Capítulo 16

...ISABELLA...

Número Desconhecido: Eu não era com o bastante, mas o Christian Knight é? Eu conheço muita gente. Você não pode fugir de mim. Boa sorte, srta. Carson, você vai precisar.

Eu olhei pra tela do meu celular e, cada vez que chegava uma mensagem nova, meu estomago revirava mais. O celular estava na mesa e eu percebi que Dustin tentava enxergar o que havia me deixado tão pálida.

“O que foi?”, ele perguntou. Nós estávamos na cafeteria, que estava vazia de novo. Eu comecei a frequentar o lugar depois das minhas corridas no parque, que entraram na minha rotina como válvula de escape.

Correr me fazia esquecer dos problemas e me deixava ter um pouquinho de paz. E tudo que eu mais precisava, morando naquela cobertura dos infernos, era de paz. Mas, essa manhã, minha corrida não foi uma escapatória e, sim, um tempo de raciocínio praticamente ininterrupto.

“Ei”, Dustin falou, balançando os braços pra chamar minha atenção. “Quem é?”

“Não é nada”, eu disse.

“Se não fosse nada, você não estaria com essa cara de quem viu o fantasma do Elvis Presley. Fala logo”, ele insistiu.

Eu contemplei aquele barista de 24 anos de idade, que me encarava de volta. Seu olhar gentil me fez lembrar que, já que a Emily não respondia minhas mensagens e meus irmãos estavam muito ocupados com o restaurante, ele era o único amigo que eu tinha,

“Tá, tudo bem. É meu antigo chefe”, eu disse, abaixando a cabeça. Eu estava cutucando as cutículas, tentando me distrair da dor que sentia dentro de mim. “Ele era o diretor da Gelsa, uma empresa de tecnologia muito conceituada. Eu trabalhei pra ele por quase um ano”.

“Tá... isso não me diz muita coisa sobre ele, Isabella”.

Eu suspirei. E, então, olhei pro Dustin. “Ele... ele queria... me comer. Desde que eu fui contratada. No começo, eram só uns convites pra jantar. Mas quanto mais eu rejeitava, mais ele ia atras de mim. Ele começou a marcar reuniões individuais no escritório dele. E, nessas reuniões, ele sempre tentava me tocar, nos ombros ou nas pernas. Aí eu parei de ir, o que só piorou as coisas. Ele conseguiu meu numero pessoas e deixava recados na caixa postal, me seguia do trabalho pra casa. No fim, eu não conseguia nem ir ao mercadinho da esquina sem que ele estivesse atrás de mim. Foi bem tendo mesmo”.

“Caramba”, ele disse, se apressando em tomar minha mão. Eu olhei com certa reprovação e ele soube o que eu estava pensando. “Ah, eu sei que você é casada, Isabella. Não se preocupa. Eu não estou interessado você. Na verdade, não me interesso por mulheres”, ele disse.

“Eu pensei em me demitir. Eu amava aquele emprego, mas eu não conseguia lidar com o assedio incessante. Eu já tinha trocado de numero algumas vezes, mas ele sempre conseguia o número novo. Eu comecei a ter ataques de pânico. Quando eu finalmente contei aos meus irmãos, foram eles que me deram forças pra realmente pedir demissão.

“E aí?”

“Aí eu fiz minha carta de demissão ele me chamou na sala dele. Eu entrei e me certifiquei de que conseguiria manter a porta aberta. Ele pegou a carta das minhas mãos e sussurrou, de um jeito completamente impiedoso, que eu nunca mais trabalharia. E que assim que eu saísse por aquela porta, ele faria de tudo pra que nenhuma empresa me contratasse pelo resto da minha vida”. Eu encarei o Dustin e conseguia distinguir a dor em seus olhos.

“Amada”, Dustin disse, apertando ainda mais as minhas mãos, “você não merecia isso. Ninguém merece, mas principalmente você”. Ele pegou me celular e leu as mensagens. “Você já o denunciou?”

“Assim que ele começou a fazer isso e depois de novo, com os meus irmãos, logo antes de me demitir. Mas falaram que eu não tinha provas. Além disso, ele é o diretor técnico de uma empresa muito importante e eu, uma ninguém de 23 anos. Eu nunca tive chance nenhuma”.

“Então você vai apenas ignorar tudo?”

“Ele bagunçou toda a minha vida, mas não há nada que eu possa fazer. Ele tem poder, tem recursos. Acho que uma hora ele vai desistir”.

“Você contou pro Christian? Ele deve conseguir te ajudar...”

“Não”, eu gritei e abaixei a cabeça de novo. “Eu não quero que ele ache que eu sou uma donzela em perigo. É... constrangedor”.

Dustin me olhou com tanta pena que comecei a chorar. Ele se sentou ao meu lado e passou o braço sobre meus ombros. Quando ergui um pouco os olhos, um rosto conhecido passava pela porta.

Era a senhora Graden, esposa do cliente superimportante dos Knight. Ela me reconheceu imediatamente e veio me cumprimentar com dois beijinhos no ar. “Querida!”, ela exclamou. Ela virou pra Dustin e depois pra mim.

“Meu nome é Dustin. Dustin Stirling”, Dustin respondeu uma pergunta que não foi feita e estendeu a mão pra ela.

Ela o cumprimentou. “Jessica”, respondeu quase num sussurro e virou pra mim novamente.

“Eu já estava de saída”, eu falei pra ela, tentando fugir dali o mais rápido possível. Era divertido estar ali quando éramos só Dustin e eu, mas ter que conversar com uma socialite de verdade que conhecia o meu marido, tirava todo o meu conforto e ainda me deixava nervosa, por algum motivo que eu desconhecia.

Me levantei, dei um “Tchau” pra Dustin e pra Jessica e fui embora, mas tive a impressão de que Jessica me acompanhava com o olhar.

...CHRISTIAN...

Meu celular tocou no bolso. Eu fechei a cara e saí do carro, pegando o aparelho. Eu tinha esquecido de colocar no silencioso. Eu sempre fazia isso antes de reuniões importantes. Eu já estava no local da reunião e precisava me concentrar.

Mesmo assim, não consegui deixar de espiar as notificações. Eram mensagens da Jessica, a esposa de Graden, que eu encontraria em alguns minutos. Estávamos quase fechando negócio. Eu grunhi.

Jessica: Christian! Você precisa ficar de olho na sua mulher. Eu a vi numa cafeteria hoje com outro homem e eles pareciam bem próximos.

Quando li o que ela havia me mandado, desejei não ter olhado.

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