Capítulo 14

...ISABELLA...

Eram três horas da manhã quando voltei pra casa. Eu estava exausta. Enquanto subia de elevador até a cobertura, comecei a ouvir um som muito alto. Quando as portas se abriram, eu precisei até tampar os ouvidos. A musica estava tão alta que achei que nunca mais ouviria direito.

Eu estava entrando no meu quarto quando, de repente, a musica parou. Eu me virei e vi o Christian. Ele vestia uma calça jeans escura e uma camisa branca, desabotoada até o umbigo. Sua barba estava por fazer e os olhos muito, muito vermelhos.

Dava pra ver que o rolê era dos bons. Pensei em como nosso dia deve ter sido diferente. Ele ali, bebendo e se divertindo a tarde toda. “A patroa chegou”, ele falou, encarando meu suéter velho e meu tênis surrado.

“Oi Christian”, eu disse, tentando me afastar. Mas então lembrei das palavras do médico. Minha cabeça começou a girar. Talvez fosse melhor contar pro Christian logo, assim ele não ficaria bravo nem acharia que eu estava escondendo as coisas.

E, chapado daquele jeito, talvez reagisse melhor. Talvez ele mostrasse que, no fundo, tem um coração. Isso, eu pensei. Que ideia boa. Christian tropeçou em direção à cozinha. Ele se servia de mais uma taça de vinho quando decidi confronta-lo, indo até o lado oposto da ilha central.

“Oi, eu queria te perguntar uma coisa”, eu disse, esperando que minha voz demonstrasse o mínimo de confiança.

“Que foi?”, ele disse, entornando o vinho.

“O meu pai... ele...”

“Tá, já deu.”, ele me interrompeu num gesto de abrir e fechar a mão rapidamente. Um gesto que indicava fala. Ele acha que eu falei demais.

“Se você me deixar explicar...”

"CALA. A. BOCA. Preciso desenhar?”, ele disse, agora bebendo direto da garrafa. “As pessoas falam comigo demais. O tempo todo. Eu só quero silêncio”.

Deixa pra lá, eu pensei. Virei e fui pro meu quarto. “Ei!”, ele chamou. Eu continuei andando. Mas ouvi uma corrida e senti uma mão puxando o meu braço antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele havia me encurralado. E segurava a garrafa com tanta força que eu temi que ela se estilhaçasse.

“Ei”, ele disse, num tom mais suave, quase como se quisesse flertar. Como eue u fosse outra pessoa. “Você é minha esposa, sabia?”

“Sabia, Christian”.

“Então não vire as costas pra mim e saia andando”. Ele estava tão perto de mim que eu poderia contar quantos cílios havia em seus olhos.

“Ok”, eu disse. Tentei me soltar, mas ele me segurava com muita força.

“Você sabe que esposas devem obedecer aos maridos”, ele disse, com um bafo insuportável de álcool.

“Eu vou dormir”, falei num tom firme, finalmente conseguindo me livrar de suas maos e me afastando. Ele quebrou a garrafa de vinho na parede. Eu me assustei e, quando virei para ele novamente, me deparei com o sorriso mais horripilante que eu já havia visto.

“Você vai aprender a afazer o que EU MANDAR, PORRA”, ele gritou. “Você mora aqui. Você vive às minhas custas. Então você vai aprender a ser útil pra mim”.

Ele começou a vir em minha direção, com os olhos percorrendo o meu corpo. Mas, dessa vez, eu sabia que ele não estava reparando nas manchas do meu suéter nem nos furos do meu tênis. Eu sabia que ele tentava imaginar o que estava por baixo.

“Christian, para”, eu pedi, minha voz implorava. Mas ele continuou vindo.

“Você é uma vagabunda interesseira”, ele disse. “Deveria começar a agir como tal”. Senti como se uma faca perfurasse meu estomago. E, então, senti suas maos em meus ombros, passando pelo meu cabelo.

“Você está bêbado”. Minhas palavras fizeram ele parar, na hora. Eu não entendi o porquê, mas sabia que era a minha chance de sair correndo pro meu quarto. Nessa hora, vi a Lucille vindo pelo corredor.

Nossos olhares se entrelaçaram, ela conseguia ver a dor e o medo nos meus olhos e eu podia ver o instinto maternal nos dela. Ao passar por ela, senti sua mão puxando a minha e ouvi um sussurro: “Eu vou cuidar disso”.

Assim eu cheguei no quarto e tranquei a porta, consegui respirar novamente. Como foi que minha vida se tornou esse campo minado? Eu me deitei e minha mente ficou oscilando entre imagens do papai e imagens do Christian completamente bêbado.

Se alguém era digno o bastante para me fazer passar por tudo isso, esse alguém era o papai.

...CHRISTIAN...

Acordei com uma dor de cabeça do caralho. O ouvido zumbindo, a cabeça latejando e a boca seca. Olhei ao meu redor à procura de água e encontrei uma garrafa na mesinha de cabeceira. A Lucille deve ter colocado ali, eu lembrava vagamente de vê-la entrando no quarto durante a noite. Quase como um anjo.

Eu havia sonhado com aquela que havia partido o meu coração, aquela que havia me arruinado. No sonho, eu estava com ela comigo no carro. Estávamos atravessando uma pista de aeroporto, com asfalto a perder de vista, mas meus olhos não estavam na pista, estavam focados nela. Ela enrolava uma mecha de cabelo em volta dos dedos, os olhos brilhando ao encontrar os meus.

Então ela se aproximou e, com uma voz suave e um tom áspero, disse: “Você está bêbado”. E, entoao, meus olhos se abriram e eu estava ali, acordado.

Eu me vesti e sai do prédio, com vontade de dar um soco no Marco por me perguntar se eu queria tomar um café da manhã. Eu estava com cara de quem queria tomar café da manhã, por acaso? Só de pensar em comida, me dava vontade de vomitar.

Quando cheguei ao escritório, meu pai estava sentado no meu sofá. “Que surpresa boa”, eu disse, terminando minha garrafa d’água e me sentando na cadeira diante dele.

“Queria avisar que marquei um jantar pra você com o senhor Graden e a mulher dele”. O senhor Graden era dono de um hotel no SoHo que estávamos tentando adquirir e reestruturar há mais de um ano. Ele parecia estar mais interessado ultimamente.

Ele se levantou pra ir embora. “Ah, e leva Isabella com você. O Graden vai com a esposa dele, acho que o nome dela é Jessica. Vai te deixar mais civilizado.”

Isabella. Isso fez com que eu me lembrasse um pouco mais sobre a noite passada: eu a agarrei pelo braço e a chamei de vagabunda interesseira. Ótimo. Tenho certeza de que ela vai ficar muito feliz em me ajudar a causar uma boa impressão.

“Você entendeu?” Meu pai esperava uma resposta. Ele não iria embora antes que eu confirmasse o plano dele. Isso vai ser interessante.

“Tá, eu entendi.”

Christian: Il Mulino. 20h.

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Comments

iranete teofilo

iranete teofilo

Há história não anda eu pensei que ela ia mudar mais não continua sempre se reação nenhuma, tá ficando ruim demais. Faça alguma coisa autora.

2025-03-05

1

Vanessa Destro

Vanessa Destro

Nossa vou até pular uns capítulos pra ver se melhora pois tá muito ruim

2025-02-20

1

veramendes Mendes

veramendes Mendes

história estranha

2025-01-18

0

Ver todos

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