...DAVID...
Não há celebração como um casamento. Em sessenta anos de vida, essa é, provavelmente, uma das únicas coisas que eu posso afirmar. A decoração, os trajes, o espetáculo em si, tudo em nome do amor. E o amor, o amor de verdade, é a única coisa na qual tenho fé.
E daí que eu tinha arquitetado tudo? Não importa que fui eu quem encontrei o anjo que salvaria meu filho. O que importava era que ele estivesse aberto a isso. Claro, demorou um pouco pra conseguir convence-lo. Os filhos de hoje em dia não aceitam ordens como eu fazia com os meus pais, mas tudo bem.
Assim que usei meu cargo na empresa como isca, Christian topou tudo. Casamento, trabalho, tudo que eu propusesse. Seu coração estava aberto para ela e era isso que importava.
Eu dei uma olhada no salão repleto de família e amigos, sócios e clientes, e só consegui sentir orgulho. O cerimonialista fez tudo perfeitamente. O ambiente estava coberto de flores, lírios brancos, e luzes penduradas em colunas ao longo de todas as paredes. Um altar havia sido construído. Ali estava o padre, em pé atrás de Christian, que esperava pela chegada da noiva.
Os bancos foram feitos pra combinar com o piso de carvalho e possuíam um estofado marfim. A florista entrelaçou lírios em todos os bancos, com algumas luzes pequeninas entre eles. Tudo estava perfeito.
Eu estava feliz em ver o lugar abarrotado, mesmo proibindo que a imprensa assistisse à cerimônia. Eu queria todos os olhares voltados ao meu filho e sua nova esposa, queria que todos testemunhassem o dia que mudaria sua vida. Eu sabia que essa era a decisão certa e eu estava muito feliz de estar ali, presente. Só desejava que Amelia estivesse ao meu lado.
Olhei ao redor, acenando para os convidados que faziam contato visual comigo. Mas não conseguia parar de pensar em minha amada, a razão pela qual todos nós estávamos ali, a pessoa que me guiou e tornou possível que eu também guiasse meu filho. Eu sentia sua falta todos os dias, mas hoje senti um pouquinho mais.
Então as portas se abriram e todo mundo se levantou. Quando eu me virei e vi Isabella, minha queria e estimada nora, vindo em direção ao altar, consegui sentir minha esposa ali comigo.
...ISABELLA...
Não tropeça. Não tropeça. As palavras de Lucas faziam um eco em minha cabeça e eu não sabia se era mais provável tropeçar por causa do nervosismo ou dos sapatos. Eu não recebia tantos olhares desde... nunca. Nunca tanta gente olhou pra mim ao mesmo tempo.
Eu me emocionei caminhando sozinha até o altar. Eu não fui uma dessas garotinhas que cresceu imaginando o próprio casamento, mas eu sempre achei que meu pai estaria ao meu lado, me levando pro altar. Mas ele estava longe, numa cama de hospital, em coma.
Não chora, Isabella. Eu exigi a mim mesma. Tem gente demais olhando.
Finalmente, cheguei ao altar. Eu me posicionei diante de meu noivo, o homem que mais me odiava no mundo inteiro. O homem que mal me conhecia, mas que estava salvando a vida do meu pai, mesmo que não soubesse.
Eu dei um sorriso nervoso. Em retribuição, ele só me encarou. O padre sorriu pra nós dois, um de cada vez, e depois começou a pronunciar suas palavras aos expectadores.
“Podem se sentar. Estamos reunidos aqui, hoje, pra testemunhar o amor e celebrar a união em matrimonio de Isabella Carson e Christian Knight.”
Depois disso, a voz dele se afastou e eu me perdi nos meus pensamentos. Analisei a imagem de Christian, reparei em seus olhos, pesarosos, e em sua mandíbula, travada. A barba estava por fazer, como se ele fosse descolado demais pra se barbear para o seu casamento.
Meu olhar começou a descer para o smoking, o tipo de smoking que deixaria os figurinistas de Gossip Girl babando. Deveria ser de alguma grife famosa, como Armani ou Dolce & Gabbana, talvez até feito sob medida. Era todo preto e elegante, tudo que um homem poderia querer numa roupa.
E, mesmo assim, eu poderia apostar que ele nem ligava para o que eu estava vestindo. Ou para o casamento. Ou para qualquer coisa, na verdade.
“Isabella?”
O padre estava olhando pra mim como se esperasse algo e eu senti toda a atenção dos convidados direcionada a mim. Fiquei vermelha. Em que parte, ele estava? O que eu precisava falar?
“Aceito?”, eu me recompus e o padre sorriu, acenando com a cabeça.
Então ele virou pra Christian. “Christian Knight, você aceita Isabella Carson como sua legitima esposa, para amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de sua vida até que a morte os separe?”
