...ISABELLA...
Consegui ouvir o elevador. O som era inconfundível. Alguém estava subindo. Lucille e eu ficamos sozinhas o dia todo, mesmo que ela tenha se escondido de mim. Eu fiquei ocupada desfazendo a mala, mas até quando fui buscar um copo d’água na cozinha, não a vi nem a ouvi em lugar nenhum.
Mas agora, mais alguém estava no apartamento. Eu pressionei o ouvido contra a porta do meu quarto, prestando atenção no toque de abertura do elevador. Segurei a respiração pra tentar ouvir algum barulho que me ajudasse a reconhecer quem era.
“Quantas vezes eu tenho que falar? Banco aquecido, mas com ar quente desligado”, uma voz masculina reverberou pelo ambiente. Bom, essa charada não foi tão difícil. O maridinho estava em casa.
“Claro. Perdão, senhor”.
Eu pensei em ficar fora do caminho dele e permanecer dentro do quarto, mas eu sabia que precisaria falar com ele em algum momento. Talvez fosse melhor acabar com isso logo, pra mostrar que eu estava pronta pra uma relação civilizada. Afinal, nós viveríamos juntos a partir de agora. Então eu saí e vi Christian enfurecido, mexendo no celular.
O homem que ele estava constrangendo tinha a cabeça raspada e estava todo vestido de preto, com óculos de sol estilo aviador nas mãos. Ele parecia tranquilo e intimidante ao mesmo tempo. Ele virou pra mim e depois pro Christian.
Christian olhou pra cima e, quando me viu, não esboçou expressão alguma. “Marcos, essa é a minha esposa”. Ele disse a palavra esposa de um jeito que fez parecer que eu era um inseto, zumbindo no ouvido dele a noite toda. E aí se levantou e se dirigiu ao que eu presumi que fosse seu quarto, batendo a porta depois de entrar.
Eu virei pro tal do Marco. “Oi, Marco, muito prazer. Meu nome é Isabella...”
“E aí?”, ele disse desinteressadamente, se retirando pra outro cômodo. Acho que ele também não estava no meu time. Numa cobertura tão grande, com tudo que alguém poderia sonhar, eu nunca me senti tão solitária.
Voltei pro meu quarto e liguei pra Emily, sentindo um alivio enorme na hora em que ela atendeu.
“Alô?”
“Emily”
“Oi, Bella”, ela parecia distraída.
“Onde você tá? Tudo bem?”
“Eu tô na loja, o que você quer?”
“Ah, nada. Eu só... só senti saudades. De você e do apartamento.”
“Você acabou de se mudar e sua cama parece ótima.”
“Ah, é sim. É tudo muito bonito. Muito mesmo.”
“Hum”, ela disse e, nesse momento, eu tive certeza de que ela estava distante.
“Mas não chega perto de dividir um apê com você, Emily. Era tão gostoso e a gente se divertia tanto.”
“Isabella, você acabou de mudar praí. Você vai se acostumar. Você se acostuma com tudo”, ela disse.
“O que isso quer dizer?”
“Só... olha, eu fico feliz de você estar feliz, tá bom?” Não era a primeira vez que ela falava isso. Ela disse a mesma coisa quando estávamos nos arrumando no hotel, depois quando se despediu na festa de casamento e, agora, repetiu de novo. Eu estava começando a sentir a reprovação por trás dessa falsa cortesia.
“Obrigada”, foi tudo o que consegui dizer.
“Eu preciso ir, tá? Tem um monte de cliente esperando”. Não tinha como isso ser verdade. Eram 18:00h se uma segunda-feira.
“Posso ser sincera?”, eu perguntei.
“Sempre”, agora ela parecia mais gentil.
“Eu não sei se vou conseguir me encaixar aqui. É um universo muito diferente. Todo mundo é... indiferente. E tem umas regras que ninguém comenta, mas todos esperam que você saiba...”
“Bella, me escuta. Você escolheu isso. Você decidiu casar com ele. Eu não posso ficar segurando sua mão e concordando com tudo e dizendo tudo que você tem que fazer. Esse é o caminho que você escolheu. E você vai se acostumar com ele. Agora, eu realmente preciso ir”. Ela desligou.
Ela nunca tinha desligado na minha cara, nem sido tão ríspida. Claro, tivemos umas brigas aqui e ali, mas nunca sobre algo tão importante. E sempre conseguíamos nos entender.
Eu liguei de novo, mas caiu direto na caixa postal. Ela não queria mesmo falar comigo. Minha vida estava indo de mal a pior e era tudo culpa minha. Me afundei ainda mais na cama, colocando as mãos sobre o rosto. Meus olhos se abriram e fecharam. E abriram. E fecharam. Eu só queria sumir.
...****...
Lucas: foi mal, não posso falar agora.
Isabella: Ok. Não tem problema.
Joguei meu celular na cama. Já se passava das sete da manhã e eu tinha passado minha primeira noite na cobertura. Depois que Emily desligou na minha cara ontem, não saí mais do quarto. Só coloquei um pijama, me afundei nos lençóis e cerrei os olhos até adormecer.
Pensei que dormir cedo faria com que eu acordasse revigorada, otimista sobre o dia que estava por vir, mas eu continuava me sentindo sozinha. Os espelhos não ajudavam, só me recordavam de que eu era a única ali.
Tentei ligar pro Lucas. Normalmente, uma conversa rápida com ele era o bastante pra me animar. Suas piadas sempre me lembravam de que eu não deveria levar tudo tão a sério, mas nem ele queria falar comigo essa manhã.
