O Livro Da Meia Noite

O Livro Da Meia Noite

Os White- Empregados

Henry White costumava acordar bem cedo, antes do sol raiar, às 5 da manhã. Ele precisava levantar, tomar banho, vestir o uniforme da escola, servir a mesa... tudo isso antes que Wendy Clarke acordasse, para depois irem juntos para a escola.

A família Clarke era uma das mais ricas e influentes da Inglaterra, proprietária de casas de apostas que rendiam milhões por ano, embora não tivessem os nomes muito divulgados pela mídia, já que parte das apostas era ilegal. Ações ilícitas para pessoas boas — bem contraditório.

Apesar dos negócios, eram pessoas generosas. Na mansão, haviam acolhido anos atrás uma mulher chamada Harriet White como empregada, cedendo-lhe um quarto e permitindo que morasse ali enquanto realizava os serviços domésticos para a família abastada.

Harriet também era uma pessoa muito boa e participava de grupos beneficentes, mas aquilo não parecia ser suficiente para ela. Um dia, ao ler o jornal, emocionou-se com uma notícia que contava que o orfanato local estava cheio de órfãos de guerra à espera de uma família. Comovida, teve a ideia de perguntar aos Clarke se eles se incomodariam caso ela criasse uma família para si. Seu coração era grande demais para ver o sofrimento dos outros e não tomar uma atitude. A família pensou nas possibilidades e aceitou a ideia. Assim, Harriet adotou três crianças, cada uma de uma origem e família diferentes, mas que foram criadas como irmãos: Sarah, Caroline e Henry.

Sarah, a mais nova, era alegre e cintilante, sempre vendo o lado bom em tudo ao seu redor. Costumava prender os cabelos em dois coques altos e usava roupas coloridas, refletindo sua personalidade leve e cheia de energia. Ela adorava explorar os jardins da mansão e colecionava flores, folhas e pedrinhas, encantando-se com cada pequeno detalhe que encontrava, como se tudo fosse um tesouro.

Dos três irmãos, Sarah era a que menos ajudava nos afazeres, mas, em vez disso, contribuía com sua energia contagiante. Sua presença iluminava o ambiente, e todos na mansão gostavam de conversar com ela, esquecendo por um momento a rotina maçante. Ela também admirava profundamente Harriet, sua mãe adotiva, e sonhava em ser tão generosa quanto ela, ajudando aqueles que precisassem e participando de projetos beneficentes no futuro.

Além disso, Sarah adorava desenhar. Sempre que tinha um tempo livre, pegava lápis e papéis e criava pequenas obras de arte inspiradas nas pessoas ao seu redor e nos cenários que encontrava pela mansão. Gostava de fazer presentes artesanais para os funcionários, como lembranças de sua amizade. Seu sonho era ser artista ou talvez professora, alguém que pudesse, de alguma forma, trazer mais alegria ao mundo — tal como fazia com sua família.

Sarah tinha uma relação muito próxima com Henry e Caroline. Ela via Henry como uma figura protetora e adorava contar-lhe histórias de sua imaginação, enquanto fazia Caroline rir com suas brincadeiras. Seu jeito sensível e curioso fazia com que se interessasse também pelas histórias dos outros, frequentemente perguntando aos empregados da mansão sobre suas vidas, suas famílias e sonhos, pois se importava com todos ao seu redor.

Essa doçura e curiosidade faziam de Sarah alguém que todos na mansão amavam ter por perto.

Caroline era a mais velha e perfeccionista. Seu papel na mansão era manter a biblioteca dos Clarke organizada e limpa. Como adorava ler, estava quase sempre por lá, imersa em suas histórias preferidas. Quando "sumia", todos já sabiam onde encontrá-la, sentada em um dos sofás antigos da biblioteca, com um livro nas mãos e uma xícara de chá ao lado.

Caroline tinha um gosto particular por romances históricos e mistérios. Às vezes, ao fim do dia, gostava de contar histórias do que lia para Sarah e Henry, sempre adicionando detalhes dramáticos para tornar tudo mais interessante. Ela se sentia responsável por seus irmãos e tentava orientá-los em momentos difíceis, sendo uma figura protetora e conselheira.