“Aceito”, ele disse, como se tivessem perguntado se ele queria mais sal na salada.
“Então, senhoras e senhores, pelo poder investido em mim, eu vos declaro marido e mulher. Já pode beijar a noiva.”
A plateia veio abaixo, os convidados mal podiam esperar pelo beijo e eu não sabia o que Christian iria fazer. Poderia ser um beijo no ar ou um aperto de mão, até um tapa na cara. Mas o que ele fez acabou me surpreendendo ainda mais.
Ele se inclinou até que seus lábios estivessem quase tocando os meus, sorriu e disse: “Eu sou um homem poderoso e consigo o que eu quero. E o que eu quero é arruinar você”. E então ele me beijou, na boca, enquanto minha cabeça rodopiava e meus olhos se enchiam de lágrimas.
Quando ele finalmente se afastou de mim, começou a andar e cumprimentar os convidados sozinho. Eu não conseguia acreditar no quão rápido ele parecia transitar entre as emoções; num minuto tão bravo comigo e no outro rindo com todo mundo, como se nada tivesse acontecido.
O padre, reparando nas lágrimas, me deu um tapinha nas costas. “É sempre um dia emocionante. Eu desejo toda a sorte do mundo a você”, ele disse. E, eu acho que ia precisar. Depois disso, segui meu marido pra fora do salão.
...****...
Emily: Onde você tá, Bella?
Isabella: No banheiro. Quero ir embora.
Emily: É o seu casamento...
Isabella: Preciso te contar uma coisa. Sobre o pq me casei com ele.
Emily: Oq tá rolando??
Eu estava no banheiro, sentada no chão gelado. Coloquei o celular de volta na bolsa. Eu ainda estava com o vestido, com os sapatos, mas não conseguia voltar pra festa de jeito nenhum.
Eu estava cansada de ter que fingir e cumprimentar todo mundo que o David me apresentava e estava ainda mais cansada de aceitar todos os ‘parabéns’ de quem eu nem conhecia. Eu sabia que já tinha dito mais do que deveria para a Emily, mas eu não ligava.
Meus pés doíam, meus lábios estavam rachados e o meu coração parecia esgotado. Eu estava realmente cansada. Ouvi uma batida na porta e reconheci a voz da Emily. “Bella?”
Sem me levantar, destranquei a fechadura e a deixei entrar. Ela me viu no chão, com a maquiagem borrada pelo choro.
“Bella, que porra é essa? Me conta.”
“É muita coisa”, eu disse.
“Que mensagem foi aquela? Por que você casou com ele?”
Chegou a hora. A hora de admitir a verdade e pedir ajuda. Nós nos olhamos tão intensamente que nenhuma de nós piscava. Eu queria muito contar tudo, mas meus lábios não se mexiam. Eu não conseguia dizer. Ela olhou pra baixo, como se estivesse magoada pelo silêncio.
“Quer que eu chame o Christian?”
“Não!”, eu quase gritei. O momento havia passado. “Não, ele não entenderia. É só... tudo muito estranho pra mim.”
Ela se sentou diante de mim, espremendo as pernas nas minhas pra conseguir se encaixar no espaço diminuto. Só esse movimento já me fez sorrir. “Eu entendo. Entendo mesmo. É, isso aqui é uma loucura. É intimidador, esquisito, aterrorizante. Mas o mais importante não é o caviar ou os sapatos do Cristiano La Botina, ou sei lá como se fala.”
“Christian Loubotin, eu acho”.
“Tanto faz. Você me entendeu. O mais importante é que você ama o Christian e ele ama você. E todo mundo que está aqui hoje ama vocês também”. Ela se aproximou e pegou minha mão. “Eu sei que seu pai gostaria de estar aqui, Bella. Ele ia ficar doido vendo você nesse vestido.”
“Acho que a essa hora ele já estaria de ponta cabeça tomando cerveja direto do barril.”
“Nossa, ninguém aqui nunca deve ter feito isso.” Ela provavelmente tinha razão. E então hesitou. “Você ama ele mesmo, né?”
“Sim”, eu disse baixinho, olhando pro chão. “Amo”.
“Então, bora pra festa!” Ela tentou me animar e me ajudou a levantar. Eu não sabia se ela creditava em mim e, se acreditasse, o que será que ela achava de a melhor amiga ter casado com um playboy que conheceu duas semanas atrás?
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Atualizado até capítulo 44
Comments
iranete teofilo
Quanto sacrifício coitada. Há Senhor Jesus dá forças e sabedoria a ela pra aguentar tudo isso. E vou seguindo pra no que vai dar, né?
2025-03-05
0
Maria De Fatima Pinto
ai que dó gente
2024-08-24
4
Ana Lúcia De Oliveira
duas semanas atrás
2024-07-08
15