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O Livro Da Meia Noite

Os White- Empregados

Henry White costumava acordar bem cedo, antes do sol raiar, às 5 da manhã. Ele precisava levantar, tomar banho, vestir o uniforme da escola, servir a mesa... tudo isso antes que Wendy Clarke acordasse, para depois irem juntos para a escola.

A família Clarke era uma das mais ricas e influentes da Inglaterra, proprietária de casas de apostas que rendiam milhões por ano, embora não tivessem os nomes muito divulgados pela mídia, já que parte das apostas era ilegal. Ações ilícitas para pessoas boas — bem contraditório.

Apesar dos negócios, eram pessoas generosas. Na mansão, haviam acolhido anos atrás uma mulher chamada Harriet White como empregada, cedendo-lhe um quarto e permitindo que morasse ali enquanto realizava os serviços domésticos para a família abastada.

Harriet também era uma pessoa muito boa e participava de grupos beneficentes, mas aquilo não parecia ser suficiente para ela. Um dia, ao ler o jornal, emocionou-se com uma notícia que contava que o orfanato local estava cheio de órfãos de guerra à espera de uma família. Comovida, teve a ideia de perguntar aos Clarke se eles se incomodariam caso ela criasse uma família para si. Seu coração era grande demais para ver o sofrimento dos outros e não tomar uma atitude. A família pensou nas possibilidades e aceitou a ideia. Assim, Harriet adotou três crianças, cada uma de uma origem e família diferentes, mas que foram criadas como irmãos: Sarah, Caroline e Henry.

Sarah, a mais nova, era alegre e cintilante, sempre vendo o lado bom em tudo ao seu redor. Costumava prender os cabelos em dois coques altos e usava roupas coloridas, refletindo sua personalidade leve e cheia de energia. Ela adorava explorar os jardins da mansão e colecionava flores, folhas e pedrinhas, encantando-se com cada pequeno detalhe que encontrava, como se tudo fosse um tesouro.

Dos três irmãos, Sarah era a que menos ajudava nos afazeres, mas, em vez disso, contribuía com sua energia contagiante. Sua presença iluminava o ambiente, e todos na mansão gostavam de conversar com ela, esquecendo por um momento a rotina maçante. Ela também admirava profundamente Harriet, sua mãe adotiva, e sonhava em ser tão generosa quanto ela, ajudando aqueles que precisassem e participando de projetos beneficentes no futuro.

Além disso, Sarah adorava desenhar. Sempre que tinha um tempo livre, pegava lápis e papéis e criava pequenas obras de arte inspiradas nas pessoas ao seu redor e nos cenários que encontrava pela mansão. Gostava de fazer presentes artesanais para os funcionários, como lembranças de sua amizade. Seu sonho era ser artista ou talvez professora, alguém que pudesse, de alguma forma, trazer mais alegria ao mundo — tal como fazia com sua família.

Sarah tinha uma relação muito próxima com Henry e Caroline. Ela via Henry como uma figura protetora e adorava contar-lhe histórias de sua imaginação, enquanto fazia Caroline rir com suas brincadeiras. Seu jeito sensível e curioso fazia com que se interessasse também pelas histórias dos outros, frequentemente perguntando aos empregados da mansão sobre suas vidas, suas famílias e sonhos, pois se importava com todos ao seu redor.

Essa doçura e curiosidade faziam de Sarah alguém que todos na mansão amavam ter por perto.

Caroline era a mais velha e perfeccionista. Seu papel na mansão era manter a biblioteca dos Clarke organizada e limpa. Como adorava ler, estava quase sempre por lá, imersa em suas histórias preferidas. Quando "sumia", todos já sabiam onde encontrá-la, sentada em um dos sofás antigos da biblioteca, com um livro nas mãos e uma xícara de chá ao lado.

