...ISABELLA...
Christian: ONDE. VC. TÁ???????
Estava no elevador, pensando no banho delicioso que eu ia tomar, quando as portas abriram e eu voltei à realidade. Quando entrei na sala, sentado em uma das poltronas creme, estava David.
“Ah, aí está ela! Venha, queria”, ele disse, levantando para me cumprimentar.
Eu fui até ele e deu um beijo em sua bochecha, reparando, de canto de olho, no meu marido irritado que estava sentado no sofá. Christian não se levantou.
“Eu não sabia que você vinha, eu não teria saído”, eu disse.
“Não se preocupe, eu não queria atrapalhar o seu dia. Planejaram alguma coisa legal?”
“Só dei uma corrida”. Olhei pra Christian. Ele parecia mais bravo que o normal.
“Você tem algo em mente, Christian?” Eu perguntei, tentando fazer parecer que éramos civilizados.
“Eu trabalho durante a semana”, ele disse num tom condescendente. “Inclusive, tô atrasado, pai”.
“Ah, sim, claro”, David disse, se levantando de novo. “Eu só quis dar uma passada pra ver como os pombinhos estavam. O lugar ficou bonito, né?”
“Muito”, eu disse, e Christian só concordou com a cabeça.
David me deu um beijo na bochecha e apertou a mão do filho. “Fico feliz de você estar aqui, Isabella”, ele disse antes de entrar no elevador. “Você faz parte da família agora”.
“Eu também”, a minha voz embargou. “Obrigada”. E ele se foi.
Pensei que seria um ótimo momento pra tomar o meu banho, quando ouvi algo estilhaçar atrás de mim. Eu me virei e vi Christian ainda olhando pra mim, com um monte de cacos de vidro do que deveria ser um vaso diante dele. Eu fiquei espantada. Não parecia que tinha sido um acidente.
“Limpa”, ele disse.
“Oi?”
“Você me ouvir. Você quer criar problema, chamando o meu pai sem me avisar, então eu vou fazer o seu joguinho. Eu fiz essa merda. Agora você resolve.”
Eu estava chocada. “Eu... eu não o convidei”, eu disse, percebendo que minha voz enfraquecia a cada palavra.
“Pode mentir o quanto quiser. Não ia fugir muito da sua personagem”.
“Eu não estou mentindo”, mas ele já tinha batido a porta do quarto e eu pude ouvir uma risada feminina lá dentro.
Olhei para os cacos de vidro, sabendo que eu não poderia simplesmente deixar tudo ali. Alguém poderia se machucar. Então fui atrás da vassoura e da pá e comecei a varrer os estilhaços.
Eu achei que estava sozinha quando ouvi a voz da Lucille. “Eu faço”, ela disse.
Eu virei pra ela. “Não tem problema, já estou quase acabando”.
Nesse momento, ela fez algo completamente inesperado. Ela parou diante de mim, beijou o próprio dedo e pressionou contra a minha testa. Era um gesto maternal e firme. Ela percebeu o ódio que meu marido sentia por mim e isso amoleceu seu coração e me fez ganhar uma aliada.
Mas quanto ódio eu poderia suportar?
...****...
Número Desconhecido: Oi, Isabella? É a Betty, da Curixon.
Isabella: Sim?
Número Desconhecido: A assistente do sr. Kinfold.
Isabella: Ah, claro! Como posso ajudar?
Número Desconhecido: Na verdade, acho que eu posso ajudar você. Você poderia me encontrar hoje à tarde? No Starbucks da Rua 54 com a 3.
Eu estava a uma quadra do Starbucks em que encontraria a Betty. O Senhor Kinfold era simplesmente o vice-presidente de uma das mais importantes empresas de tecnologia e eu realmente tinha achado que tinha mandado bem na entrevista. Saí de lá me achando, convencida de que a vaga era minha.
Ele era muito gentil. Tinha uma filha da minha idade e falou logo que a minha média de notas era excelente. A gente se deu bem. Por isso, foi muito estranho receber o e-mail de rejeição alguns dias depois da entrevista. Precisei reler algumas vezes pra entender.
Entender que eu não tinha conseguido o emprego. Que eu não era boa o bastante. Mas agora, com a assistente dele vindo falar comigo, eu senti o friozinho na barriga novamente.
Talvez, o senhor Kinfold tenha percebido o próprio erro e tenha enviado a assistente para pedir desculpas e perguntar se eu ainda estaria interessada na vaga.
Eu respirei fundo pra acalmar os nervos e abri a porta da cafeteria, deixando um executivo passar antes de entrar no estabelecimento lotado. Olhei em volta e vi vários homens de terno trabalhando em seus notebooks e celulares, com um café ao lado.
