Capítulo 7

POV HENRY

Recebi alta e voltei para minha casa, apesar de ter pensado que conhecia aquele lugar pelas minhas memórias, percebi que não conhecia nada.

Muito tempo havia passado e minhas perspectivas mudaram, tudo parecia maior e menor ao mesmo tempo e eu pensava que o mundo era mais colorido, mas agora, o mundo parecia apagado.

Os rostos sorridentes e felizes que eu pensava que encontraria, não existia. As pessoas nas ruas são inexpressivas e apressadas.

Olho à minha volta e percebi que a cor que domina o mundo é o cinza e que enxergar talvez não seja tão extraordinário quanto eu pensava.

É claro que me senti como um menino, curioso para redescobrir o mundo.

A primeira coisa que fiz foi me olhar no espelho, eu queria saber como era o meu rosto, já que nem me lembrava mais do meu rosto antigo.

Olhei para o homem no reflexo com estranheza, cheguei até a tratá-lo, fazendo movimentos aleatórios, verificando se era meu reflexo mesmo ou se estava olhando para outra pessoa.

Após me examinar, cheguei a conclusão que eu gostava da minha aparência. Gostava do meu corte de cabelo e de como minha barba estava aparada.

Pensar sobre isso, me lembrei de Camille, era ela quem cuidava dessas coisas e ela fez um bom trabalho.

Nesse momento senti uma curiosidade imensa, como era Camille? Como ela se parecia? Será que eu gostaria da sua aparência ou ela me causaria repulsa?

Ansiosamente comecei a procurar alguma fotografia de Camille, algo que não encontrei em nenhum lugar.

Nesse momento percebi que ela estava mais presa ao meu mundo do que eu presa ao mundo dela. Esse quarto tinha poucos vestígios da sua presença. Enquanto coisas minhas estavam espalhadas por todo lugar, Camille só tinha uma cômoda com suas coisas.

As suas roupas ainda estavam aqui, prendedores de cabelo, pentes, produtos de higiene entre outros objetos. Ela foi embora e nem voltou aqui para levar consigo as suas coisas.

Peguei uma caixa e comecei a colocar algumas de suas coisas, pensei que poderia levar até a mãe dela e talvez ela estivesse lá e talvez a gente pudesse conversar.

“Não! Eu disse que não iria atrás dela e não vou voltar atrás com minha palavra.”

Me sentei, desistindo, mas acabei olhando para as coisas dela. Pareciam bastante gastas, nada ali era novo.

Eu poderia ter comprado coisas novas se ela tivesse ficado.

Peguei algumas peças de roupas e tentei imaginar como ela se vestia. Algumas peças eram de tamanho M, então ela não era tão magra mais.

Balancei a minha cabeça em negativa, eu sabia que ela não era tão magra como quando nos conhecemos, eu conhecia o seu corpo quando eu a tocava.

Instintivamente levei uma de suas peças de roupas até o meu nariz, fechei meus olhos e inalei profundamente. Com certeza aquelas peças pertenciam a elas, podiam estar velhas e surradas, mas tinham um cheiro de limpeza bom. Além do seu cheiro que eu conseguia sentir bem fraco.

Desisti de tirar as coisas dela, resolvi pensar nisso depois. Eu tinha coisas mais importantes para resolver.

Fui para o meu closet e escolhi algumas roupas para vestir. Percebi que eu tinha roupas novas e que me caiam bem, não eram de grife e sim, compradas em lojas de departamento, mas eram de bom gosto.

Agradeci por Camille ter tido esse cuidado, já que eu precisava me vestir bem, pois agora era hora pegar tudo que me roubaram.

Solicitei uma reunião com o conselho da empresa, eles estranharam, mas acabaram aceitando.

Chegando lá, fui direto ao ponto, eu queria o meu cargo de CEO por direito, eu queria o controle da minha empresa de volta.

É claro que eles recusaram, dizendo que até pouco tempo eu estava cego, que eu não tinha experiência para conduzir uma empresa tão grande assim.

Então eu já fui logo dando o ultimato, disse que sabia que meu meio irmão havia limpado os cofres da empresa e que todos deveriam estar desesperados nesse momento. Disse que sabia que a empresa estava prestes a declarar falência e que eu tinha o dinheiro para salvar empresa. Ou eles me davam o cargo ou eu deixava o barco afundar.

Quando Robert recuperou o dinheiro que meu meio irmão pegou, pedi que ele não devolvesse para os cofres da empresa, pedi que depositasse tudo em outra conta. Eu já estava planejando pegar o meu cargo de alguma forma e nada como utilizar uma estratégia de guerra para conseguir.

“Conheça-te a ti e ao seu inimigo…”, um ensinamento de um livro que Camille gravou para mim, “A Arte da Guerra”. Simplesmente diz que quem obtém a informação e sabe o que fazer com ela, tem a vantagem na guerra. E é exatamente isso que estou fazendo.

Foi uma reunião longa com muitas propostas de negociação, mas é claro que recusei todas e fiz prevalecer a minha. Eu estava no comando antes mesmo de eles me aceitarem, não demonstravam, mas estavam desesperados.

Como esperado, consegui o meu cargo e partir daí eu tinha que trabalhar muito para desfazer as merdas do meu meio irmão.

Foi bem mais difícil do que eu imaginava e até nisso senti falta de Camille. Fiquei cego por dez anos e não estava acostumado a ler, senti falta de ouvir Camille lendo para mim.

Os dias se passavam e as coisas ficavam mais difíceis, percebi que minha vida de cego era mais fácil do que eu imaginava.

Coisas simples eram ridiculamente complicadas, como escolher o que eu iria comer no jantar.

Eu não sabia bem o que pedir e… parecia que todas as comidas que me ofereciam tinha um gosto estranha, sei lá… nada era tão bom quanto a comida que Camille preparava.

Em uma noite recebi uma ligação de Robert.

— Henry, e aí? Como está sendo a sua nova vida?

— Sem graça… — digo, soltando o ar, entediado.

— Ah, fala sério! Você voltou a enxergar e não está gostando? Você tem que sair um pouco… Está aí, vamos sair! Vou passar aí para te levar para jantar! Vai ser uma coisa só de homens, tá? Espero que a Camille não se importe de não ser convidada.

— Que Camile, Robert! Que Camille? Eu e ela estamos divorciados…

— O quê? Você se divorciou de Camille assim que voltou a enxergar?

— Não foi bem assim… quer saber, vou me arrumar. Vamos jantar.

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