Caroline tinha um gosto particular por romances históricos e mistérios. Às vezes, ao fim do dia, gostava de contar histórias do que lia para Sarah e Henry, sempre adicionando detalhes dramáticos para tornar tudo mais interessante. Ela se sentia responsável por seus irmãos e tentava orientá-los em momentos difíceis, sendo uma figura protetora e conselheira.

Além disso, Caroline mantinha cadernos de anotações onde escrevia resumos e pensamentos sobre os livros que lia, um hábito que a ajudava a organizar suas ideias e a desenvolver ainda mais seu gosto pela leitura e escrita. Seu sonho secreto era, um dia, escrever seu próprio livro e criar um universo tão fascinante quanto aqueles que visitava nas páginas dos livros.

Caroline também era muito próxima de Harriet, sua mãe adotiva, e frequentemente conversava com ela sobre questões pessoais e o futuro, pois sabia que Harriet era uma mulher sábia e de grande coração. Embora reservada e meticulosa, Caroline valorizava esses momentos de conexão com Harriet e com seus irmãos, mostrando que, por trás de sua seriedade, havia um lado afetuoso e sensível.

Henry era o irmão do meio, carinhoso e atencioso. Cuidava de todos na família e também da mansão, trabalhando como empregado desde jovem. Não porque era obrigado, mas porque queria ajudar financeiramente sua família. Desde cedo, ele demonstrava um forte senso de responsabilidade e comprometimento.

Seu espírito generoso e bondoso o tornava querido entre os empregados da mansão, que o viam não apenas como um colega, mas como um amigo. Henry era um verdadeiro pilar de apoio para todos ao seu redor, sempre disposto a colocar as necessidades dos outros à frente das suas.

 

De manhã, Henry servia a mesa para todos, para que, quando levantassem, estivesse tudo pronto, poupando assim o trabalho da sua mãe e conseguindo ganhar um pouco mais ao final do mês... Pelo menos, era isso que dizia a todos.

A parte que realmente gostava em seu serviço matinal era saber que a única pessoa que costumava levantar tão cedo quanto ele era Wendy Clarke. Daqui a alguns minutos, ela chegaria à mesa com seu cheiro de girassóis, e eles poderiam conversar um pouco a sós, como sempre faziam.

Wendy Clarke era perfeita aos olhos de Henry: linda como o nascer do sol, educada e humilde. Eles eram grandes amigos, apesar de terem níveis sociais muito diferentes.

— Bom dia, Henry! — Lá estava ela, com seus dentes maravilhosamente bem alinhados.

— Bom d... dia... — As palavras de Henry saíram um pouco trêmulas.

— Estou tão feliz que hoje teremos ciências na escola. Falaram que a professora vai passar um trabalho em grupos. — Sim, eles também estudavam na mesma escola particular. Os Clarke se propuseram a pagar os estudos dos Whites, caso eles tivessem média nas disciplinas da prestigiada escola Nauty. Henry não era um aluno excelente, mas se esforçava para ser digno de continuar ali.

Alguns minutos de silêncio se seguiram, já que nenhum dos dois era muito bom com palavras.

— Henry?

— Sim, senhorita.

— Me chame de Wen. Você sabe que não gosto quando me trata assim.

— Me perdoe.

— Não seja tão duro consigo mesmo.

— Certo.

— Mas eu preciso te contar uma coisa.

— Fale.

— Não agora... — A fisionomia de Wendy ficou tensa. — Pode ser hoje no parque, depois da última aula?

Henry sentiu seu coração acelerar; eles não costumavam se encontrar fora do ambiente escolar ou da mansão.

— Aconteceu algo?

— Mais ou menos.

— Acho que você devia conversar com a sua família.

— Não! Eles não podem saber.

O que seria tão importante? Só se... Henry começou a imaginar Wendy confessando seu amor por ele no parque ao final da tarde, com o pôr do sol iluminando-os com sua luz laranja. Pensamentos bobos!

— Ok. Espero poder ajudar.

