#17 - O Último Ato da Ilusão

...> Manuela <...

🔵 Parte 2

Rebato todas as suas ideias, e acho que deve estar bem nítido que não gosto nem um pouco dela. Ainda mais agora que sei exatamente de quem se trata.

Manuela – Não acho que uma autobiografia sua tenha qualquer impacto sobre a sociedade – sou bem franca, e ela me olha com total desprezo.

Acho que Raphael também fica surpreso com minhas palavras, porque, depois de permanecer em silêncio a conversa toda, ele me encara furioso e começa a falar.

Raphael – Acho que uma mera assistente editorial não saberia dizer isso. Minha noiva tem, sim, bastante potencial. E, apesar de vir de uma boa família, é capaz de impactar a sociedade com sua história.

Chloe – Não precisa me defender, amor – Chloe sorri em agradecimento antes de continuar.

Ela finge puxar algo da memória e então me encara com desdém.

– É... Qual é mesmo o seu nome?

Manuela – Manuela.

Chloe – Ah, sim. Então, Manuela, serei direta. Existem diversas editoras dispostas a publicar minha autobiografia. Só procurei vocês porque são os melhores da cidade. E, pelo visto, você deve conhecer o meu pai, Frederico Sevigny. Por isso está dizendo essas coisas.

Só quando ela diz seu sobrenome entendo perfeitamente o motivo de Raphael ter se aproximado dela. E o verdadeiro motivo de seu noivado. Chloe é filha do seu chefe.

Encaro Raphael, e ele abaixa a cabeça, incapaz de manter meu olhar. Ele sabe que entendi tudo.

– Mas, apesar do grande peso do meu nome, preferi me apresentar pelo sobrenome da minha mãe. Não quero nenhum tipo de tratamento especial. E se pessoas mais experientes, como Charles Givens – ela cita o nome do nosso CEO, que, por sinal, é um grande amigo de seu pai – me disserem a mesma coisa, aí sim, acreditarei nessas palavras.

Para minha surpresa, Georgina se manifesta:

Georgina – Acredito no julgamento de Manuela. Acho difícil as pessoas levarem fé em alguém que nunca conquistou nada sem a ajuda do pai.

Chloe a encara, mas Georgina segue firme:

– Bom, mas veremos o que o meu chefe vai achar disso. Se ele concordar em publicar sua autobiografia, não vejo problema algum. Estamos aqui apenas para fazer nosso trabalho e dar uma opinião sincera sobre o potencial da sua obra.

Ela olha para mim e depois para Chloe.

– Acho melhor darmos esta reunião por encerrada.

O alívio que sinto quando ela pede a conta é quase palpável.

Chloe – Ah, por favor, deixa que eu pago. Este restaurante é caríssimo. É o mínimo que posso fazer por vocês – Chloe sorri com falsa generosidade.

Georgina – Não vejo necessidade – Georgina responde, pegando o cartão da empresa na bolsa e pagando a conta.

Levanto-me e forço um sorriso sarcástico.

Manuela – Bom, foi um prazer te conhecer, senhorita Sevigny.

Chloe – Igualmente – Chloe diz, sem sequer se dar ao trabalho de levantar.

Georgina também se despede, e por fim deixamos o restaurante.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

Assim que entramos no carro, Georgina me encara.

Georgina – Como você está?

Manuela – Eu estou bem, não precisa se preocupar – digo, tentando tranquilizá-la.

Ela suspira e balança a cabeça.

Georgina – Devo confessar que estou bastante impressionada com você. Apesar das alfinetadas, se controlou perfeitamente.

Dou de ombros, olhando pela janela.

Manuela – Pois é. Existem pessoas que só merecem nosso desprezo como resposta.

Ela suspira, indignada.

Georgina – Ainda não acredito que Raphael foi capaz de te trair. E o pior de tudo é que você estava super sentida só por causa de um beijo. Meu Deus! Ele está noivo há dois anos! Pelo que Chloe disse antes de você voltar do banheiro, o idiota está te enganando esse tempo todo. – Ela grita, furiosa.

Manuela – Obrigada por me contar. Mas o mundo não precisa saber por quanto tempo eu fui corna.

Georgina – Ok, ok... Só que é inacreditável! Aquele idiota deve ter se formado em teatro na faculdade, porque nem de longe eu acharia que ele fosse capaz disso! Ele sempre foi amável, e, apesar de se verem pouco, te mimava sempre que ia te visitar.

Solto uma risada amarga.

Manuela – Isso se chama dissimulação. Ele é um traidor fingido. Filho da... – Me contenho no último segundo.

Droga. Me sinto mal por xingar a mãe dele.

– Ele é um escroto desgraçado – me corrijo.

Georgina aperta o volante com força.

Georgina – O que pretende fazer agora?

Suspiro.

Manuela – Nada. Tudo que eu quero no momento é manter o máximo de distância dele. Sinto repulsa só de pensar que perdi tanto tempo com aquele idiota.

Aperto as mãos no colo, sentindo a fúria crescer.

– Sinto um ódio imenso por ele ter sido o primeiro homem da minha vida.

Ela me lança um olhar pesaroso, mas não digo mais nada. O nó na minha garganta já é grande o suficiente.

– Sabe o que me deixa curiosa? – Solto uma gargalhada sem humor. – Como ele ia fazer para morar comigo e ao mesmo tempo com ela? Talvez inventasse desculpas de viagem, como sempre fez.

Georgina – Você não devia pensar nisso. Pelo menos descobriu a tempo. Já imaginou se fosse considerada a amante dele?

Fecho os olhos, enojada.

Manuela – Nem me lembre disso – resmungo.

Georgina – Vamos parar de falar desse babaca. Ele não merece – ela decreta.

Manuela – Realmente. Ele não merece.

Ela relaxa os ombros e muda de assunto.

Georgina – Ainda temos um tempinho. Se quiser, podemos dar uma passada no bar.

Balanço a cabeça.

Manuela – Não, eu não quero. Vamos para casa.

Ela me encara por um instante e depois sorri de canto.

Georgina – Falando em casa, agora que as coisas acabaram de vez com... você sabe quem, o seu Narciso pode ter uma chance.

Meu coração dispara.

– E nada melhor do que curar um amor com outro mais forte.

Max.

Ele surge na minha mente, e o aperto no meu peito se intensifica. O que sinto por ele não chega nem perto do que já senti por Raphael. É muito mais profundo. Mais intenso.

Mas não.

Não quero criar falsas expectativas em algo que é incerto. Ainda mais porque ele vai embora daqui a uma semana. Chega de Relacionamentos à distância. Chega de relacionamentos por enquanto.

Manuela – Não inventa coisa, Georgina. E, por favor, não comenta nada sobre o que aconteceu hoje no apartamento. Não quero que ele saiba que meu relacionamento com Raphael acabou. Pelo menos por enquanto.

Ela revira os olhos, mas assente.

Georgina – Ok, como quiser.

Solto um suspiro e encosto a cabeça no banco.

Pelo menos por enquanto.

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