Capítulo 18

...ISABELLA...

Eu estava em casa, assando uns biscoitos. Parece meio careta, mas eu amava cozinhar. Eu gostava de qualquer coisa que precisasse das mãos como instrumento de criação, qualquer coisa que tivesse uma receita.

Eu tinha acabado de colocar os biscoitos no forno quando ouvi o som do elevador. Olhei pro meu quarto no final do corredor e pensei se conseguiria correr até ele antes que as portas se abrissem, mas elas se abriram antes de eu sequer concluir o raciocínio.

E ali estava Christian, com seu olhar colérico, segurando o paletó por cima de um dos ombros. Não tive tempo nem de pensar em abrir a boca, porque ele veio marchando e esbravejando.

“Quem era o FILHO DA PUTA que estava com você hoje?”

“Quê?”

“Quem era?”

“Meu amigo, o Dustin”.

“Ah, o Dustin”, ele disse com um tom de deboche insuportável. “Eu vou deixar uma coisa bem clara pra você, senhor Knight. Tudo o que você faz nessa cidade volta pra mim. Entendeu? TUDO”.

Eu estava tão confusa que não sabia nem por onde começar. Tentei relembrar cada passo que dei.

“Eu tive uma reunião com o Graden hoje”, ele vociferou. Ah, a gente encontrou a Jessica, era isso. “Ele disse que a mulher dele viu você... com um homem”. Senti uma pontinha de ciúmes no tom dele. “Eu to cagando pro que você faz no seu tempo livre ou pra onde você vai, mas não atrapalha o meu trabalho. Você não vai me constranger de novo. Você entendeu?”, ele disse, se aproximando cada vez mais de mim. Acho que não era ciúmes, então.

“Sim, mas eu não quis atrap...”

“SÓ ESCUTA, PORRA!”, ele bateu com a mão na bancada da pia. “não é pra você ser vista em público com nenhum homem que não seja eu. Por sua causa, eu acho que perdi a porra de um CONTRATO. Você consegue entender? Percebe como você foi burra? Eu te proíbo de ver aquele homem até eu conseguir fechar esse negócio”.

“Você me proíbe?”

“Você me ouviu muito bem. Você vive embaixo do meu teto, gastando o meu dinheiro, não é possível que não possa seguir uma única regra. Até porque, se meu pai descobrir que você quase cagou com tudo, ele vai ficar bem bravo”. Suas palavras me atingiram como adagas.

Eu não sabia o que dizer, não queria discutir. Eu pensei nas mensagens do Lemor, no meu pai e na minha vida nova. Eu não aguentava mais ter que procurar um lado bom em tudo. Meu semblante conformado fez com que Christian se virasse e marchasse pro quarto, batendo a porta.

“Ele é o único amigo que eu tenho”, eu disse baixinho para a cozinha vazia, como se apenas pronunciar aquelas palavras pudesse tornar aquele momento menos real. Mas nada aconteceu. Eu olhei em volta e me senti mais perdida do que nunca. Éramos só meus biscoitos e eu.

...****...

Claro, eu já me senti sozinha nesse quarto milhares de vezes. Mas era a primeira vez que eu não podia contar nem com a Emily nem com o Dustin. Não podia conversar com meus únicos amigos na cidade.

Quando liguei pro Dustin e contei sobre o chilique de Christian, eu consegui entender por que ele ficou alarmado. Eu sabia como era ser taxada como inimiga por alguém que detinha todo o poder. Quão assustador era saber que essa pessoa tinha mais controle sobre meu futuro do que eu mesma.

E agora não era só o Lemor que controlava a minha vida. Meu marido também. Já era ruim o bastante ter que conviver com o Christian e aguentar ele gritando comigo por qualquer besteira. Mas agora ele estava prejudicando os meus relacionamentos pessoais, como se minha existência não importasse.

Ele claramente não tinha nenhum respeito por mim. Ele achava que eu estava com ele por dinheiro e fama, e eu nem podia me defender ou explicar, não sem infringir um contrato. Por quanto tempo eu me sentiria tão sozinha? Quantas semanas, meses ou anos poderia suportar sem uma amizade verdadeira?

Minha tristeza se transformou em frustração e, depois, raiva, raiva do Christian, mas principalmente das injustiças da vida. Estava quase em estado de fúria completa quando a tela do meu celular acendeu com uma nova mensagem.

Número Desconhecido: Não me ignore. Você vai se arrepender.

Meu sangue ferveu. Eu sabia que era o Lemor. A audácia que homens ricos e poderosos tinham de tentar controlar cada segundo do meu dia era inacreditável. Quem eles achavam que eram? Por que eles achavam que podiam mandar em mim como se eu fosse uma criança? O celular tocou.

“Mas que INFERNO!”, eu soltei o grunhido mais bestial que já tinha ouvido, um som que eu nem sabia ser capaz de emitir, e atendi. Mas não queria que ele falasse primeiro. “VAI. PRA. PUTA. QUE. TE. PARIU!”, eu gritei o mais alto que pude.

Eu estava ofegante. Acho que eu nunca tinha falado assim com ninguém, meu coração batia como um tambor. Eu tremia enquanto esperava uma resposta, qualquer uma. Então ouvi uma voz calma e controlado do outro lado da linha. “Você vai desejar nunca ter dito isso pra mim”, o homem disse.

Joguei o telefone pro outro lado da cama. Minhas mais ainda tremiam. Eu me assustei com o toque de novas mensagens. Parte de mim queria ignorá-las, mas a curiosidade foi mais forte. Eu precisava saber o que ele estava dizendo. Era como passar por um acidente na estrada. Não tinha como não olhar. Não saber era pior do que qualquer visão.

Eu me arrastei até o celular e o desvirei lentamente e fiquei aliviada ao ver o nome de Danny na tela. Aparentemente meu pai estava dando um chilique por eu estar evitando falar sobre o meu casamento.

Mas que merda, eu realmente estava evitando essa conversa. Eu não conseguia simplesmente mentir na cara dura pro meu próprio pai. Mas era a única opção, além de nunca tocar no assunto; então era o que eu precisava fazer.

Dei um suspiro e me levantei da cama pra tirar o pijama. Coloquei um jeans e uma camiseta, amarrei o tênis e saí pela porta. Eu não sabia se realmente conseguia mentir pessoalmente. Ainda mais agora que ele estava tão mal.

Mas era justamente por causa disso que eu precisava ser forte.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***