— Você sempre me ajuda. — A menina abriu um largo sorriso aliviado. — Obrigada por existir, Henry White. — Ela falou isso e se retirou da sala. Entretanto, com essas poucas palavras sinceras, o nosso protagonista já tinha ganhado o seu dia.

 

Maria Elois- A caçadora

Quem cruzasse a Quarta Avenida e andasse mais uns dois quilômetros se depararia com uma rua de casas antigas de Londres. A arquitetura vitoriana, com fachadas de tijolos envelhecidos e portas de madeira escuras, parecia absorver a luz do dia, criando uma atmosfera quase fantasmal. As árvores ao longo da rua, já sem folhas na época do ano, estendiam seus galhos tortuosos como dedos esqueléticos, sombrios e silenciosos. Ali, havia várias lojas de artefatos antigos, museus e objetos raros, como se o tempo tivesse parado naquele lugar. Algumas vitrines exibiam objetos curvos e desgastados, peças que pareciam ter sido esquecidas por gerações, enquanto outras, mais misteriosas, ostentavam símbolos e runas que remetiam a um passado distante, oculto e mágico. Esse era o tipo de lugar onde, se você olhasse para os cantos certos, podia jurar ver algo se movendo na penumbra.

Criaturas sobrenaturais... eram o que os caçadores procuravam e eliminavam. No entanto, como o número de tais seres havia diminuído drasticamente, a cidade de Londres parecia ter se transformado em uma linha tênue entre o mundano e o oculto. A maioria das criaturas que haviam restado preferia os cantos mais sombrios e isolados, longe do centro movimentado da cidade, onde o Instituto de Caça Sobrenatural tinha sua sede. A sede do instituto, localizada em um edifício grande e imponente, ficava na parte norte de Londres. Sua estrutura, uma mistura de arquitetura gótica e moderna, contrastava com a tranquilidade do bairro ao seu redor. Cercado por uma muralha de ferro forjado, o instituto parecia uma fortaleza.

Maria Elois era uma caçadora que se distinguia não apenas pela habilidade e competência, mas também pela intensidade com que carregava seus princípios e crenças. Sua infância foi marcada por treinamento rigoroso, solidão e um distanciamento quase completo do mundo "normal" ao seu redor. Desde muito cedo, Maria foi imersa em uma disciplina que a ensinou que o "bem" e o "mal" não eram conceitos relativos, mas categorias absolutas e inquestionáveis. Criada para enxergar as criaturas sobrenaturais como aberrações, ela passou a acreditar que seu destino era erradicar essas ameaças, restaurando a pureza e a ordem ao mundo dos humanos.

O treinamento de Maria foi árduo. Quando era criança, seu corpo pequeno era forçado a se adaptar a rotinas físicas intensas, desde escaladas em terrenos traiçoeiros até combates com armas de fogo e lâminas. No entanto, seu treinamento não se limitava ao físico. O Instituto de Caça Sobrenatural também investiu pesado na formação mental de seus caçadores, e Maria passou anos estudando rituais, mitologia, história das criaturas e até psicologia de combate. Sua mente, afiada como uma lâmina, conseguia detectar padrões onde outros viam apenas caos. Sua memória era prodigiosa, permitindo-lhe recordar até os menores detalhes de suas missões e dos seres que caçava. Esse conhecimento enciclopédico, aliado ao treinamento físico, a transformou em uma caçadora excepcional, com habilidades de rastreamento e estratégia invejáveis.

Contudo, essa formação fez com que Maria perdesse a capacidade de se conectar com os outros de uma forma genuína. Ela via as relações humanas como desnecessárias e frágeis, um reflexo da ineficiência e da decadência que tanto desprezava nas outras raças. Sua lealdade estava exclusivamente ao Instituto e à missão. Embora fosse respeitada por seus colegas, raramente se aproximava deles de forma pessoal, preferindo manter uma distância emocional. Para ela, a amizade era um luxo que não tinha tempo de cultivar. E o amor? Um conceito tão distante quanto a ideia de fraqueza, algo que ela tinha aprendido a reprimir desde cedo.

