...CHRISTIAN...
Hoje não era o meu dia. E depois de todo o tumulto do casamento, da mudança da esposa pra minha cobertura e da minha ultima negociação ter desandado, eu realmente precisava que fosse o meu dia.
Até que começou bem. Consegui fazer academia sem ninguém me encher o saco. Nada me incomodava mais do que alguém interrompendo minhas series, não importava se era uma gata com roupa apertada ou um cara com uma regatinha ridícula que me reconhecia e vinha tentar puxar papo.
Eu não vou à academia pra conversar. Eu não vou lá nem pra conhecer mulheres, quem dirá homens. Fazer exercícios de manhã virou minha escapatória desde que tudo aconteceu com... ela... no começo do ano.
Levantar peso me fazia esquecer da dor de um coração partido. Libertava meu corpo do estresse e da raiva. Pelo menos até eu sair da academia. Mas, enquanto eu estava lá dentro, eu me sentia competente e no controle de tudo. Como um homem.
Então deu tudo certo de manhã. O problema não era esse. Ele veio mais tarde, depois do almoço, quando eu recebi uma ligação de Paris sobre uma de nossas propriedades. Atraso na evolução da obra, disse o empreiteiro. Deu algum problema no licenciamento com a Prefeitura ou sei lá que merda ele disse.
E aí tinha o meu pai, é claro. Ele não ficou muito feliz ao ouvir as novidades. Porque tudo que dava errado enquanto eu estava no escritório era um reflexo da minha incapacidade. “Você não mandou muito bem nessa, Christian”, ele me disse.
“Não tinha como eu controlar isso”.
“Nada está fora do nosso controle. Você se distraiu por algumas semanas. Eu entendo...”
“Eu não me distraí porra nenhuma”.
“Abaixa o tom”.
Esse era o meu problema. Se um barco afundasse na porra do ártico enquanto eu estivesse com a bunda naquela cadeira, ele arranjaria um jeito de me culpar. Agora, eu precisaria ir num evento de gala de um de nossos hotéis em Paris, um evento que aconteceria em algumas semanas e que eu estava tentando evitar a todo custo.
Mas eu tinha de estar lá para conversar pessoalmente com o empreiteiro e mostrar a cara na cidade. ‘Mostrar a cara’ era como o meu pai falava quando a gente precisava intimidar alguém.
Mas a ultima voz que estive em Paris, fui com a pessoa que me fodeu completamente. A pessoa que arrancou meu coração e atirou do alto da torre Eiffel como se jogasse uma carcaça aos abutres. E olha que estávamos lá pra comprar o vestido de casamento dela, o vestido que ela quase usou pra caminhar até o altar, em direção a mim.
Eu pedi pro Marco me buscar um pouco mais cedo no escritório, pra ver se eu conseguia me acalmar. Estava tentando pensar em algum plano pra me livrar dessa viagem a Paris, do evento de gala e de ter que mostrar a cara quando o carro parou.
Já estávamos na 6ª Avenida, quase chegando, mas o motor simplesmente fez um barulhão e pifou. “Que porra foi essa?”, eu gritei para o Marco.
“Não sei, chefe”, ele respondeu, colocou o carro na posição ‘P’ e desceu, ele deu a volta pela frente e abriu o capô. Eu vi fumaça pelo para-brisa. Foda-se, eu pensei. Não quero morrer numa explosão. Eu saí do carro e percebi uns curiosos parando pra ver o que estava acontecendo. Coloquei os óculos de sol e fui embora.
...ISABELLA...
Eu estava a uma quadra do hospital quando recebi as mensagens do Danny e, mesmo sabendo o quanto Lucas e ele tinham trabalhado nos últimos meses e que eu não deveria ficar brava por ele priorizar o restaurante, eu fiquei chateada, sim.
Já era muito difícil ver o papai no hospital, ter que fazer isso sozinha era desesperador. Já era começo de tarde quando passei pela porta giratória e fui atingida por aquele cheiro distinto de hospital, uma mistura de antisséptico com aflição.
Peguei o elevador com duas enfermeiras que vestiam um uniforme rosa com roxo. Elas deviam ser da minha idade e estavam conversando num tom alegre. Eu acenei pra elas ao sair do elevador, pensando que gostaria de ser tão descontraída quanto elas pareciam ser.
Eu estava tensa. Eu não conseguia nem imaginar o que estava prestes a ver, então comecei a me preparar pro pior. As placas me conduziram por um corredor e depois por umas portas, até que eu chegasse numa sala de espera. Fui até o balcão da recepção.
“Oi”, eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista. Talvez, se eu fosse otimista o bastante, poderia fazer com que aquela pontinha de esperança se tornasse realidade. “Eu vim visitar meu pai, Ken Carson”.
Assim que ela me mostrou o caminho, eu sorri e continuei o caminho até o quarto. Empurrei a porta de leve, enfiando a cabeça pela fresta para dar uma espiada no quarto. Foi o bastante pra que eu sentisse todo aquele otimismo desaparecer.
Ele estava mais pálido e parecia ainda mais frágil. Seus olhos estavam fechados e ele estava em meio a tantos fios e tubos que eu nem conseguia distinguir uns dos outros. Dei um passo em direção a ele.
“Pai?”
