Ao retornar ao quarto, meu coração ainda batia descompassado. A sensação de desamparo que me envolvia era quase tangível, e a presença constante de Jony, que me escoltava de volta, só intensificava meu desconforto. Ele mantinha uma distância calculada, porém, seus olhos não se desviavam de mim nem por um segundo.
No quarto, o aroma da comida recém-preparada invadia o espaço. Vivi havia trazido a refeição, junto com um vinho que, segundo Lilith, vinha da Rússia. Sentei-me à mesa pequena que havia no canto, onde a comida foi disposta de maneira quase cerimonial. O prato, apesar de simples, era reconfortante e trazia um vislumbre de normalidade a uma situação completamente absurda.
Com a primeira mordida, a tensão em meus ombros diminuiu ligeiramente. Vivi tinha razão, o purê de queijo e a carne eram divinos, uma distração bem-vinda do caos interno que me consumia. Olhei para Jony, que permanecia em pé ao lado da porta, uma figura imponente e silenciosa.
- Pode sentar, se quiser - disse eu, tentando estabelecer algum tipo de comunicação.
Ele apenas balançou a cabeça em negação. Claramente, seus deveres como meu guarda eram mais importantes do que qualquer tentativa de cordialidade. Suspirei, voltando minha atenção para a comida. Cada garfada era um esforço consciente para manter a calma e a racionalidade.
Enquanto comia, minha mente vagava pelas palavras de Lilith. Ela havia mencionado que eu estaria segura se seguisse suas ordens e as de George. A sensação de ser uma marionete nas mãos de pessoas desconhecidas era aterradora.
Após a refeição, levantei-me da mesa, pegando a taça de vinho. Caminhei até a janela, observando o mundo lá fora. Estava no terceiro andar, um salto que, apesar de arriscado, parecia mais atraente do que ficar ali, à mercê dos caprichos de Lilith.
- Não adianta pensar nisso - a voz de Jony quebrou o silêncio, como se lesse meus pensamentos. - É perigoso demais.
Olhei para ele, surpresa. Era a primeira vez que se dirigia a mim de forma voluntária desde que me trouxeram para cá.
- Por que estão fazendo isso comigo? - perguntei, minha voz tremendo. - O que querem de mim?
Ele permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos fixos nos meus. Finalmente, respondeu:
- Não cabe a mim explicar. Apenas siga as ordens e tudo ficará bem. Isso também se aplica para mim.
Voltei a olhar para a janela, sentindo as lágrimas se acumularem novamente. Estava cansada de me sentir impotente, mas não havia outra escolha a não ser aguardar. Talvez, com o tempo, as respostas viriam.
A noite avançava e Jony continuava em seu posto, porém, agora do lado de fora do quarto. Me deitei na cama, a mente fervilhando com perguntas não respondidas. Lilith havia mencionado Abigail e Bia, nomes que evocavam uma mistura de conforto e preocupação.
Fechei os olhos, tentando encontrar algum resquício de paz no caos que era agora minha vida.
-Queria tomar banho. pensei alto_
O cansaço eventualmente me venceu, e caí em um sono inquieto, repleto de sonhos perturbadores e fragmentados.
Pela manhã, fui acordada pelo som suave de batidas na porta. Jony a abriu, revelando Vivi com uma bandeja de café da manhã. Havia algo reconfortante em sua presença, talvez porque ela era a única ali que mostrava alguma gentileza.
- Bom dia, Afrodite - disse ela, colocando a bandeja sobre a mesa. - Trouxe seu café da manhã.
- Obrigada - murmurei, tentando sorrir.
- George deseja vê-la hoje - continuou ela, a expressão séria. - Ele explicará algumas coisas.
Um frio percorreu minha espinha. Finalmente, teria algumas respostas, mas o que elas trariam?
Comi meu café da manhã em silêncio, cada garfada pesada com a antecipação do encontro. O que quer que viesse a seguir, sabia que mudaria tudo. E precisava estar preparada para enfrentar a verdade, por mais sombria que fosse.
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Atualizado até capítulo 55
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