Maria via as criaturas sobrenaturais com uma mistura de nojo e desprezo. Vampiros, em particular, eram a sua grande obsessão. Para ela, a presença deles era uma afronta ao equilíbrio do mundo humano. Considerava-os não apenas uma ameaça física, mas uma distorção da ordem natural das coisas. Sua visão de mundo era profundamente simplista e rígida: os humanos eram superiores, os únicos capazes de restaurar a paz ao mundo, e qualquer ser sobrenatural que ousasse desafiar isso deveria ser destruído. Essa visão estava tão enraizada nela que ela começava a perder a capacidade de distinguir entre o que era realmente uma ameaça e o que era apenas uma diferença de existência. Para Maria, todos os monstros deveriam ser erradicados, sem exceção.

Por mais que estivesse completamente dedicada à sua missão, havia uma ferida profunda dentro de Maria, algo que ela raramente reconhecia, mas que, de vez em quando, surgia como uma sombra em sua mente. Maria foi forçada a sobreviver sozinha, e isso a moldou de maneiras que nem ela mesma compreendia completamente.

Sua visão de mundo se limitava a uma linha rígida entre "certo" e "errado", e qualquer coisa que escapasse dessa linha era considerado um alvo a ser eliminado. Seu envolvimento com o Instituto e a incessante busca por sua própria ideia de "ordem" faziam-na perder de vista o fato de que nem tudo no mundo poderia ser resolvido com violência ou eliminação.

Na noite anterior, ela havia encontrado algo extremamente incomum durante suas rondas: uma gota de sangue brilhante. Ela descobriu isso em um beco escuro. O beco, que cheirava a mofo e a terra úmida, parecia isolado do restante da cidade. As paredes, cobertas de grafites e cartazes rasgados, abafavam os sons da rua movimentada, criando uma sensação de desconexão com o mundo lá fora. A gota de sangue era como uma pequena joia, iluminada pela luz fraca da lanterna que Maria carregava. A cor vibrante e intensa da gota a fez hesitar por um momento, como se algo muito maior do que ela estivesse envolvido. Ela sabia que se aquilo fosse uma pista, poderia ser algo muito mais perigoso do que imaginava.

O laboratório do instituto, onde ela levou a amostra, era uma sala de paredes de pedra, cheia de equipamentos científicos antigos e modernos. O cheiro de produtos químicos misturava-se com o ar pesado, enquanto máquinas de alta tecnologia assobiavam suavemente em segundo plano, analisando o sangue, a amostra que Maria trouxera. Mesas de trabalho estavam espalhadas com papéis, frascos e frascos de vidro cheios de substâncias misteriosas, enquanto no canto, uma estante abarrotada de livros sobre o oculto e o paranormal parecia testemunhar séculos de estudo e pesquisa. Antony, o cientista do instituto, estava em seu laboratório pessoal, um local onde passava mais tempo do que em qualquer outro lugar. Ele havia sido o responsável por criar diversos equipamentos usados pelos caçadores, mas, naquele momento, o ambiente estava mais tenso do que o habitual. A descoberta de uma criatura rara como aquela poderia mudar o curso das coisas, não apenas para o instituto, mas para todo o mundo.

— Bom dia, Antony! Conseguiu analisar o meu achado? — A curiosidade de Maria era palpável. Ela havia perdido o sono, refletindo sobre as possibilidades daquilo ser uma pista verdadeira ou uma armadilha. A tensão no ar era quase elétrica.

— Sim. — O cientista do instituto estava visivelmente tenso. Ele parecia inquieto, os olhos, normalmente tranquilos e analíticos, agora estavam um tanto desesperados.

— Pode me falar de que criatura é essa amostra?

— Você sabe, Maria. Todos nós sabemos. Mesmo que quiséssemos negar... — Antony hesitou, com uma expressão que refletia o peso da revelação. — Eu até preferia que fosse uma pegadinha de um duende. Mesmo sabendo que eles não são tão astutos.

