#18 - Poder e Possessão

...> Chloe <...

Chego furiosa em meu apartamento, os passos apressados ecoando pelo chão de mármore. Quem aquela vadia pensa que é? Pelo visto, Harper encheu a cabeça dela de ideias ruins ao meu respeito.

Chloe – Vadia miserável! – Grito, sentindo o sangue ferver em minhas veias.

Raphael se aproxima rapidamente e me envolve em seus braços, tentando me acalmar.

Raphael – Calma, meu amor. Não se deixe abater por meras funcionárias que não entendem de nada – ele murmura, acariciando meus cabelos.

Mas eu não consigo me acalmar. Minha mente está em chamas com o que aconteceu naquela reunião ridícula. O atrevimento daquela mulher me deixa possessa.

Ele suspira e olha nos meus olhos com um semblante preocupado.

– Olha, eu não quis dizer nada no restaurante para não deixar a situação mais agitada do que já estava.

Ele faz uma breve pausa antes de continuar.

– Mas você lembra da namorada que eu comentei com você? Aquela que está fazendo de tudo para reatar comigo?

Franzo o cenho, intrigada por ele trazer esse assunto à tona. Claro que lembro. A tal mulher obcecada que ele dizia que queria persegui-lo até aqui.

Usei toda a influência do meu pai para garantir que ela não fosse contratada em nenhum lugar da cidade. Não poderia permitir que uma lunática sem noção estragasse o que eu e Raphael construímos.

Qual era mesmo o nome dela?

Assim que a lembrança vem, meu estômago revira, e os pontos começam a se ligar.

Chloe – É a mesma Manuela de quem você me falou? – Minha voz sai afiada, carregada de desconfiança.

Ele assente lentamente.

Raphael – Exatamente. Tudo que ela fez hoje foi por puro despeito. Então, não considere nada que tenha saído da boca dela e nada do que possa sair futuramente. Ela é completamente louca.

Sinto um arrepio de fúria percorrer minha espinha. A peça se encaixa perfeitamente.

Chloe – Agora que você falou, entendi tudo! – Minha voz sobe, tomada por indignação. – A vi te encarando diversas vezes! Vadia dissimulada! – Grito, mais furiosa do que quando cheguei.

Ele segura meu rosto entre as mãos, tentando me acalmar.

Raphael – Não falei isso para te estressar ainda mais. Tudo que quero é que você se tranquilize.

Mas eu não consigo. Não vou.

Chloe – Não! Eu só vou ficar tranquila quando aquela vaca for demitida! – Cuspo as palavras, tomada pelo ódio. – Pode escrever o que estou dizendo: amanhã mesmo garanto que ela perca o emprego!

A expressão de Raphael se suaviza, e ele sorri, como se soubesse exatamente o que dizer para me fazer mudar de ideia.

Raphael – Amor, você é melhor do que isso. Não vejo motivo para tomar tal atitude. Apenas deixe bem clara a sua posição. Ela não é ninguém comparada a você.

Paro por um instante, absorvendo suas palavras. Ele desliza os dedos pelo meu braço e continua, a voz sedosa e envolvente.

– E por mais que ela tente, eu jamais te largaria por alguém tão insignificante.

E ele está certo.

Por que demiti-la se posso fazer algo muito pior?

Se posso infernizar a vida dela?

Ela não quis vir para a minha cidade me afrontar? Então, vou mostrar a ela quem realmente manda. Vou mostrar o quão desprezível e suja alguém como ela é.

Vou acabar com a carreira dela.

E, quando eu terminar, a única opção que ela terá será voltar para o muquifo imundo de onde saiu.

Olhe e aprenda, Manuela.

O jogo começou.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

...> Raphael <...

Assim que Chloe pega no sono, saio da cama em silêncio, movido pela necessidade de ligar para Manuela. Meu coração martela no peito, minhas mãos suam enquanto encaro o celular. Pondero por longos minutos, tentando criar coragem.

Mas não consigo.

Só espero que ela não tenha contado nada à minha família. Para eles, ela ainda é minha namorada, e a última coisa que quero é que descubram a verdade assim, de forma tão abrupta. Droga! Odeio que Manuela tenha descoberto tudo desse jeito. Odeio mais ainda a possibilidade de que ela estrague os meus planos.

Mas fui esperto.

Consegui fazer com que Chloe a odiasse o suficiente para não acreditar em nenhuma palavra que ela diga. Isso já é uma grande vantagem. Espero que permitir que ela continue no emprego seja o bastante para silenciá-la.

Mesmo assim, não consigo me livrar dessa inquietação.

Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, isso poderia acontecer. Mas não assim. Não desse jeito.

A expressão de Georgina quando cheguei ao restaurante disse tudo. O desprezo em seu olhar me atingiu em cheio, e, para ser sincero, foi merecido. Mas... ainda assim, esperava mais.

