Wendy tinha se atrasado um pouco para o encontro com Henry. Ela fazia parte do grêmio estudantil e precisou ficar até um pouco mais tarde para resolver algumas burocracias. Muitas vezes, ela fazia as coisas porque as outras pessoas esperavam que ela fizesse, e não por vontade própria. Desvantagens de ter uma família influente...
Quando chegou ao parque, estava ansiosa para contar ao amigo a novidade sobre seu pai. Procurou no lugar onde mais gostavam de conversar: o banco sob a grande árvore. Porém, não o encontrou. Caminhou por outros pontos do parque, mas continuava sem sinal de Henry. Como isso podia estar acontecendo? Eles haviam combinado, e ele nunca a deixaria esperando, mesmo com suas bizarrices. Ou será que deixaria? Seu coração apertou – talvez nem Henry suportasse mais as paranóias de Wendy.
Ela esperou o garoto aparecer por cerca de duas horas. Continuou esperançosa, acreditando que ele logo apareceria. Apesar de temer que Henry não fosse mais seu amigo, ela sabia que ele era uma pessoa de palavra e daria um jeito de encontrá-la. Quando, por fim, desistiu e estava a caminho de casa, encontrou o filho do diretor da escola de pé ao lado do portão de saída do parque.
– Boa noite, senhorita Wendy Clarke – cumprimentou-a formalmente, como faria um membro da elite.
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– Boa noite, Adolfo Evans.
Wendy olhou para ele, um rapaz alto, sempre bem vestido, com o cabelo impecavelmente arrumado e um ar de superioridade que raramente abandonava o rosto. Adolfo era filho do diretor da escola e vinha de uma família tradicional, conhecida por sua influência e riqueza. Educado desde pequeno para ser um líder, ele parecia nunca deixar de lado as responsabilidades impostas pela família e a sociedade. Seu jeito era formal, quase frio, e as palavras que escolhia ao falar demonstravam a precisão e o cálculo típicos de alguém acostumado a manipular situações a seu favor.
– Eu vi que a senhorita ficou até muito tarde na rua e gostaria de oferecer uma carona no meu carro. É perigoso voltar sozinha a essa hora.
– Acho que será menos perigoso do que os comentários que as más línguas farão ao me ver entrar num carro sozinha com um garoto da minha idade.
Adolfo sorriu, sem se abalar pela resposta cortante dela. Ele estava acostumado a ter pessoas ao seu redor, fosse por admiração ou por puro interesse. Contudo, a determinação de Wendy o desarmava. Era uma das poucas pessoas que ousava confrontá-lo, e isso, para ele, era um desafio intrigante.
– Não seja tão dura.
Wendy permaneceu em silêncio. Não queria gastar seu tempo com diálogos supérfluos.
– Você deveria andar com mais pessoas do seu nível. Sabe que isso também reflete na aristocracia. Se a sua família for vista como uma ameaça, ela encontrará um jeito de acabar com vocês. É preciso se comportar, andar com membros da classe a que pertence, não com simples empregados, como costuma fazer na maior parte do tempo.
Adolfo falava com um tom de superioridade, misturado a uma preocupação que, para Wendy, parecia falsa. Mas ele tinha uma habilidade única de manter o tom ameno, como se cada palavra sua fosse cuidadosamente escolhida para não deixar margem a mal-entendidos.
– Obrigada pelo aviso – ironizou ela. – Só não entendo por que me persegue tanto, com tantas garotas com potencial para serem suas pretendentes. Algumas com famílias até mais abastadas que a minha.
– Mas nenhuma tem a sua astúcia e inteligência.
Adolfo olhou para ela, com uma intensidade que quase a fez desviar o olhar. Ele admirava Wendy por suas qualidades, mas também via nela um símbolo de rebeldia que ele próprio jamais ousaria adotar. Criado para ser o “exemplo perfeito”, Adolfo seguia à risca as regras de sua classe social, mas isso o deixava inquieto. Wendy era um mistério e uma tentação de algo que ele nunca havia experimentado: a liberdade de ser ele mesmo.
– Pare. Minhas notas são boas, mas não são as melhores da escola. Muitas pessoas me superam. Não entendo essa insistência.
– Eu não estou falando de notas. Você sabe muito bem como se constrói a boa e velha sabedoria. – Ele sorriu.
– Certo, Adolfo. Se você quiser me acompanhar a pé, com seu chofer nos acompanhando de longe, eu agradeço. Realmente voltar sozinha a essa hora me dá calafrios.
Ele acenou para o chofer, que entendeu o recado e se manteve a uma distância discreta. Enquanto caminhavam lado a lado, Adolfo observava Wendy com um interesse raro. Ela era imprevisível, e ele se perguntava se algum dia conseguiria dobrá-la à sua maneira ou se sempre seria refreado pela personalidade intensa dela.
– Combinado. E posso saber quem estava esperando? Mais um serviçal ou um novo amor?
– Achei que não era nenhuma das opções, mas agora nem sei mais o que somos.
Adolfo fechou a cara, sentindo-se levemente incomodado. Ele não estava acostumado a perder. Será que estava perdendo Wendy para algum outro garoto sem nem ao menos perceber?
– Na verdade, é o meu melhor amigo. É amor, sim. De amizade...
– Ora. Se esse rapaz é seu verdadeiro amigo, por que deixou uma dama esperando sozinha na calada da noite?
– Eu não sei. Também quero descobrir.
– Você gosta desse tipo?
– Que tipo?
– O tipo que abandona as donzelas para fazer coisas indevidas? Porque eu posso ser assim também, se for o seu desejo.
– Não fale assim! Henry com certeza não faria essas coisas. – Wendy ficou vermelha só de imaginar algo assim.
– Henry White?
– Sim.
– O seu empregado? Sua família sabe que você se encontra com ele desse jeito?
Adolfo mostrava-se quase possessivo. Ele tinha um lado controlador, uma necessidade de manter tudo ao seu redor sob controle. Era algo que, ao mesmo tempo, o fazia parecer protetor, mas também tornava suas palavras rígidas.
– Não tem nada de mais, pare com esse interrogatório ou vou para casa sozinha.
– Ok.
Adolfo e Wendy caminharam em silêncio quase todo o trajeto. Ela não o detestava, mas sabia que ele representava a mesmice da alta sociedade: sem graça, sem novidades, sempre previsível. Ele era o “herdeiro perfeito”, o filho exemplar, e ela sabia que, se quisesse, poderia ter a vida toda controlada por ele e pelas expectativas de suas famílias. Mas não era isso que queria.
– Chegamos – anunciou Adolfo, como se não fosse óbvio para todos.
– Sim. Obrigada por me trazer até aqui. Nos vemos amanhã na escola.
– Certamente. – Depois de dizer isso, Adolfo a surpreendeu com um abraço inesperado. Era um abraço aconchegante, mas não muito apertado, como se segurasse algo frágil. – Se cuide, pequeno girassol.
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Depois dessas palavras, ela afastou o colega suavemente, assentiu com a cabeça e fechou a porta rapidamente, quase como se estivesse fugindo de algo que não conseguia nomear. Por alguns segundos, ficou parada ali, de costas para a porta, com o peito subindo e descendo, enquanto sentia o coração batendo mais alto e rápido. O som parecia ecoar em seus ouvidos, como se a própria casa estivesse em silêncio absoluto para amplificar aquele momento. Ela levou a mão ao peito, tentando controlar a respiração, e sorriu de leve, convencida de que era apenas a intensidade da situação. Mas, no fundo, uma pequena dúvida sussurrava que talvez não fosse só impressão.
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Atualizado até capítulo 21
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