— Uma criatura dessas aqui em Londres?! — Maria ergueu uma sobrancelha, como se fosse inconcebível que algo tão grandioso e perigoso pudesse estar nas ruas da cidade. Ela não acreditava no que ouvia, mas sua expressão de ceticismo se misturava com um toque de excitação. O desafio estava à sua porta.

— Sim. Não restam dúvidas. — Antony deu um suspiro profundo, como se a resposta estivesse lhe consumindo por dentro. O cientista, que geralmente mantinha a calma, estava claramente assustado. Ele sabia o que Maria ignorava: aquele sangue não era apenas raro, mas sinal de algo ainda mais perigoso. Algo que poderia mudar a dinâmica de poder entre humanos e seres sobrenaturais.

— Ora, ora... — Maria abriu um sorriso sanguinário, os olhos brilhando com uma fome de ação. Enfim, uma missão de verdade. O olhar no rosto dela era de pura satisfação, como se estivesse prestes a se envolver em um combate épico, o tipo de caçada que ela sempre desejara.

— Você não tem ideia do que está lidando. — Antony se levantou, seu tom de voz carregado de preocupação. - Freud está viajando. Acho que devemos esperar ele chegar com os demais antes de tomar alguma atitude. Nenhum de nós tem grandes experiências em campo de batalha com algo dessa magnitude.

— Não seja tolo, Antony! — Maria retrucou, com a frieza que sempre a acompanhava, como se não existisse um desafio que não fosse capaz de enfrentar. -Treinei anos para isso. Chegou a hora de mostrar para que todo aquele trabalho besta me serviu. Foi o próprio Freud quem me treinou. Sei muito bem o que precisa ser feito. -Ela falava com uma confiança tão imensa que parecia que não havia sequer uma possibilidade de falha. - Estudei todo o material sobre o assunto quando ainda estava fazendo o meu treinamento.

Vingança, pureza... Tudo se mesclava em sua mente. Ela acreditava que a caça era sua única razão de existir, e não permitiria que nada a desviasse de seu objetivo. Não importava o perigo; ela estava disposta a enfrentá-lo.

— Você pode morrer! É um perigo real! São seres sanguinários e de uma força e destreza descomunal. — Antony olhou-a nos olhos, tentando transmitir a seriedade do que ela estava prestes a enfrentar. Mas Maria estava além de qualquer preocupação. A dúvida não a atingia. Ela sentia uma necessidade visceral de eliminar qualquer ameaça.

— Eu também sou forte e habilidosa, nunca perdi para nenhuma criatura nojenta. Não é agora que irei perder. — Maria falava com a certeza de quem já havia vivido batalhas intensas e sobrevivido, mas, no fundo, sua arrogância estava começando a cobrir o que poderia ser uma vulnerabilidade. -A nova geração é bem mais forte e astuta que as anteriores. Não precisamos de tantos anos de treinamento para ficarmos muito fortes.

Antony ficou em silêncio, desconfortável. Ele sabia que, embora Maria fosse forte, ninguém estava realmente preparado para o que ela poderia encontrar. Mas ele não podia impedir a decisão dela, não quando ela já estava tão focada em sua missão.

— Senhor... Mas como você pretende achar esse ser? A essa altura, ele já deve estar bem escondido ou até saído da cidade. Eles nunca procurariam confronto direto com o instituto.

— Não. — Maria foi direta, com um olhar determinado. -Eles não costumam deixar escapar uma gota de sangue. Ele deve estar ferido para isso ter acontecido. Deve haver mais gotas por aí e ele deve estar escondido até se recuperar. É o momento perfeito para coletar mais informações. Não esqueça que eu sempre fui especialista em rastreamento. -Ela não estava apenas apostando nas suas habilidades físicas, mas também na sua mente afiada. Ela confiava na sua capacidade de ler os sinais, de perceber onde algo tinha ficado para trás, de descobrir o que não era visível aos olhos comuns.