Um escândalo, talvez.

Manuela sempre disse que me amava. Sempre falou com tanta certeza... e, no entanto, sua reação foi contida. Pequena. Isso me intriga.

Ok, nos últimos dias ela parecia diferente. Estranha. Dizia que precisava conversar comigo assim que eu voltasse. Mas não parecia uma conversa de término. Muito pelo contrário. Ela estava amorosa. Carinhosa.

Droga! – Me dou conta, sentindo o estômago afundar.

Eu devia ter pensado nisso antes.

E se ela estiver grávida?

Não. Não pode ser.

Se for verdade, estou ferrado. Completamente ferrado.

Sinto meu peito apertar com essa possibilidade. Essa ideia toma conta da minha mente, e, antes que perceba, já estou apertando o botão de chamada.

Uma. Duas. Três vezes.

Ela não atende.

Tento de novo. E de novo.

Nada.

Maldição!

Respiro fundo, tentando me acalmar. Preciso encontrar um jeito de falar com ela. Sozinhos. Sem ninguém por perto. Mas sei que, depois do que aconteceu, isso não vai ser fácil.

Mesmo assim, não posso desistir.

Com um nó na garganta, deixo uma mensagem e, sem outra opção, volto para a cama.

Mas o sono não vem.

...☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆☆...

...> Max <...

Fico surpreso quando Manu e Georgina retornam antes do esperado. E, pela expressão no rosto das duas, o jantar não parece ter corrido nada bem.

Max — Voltaram cedo. Como foi o jantar? — pergunto, tentando captar alguma pista na linguagem corporal delas.

Georgina — Nada bem — responde Georgina de imediato, confirmando minhas suspeitas.

Ao ouvir isso, Manuela a encara, e, no mesmo instante, ela se corrige:

— Bom... Quer dizer... Não tão bem como gostaríamos.

Manu desvia o olhar e, depois de um breve silêncio, pergunta:

Manuela — Onde está Ed?

Max — Acabou pegando no sono, então eu o coloquei no meu quarto — respondo.

Manuela — Você colocou ele onde? — A surpresa dela é evidente.

Max — No meu quarto. Por quê?

Manuela — Nada — diz, rápida demais. Mas eu sei exatamente o motivo da surpresa. Pedi a Harper que a informasse sobre as regras da casa, e uma delas era essa. Mas, pensando bem, essas regras não se aplicam nem um pouco a ela.

— Pelo visto, vocês se divertiram muito — comenta, mudando de assunto, seus olhos passeando pelo videogame ligado e pela caixa de pizza largada na mesa de centro.

Max — Pois é, bastante — confirmo, sentindo uma satisfação inesperada ao lembrar da noite com Ed. — Ele é exatamente como você disse: um menino adorável e muito esperto, por sinal.

Ela me encara por alguns segundos. Há algo naquele olhar que me desconcerta, mas, por mais que tente, não consigo decifrá-lo.

Georgina — Bem, já está ficando tarde, então não vou tomar mais o seu tempo — diz Georgina, quebrando o momento. — Você deve estar cansado. Na verdade, os dois devem estar — acrescenta, olhando para Manu, que apenas assente.

Vou até o quarto e volto com Ed adormecido em meu colo.

— Pode me dar ele — pede Georgina, abrindo os braços para pegá-lo.

Max — Não, pode deixar. Eu te ajudo a colocá-lo no carro — digo.

Acompanho Georgina até o estacionamento. Com cuidado, acomodo Ed no banco traseiro do carro.

Georgina — Mais uma vez, obrigada por Tudo. Você me salvou — Ela sorri.

Max — Não foi nada. Você tem um filho adorável. Quando precisar, pode contar comigo.

Georgina — É uma proposta tentadora, mas acho que não devo abusar da sua boa vontade — brinca, antes de agradecer novamente e dar partida no carro.

...☆☆☆☆☆☆☆☆...

Quando volto ao apartamento, Manuela não está na sala. Alguns minutos depois, escuto a porta do banheiro se abrindo e, em seguida, a do seu quarto se fechando.

Não há muito o que fazer além de seguir o exemplo dela e ir dormir.

Assim que entro no meu quarto, meu celular vibra com uma notificação. O nome Manu aparece na tela. Abro imediatAmente.

Mensagem ( WhatsApp) 📨

📥 Manuela: Estou um pouco cansada, me desculpe por não ter lhe dado boa noite. Mais uma vez, muito obrigada por hoje. Bjs, bons sonhos.

Sorrio involuntariamente ao ler sua mensagem. Há algo de íntimo, de reconfortante naquela simPlicidade. Algo que aquece um canto dentro de mim que eu nem sabia que estava frio.

Após respondê-la, me deito, ainda com aquele sorriso preso no rosto.

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