No dia em que Caroline White conheceu Lily Loren Marin, ela detestou a nova garota... que agora era sua cunhada, à primeira vista. Ainda assim, sabia que precisava respeitar os sentimentos e as decisões de seu irmão. Porém, ela julgava Henry imaturo demais para tomar decisões tão sérias.
Caroline era uma jovem peculiar, reservada e introspectiva. Aos 16 anos, carregava o peso de ser a irmã mais velha em uma família que parecia sempre lhe cobrar perfeição. Ela era metódica, perfeccionista e apaixonada por literatura. Suas roupas eram sempre sóbrias e arrumadas, e ela tinha um olhar analítico que parecia avaliar tudo à sua volta. Apesar de sua inteligência afiada, Caroline tinha dificuldade em lidar com mudanças e detestava quando algo ameaçava sua rotina ou estabilidade.
Entretanto, o verdadeiro problema de toda a situação com Lily não era a nova cunhada em si, mas o que ela representava: mudança. A ideia de que a dinâmica familiar poderia se alterar a deixava ansiosa e frustrada. Para Caroline, sua família era um sistema que precisava funcionar de forma ordenada e previsível. E Lily, com sua personalidade expansiva e despreocupada, parecia ser a antítese disso.
Na manhã seguinte, toda a movimentação para levar sua nova cunhada à escola deixou Caroline estressada. Ela se sentiu sufocada e buscou refúgio em seu lugar preferido: a biblioteca. Ali, entre as prateleiras de livros antigos e o cheiro de páginas amareladas, ela encontrava paz. O local era o único onde se sentia verdadeiramente em casa, cercada por histórias e personagens que pareciam entendê-la melhor do que qualquer pessoa viva.
Para o resto do mundo, Caroline era uma garota solitária, isolada e difícil de se aproximar. Porém, ela nunca estava realmente sozinha. Desde os cinco anos, Caroline tinha a habilidade incomum de ver e interagir com fantasmas. O primeiro deles, ela o chamou de "Senhor Joseph", e ele rapidamente se tornou seu amigo mais constante. Joseph era um espírito com cerca de 150 anos, que gostava de acompanhá-la em suas leituras e lhe contar histórias fascinantes sobre o passado.
As primeiras aparições fantasmagóricas ocorreram quando Caroline ainda era criança, mas ninguém acreditava nela. Inicialmente, os outros achavam que ela tinha amigos imaginários, mas, aos sete anos, Caroline compreendeu que o que via era real. Desde então, aprendeu a guardar segredo sobre suas habilidades e passou a viver em um "mundinho" só dela. Preferia a companhia dos fantasmas aos humanos; afinal, os mortos tinham uma perspectiva única da vida e contavam histórias cheias de sabedoria e mistério.
— Bom dia, senhor Joseph.
— Bom dia, jovem Caroline. Não vai para a escola hoje?
— Falei com a minha mãe. Não estou me sentindo bem para isso.
— Por causa da nova garota?
Caroline ficou um pouco tensa. A desvantagem de lidar com fantasmas era que eles sempre sabiam de tudo antes mesmo de você contar. Afinal, podiam estar em todos os lugares...
— Você anda bisbilhotando bastante. — Ela tentou se defender.
— Algumas coisas são inevitáveis de acompanhar e ouvir.
— Descobriu algo sobre a garota nova? — Se ele sabia do ocorrido, talvez também tivesse informações sobre Lily.
— Eu até sei de algumas coisas... mas é contra o senso de ética espiritual revelar. Se eu contar, o Departamento Sobrenatural pode vir atrás de mim e caçar minha licença de permanência na Terra.
— Hum. Bem conveniente essa sua desculpa, não é? — Caroline revirou os olhos, incrédula.
— Pense como quiser. Apenas estou expondo os fatos.
— Ela é perigosa? Meu senso sobrenatural parece ter emitido um sinal de alerta.
— Nada com que precise se preocupar... Esta casa sempre será mais perigosa do que qualquer habitante que entre nela. — A voz de Joseph adquiriu um tom sombrio.
Caroline sentiu um arrepio ao ouvir aquelas palavras, mas decidiu ignorar o comentário. Por anos, Joseph insistia que a casa onde viviam escondia segredos sombrios, mas, apesar de todas as suas tentativas de investigação, Caroline nunca encontrou nada além de boatos e histórias mal contadas.
— Sei que você está aqui para me ajudar a decifrar os perigos desta casa, indiretamente. Essa é sua missão, você já explicou. Mas, depois de todos esses anos, mesmo com suas dicas, não encontrei nada. Acho que é paranoia sua.
— E como você explica tantos fantasmas vindo visitá-la em um só lugar? — insistiu Joseph, convicto.
— Aff. Eu tentando descobrir algo sobre uma possível psicopata casada com meu irmão, e você preocupado com as mesmas histórias de sempre.
— Querida Caroline, a nova inquilina realmente é a menor das nossas preocupações. — O olhar do fantasma era cheio de certeza.
Caroline bufou, pegou um livro novo e começou a ler em silêncio. Naquele momento, ela só queria escapar do caos que sentia se formando à sua volta. Joseph, entendendo o recado, atravessou a parede e desapareceu para um lugar que só ele conhecia.
Caroline respirou fundo, tentando se concentrar nas páginas à sua frente, mas a sensação de que algo estava prestes a mudar não a deixava em paz. Talvez Lily fosse apenas a ponta do iceberg de uma transformação que ela não estava preparada para enfrentar.
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Atualizado até capítulo 21
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