Resolvi tentar adiantar algumas afazeres antes de fechar, agilizei a limpeza, mas infelizmente tínhamos clientes que pareciam não terem se dado conta de que nós estávamos fechando.
Infelizmente é assim, muitas pessoas pensam que quem trabalha com atendimento não tem uma vida fora do estabelecimento, que não temos família e afazeres, ou não pensam que precisamos ter um descanso merecido.
Mesmo eu dando sinais que estávamos fechando, os clientes continuavam lá, nem estavam pedindo nada mais, mas não pediam o fechamento da conta. Só saíram quando eu avisei e alguns até reclamaram, dizendo que se eu não queria trabalhar, que deixasse a minha vaga para outra pessoa.
Com a última comanda, fui logo incluindo no fechamento do caixa, mas não fui rápida o suficiente. Meu corpo gelou quando senti a presença daquele homem atrás de mim.
A presença dele era tão sombria que antes de ele me tocar fisicamente, eu podia sentir os tentáculos sombrios de intenções indecorosas me tocando.
Para me assombrar mais, ele ultrapassou o meu espaço e tocou em meus ombros. Ele aproximou a boca do meu ouvido, me fazendo sentir o cheiro forte de cigarro barato do seu hálito.
— Não precisa ter pressa, Camilinha? Por que essa correria? Pode deixar que eu vou te ajudar, faço questão de fechar a porta.
— Não! — grito, um grito agudo, trêmulo e quase um pedido de socorro. A minha intenção era de que assim que terminasse o caixa, ter corrido para porta e ido embora.
— Por quê, não? Quer que outro cliente entre para nos incomodar?
— E-e que… eu estou terminando e já vou sair. Não precisa fechar a porta.
— Sair, agora? Por que a pressa, Camille? A gente pode pegar uma cerveja na geladeira e tomar um pouco. E eu não vou nem descontar do seu salário. Eu sou um homem bom, Camille e tenho muita apreciação por você.
Ele se afastou e eu corri, batendo os dedos sem parar na calculadora. Eu tinha que terminar agora, agora…
No nervosismo, deixei todas as moedas que tinha separado caírem e isso até me fez chorar. Eu não estava acreditando na minha má sorte, eu estava muito cansada…
Me abaixei para pegar as moedas e as lágrimas rolavam, eu realmente era uma mulher cansada e ultimamente andava com os olhos avermelhados e inchados.
Enquanto juntava as moedas, ouvi a voz do meu chefe.
— Estamos fechando, volte a amanhã!
— Mas eu não queria nada, só queria falar com a Camille.
— Camille está muito ocupada e eu não a liberei ainda. Vá embora!
Eu me levanto e quando olho, aquele senhor estava lá, segurando a porta e impedindo o meu chefe de fechar.
— E-eu, já estou terminando… — digo com a voz falhando, embargada pelo choro — Você chegou bem no horário que combinamos! Me espere um pouco que já estou saindo. — digo desesperada, me agarrando a chance de escapar.
— Sim, cheguei bem a tempo de te encontrar na saída. Eu com certeza vou te esperar.
O senhor responde, não desmentindo a minha mentira. Algo que me faz respirar melhor e me concentrar para terminar as contas.
— Eu vou fechar a porta! Espere Camille do lado de fora! Estamos fechados.
— Prefiro esperar Camille aqui. — O senhor entra empurra a porta, forçando a entrada e ele e o meu chefe se encaram.
— Eu ainda não liberei Camille, ela está no seu horário de trabalho. Ela vai ficar fazendo horas extras hoje.
— M-mas eu já fiz tudo e… se precisar que eu faça mais alguma coisa, posso chegar mais cedo amanhã. — digo com minhas mãos trêmulas.
O senhor me observa por alguns momentos e diz:
— Você não pode obriga-la fazer horas extras, segundo as leis trabalhistas ela só faz horas extras se concordar.
— Ela concorda!
— Você concorda, Camille? — o senhor me pergunta, olhando fundo em meus olhos.
