Uma nova White

Quando Henry fez a declaração sobre sua nova esposa, um silêncio pesado pairou no ar. Os olhares entre os familiares diziam mais do que palavras poderiam expressar. Ninguém sabia exatamente como reagir. Esse anúncio inesperado de casamento parecia destoar da imagem que todos tinham de Henry — um rapaz reservado, meticuloso, quase avesso a surpresas. Harriet, sua mãe, sentiu um leve aperto no peito e se perguntava, consternada, onde tinha errado e como havia deixado passar uma etapa tão importante da vida do filho sem perceber.

Então, rompendo o silêncio, Sarah abraçou o irmão com força, surpreendendo a todos.

— Parabéns, maninho! E bem-vinda à família White. Qual é o seu nome? — perguntou, estendendo a mão para a jovem ao lado de Henry. Havia nos olhos de Sarah um brilho caloroso, como se quisesse dissipar o desconforto de todos, trazendo um toque de leveza àquela situação.

— Lily Loren Marin. — A jovem vampira, visivelmente emocionada, aceitou o aperto de mão e sorriu, um tanto aliviada pela receptividade de Sarah.

— Não, é Lily Loren White agora! — disse Sarah, sorrindo. Sua observação fez com que a ficha caísse ainda mais para Lily, que, ao ouvir seu novo sobrenome, pareceu sentir o peso da mudança em sua vida. Com a voz alegre de Sarah, ela começou a entender a seriedade da nova vida que a esperava, mas também uma possibilidade de acolhimento.

Caroline, a irmã mais velha, se aproximou, mantendo uma postura séria, mas os olhos revelavam uma tentativa de acolhimento.

— Seja educado e apresente sua esposa à família, Henry. — Sua voz era firme, mas não distante. Era o jeito direto de Caroline, sempre observadora e cuidadosa com os irmãos.

— Ah, claro. — Henry suspirou, tentando se recompor. — Lily, estas são minhas irmãs, Sarah e Caroline, a matriarca da família, minha mãe Harriet, e… — Ele hesitou ao olhar para Wendy, sua melhor amiga, e uma sensação intensa de culpa o invadiu. Seu coração batia descompassado, a garganta se fechou, e ele percebeu que não conseguiria continuar. Como poderia apresentar sua recém-esposa, quando a verdade é que ele secretamente desejava estar com Wendy?

Percebendo a tensão, Wendy deu um pequeno passo à frente e sorriu de maneira compreensiva.

— Wendy Clarke. — Ela se apresentou por conta própria, estendendo a mão para Lily, como se quisesse aliviar o embaraço de Henry. A atmosfera pesada diminuiu um pouco, mas o olhar de Wendy revelava algo mais: uma mistura de emoções que incluíam saudade, resignação e até um resquício de tristeza.

— Sim. E esta casa pertence à família Clarke — continuou Henry, tentando esconder sua aflição. — Precisamos da aprovação deles para que você possa morar aqui conosco. — Ele disse isso em voz baixa, quase como se esperasse uma reação de Wendy, algo que tornasse tudo mais fácil.

Para sua surpresa, Wendy esboçou um sorriso acolhedor.

— Se você está com Henry, já tem minha aprovação. Pode se sentir acolhida entre nós. — Sua voz era doce e segura, mas por um instante ela desviou o olhar, como se tentasse esconder a ponta de dor que lhe atravessava o coração.

— Meu Deus, senhorita Wendy! — Harriet interveio, visivelmente desconcertada. — Sinto muito pela atitude impulsiva de meu filho. Nem sei o que dizer. — Harriet raramente se mostrava tão vulnerável, e ver o filho agindo de maneira tão inusitada a deixava sem palavras.

— Não se preocupe, Harriet. Se Henry escolheu Lily, é porque viu nela algo especial. E ela pode ficar aqui enquanto completa seus estudos. Eu mesma me encarrego de conseguir uma vaga no nosso colégio. Devo isso a ele por estar ao meu lado durante todos esses anos. — Wendy lançou um olhar furtivo a Henry, que parecia esmagado pela própria culpa. Ele não podia evitar recordar o dia do encontro que tivera com Wendy, quando decidiu se ausentar sem explicações. De repente, ele entendeu que provavelmente a havia decepcionado profundamente, e isso fazia seu coração pesar ainda mais.

— Senhorita Clarke, sou eternamente grata pela sua solidariedade, mas eu mesma pagarei meus estudos com o dinheiro que minha família disponibilizou. Apenas peço sua autorização para ficar aqui. — Lily pronunciou essas palavras de forma firme, o que deixou todos intrigados. A pergunta pairava no ar: quem seria sua família, para ter tanto dinheiro? Se era verdade, por que não escolher alguém com um status social mais elevado? E quais seriam, afinal, seus verdadeiros interesses em Henry? Seria apenas um amor juvenil?

— Muito bem. Perfeito! Que assim seja, querida Lily. Bem-vinda à casa dos Clarke e à família White — disse Wendy, tentando soar o mais espontânea possível. Sua voz era gentil, e ela parecia a mais empolgada com a novidade. No entanto, ao final, tomou uma atitude inesperada: caminhou até Henry, envolveu-o em um abraço apertado e deu-lhe um beijo no rosto. Esse gesto espontâneo e afetuoso era algo inédito entre eles. Henry, surpreendido, apenas retribuiu o abraço, sem palavras para expressar o que sentia.

Esse breve momento parecia conter tudo o que não fora dito entre os dois — sentimentos guardados, dúvidas, um carinho profundo e uma saudade que ambos não ousavam admitir. No ar, pairava a sensação de que, com aquela simples cerimônia de boas-vindas, não apenas Lily, mas todos, estavam prestes a embarcar em uma nova e inesperada jornada, repleta de mudanças e desafios que testariam os limites de seus laços familiares e afetivos.

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— Só quero que saiba que somos amigos desde a infância. Espero que não se importe e que cuide bem dele. Ele é muito importante para mim. — Todos engoliram em seco, esperando a reação de Lily.

Henry sentia o perfume de sua amada impregnado em sua pele. Era um paraíso. Ao mesmo tempo, nunca imaginara que ela o veria daquela forma, com tanto apreço e carinho.

— Perfeito. Que bom que sou tão bem acolhida. — Lily sorriu, diminuindo um pouco da tensão no ar, mas, por um breve instante, sentiu seus olhos quase assumirem o "modo de caça". Ela se esforçou para se concentrar em outros pensamentos e interrompeu o impulso antes que ele se concretizasse. Um misto de ódio e empatia a invadiu, mas ela não sabia explicar exatamente o porquê. Talvez não gostasse de ser desafiada...

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