Capítulo 05

...ISABELLA...

Christian: Vou me atrasar.

David: Isso é inaceitável, Christian... Christian? Filho, me responda.

Eu não conseguia acreditar no rosto que eu via me encarar pelo espelho. Empilharam meu cabeço em cima da cabeça num penteado complicado, com umas tranças e sei lá o que mais, além de algumas mechas soltas que emolduravam meu rosto.

Parecia chique e despojado ao mesmo tempo, ou seja, não tinha nada a ver comigo. A maquiadora demorou mais de uma hora pra me maquiar. Meus olhos estavam suavemente destacados com uma cor marrom e o blush deixou minhas bochechas coradas.

Eu nunca usei muita maquiagem além de uma máscara de cílios aqui e ali, demorar tudo isso pra ficar pronta, fez parecer que eu estava me fantasiando.

“Tudo certo por aí...?” David disse ao bater na porta encostada, mas parou na hora em que me viu.

Eu estava com um vestido de renda branco que ia até os joelhos e um par de saltos tão altos que me dava ansiedade. Eu mal conseguia andar, mas ninguém parecia se importar. David absorveu o que tinha visto.

“Você está linda”, ele disse de um jeito paternal que me fez imaginar meu próprio pai falando isso. Eu sorri. Ele pegou minha mão e me levou pra fora, se certificando de que eu conseguia andar bem pela grama.

Eu quase caí algumas vezes, mas quando eu vi o cenário montado, eu esqueci completamente dos sapatos. Havia luzes penduradas nas arvores, uma toalha de piquenique enorme na grama e uma mesa repleta de tabuas de charcutaria e garrafas de vinho resfriadas. Parecia um programa de TV.

“Isso é... incrível”, eu disse, virando pro David.

“Espere até ver a cerimônia”, ele retrucou, dando uma piscadinha. Era inacreditável. Eu olhei tudo de novo, até perceber o que estava faltando.

“Cadê o Christian?”

David hesitou, ela a primeira vez que o via inseguro, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, sua atenção se desviou para algo atrás de mim. Um sorriso enorme tomou conta de seu rosto.

“Com licença, querida”, ele disse e passou por mim, indo abraçar o filho.

Foi então que eu o vi. Christian Knight e seus quase dois metros de altura. Ele era alto, moreno e bonito. Isso dava pra ver de longe. Ele abraçou o pai e olhou pra mim, frio e distante.

David o levou pra onde eu estava, ele me deu um beijo suave na bochecha e disse ‘oi’.

“Oi”, eu repliquei olhando pro chão, sentindo o suor nas mãos.

O ensaio mesmo foi feito em quinze minutos. Sorrimos e olhamos profundamente um para o outro. Ou, pelo menos, tentamos. Olhar pra Christian Knight era como olhar pro sol. Ele tinha uma intensidade quase insuportável.

Mas toda vez que eu desviava o olhar, o fotografo gritava ‘olho no olho’ e levar grito de um fotografo chique era ainda mais constrangedor do que fazer contato visual com o meu próprio noivo.

“Isso vai impressionar o The New York Times”, o fotógrafo disse quando acabamos. “Eu não via um casal tão atraente assim há muito tempo”.

Mesmo ouvindo claramente, eu sabia que ele não poderia estar falando de mim. Eu era desengonçada e as minhas bochechas já deveriam estar da cor de um tomate a essa hora. Mas quando vi Christian andando em minha direção com uma garrafa de vinho na mão, fiquei ainda mais nervosa.

Pensei: ele espera algo de você, faz alguma coisa interessante. Mas eu nunca tive um namorado antes, então não tinha ideia de como agir.

David estava por perto, cumprimentando o fotógrafo, e sorriu quando olhei pra ele. Quando viu o filho se aproximando, sorriu mais ainda. Eu me virei pro Christian, que já estava bem perto.

“É bom conhecer você”, eu disse, porque senti a obrigação de dizer algo, mesmo sem saber por onde começar. Ele sorriu, mas algo estava estranho. Era um sorriso temeroso, que parecia não combinar com o resto da expressão dele.

Eu olhei pro chão e esperei ele dizer algo. Ele colocou os lábios em minha bochecha. “Eu não sei quem você é”, ele começou, as palavras perfurando meu ouvido. “Eu não sei o que você quer, mas eu sei o que você é. Além do cabelo, da maquiagem, do vestido. Você não me engana.”

Seus lábios foram para a outra bochecha, enquanto ele destilava mais veneno. “Você não me engana, sua puta interesseira. E eu odeio você pra caralho”.

...****...

A água escaldante escorria pela minha pele, mas não importava o quanto eu esfregasse, ainda me sentia suja. Nojenta. Eu não conseguia acreditar em com Christian falou comigo. Não conseguia acreditar no que ele pensava de mim, que eu estava atrás do dinheiro e do sobrenome dele.

A ideia de usar alguém daquele jeito me deixava enojada e, mesmo assim, era exatamente o tipo de pessoa que ele achava que eu era. Mas foi aí que eu percebi a ironia. Eu estava atras do dinheiro dele.

Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em me casar com Christian Knight. Mas eu não era uma interesseira egoísta. Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai. Mas será que isso deixa a situação menos pior?

Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada em volta do meu corpo. Qualquer coisa que o mantivesse inteiro. Eu me sequei e vesti o pijama automaticamente, com os pensamentos distantes.

Ao desmaiar na cama, meus olhos pousaram em uma fotografia emoldurada do outro lado do quarto: estávamos Danny, Lucas, papai e eu. Parecíamos tão felizes. O papai parecia tão saudável.

A foto era do ultimo Dia de Ação de Graças. O Danny tinha queimado o peru e o Lucas fez recheio demais, mas foi perfeito. Todos nós espremidos no sofá velho e desgastado da sala, assistindo futebol americano sem nos preocuparmos com o futuro.

Encostei a cabeça nas mãos. Como tanta coisa mudou um apenas um ano? O papai sempre foi um pilar de força. Depois que a mamãe morreu, ele assumiu o papel dela também. Ele era uma constante, uma rocha firme na tempestade da vida.

E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele iria...

Emily: Oi, gata. Tá afim de um sushi hoje?

Eu fiquei olhando pros emojis de sushi, aqueles ícones pequeninos que estavam me resgatando dos meus próprios pensamentos. A ultima coisa que eu queria era sai em público.

Meus cobertores sussurravam sedutoramente, me tentando com a promessa de escuridão e silêncio. Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que para escapar da minha cabeça por uma noite.

Talvez conseguisse me afastar da memoria dos olhos azuis pungentes do Christian...

Isabella: Ok, te encontro lá em 40 minutos.

Emily: Ebaaaaaa...

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***