— E-eu… eu… — me sinto insegura, não quero perder esse trabalho, mas também não quero saber as intenções do meu chefe — eu não posso fazer horas extras após o trabalho. Eu tenho horário certo para chegar em casa.
— Está vendo? Ela não pode fazer horas extras se não concorda.
Enquanto discutiam, eu terminei o meu caixa.
— Pronto, eu terminei! Eu vou embora agora, tá?
Pego minha bolsa e corro até o senhor, sendo acompanhada pelo olhar de insatisfação do meu chefe. Ele chegava a babar de raiva, mas não dizia nada, apenas ficou lá, parado, nos olhando nos afastar.
Caminhamos por algum tempo em silêncio, até que chegamos no ponto de ônibus. Assim que sentei, não me aguentei, comecei a chorar. Eu cheguei em um ponto que não tinha mais dignidade, não conseguia esconder o quão prejudicado estava o meu emocional.
— Ei, Camille. Posso te levar ao hotel que estou hospedado? Não me entenda mal, lá tem um bom bar e nesse horário ninguém está frequentando, acho que se sentiria melhor em algum lugar que ninguém estaria te olhando.
Realmente, todos que estavam no ponto de ônibus estavam olhando para mim com pena. Eu me sentia tão humilhada…
Acenei levemente em positivo e deixei ser levada.
Eu não senti nenhuma má intenção vinda daquele homem e assim como disse, ele me levou para o bar do hotel mais luxuoso da cidade. Me senti mal por entrar ali vestida com um uniforme de garçonete, mas assim como ele me prometeu, o bar estava vazio.
O senhor pediu um copo com água e açúcar e me deu para eu me acalmar.
Enquanto tomava, ele me disse que seu nome era Edgard Kramer e pediu desculpas por ter me perseguido tanto, mas ele sentia que tinha que conversar comigo, que tinha que me ajudar.
Parei de tomar a água, impressionada com o que ele disse, como ele sabia que eu estava desesperada por uma ajuda, por qualquer ajuda.
Edgard começou a me contar uma história, me disse que assim que me viu, viu nos meus olhos que eu era uma mulher cansada. Disse que reconheceu porque ele já tinha visto por muitas vezes aquele mesmo olhar em seu reflexo no espelho.
Ele me contou que na adolescência era apaixonado por uma mulher, mas ela nunca o quis, mas ele nunca desistiu de conquistá-la. Disse que trabalhou muito, estudou muito e fundou uma empresa de sucesso, só para ela perceber que ele valia a pena.
Edgard me contou que depois de décadas se declarando o seu amor, finalmente aquela mulher o aceitou. Ele casou com ela, eles tiveram dois filhos e viveram felizes, porém, foi só por cinco anos, já que depois de cinco anos de casamento ela descobriu um câncer.
Edgard me contou que se dedicou arduamente para cuidar dela, passou noites em claro, gastou quase tudo o que tinha, mas no fim, a doença venceu.
Ele me disse que no leito de morte, as últimas palavras do seu grande amor para ele foram que ela nunca o amou de verdade, que só aceitou se casar com ele porque estava endividada. Ela pediu desculpas e se foi.
Edgard me disse que quando ela se foi ele estava muito cansado, muito cansado… Me disse que ele perdeu toda a sua vida dando muito e recebendo pouco em troca e quando ela se foi, ele já tinha perdido a sua juventude e a sua esperança no amor.
Ele me disse que eu era jovem e que eu ainda tinha chances, porque era jovem e uma boa pessoa que merecia tudo de bom desse mundo. Me disse que ainda dava tempo de eu conquistar minha felicidade.
Chorei muito, pois ele estava certo, eu estava cansada… cansada de me doar tanto e não receber nada.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Maria Fatima
nossa coitada, só não entendi pq o amigo do Harry confirmou pra ele que a camille não tinha mudado era feia, e ex patrão dela um escroto
2024-06-22
317
Magnólia
Isso não é uma ficção mas uma realidade
2025-04-01
0
Gina
Tb não entendi porque Robert fez isso
2024-12-28
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