreditou em mim ou não, mas ela não prolongou a conversa.
Nós nos levantamos e, depois de pagarmos a conta, saímos na brisa fresca de fim de tarde. Sentia o coração pesado pela culpa. Precisei mentir pra minha melhor amiga. E aquilo era só o começo.
...****...
Lucas: Não esquece a torta.
Isabella: Ops.
Lucas: Sério? Nova York muda as pessoas.
Isabella: eu vou voltar pra pegar.
Lucas: Não esquente. Vem logo me ajudar com o peru antes que o Danny bote fogo na casa.
Suspirando de frustração, eu me encostei no banco e fechei os olhos. Não acredito que me esqueci da torta de noz-pecã. Ela era essencial nessa data. Mas, para ser justa comigo mesma, minha cabeça estava cheia.
O trem passou por uma saliência e eu deslizei no banco, recostando a cabeça na janela e apreciando a paisagem que passava num borrão. Estaria em Heller daqui a uma hora, mas queria já estar lá.
Papai garantiu que estava bem o bastante pra passar o Dia de Ação de Graças em casa. Meus irmãos ficaram falando que ele parecia muito melhor, eu mal podia esperar pra vê-lo; mal podia esperar pra ver a todos.
Senti meu coração relaxar. Percebi como estava aliviada de sair de Nova York. Mesmo que fosse por apenas alguns dias, um tempo longe de todo o dramalhão do acordo me faria bem. Eu conseguiria me acalmar e bolar um plano.
...****...
Depois do que pareceu muito tempo, eu finalmente estava na entrada da casa em que cresci. Bati na porta e o Lucas atendeu, me envolvendo em um abraço de urso. “Você está cheirando a trem”, ele disse, me puxando pra dentro.
“É bom ver você também”, eu respondi, mostrando a língua. Entrei e senti uma onda de nostalgia me atingir.
Era ali que eu tinha crescido. A casa que tinha me visto celebrar e chorar na mesma quantidade. Era aqui que a Emily e eu assistíamos escondidas a filmes para maiores de idade; era aqui que Lucas e eu construíamos fortalezas de travesseiros e comíamos Nutella direto do pote.
Mas depois de tudo que aconteceu, o lugar parecia diferente. Como se, de algum jeito, a casa não pudesse mais me proteger do mundo lá fora.
“É ela? A Bella?” E ali estava ele, vindo pelo corredor numa cadeira de rodas. Aquele homem parecia mais o papai do que aquela imagem que eu tinha visto na cama do hospital.
“PAPAI!”, eu saltei em direção a ele, dando um abraço bem apertado. Ele realmente parecia melhor. Vê-lo fora do hospital me fez ter mais certeza da minha decisão. Se aguentar aquele bilionário irritante significava que meu pai ficaria bem, que assim seja.
“Pelo amor de Deus, Bella, eu tô bem”, ele disse, dando risada. “Eu não vou a lugar algum, minha filha. A não ser que você me empurre até lá”.
“Eu sei”. Tentei enxugar as lagrimas antes que elas rolassem pelas minhas bochechas. “Eu só tô feliz de te ver. Você parece bem”.
“Pronta pra ver o peru?”
“Quis dizer, o Danny?”, eu brinquei.
“EU OUVI ISSO!” Danny gritou da sala. Eu sabia que ele estaria no sofá assistindo ao futebol, com os olhos vidrados na televisão. Eu não consegui impedir um sorriso bobo de tomar conta do meu rosto. Isso era exatamente o que eu precisava.
A campainha tocou e nós olhamos pra porta, confusos. “A gente tá esperando alguém?”, eu perguntei para o Lucas.
“Não”. O olhar dele brilhou por um momento. “Você convidou a Emily?”
“Não, acho que ela foi passar com a mãe dela”.
Eu abri a porta... e foi o que bastou pra que o meu santuário de Ação de Graças fosse destruído... porque parado ali na porta, todo lindo e engomadinho, segurando uma caixa de torta de noz-pecã, estava Christian Knight.
Ele deu um sorriso enorme e brilhante, que não compreendeu seus olhos. Um olhar frito, calculista, como um lobo brincando com a comida antes de dar o bote. “Olá, amor”, ele debochou.
Meu coração acelerou tanto que eu achei que teria um piripaque. Minha família nem sabia que eu estava saindo com alguém, muito menos que eu ia me casar com o solteiro mais rico de toda a cidade de Nova York.
“O que você está fazendo aqui?”
“Isabella?”, meu pai falou atrás de mim. “Quem é esse?”
Senti um buraco se abrir no meu estomago ao ouvir o que a minha família estava se aproximando. “E-esse é o...”
Christian se pôs ao meu lado, o olhar cruel e debochado tinha ido embora de repente. Ele colocou a mão na minha cintura e sorriu pra mim, com uma expressão que exalava amor e afeto. Ele parecia a definição de par perfeito.
Mas eu o conhecia. Ele me odiava. Seu abraço parecia me acorrentar. Eu percebi que todos estavam olhando fixamente pra mão dele e meu rosto parecia arder de vergonha.
“Eu me chamo Christian”, meu algoz disse, com uma voz amanteigada. “Eu sou o noivo da sua filha”.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Rita de cassia Batista da silva
É um crápula mesmo !
Queria ver fotos nos próximos capítulos nem que seja só dos protagonistas já é alguma coisa!!!!
2025-03-18
0
Vilma Alice
XIIIIIIIIIIIII.O novinho apareceu no almoço de Ação de Graças sem ninguém saber da existência dele.Vai dar o que 🗣 falar.
2025-03-13
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Princesa Linda
queria ver fotos dos personagens
2025-03-12
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