Após O Divórcio Ele Abriu Os Olhos

Após O Divórcio Ele Abriu Os Olhos

Capítulo 1

POV HENRY

Um dia eu a vi e nunca imaginei que minha vida iria mudar tanto após aquele dia.

Eu era apenas um garoto de quatorze anos que foi obrigado a ir morar com meu pai relapso, minha ardilosa madrasta e com meu mimado meio irmão.

Apesar disso, tinha uma vida privilegiada, um futuro já traçado e toda a base para o sucesso que um dinheiro podia dar.

Porém, quando eu via Camille, sempre sentia algo estranho, era como se me faltasse algo que eu ainda não era capaz de enxergar.

Camille, a filha da empregada, que era uma mulher que trabalhava como uma escrava na nossa casa, fazendo horas extras e aguentando todos os caprichos fúteis da minha madrasta e todas as perturbações do meu irmão, só para garantir um futuro para a filha, um futuro que não chegaria nem perto do futuro que me esperava. 

Camille, a garota que se escondia atrás dos armários da cozinha para estudar e quando eu a via, ela sorria com simpatia, mesmo eu nunca tendo lhe dado sequer um bom dia na vida e mesmo sabendo que correria o risco de eu contar tudo para minha madrasta que com certeza faria a sua mãe implorar para ela deixar a filha ficar.

Camille, uma garota estranha, andava mancando, usava um sapato ortopédico por ter uma perna maior que a outra, a sua coluna era torta e ela também precisava usar um colete ortopédico e Deus ainda não pensando que seus problemas ortopédicos já eram demais, lhe deu algum problema nos dentes que a obrigou a usar um aparelho dentário ridículo, com um monte de ferros saindo de sua boca.

E como a desgraça não era pouca, Camille ainda era míope.

Eu sempre me perguntava porque ela ainda sorria mesmo tendo sido amaldiçoada com todos aqueles problemas, que até teriam tratamento, mas acho que são muito caros para a mãe dela pagar. Eu pesquisei… sim, o tanto que aquela garota medíocre me intrigava, me fez pesquisar se tinha alguma solução para o problema dela.

Eu me perguntava o porquê daquele sentimento de falta quando eu a olhava, deveria me sentir agraciado ao olhar para ela, não? Deveria pensar que meus problemas com minha família eram pequenos, aquela menina desgraçada tinha problemas demais.

Mas… Merda, ela sorria, ela sempre sorria…

Camille, aquela visão grotesca. Aquela garota ruiva e magrela que sofria bullying. Aquela idiota que quase sempre aparecia machucada por ter caído sozinha ou, desconfio eu, por ter apanhado na escola, foi a última coisa que vi, antes de perder a visão…

Eu estava obcecado por ela, queria descobrir o que ela tinha que a fazia sorrir… estava sempre me escondendo para observá-la e em um dia desses, quando me escondi para vê-la chegar da escola, aquela garota burra, simplesmente tropeçou e caiu no meio da rodovia.

Eu a xinguei mentalmente, eu me xinguei mentalmente por estar escondido observando um ser humano tão medíocre.

— Vamos, levante-se logo! — disse baixo, mas impaciente.

Ela tentava se levantar, mas se atrapalhava e caia novamente. Não sei se era por causa do seu sapato ortopédico, ou do seu colete, não sei… só sei que ela naquele momento parecia tão desajeitada quanto um animal moribundo.

E foi aí que vi que um caminhão estava vindo. Um daqueles grandes, sabe. Camille era tão medíocre e pequena, que duvido que o motorista a veria a tempo de frear.

Hesitei um pouco, mas quando percebi, estava correndo. Minha mente me perguntava o tempo todo o que eu estava fazendo, mas meu corpo se movimentava contra a minha vontade.

E foi nesse dia que tomei o lugar daquele ser humano condenado. E peguei para mim a sentença de Camille.

Eu não morri, mas  me tornei pior do que ela, porque ela podia ter seus problemas de mobilidade e precisar usar aquelas coisas que a deixava feia e desajeitada, mas ela não era desabilitada, já eu, a partir daquele dia, não pude mais enxergar.

Eu odiei, Camille!

Por culpa dela, todo o meu futuro desapareceu literalmente da minha visão. 

Eu antes pensava que quando fosse maior, daria um jeito de tomar a empresa de meu pai, que é minha por direito, e iria para um lugar bem longe daquela família infernal.

Mas por culpa de Camille, meu destino ficou preso naquele lugar. Meu pai relapso deixou todos os meus cuidados nas mãos da minha madrasta e já está, não fazia nada para me ajudar, se não fosse, pela maldita Camille, talvez nem teria os cuidados básicos.

Sim, apesar de ter destruído a minha vida, Camille não me deixou em paz. Ela se sentia culpada pelo o que aconteceu e todos os dias estava lá no meu quarto.

Mesmo eu a escorraçando, ela estava lá, me pedindo perdão chorando, levando comida e tentando me ajudar.

Apesar de termos a mesma idade, eu era muito maior que Camille, mas mesmo assim, ela se esforçava para me ajudar a levantar e ser o meu apoio.

Ah, como odiava aquela garota burra. “Por que ela não fugia dali? Por que se sujeitava a aguentar os acessos de raiva de um garoto revoltado com o seu destino? Por que?”

Eu realmente a odiava no início, mas com o tempo, ela me forçou a me acostumar com ela. A me acostumar a ouvir seus passos mancando e sua voz baixa. Ela rapidamente já me conhecia como ninguém conhecia e sabia sempre o que eu precisava mesmo sem nos comunicar muitas vezes.

A minha madrasta não ligava, Camille não estava na folha de pagamento, a única pessoa que era inteligente o suficiente para aconselhá-la a ir embora dali, era a mãe dela, e por muitas vezes ouvi as duas discutindo escondidas. Sua mãe lhe implorava para se afastar daquela casa e correr atrás de seu futuro, mas insistia que eu, sem seus cuidados, estaria condenado…

Sim, eu estaria condenado sem ela, não sabia fazer nada sozinho, meu mundo era só escuridão, ouvir os sons da voz da Camille, ouvir os sons de seus passos desajeitados, sentir o toque de suas mãos ridiculamente delicadas e frias e sentir seu cheiro, quando estava muito perto. 

Ela estava presa ao meu mundo e eu estava preso no mundo dela.

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Comments

ELIETE SILVA 🌹❤️

ELIETE SILVA 🌹❤️

Olá Wan Marte, que linda a surpresa de mais uma obra sua, feliz estou começando a viajar nessa aventura romântica ❤️

2024-06-14

278

Vanessa Costa

Vanessa Costa

quando eu fazia o ensino fundamental, tinha um garoto na minha sala igual a personagem dessa história, com aparelho ortopédico, colete, que ajustava a coluna, as vezes ele tinha q ir na cadeira de rodas, pq não conseguia se movimentar direito, e usava aparelho.
Mas digo, o dia q ele tirou tudo isso, todos se impressionaram, ele era lindo. Entretanto, a atenção em excesso das meninas fez com q ele ficasse muito boçal, misericórdia.
Então creio q ela deve ser linda, e quando ele perceber vai se arrepender muito

2024-08-26

51

juhfischer

juhfischer

Meu deus, já entendemos que a guria era manca e capenga, mas não precisa humilhar calabreso

2024-08-08

55

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