— Ok, faça o que quiser. Mas vou comunicar aos superiores. Caso aconteça algo, não quero lidar com a situação sozinho. — Antony bufou, frustrado, mas resignado. Ele sabia que não conseguiria mudar a decisão de Maria.

— Você é medroso. — Maria riu, um som seco e sem humor. -O que tem demais em derrotar um simples vampiro? -Ela falou isso com um tom irônico, enquanto Antony sentia sua espinha arrepiar apenas em citar as palavras. Ele sabia que os vampiros eram uma das criaturas mais perigosas, quase mitológicas, e que estavam praticamente extintos. Mas o fato de um ter surgido em Londres, na mesma cidade onde o Instituto mantinha sua sede, era algo que mexia com a ordem natural das coisas.

Vampiros eram uma das criaturas mais raras e poderosas do mundo sobrenatural. Sua força, velocidade e inteligência os tornavam imbatíveis para os caçadores mais experientes. Embora a maioria dos vampiros tivesse sido erradicada ao longo dos séculos, aqueles que restaram eram conhecidos por sua astúcia e habilidade em se esconder. Fazia quase meio século desde que o último vampiro apareceu em Londres, e esse, aparentemente, surgiu justamente na ronda dos novatos. O que isso significava? Algo grande estava por trás de tudo isso. Maria sabia que esse era um desafio como nenhum outro, mas para ela, isso só tornava a missão mais emocionante.

Maria, segurando sua bolsa e seu chicote, assobiou. O som cortou a noite, e logo seu tigre de caça, Bartise, se posicionou ao seu lado. A besta enorme, com pelagem cinza e olhos ferozes, parecia quase parte de seu corpo. Maria e Bartise formavam uma dupla letal. Ali, com sua habilidade afiada, suas armas e seu imenso companheiro, ela estava pronta para enfrentar qualquer obstáculo que cruzasse seu caminho. Sua confiança era inabalável. A caçada estava prestes a começar, e ela estava mais do que pronta para ir atrás da sua presa.

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Wendy Clarke- A donzela

Wendy Clarke era inteligente, bonita e uma filha exemplar. Desde pequena, destacava-se pela curiosidade e pelo gosto por histórias. Ela tinha consciência dessas qualidades, o que lhe dava uma autoconfiança sutil. Era também consideravelmente feliz, mas vivia entediada, sentindo que sua vida era sempre a mesma.

Além de ser uma excelente aluna, Wendy possuía uma imaginação fértil e um coração cheio de sonhos. Ela tinha muito afeto pela leitura e adorava mergulhar em histórias de aventura, romances ardentes e contos fantasiosos. Sentia-se transportada para mundos distantes, onde tudo era emocionante e surpreendente. Sua vida, no entanto, não tinha nada disso. Tudo se resumia a escola, burocracia e status. Embora tivesse muitos amigos, ninguém parecia compartilhar seus anseios mais profundos, e ela ansiava por algo além do cotidiano monótono.

Às vezes, ela imaginava que sua verdadeira essência era de uma exploradora, uma viajante que ainda não tinha encontrado seu caminho. O mais próximo que conseguia chegar de suas aventuras fantasiosas era imaginar um romance com algum menino da escola. No entanto, nenhum deles parecia interessante para Wendy, que era exigente e procurava alguém que entendesse suas inquietações. O único garoto capaz de quebrar um pouco sua monotonia era seu melhor amigo, Henry White, que sempre tinha tempo para ouvir suas histórias e ambições sem questionar o quanto tudo o que ela desejava era absurdo.

Quando crianças, Wendy e Henry passaram juntos por uma de suas primeiras aventuras. Certa vez, Wendy convidou Henry para procurarem o final de um arco-íris e encontrarem um pote de ouro guardado por um duende, como nos contos de fadas. Eles passaram meses esperando por arco-íris e, sempre que podiam, corriam até sua ponta, mas nunca chegavam antes de ele desaparecer no céu. Um dia, porém, conseguiram chegar, mas, como se sabe, não encontraram nada lá, apenas água. Wendy ficou imediatamente decepcionada, mas Henry respondeu:

— Acho que o duende levou o pote antes de chegarmos.