Seus olhos estremeceram um pouco antes de abrir. Ele virou a cabeça, bem devagar e bem pouquinho, mas o suficiente pra me ver ali no canto, e um sorriso bem frágil apareceu em seu rosto. “Minha menina”, ele disse, com a voz tão rouca que parecia que tinha acabado de fumar um maço de cigarros inteiro.
“Oi”, eu falei, tentando lutar contra as lágrimas enquanto ia em direção à cama. Eu o envolvi num abraço da maneira mais gentil que pude. “Como você está?”
“Ah, eu estou indo”, ele disse. “Mas eu quero saber de você. Só que antes de me contar, pega uma bebidinha pra mim?”
Eu apertei a mão dele e peguei o copo de água na mesinha de cabeceira. Coloquei o canudo em seus lábios e ele deu uns goles. “Como foi o casamento?” Ele queria parecer descontraído, mas a voz dele saiu embargada.
Dava pra perceber que ele estava muito triste por não ter comparecido à cerimônia. “Ah, foi meio chato”, eu disse, tentando manter o tom da conversa mais leve. “Você ia ter vontade de sair correndo de tão abafado que estava”.
“Bella...”
“A gente fala mais do casamento outro dia”, eu garanti, “Agora você tem que se concentrar em ficar melhor. A enfermeira disse que você é um guerreiro”.
“Mas, sério, Bella, o seu marido...”
Alguém bateu na porta. Que alivio poder fugir daquele assunto. O papai ainda estava muito fraco pra falarmos daquilo. Um homem de meia-idade e muito bonito entrou sorrindo, com uma pasta numa mão e um copo de café na outra.
“Oi, Doutor Kaller”, meu pai disse, num tom afetuoso.
“E aí, meu amigo?”, respondeu o Doutor. “Quer dizer que já tem moça bonita te visitando?”
“Só a minha filha”.
“Oi”, eu estendi a mão. “Meu nome é Isabella”.
O Doutor Kaller checou os sinais vitais, tirou a temperatura, apanhou a pasta que deixou na mesa e acenou pro meu pai. “Posso conversar com você no corredor, Isabella?”, ele perguntou.
“Claro”, eu respondi. “Já volto”, falei pro meu pai e dei um beijo na bochecha dele.
Assim que o Doutor Kaller fechou a porta e deu alguns passos, eu percebi que tinha alguma coisa errada. Sua expressão mudou, não estava mais leve e descontraída e seu olhar tornou-se mais sombrio.
“Isabella, eu só quero ter certeza de que você está inteirada da situação do seu pai. Seus irmãos deram uma passada aqui ontem à noite, mas tivemos uma alteração no quadro clínico. A gente tirou seu pai do coma ontem e ele tem respondido bem, mas ele ainda não consegue comer sozinho e a esclerose... está progredindo. Bem rápido. A gente pode tentar ir combatendo os sintomas na medida em que eles forem surgindo, mas isso seria uma solução paliativa, não um tratamento profilático. Não há muito o que fazer pra que o quadro dele não piore. Então, a gente sugere que o próximo passo... seja deixa-lo o mais confortável possível".
Eu não consegui acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que aquilo significava: desistir. Mas o Doutor viu minha expressão e logo continuou. “Temos uma alternativa. Um tratamento que ainda está em fase de estudo clínico. É uma combinação de medicação e fisioterapia, ambos podem ser feitos aqui mesmo, no hospital, mas eu preciso frisas que é um tratamento experimental, sem garantia de resultados concretos, Isabella. Eu preciso que você entenda os riscos. Ainda não foi testado em humanos”.
“Então as opções são... um tratamento que pode não dar em nada e... nada?”
Ele olhou pra mim e não consegui decifrar se ele queria ser simpático ou piedoso ou qualquer outra coisa. Mas ele concordou. “É uma decisão difícil. Eu não comentei com os seus irmãos antes, porque queríamos ver como seu pai ficaria nas primeiras vinte e quatro horas fora do coma, mas eu recomendo que vocês conversem bem sobre isso antes de decidir. Ah, e esse tratamento experimental... por ser tão novo e tão complicado, é bem caro. Se funcionar, pode aumentar a expectativa de vida do seu pai em mais de um ano”, ele continuou. “Mas, no momento, nenhum convênio cobre, então, juntando os remédios e a fisioterapia, o valor sai por volta de mil dólares por dia”.
As palavras pararam de fazer sentido pra mim. Mil dólares por dia? Nossa, os comprimidos são feitos de ouro? Mas aí eu pensei no David, no Christian, na cobertura. Eu tinha feito aquele acordo por um motivo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 44
Comments
Rita de cassia Batista da silva
A historia tinha tido para ser boa não entendo por tem autora que insiste em colocar a protagonista em situação de fraqueza, submissão, humilhação e muda é simplesmente degradante!!!
2025-03-18
1
Vilma Alice
Aceita Isabella. o seu casamento foi para cuidar da saúde do seu pai.Foi para pagar todos os custos então não pense 2 vezes.AUTORIZA.SEJA UMA MULHER DECIDIDA.
2025-03-13
0
Rita de cassia Batista da silva
Por enquanto vou dar uma parada na história voltarei em um momento que não esteja com tantas expectativas.
2025-03-18
0