Eu me sentei e olhei pro meu rosto refletido no espelho oval pendurado na parede do outro lado do quarto. Eu parecia tão acabada quanto sentia que estava. Eu fiz um coque no meu cabelo antes de me deitar. Não havia nem sinal dele.
Eu sabia que só me arrumar não faria com que eu me sentisse melhor, então decidi tentar melhorar meu humor primeiro. Pulei da cama, coloquei um legging velha e um moletom, prendi meu cabelo num rabo de cavalo, calcei o tênis e saí do quarto.
Por sorte, não cruzei com ninguém no meu caminho até o elevador. Eu não conseguia lidar com tanta hostilidade tão cedo. Desci até o lobby, atravessei o saguão enquanto colocava os fones de ouvido. Havia alguns moradores, uns sentados nos assentos de luxo e outros conversando perto da sala de correio.
Todos estavam muito bem arrumados e pareciam ter muito dinheiro, como se, mesmo em manhãs casuais, fossem melhores que os outros. Eu ainda estava olhando pra eles enquanto me aproximava da entrada, o que fez com que eu esbarrasse em Pete, um dos porteiros.
“Eita”, eu deixei escapar e ele se apressou em me segurar.
“A senhora está bem, senhora Knight?”, ele perguntou, com um semblante de preocupação. Todos se viraram para nós para entender o motivo de tanta agitação, o que me deixou muito constrangida.
“Eu tô bem, sério”, articulei rapidamente, abrindo a porta. “Desculpa mesmo”, eu disse olhando pra ele enquanto corria pra fora. Eu realmente precisava tomar um ar.
A brisa fresca de outono bateu imediatamente, o que me ajudou a relaxar. Virei à direita e esperei o semáforo mudar, correndo sem sair do lugar pra não desaquecer. Quando a luz ficou verde, atravessei a rua em disparada e entrei no Central Park.
Passei por turistas, famílias e moradores da cidade que só queriam apreciar um pouquinho de natureza. Não pude deixar de sorrir. Todos que estavam ali tentavam aproveitar a vida ao máximo e dar o melhor de si. Por algum motivo que eu não saberia explicar, comecei a sentir esperança. Se eles conseguiam fazer isso, por que eu não conseguiria também?
Aquele sentimento de esperança foi o que me motivou a correr o mais rápido que pude, como não fazia há meses, usando a risada das crianças e os grunhidos dos jogadores de futebol que corriam pela grama como incentivo, como se eu precisasse impressioná-los.
Quando eu parei pra descansar, percebi que já havia percorrido oito quilômetros. Nada mal, pensei num tom de autoaprovação. Andei um pouco pra desaquecer, deixando a endorfina passear pelo meu corpo.
Atravessei a rua e decidi parar na esquina, numa cafeteria que tinha uma atmosfera meio anacrônica. Não tinha ninguém atrás do balcão quando entrei, então fiquei meio confusa e olhei ao redor. Foi aí que vi um homem sentado num dos bancos perto do balcão, quase escondido. Ele estava lendo jornal e não parecia ter notado minha presença.
Acho que era isso ou então ele simplesmente não se importava com os fregueses. Mas eu estava de tão bom humor depois da corrida que não liguei. Fui até ele e comecei a falar quando parei bem na sua frente.
“Olá”, eu disse alegremente, o que o fez olhar pra mim. Ele parecia ter a minha idade, tinha olhos enternecedores e um belo sorriso.
“Foi uma saudação e tanto”, ele disse, “Alguém deve estar de bom humor.”
“Acho que sim. Agora, pelo menos...”, eu disse.
“Só agora?”, ele perguntou enquanto se levantava e ia pra trás do balcão. Mas consegui ver qual página do jornal ele estava lendo antes disso: era a página seis.
“Os últimos dias foram cheios de altos e baixos. Mas agora acho que deu uma estabilizada”, eu pressupus, um pouco por mim mesmo e um pouco pra ele não me achar uma chata.
“Ah, foi uma semana daquelas, então. O que você vai pedir?”
Eu olhei em volta à procura de um cardápio e foi só então que me dei conta de que o lugar estava praticamente vazio. Uma cafeteria vazia no meio de Nova York? Essa era nova. Encontrei o menu numa lousa apoiada no balcão. Dei uma olhada.
“Eu quero um latte de hortelã-pimenta”, eu disse.
“Escolha interessante”, o barista respondeu, começando a mexer na cafeteira. “Você corre por aqui?”
“É, eu gosto de passar pelo parque”, eu disse. “Acabei de me mudar pra região, na verdade”.
“Ah, que legal”, ele disse enquanto fazia a espuma de leite. Ele me deu o copo, se inclinando no balcão e me encarando de cima a baixo. “É um prazer te conhecer. Eu sou o Dustin. Dustin Stirling”. Ele estendeu a mão. Eu o cumprimentei.
“Isabella. Isabella Knight”, eu disse, dando um ultimo aceno antes de voltar pra rua, onde ninguém conheceria meus segredos. Decidi checar meu celular pra ver se tinha alguma ligação perdida do Lucas, mas só pude ver uma tela preta. A bateria tinha acabado, provavelmente logo depois da corrida. Que bom.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Rita de cassia Batista da silva
Mulher vai trabalhar ser independente, se amar ... sabe tem momentos da leitura que dei o o falecimento do pai dela assim ela rompe com esse contrato estou ficando com um ranço que não tem tamanho desse calhorda 🤢🤢🤢
2025-03-18
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Patricia Mariana
é querida Isabela bem vinda ao munda da inveja....e com " marido" mundo da devassidão, promiscuidade, ganância, machismo e horrores😞😞😞
2025-02-15
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Vanessa Destro
a história não anda fica num lenga lenga que dá preguiça de continua 1😔😒
2025-02-20
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