Eu estava tentando lembrar como era a Betty. Será que ela tinha cabelo ruivo? Ou era castanho-escuro e cacheado? Mas nessa hora, eu ouvi, “Isabella, aqui!”
Eu me virei, seguindo a voz até uma mesa pequena no fundo da loja. Era um espaço espremido no meio de outras duas mesas, uma com um universitário que fedia a cigarro e outra com uma babá que tentava controlar duas crianças loiras que não paravam quietas.
Betty, que realmente tinha cabelo castanho-escuro e cacheado, estava em pé, com um sorriso cortês no rosto. Ela parecia nervosa. “Oi”, ela disse, oferecendo a mão para me cumprimentar.
“É bom vê-la novamente”, eu disse, apertando a mão dela. Nós duas nos sentamos.
“Obrigada por vir até aqui”, ela começou, olhando em volta como se quisesse se certificar de que ninguém ouviria o que ela estava prestes a dizer. “Eu sei que isso não parece muito convencional e que nós a recusamos no último contato...” E lá vamos nós, eu pensei. Eu nunca me esqueceria daquele momento. “Mas eu queria... eu queria que você soubesse o motivo. O motivo de não ter conseguido a vaga”.
“Ah...”, eu perdi o foco, claramente decepcionada. Isso não era uma oferta de emprego. Era uma análise detalhada de onde eu havia errado.
“O Senhor Kinfold gostou de você e você era a primeira opção dele, na verdade”.
“Sério?”
“Sério, eu estava redigindo o seu contrato quando ele viu.”
Viu o que? Eu certamente devia parecer tão confusa quanto estava. E o olhar perdido dela não ajudava muito. Ela se inclinou para frente e colocou os cotovelos na mesa, chegando bem perto do meu rosto.
“Você estava trabalhando na Gelsa antes, né? EM Nova Jersey?” Eu assenti. “O Senhor Kinfold... ele recebeu um documento de lá. Diretamente do Senhor Lemor”.
Aquele nome fez com que eu instintivamente me afastasse dela e sentisse o meu corpo travar. O Senhor Lemor era meu antigo chefe e a razão de eu ter me mudado pra Nova York.
“O Senhor Lemor nos enviou uma carta... era uma ameaça”.
“Ele me ameaçou?”, eu perguntei, incrédula.
“Não, ele ameaçou a empresa. A Gelsa é uma corporação multinacional, que tem poder sobre muitos de nossos clientes e a capacidade de interromper nossos negócios num nível desastroso. E o Lemor... ele deixou bem claro que dificultaria as coisas pra gente se você fosse contratada.”
“Mas isso... isso é ilegal”, eu disparei.
Ela suspirou. “Ilegal, imoral e muito mais. O Lemor é conhecido no ramo. Ele é o cara que compra qualquer briga como se fosse uma batalha de guerra. O Senhor Kinfold é uma pessoa boa, mas preferiu não arriscar”.
“Melhor não arriscar quando há tantos candidatos disponíveis para o cargo. Eu entendo”, eu falei, mesmo me tomando por autopiedade.
“Não era nem pra eu saber disso, mas eu que recebi a carta. Eu leio quase tudo que o Senhor Kinfold recebe, mas... eu nunca tinha visto algo assim. Eu posso me encrencar se alguém descobrir que eu contei tudo isso, mas eu achei que você merecia saber”, ela disse, tocando em minha mão por cima da mesa. O contato físico me surpreendeu, mas pareceu genuíno.
“Eu não sei o que aconteceu entre você e o Senhor Lemor, mas ele está claramente acompanhando os seus passos. e ele tem vantagem sobre a maioria das empresas. Então... toma cuidado”, ela disse. “Homens poderosos não pensam duas vezes antes de foder mulheres jovens”. Ela pegou o café e a bolsa, e se levantou.
“Obrigada. Por contar tudo”, eu disse e ela balançou a cabeça antes de ir embora. As palavras dela ecoaram na minha cabeça. Homens poderosos não pensam duas vezes antes de foder mulheres jovens.
Ela estava certa e eu testemunhei isso em primeira mão. O Lemor era a pessoa que eu mais odiava ter que ver todo dia, por onze meses. Ele não era só o meu chefe. Ele era a pessoa que abusou sexualmente de mim e me perseguiu. E, aparentemente, também era a pessoa que não me deixaria esquecer o que acontece com a carreira de uma mulher que nega algo a um homem.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Rita de cassia Batista da silva
Não sei se só eu estou assim , mais perdida que cego em jogo de capoeira, cada capítulo é uma lacuna que não fecha está parecendo mais um quebra cabeça que história 😤
2025-03-18
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Angela Talina
eu até agora não entendi .quando penso q tô entendendo fica mais confuso
2025-03-20
0
Fatima Matos
Isabela pede ajuda a seu sogro ele é importante pode te ajudar
2024-11-22
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