A menina deu uma risada. Henry era sempre assim, encontrava soluções para as decepções de Wendy, dando-lhe novos motivos para acreditar que o mundo poderia ser tão mágico quanto ela imaginava.

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Todavia, um dia, Wendy descobriu um segredo de verdade. Para qualquer outro adolescente, talvez fosse decepcionante saber algo assim, mas para ela era uma oportunidade rara. Tudo o que desejava era viver uma história real, ter um toque de aventura em sua rotina monótona.

Era madrugada, e Wendy estava acordada, observando a casa silenciosa. Quando seu pai finalmente chegou, depois de um longo dia de trabalho, ela o viu atravessar a sala com passos pesados. Ele trocava de roupa rapidamente, visivelmente cansado, pronto para se deitar. Algumas noites, ele voltava mais tarde que sua mãe, pois precisava fechar o caixa e trancar a casa de jogos onde trabalhava. Mas, naquela noite, algo inesperado aconteceu. Enquanto tirava o casaco, ele deixou cair um papel misterioso no chão, sem perceber.

Wendy, que estava escondida no andar de cima, observava em silêncio, o coração disparado. Aquele papel... tinha algo diferente, algo que chamava sua atenção. Assim que seu pai saiu da sala e os passos dele se perderam no corredor, ela desceu as escadas, movida por uma curiosidade insaciável. Pegou o papel com mãos trêmulas, sentindo uma mistura de medo e excitação. A sensação de que, naquele instante, algo em sua vida poderia mudar para sempre era irresistível.

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Era uma mensagem escrita em letras elegantes, com uma marca de batom no canto. O papel exalava um perfume forte e adocicado, o tipo de fragrância importada que parecia destoar de tudo naquela casa.

"Nossa noite foi muito especial. Espero encontrá-lo novamente."

Sim! Era a carta de uma amante. Seu pai tinha uma amante, uma mulher que ardia de paixão por ele. Aquilo era chocante, quase irreal — algo que quebrava a rotina aparentemente perfeita dos Clarke. Mas, então, havia sua mãe… Wendy sabia que precisava guardar a carta e revelar tudo a ela. Mas como? Qual seria o momento certo para quebrar o coração frágil e inocente de sua mãe?

De repente, um barulho! Wendy congelou. O Sr. Clarke havia voltado ao corredor. Ela se escondeu rapidamente atrás do velho sofá, prendendo a respiração. Não queria confronto, ainda mais àquela hora da madrugada. Ele olhava ao redor, agitado, e então levou as mãos à cabeça, em um gesto de frustração — claro, lembrara-se do papel. Aquela carta era uma prova irrefutável de seu segredo.

— Harriet! — chamou ele, impaciente.

A velha empregada surgiu lentamente, ainda de pijama e com uma expressão de sono. Pobre Harriet.

— Poderia aspirar o chão? — disse ele, a voz mais dura que o normal.

— Agora, senhor? — Harriet respondeu, espantada.

— Faça-me esse favor. E não deixe nenhuma sujeira!

— Aconteceu alguma coisa? — arriscou a empregada.

— Ando estressado, e o chão desse jeito está me agoniando — respondeu, irritado.

— Certo… farei o possível para ajudar.

— Agradeço. — Ditas essas palavras, o Sr. Clarke se retirou, voltando ao quarto, certo de que havia eliminado qualquer evidência perigosa.

Wendy continuava segurando o papel, o coração batendo acelerado. Precisava de conselhos antes de trazer o caos para a vida de seus pais. Sentia-se cruel por pensar assim, mas não podia conter a satisfação pela descoberta de um segredo tão explosivo. E quem melhor para compartilhar isso do que seu leal amigo Henry White?

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