Acordei com a luz suave da manhã filtrando-se pelas cortinas. O quarto era silencioso, exceto pelo suave som do meu próprio respirar. Passei alguns minutos deitada, tentando processar os acontecimentos recentes. Não era um sonho. Estava realmente presa naquele lugar, sob o comando de Lilith.
Levantei-me devagar, sentindo o peso da realidade cair sobre meus ombros. Minhas coisas haviam chegado no dia anterior, e agora estavam espalhadas pelo quarto. Decidi que arrumá-las talvez me ajudasse a sentir um pouco mais de controle sobre a situação. Comecei a organizar minhas roupas no armário, dobrando cada peça com cuidado. Meus livros estavam empilhados em uma das malas, e ao vê-los, senti uma pontada de nostalgia. Ler sempre fora meu refúgio, uma forma de escapar para mundos diferentes, e agora eu estava desesperadamente precisando dessa fuga.
Enquanto organizava minhas coisas, meus pensamentos vagavam. Como eu havia acabado ali? O que Lilith realmente queria de mim? O medo estava sempre presente, um companheiro constante desde o momento em que fui sequestrada. Havia uma incerteza esmagadora em tudo, e eu me sentia impotente, presa em um jogo cujas regras não compreendia completamente.
Após arrumar tudo, sentei-me na cama, abraçando um dos meus livros contra o peito. Precisava de um pouco de ar, de um pouco de movimento. Decidi que pediria a Jony para me deixar dar um passeio pela casa. Talvez isso ajudasse a aliviar a sensação de claustrofobia que começava a se instalar.
Fui até a porta e, com um pouco de hesitação, abri-a. Encontrei Jony no corredor, sempre presente, sempre vigilante.
- Jony, eu... eu gostaria de dar um passeio pela casa. Apenas para esticar as pernas e conhecer o lugar - pedi, tentando manter minha voz firme.
Jony me olhou por um momento, avaliando a situação. Ele parecia ponderar sobre minha solicitação antes de finalmente acenar.
- Vou perguntar a Lilith - disse ele, virando-se para ir falar com ela.
Antes de sair, Jony fechou a porta diante de mim e a trancou para que eu não escapasse, então, o esperei nervosamente. A resposta de Lilith parecia uma questão de vida ou morte naquele momento. Jony voltou uns minutos depois e abriu a porta para que pudesse falar comigo.
- Lilith disse que não - informou ele, sem rodeios. - Desculpe, mas não tens confiança para que a deixe sair.
Senti a decepção se abater sobre mim, mas não me surpreendeu. Lilith controlava cada aspecto de minha nova realidade. Respirei fundo, tentando manter a calma.
- Entendo - respondi, tentando esconder meu desânimo. - Existe alguma outra coisa que eu possa fazer? Talvez... ler? Eu gosto de ler, mas já li todos os meus livros, queria alguns novos para começar.
Jony pareceu ponderar por um momento antes de responder.
- Temos uma biblioteca aqui. Posso levá-la até lá, se quiser - sugeriu ele.
Meus olhos se iluminaram com a menção de uma biblioteca. Ler sempre fora minha paixão, e a ideia de me perder em um bom livro parecia a única forma de escapar, mesmo que momentaneamente, da minha situação.
- Eu adoraria isso - disse, com um leve sorriso.
Jony me guiou pelos corredores da casa, que eram amplos e elegantemente decorados, mas também carregavam um ar de opressão. Cada passo parecia ecoar minha prisão. Finalmente, chegamos à biblioteca. Era um espaço amplo, com estantes altas cheias de livros de todos os tipos. O cheiro de papel velho e madeira polida era reconfortante, quase familiar.
- Aqui está - disse Jony, abrindo a porta para mim. - Pode ficar aqui o tempo que quiser. Estarei do lado de fora, se precisar de algo.
- Obrigada, Jony - murmurei, entrando na sala.
A biblioteca era um verdadeiro santuário. Caminhei lentamente pelas estantes, passando os dedos pelos lombos dos livros, sentindo a textura e absorvendo o ambiente. Peguei um volume de poesias e me sentei em uma poltrona confortável perto da janela. A luz do sol matinal criava um ambiente acolhedor e, por um momento, pude esquecer onde estava.
Comecei a ler, deixando as palavras me envolverem, oferecendo um breve alívio da minha realidade. Mas mesmo enquanto me perdia nas páginas, a presença de Lilith e a sombra do meu cativeiro nunca me abandonaram completamente. Sabia que estava andando na corda bamba, e um passo em falso poderia significar o fim.
Os pensamentos sobre minha situação voltavam de tempos em tempos, interrompendo minha leitura. O medo constante, a incerteza sobre o futuro, tudo isso formava um nó apertado no meu estômago. Mas me forcei a focar nas palavras, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao caos.
Depois de algumas horas, Jony entrou na biblioteca.
- Está tudo bem? - perguntou ele, a voz baixa.
- Sim, estou bem - respondi, fechando o livro. - Obrigada por me trazer aqui.
- Não há de quê. Se precisar de mais alguma coisa, estarei por perto - disse ele, antes de sair novamente.
Continuei lendo, deixando o tempo passar. Sabia que não podia fazer muito mais além de esperar e tentar me adaptar à minha nova realidade. Havia um longo caminho pela frente, cheio de incertezas e medos, mas naquele momento, na biblioteca, consegui encontrar um pouco de consolo.
Finalmente, decidi que era hora de voltar para o quarto. Fechei o livro e levantei-me, sentindo uma estranha mistura de alívio e apreensão. A vida sob o comando de Lilith era imprevisível, e eu sabia que precisava estar preparada para qualquer coisa.
Jony estava esperando do lado de fora da biblioteca e me acompanhou de volta ao quarto. Agradeci a ele mais uma vez antes de entrar e fechar a porta atrás de mim. Sentei-me na cama, segurando o livro no colo, e deixei meus pensamentos vagarem.
Sabia que precisaria de toda a força e coragem para enfrentar os desafios que viriam. E, por mais que o medo fosse uma constante em minha vida agora, eu estava determinada a encontrar uma forma de sobreviver e, quem sabe, um dia, escapar daquela situação. Por enquanto, tudo o que podia fazer era manter a cabeça erguida e me adaptar à nova realidade, um dia de cada vez.
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Atualizado até capítulo 55
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