#19 - Entre Ligações e Desentendimentos

...> Manuela <...

Domingo... 🗓

Acordo e, assim que pego o telefone, vejo inúmeras chamadas perdidas de Raphael.

Fico sem acreditar na cara de pau que ele teve em me ligar. E ainda por cima deixou uma mensagem, que nem me dou o trabalho de ler.

Bloqueio seu contato, e levanto para fazer minhas higienes matinais.

Estou terminando o café, quando Max aparece.

Max – Bom dia. – Ele fala, abrindo um enorme sorriso, e isso faz com que eu me esqueça completamente de tudo.

Manuela – Bom dia. – Respondo, retribuindo o seu sorriso. – Achei que havia saído.

Max – Só fui treinar um pouco.

Manuela – Você não tira um dia sequer de descanso. Acho que se deixar de ir à academia um dia, não vai fazer muita diferença.

Max – É o costume. – Ele fala, meio sem jeito.

Manuela – Ok, não estou julgando. E já que chegou, me ajuda levando isso até a mesa. – Digo, lhe entregando um cesto com torradas e uma jarra com suco.

Max – Você quem manda. – Ele fala, deixando a cozinha, logo após pegar as coisas de minhas mãos.

...☆☆☆☆☆☆☆...

Tomamos nosso café, e, quando está perto da hora do almoço, Max aparece na biblioteca, onde estou fazendo um de meus hobbies favoritos, que é ler. Adoro esse passatempo.

Max – O que acha de sairmos para almoçar? – Ele é tão direto que me pego surpresa com o seu convite. Se ele tivesse me feito esse convite há dois dias atrás, a resposta seria não, ou alguma desculpa. Mas agora estou solteira, e, mesmo que ele não saiba, não vejo por que não aceitar.

Manuela – Uma excelente ideia, tem um restaurante de que falam muito bem e que gostaria muito de conhecer. – Digo animadamente, e acho que Max fica surpreso com minha empolgação. Lhe informo o nome, e Max se retira, avisando que irá ligar para fazer a reserva. Assim que ele sai, fecho meu livro e vou até o quarto escolher uma roupa e me arrumar.

Assim que saio do banho, vou até a sala, a fim de comunicar a Max que vou demorar um pouco, já que ainda preciso secar meu cabelo.

– Max, eu... – Paro de falar, assim que vejo meu telefone em seu ouvido.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

...> Max <...

Devo confessar que fico bem surpreso quando Manu aceita o meu convite para almoçarmos fora. E, por mais que saiba que seja errado convidar uma garota comprometida para sair, isso não me incomoda nem um pouco, ainda mais depois de ver toda a sua empolgação. Devo confessar que imaginava que ela fosse inventar alguma desculpa, como nas muitas vezes em que a chamei para jantar, depois de buscá-la no trabalho. Mas dessa vez não. Ela concordou sem nenhum tipo de relutância, e fico me perguntando se isso talvez possa significar algo.

Manu está no banheiro e aguardo pronto na sala. Tentei não me arrumar muito para não parecer um encontro. Sento-me no sofá e assisto um pouco de TV enquanto a espero. Escuto o som do toque do seu telefone, que está na mesa de centro da sala. Ignoro a primeira tentativa da pessoa, depois a segunda, e após a sétima tentativa, começo a imaginar que possa ser algo importante, talvez até uma notícia ruim, pela insistência da pessoa. Pego o seu telefone em minhas mãos, olho o identificador e vejo que o número não está salvo. Pondero um pouco sobre o que fazer, antes de levar o aparelho até meu ouvido.

*▪︎*Cell 📱

Max – Alô? – Digo assim que atendo, e a pessoa permanece em silêncio do outro lado da linha.

Desconhecido – Quem está falando?

Max – Amigo, quem está ligando é você. Eu é que devia estar perguntando isso.

Desconhecido – Não é possível. – Ele ri do outro lado da linha, e é um sorriso totalmente sarcástico. – Onde está Manuela? – E só nesse momento entendo de quem se trata. É o namorado, é o namorado dela. "Merda." Penso. E, como se não pudesse piorar, Manu surge na sala.

Manuela – Max, eu... – Ela para de falar assim que vê seu telefone em meu ouvido, e me encara com aquele olhar de surpresa, pouco depois de perguntar:

– O que você está fazendo?

Raphael – Passa o telefone para Manuela agora! – Ele berra do outro lado da linha.

Max – Não é nada do que você está pensando. – Me justifico, tentando defendê-la.

Raphael – E você por acaso sabe o que estou pensando? – Ele retruca furioso.

Manuela – Max, com quem você está falando? – Ela me encara com um olhar furioso, e nesse momento sei que estou muito ferrado. A pressão no peito aumenta, uma mistura de arrependimento e confusão.

Manu não espera que eu responda, já que não o faço. Simplesmente toma seu telefone de minha mão, furiosa, e o leva até o seu ouvido. Eu fico esperando que ela comece a se justificar, mas, ao invés disso, ela pergunta:

– O que você quer? – Por mais que ela se afaste, consigo nitidamente ouvir suas respostas seguintes:

– "Não, não vejo o que explicar."

– "Porque eu quis."

– "Pense o que quiser, eu não me importo."

– "Não temos nada para conversar, não me liga mais." – Ela diz, pouco antes de encerrar a ligação. E fico atônito, sem entender nada. Me questiono sobre diversas possibilidades. Que nem noto quando Manu para em minha frente, até ela começar a gritar.

– Quem você pensa que é para atender o meu telefone? – Ela parece furiosa, e uma onda de culpa e frustração me invade. Eu não queria que fosse assim.

Max – Eu só...

Manuela – Você só o quê, Max? – Ela pergunta, jogando a mão ao ar, visivelmente irritada.

Max – Achei que poderia ser importante, a pessoa estava insistindo bastante, e...

Manuela – Não interessa, você devia ter me informado.

Max – Mas você estava no banho, e eu só estava tentando ajudar. Imaginei que fosse alguma notícia ruim, não sei. Juro que não fiz por mal. – Minha justificativa sai mais como uma súplica. Não sei o que mais dizer para apaziguar a situação.

– Eu sinto muito, sinto muito de verdade, Manu. Sei que tem toda razão para estar chateada.

Manuela – Muita razão. Você não me vê atendendo o seu telefone. – Ela bufa, ainda visivelmente irritada.

– Não somos tão íntimos assim para você se achar nesse direito. Quer saber de uma coisa? – Ela pergunta furiosa, e o tom de sua voz é um golpe para mim.

– Não estou com cabeça para ir a lugar algum com você. – Ela simplesmente me dá as costas, prestes a ir para seu quarto.

Max – Vocês terminaram? – Fico tão surpreso quanto ela com minha pergunta. É algo totalmente inesperado, e, quando percebo, as palavras já saíram.

Manu para no meio do caminho, nem se dando ao trabalho de me olhar, e a única resposta que recebo dela é:

Manuela – Não é da sua conta.

Max – Ok. – É tudo o que digo, a deixando seguir para seu quarto. Estou magoado, frustrado e irritado ao mesmo tempo. Realmente achei que nossa amizade fosse mais do que isso, e não entendo por que ela não me contou. Por que ela esconderia isso de mim?

Uma das muitas coisas que passam pela minha cabeça, além de "A quanto tempo isso aconteceu?" e: "Será que eu fui o responsável?" Mas logo tiro essa ideia da cabeça, pois, pelo jeito que ela falou com ele, a história vai muito além disso.

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