Wendy Clarke era inteligente, bonita e uma filha exemplar. Desde pequena, destacava-se pela curiosidade e pelo gosto por histórias. Ela tinha consciência dessas qualidades, o que lhe dava uma autoconfiança sutil. Era também consideravelmente feliz, mas vivia entediada, sentindo que sua vida era sempre a mesma.
Além de ser uma excelente aluna, Wendy possuía uma imaginação fértil e um coração cheio de sonhos. Ela tinha muito afeto pela leitura e adorava mergulhar em histórias de aventura, romances ardentes e contos fantasiosos. Sentia-se transportada para mundos distantes, onde tudo era emocionante e surpreendente. Sua vida, no entanto, não tinha nada disso. Tudo se resumia a escola, burocracia e status. Embora tivesse muitos amigos, ninguém parecia compartilhar seus anseios mais profundos, e ela ansiava por algo além do cotidiano monótono.
Às vezes, ela imaginava que sua verdadeira essência era de uma exploradora, uma viajante que ainda não tinha encontrado seu caminho. O mais próximo que conseguia chegar de suas aventuras fantasiosas era imaginar um romance com algum menino da escola. No entanto, nenhum deles parecia interessante para Wendy, que era exigente e procurava alguém que entendesse suas inquietações. O único garoto capaz de quebrar um pouco sua monotonia era seu melhor amigo, Henry White, que sempre tinha tempo para ouvir suas histórias e ambições sem questionar o quanto tudo o que ela desejava era absurdo.
Quando crianças, Wendy e Henry passaram juntos por uma de suas primeiras aventuras. Certa vez, Wendy convidou Henry para procurarem o final de um arco-íris e encontrarem um pote de ouro guardado por um duende, como nos contos de fadas. Eles passaram meses esperando por arco-íris e, sempre que podiam, corriam até sua ponta, mas nunca chegavam antes de ele desaparecer no céu. Um dia, porém, conseguiram chegar, mas, como se sabe, não encontraram nada lá, apenas água. Wendy ficou imediatamente decepcionada, mas Henry respondeu:
— Acho que o duende levou o pote antes de chegarmos.
A menina deu uma risada. Henry era sempre assim, encontrava soluções para as decepções de Wendy, dando-lhe novos motivos para acreditar que o mundo poderia ser tão mágico quanto ela imaginava.
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Todavia, um dia, Wendy descobriu um segredo de verdade. Para qualquer outro adolescente, talvez fosse decepcionante saber algo assim, mas para ela era uma oportunidade rara. Tudo o que desejava era viver uma história real, ter um toque de aventura em sua rotina monótona.
Era madrugada, e Wendy estava acordada, observando a casa silenciosa. Quando seu pai finalmente chegou, depois de um longo dia de trabalho, ela o viu atravessar a sala com passos pesados. Ele trocava de roupa rapidamente, visivelmente cansado, pronto para se deitar. Algumas noites, ele voltava mais tarde que sua mãe, pois precisava fechar o caixa e trancar a casa de jogos onde trabalhava. Mas, naquela noite, algo inesperado aconteceu. Enquanto tirava o casaco, ele deixou cair um papel misterioso no chão, sem perceber.
Wendy, que estava escondida no andar de cima, observava em silêncio, o coração disparado. Aquele papel... tinha algo diferente, algo que chamava sua atenção. Assim que seu pai saiu da sala e os passos dele se perderam no corredor, ela desceu as escadas, movida por uma curiosidade insaciável. Pegou o papel com mãos trêmulas, sentindo uma mistura de medo e excitação. A sensação de que, naquele instante, algo em sua vida poderia mudar para sempre era irresistível.
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Era uma mensagem escrita em letras elegantes, com uma marca de batom no canto. O papel exalava um perfume forte e adocicado, o tipo de fragrância importada que parecia destoar de tudo naquela casa.
"Nossa noite foi muito especial. Espero encontrá-lo novamente."
Sim! Era a carta de uma amante. Seu pai tinha uma amante, uma mulher que ardia de paixão por ele. Aquilo era chocante, quase irreal — algo que quebrava a rotina aparentemente perfeita dos Clarke. Mas, então, havia sua mãe… Wendy sabia que precisava guardar a carta e revelar tudo a ela. Mas como? Qual seria o momento certo para quebrar o coração frágil e inocente de sua mãe?
De repente, um barulho! Wendy congelou. O Sr. Clarke havia voltado ao corredor. Ela se escondeu rapidamente atrás do velho sofá, prendendo a respiração. Não queria confronto, ainda mais àquela hora da madrugada. Ele olhava ao redor, agitado, e então levou as mãos à cabeça, em um gesto de frustração — claro, lembrara-se do papel. Aquela carta era uma prova irrefutável de seu segredo.
— Harriet! — chamou ele, impaciente.
A velha empregada surgiu lentamente, ainda de pijama e com uma expressão de sono. Pobre Harriet.
— Poderia aspirar o chão? — disse ele, a voz mais dura que o normal.
— Agora, senhor? — Harriet respondeu, espantada.
— Faça-me esse favor. E não deixe nenhuma sujeira!
— Aconteceu alguma coisa? — arriscou a empregada.
— Ando estressado, e o chão desse jeito está me agoniando — respondeu, irritado.
— Certo… farei o possível para ajudar.
— Agradeço. — Ditas essas palavras, o Sr. Clarke se retirou, voltando ao quarto, certo de que havia eliminado qualquer evidência perigosa.
Wendy continuava segurando o papel, o coração batendo acelerado. Precisava de conselhos antes de trazer o caos para a vida de seus pais. Sentia-se cruel por pensar assim, mas não podia conter a satisfação pela descoberta de um segredo tão explosivo. E quem melhor para compartilhar isso do que seu leal amigo Henry White?
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Gelcinete J. Rebouças
Já estou penalizada por sua mãe
2024-12-22
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Tsuyuri
Estou completamente apaixonada por essa trama ❤️
2024-06-19
1