Além disso, Caroline mantinha cadernos de anotações onde escrevia resumos e pensamentos sobre os livros que lia, um hábito que a ajudava a organizar suas ideias e a desenvolver ainda mais seu gosto pela leitura e escrita. Seu sonho secreto era, um dia, escrever seu próprio livro e criar um universo tão fascinante quanto aqueles que visitava nas páginas dos livros.

Caroline também era muito próxima de Harriet, sua mãe adotiva, e frequentemente conversava com ela sobre questões pessoais e o futuro, pois sabia que Harriet era uma mulher sábia e de grande coração. Embora reservada e meticulosa, Caroline valorizava esses momentos de conexão com Harriet e com seus irmãos, mostrando que, por trás de sua seriedade, havia um lado afetuoso e sensível.

Henry era o irmão do meio, carinhoso e atencioso. Cuidava de todos na família e também da mansão, trabalhando como empregado desde jovem. Não porque era obrigado, mas porque queria ajudar financeiramente sua família. Desde cedo, ele demonstrava um forte senso de responsabilidade e comprometimento.

Seu espírito generoso e bondoso o tornava querido entre os empregados da mansão, que o viam não apenas como um colega, mas como um amigo. Henry era um verdadeiro pilar de apoio para todos ao seu redor, sempre disposto a colocar as necessidades dos outros à frente das suas.

 

De manhã, Henry servia a mesa para todos, para que, quando levantassem, estivesse tudo pronto, poupando assim o trabalho da sua mãe e conseguindo ganhar um pouco mais ao final do mês... Pelo menos, era isso que dizia a todos.

A parte que realmente gostava em seu serviço matinal era saber que a única pessoa que costumava levantar tão cedo quanto ele era Wendy Clarke. Daqui a alguns minutos, ela chegaria à mesa com seu cheiro de girassóis, e eles poderiam conversar um pouco a sós, como sempre faziam.

Wendy Clarke era perfeita aos olhos de Henry: linda como o nascer do sol, educada e humilde. Eles eram grandes amigos, apesar de terem níveis sociais muito diferentes.

— Bom dia, Henry! — Lá estava ela, com seus dentes maravilhosamente bem alinhados.

— Bom d... dia... — As palavras de Henry saíram um pouco trêmulas.

— Estou tão feliz que hoje teremos ciências na escola. Falaram que a professora vai passar um trabalho em grupos. — Sim, eles também estudavam na mesma escola particular. Os Clarke se propuseram a pagar os estudos dos Whites, caso eles tivessem média nas disciplinas da prestigiada escola Nauty. Henry não era um aluno excelente, mas se esforçava para ser digno de continuar ali.

Alguns minutos de silêncio se seguiram, já que nenhum dos dois era muito bom com palavras.

— Henry?

— Sim, senhorita.

— Me chame de Wen. Você sabe que não gosto quando me trata assim.

— Me perdoe.

— Não seja tão duro consigo mesmo.

— Certo.

— Mas eu preciso te contar uma coisa.

— Fale.

— Não agora... — A fisionomia de Wendy ficou tensa. — Pode ser hoje no parque, depois da última aula?

Henry sentiu seu coração acelerar; eles não costumavam se encontrar fora do ambiente escolar ou da mansão.

— Aconteceu algo?

— Mais ou menos.

— Acho que você devia conversar com a sua família.

— Não! Eles não podem saber.

O que seria tão importante? Só se... Henry começou a imaginar Wendy confessando seu amor por ele no parque ao final da tarde, com o pôr do sol iluminando-os com sua luz laranja. Pensamentos bobos!

— Ok. Espero poder ajudar.

— Você sempre me ajuda. — A menina abriu um largo sorriso aliviado. — Obrigada por existir, Henry White. — Ela falou isso e se retirou da sala. Entretanto, com essas poucas palavras sinceras, o nosso protagonista já tinha ganhado o seu dia.

 

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Gelcinete J. Rebouças

Gelcinete J. Rebouças

Iniciando 20/12/24

2024-12-20

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