Capítulo 13

POV Camille

Eu era muito sonhadora, apesar do mundo a minha volta tentar me dizer que não havia grandes coisas esperando por mim no futuro. Mas ainda assim, eu acreditava.

Sempre me faltaram muitas coisas na vida, roupas novas, materiais escolares, atendimento médico e um pai, porém, eu não sentia isso. Sabe por que? Porque eu tinha a melhor mãe do mundo. Só depois de crescida que fui entender o quanto ela se sacrificava por mim, o quanto ela era o meu grande exemplo de mulher.

Mas eu demorei para seguir o exemplo dela, demorei para ser forte o suficiente para sacrificar o que eu mais queria, por um bem maior. Eu precisei deixar de ser sonhadora e começar a andar com os pés no chão para conseguir ser como ela.

Às vezes me sinto culpada por ter escondido tantas coisas da minha mãe, sabe? Por ter escondido sobre os bullyings que sofria, sobre as dores que sentia e sobre o Henry…

Henry… quando o conheci ele representava para mim o primeiro amor adolescente, aquele bobo, aquele que nos deixa tímida e nos faz ter imaginações bobas de casamento. Aquele amor inocente que nos faz escrever cartas de amor que nunca teríamos coragem de entregar.

Era uma coisa muito inocente sabe, e eu acho que não precisava ter chegado até onde chegou se eu tivesse percebido isso antes, que Henry era apenas uma fantasia adolescente que deveria ser deixada para trás.

Naquela época, quando nos conhecemos, eu não tinha muita noção de diferenças de classe, não tinha noção que as nossas diferenças seriam tão evidentes, tão gritantes e tão marcantes em nossas vidas.

Eu não era a garota mais bonita da escola, não era a amiga da mais bonita, não era a nerd, eu não me encaixava em nenhum padrão exatamente. Eu era o estranho no ninho, o patinho cinza no meio dos patinhos amarelinhos.

Ninguém queria ficar perto de mim, as pessoas só queriam rir da minha cara. Rir de como eu andava por causa dismetria dos meus membros inferiores, rir porque eu sempre me sujava por não conseguir comer direito com o aparelho ortodônticos ridículo que eu usava, rir porque meus movimentos eram robotizados e lentos por causa do meu colete ortopédico. Riam porque eu era pobre.

Eu nasci com algumas más formações, coisas que poderiam ser concertadas com cirurgias, mas como minha mãe não tinha condições de pagar, o que me restava era fazer tratamentos e fisioterapia.

Por isso, ainda na adolescência eu precisava usar aquelas coisas. A minha mãe sempre que recebia o salário, se sentava comigo me pedindo para ajudá-la a fazer as contas de tudo que deveríamos pagar e quando sobrava alguma coisa, ela comemorava dizendo que aquele mês a gente conseguiria colocar mais um pouco na poupança.

Me lembro disso com alegria, porque adorava ver o sorriso da minha mãe e ela sempre me lembrava que mesmo nas adversidades eu deveria continuar sorrindo.

Levei isso comigo por um bom tempo, mas acabei perdendo depois do Henry.

A nossa história começou porque eu me sentia muito excluída e Henry era o único menino que me olhava. Ele nunca falava comigo, mas quase sempre eu o via escondido me olhando.

Eu pensava que ele gostava de mim e isso era como um sonho, ser admirada por alguém. Com isso, fui criando fantasias quanto a ele.

No dia do acidente, quando ele me salvou, para minha mente adolescente era a confirmação de que ele me amava. Quem arriscaria sua vida por alguém que não gostava?

E foi assim que acabei ficando presa a ele e nada foi como eu imaginava.

No início eu cuidava dele por pura culpa, a minha falta de locomoção machucou o único garoto que eu acreditava gostar de mim.

Mesmo que ele me dissesse coisas que machucavam, eu o ignorava, pensando que era normal que ficasse revoltado, pois diferente de mim que estava acostumada a ter dificuldades, ele nunca teve dificuldades na vida.

E eu sentia muita pena dele, ele não tinha o que eu tinha, uma pessoa maravilhosa como a minha mãe para fazer tudo por mim.

A cegueira de Henry poderia ser revertida, eu cheguei a pedir ao pai dele para pagar a cirurgia, mas ele disse que era para deixar a madrasta dele resolver, já que supostamente ela fazia tudo para cuidar do Henry. O que era uma mentira deslavada. Todos naquela casa sabiam que por ela, Henry teria até morrido, mas ninguém falava nada por medo. Até eu tinha medo, não podia colocar em risco o emprego da minha mãe.

O Henry só tinha o pai dele e este, quase não aparecia em casa, ele sempre dizia que estava muito ocupado, muitíssimo ocupado.

E foi assim que sem perceber, me tornei a muleta do meu ex marido. Eu fazia tudo por ele e quanto mais o tempo passava eu fazia mais.

A minha mãe conseguiu cumprir sua missão de vida, ela conseguiu juntar dinheiro o suficiente para eu fazer as cirurgias que eu necessitava para me consertar.

Então com o tempo eu não precisava mais usar o sapatos ortopédicos, o colete cervical e nem os aparelhos. Isso me deu um alívio, porque era muito difícil cuidar do Henry tendo dificuldade de locomoção.

De garota, me tornei mulher ao lado dele, nós dois estávamos presos um ao outro e cuidar do Henry não era nada fácil.

Mas o que mais me cansava nessa rotina, era ouvir sempre de sua boca palavras de desprezo. Nem dizer obrigado ele dizia.

Quanto mais o tempo passava, minhas fantasias quanto a ele eram destruídas. Quanto mais o tempo passava eu me tornava mais cansada.

Quando percebi, às vezes me pegava chorando à noite, pedindo a Deus uma solução para tudo aquilo. Eu amava Henry, mas comecei a pensar que talvez, não éramos feitos um para o outro e que o melhor era seguirmos nossos destinos separados.

Mas como eu podia abandona-lo se ele se tornou tão dependente de mim? Como poderia abandona-lo sabendo que assim que eu fosse embora, a madrasta dele poderia dar um jeito de sumir com ele?

E foi um dia que do nada as soluções para as minhas preces apareceu, em um dia eu conheci alguém que estava disposto a me ajudar.

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Comments

joelma silva

joelma silva

e agora conheceremos a história de camille ela sofreu muito tadinha 🥹

2024-06-19

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Eronilde Sousa

Eronilde Sousa

na vida é assim muitas vezes nos tornamos muleta de alguém sem nem mesmo perceber

2025-01-08

0

Ana Carvalho

Ana Carvalho

Já li essa história e estou repetindo a leitura. Adoreiiiii ♥️

2025-02-03

0

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