CAPÍTULO 2

Desligo a televisão e decido ir tomar um banho, querendo relaxar após esse dia totalmente cansativo. Não gosto de ficar com muitas coisas na cabeça, e isso piora quando se tem todo um conglomerado para liderar. A minha sorte é que Noah quer dirigir toda essa parte, mas nossos pais só permitiram depois que ele terminar a faculdade, ou seja, daqui a quatro anos.

Deixo a água quente do chuveiro me deixar relaxar, mudando os meus pensamentos para o que Alexsandro falou, e então toda a minha memória se volta para seis anos atrás, onde eu tinha dezesseis anos e Alex vinte e dois, quando eu comecei a namorar com Rafael Lennox.

...Adentro a casa dos Capello, o ambiente está mais frio, e uma fita serpenteante de arrependimento percorre todo o meu corpo. A casa está em um silêncio ensurdecedor e parece não ter ninguém na residência, no entanto, logo sinto uma presença atrás de mim. Com cautela, me viro lentamente, e quando os meus olhos encaram o homem de cabelos e olhos escuros, meu corpo se alivia imediatamente....

...— Alex, o que você quer falar comigo?...

...Ele não responde, somente se aproxima de mim cada vez mais, até estar muito próximo e eu ter que levantar a cabeça para encará-lo, meu coração batendo muito rápido....

...— Por que ele, Bella?...

...— Como assim? Ele quem?...

...— Por que você escolheu Rafael Lennox a mim?...

...Desvio o olhar dele, dando um passo para trás. Não queria ter essa conversa com Alexsandro, principalmente porque eu sabia que ele agiria assim....

...— Alex, você tem vinte e dois anos e eu dezesseis, Rafael tem dezoito, se eu te escolhesse poderiam te acusar de pedofilia ou coisa muito pior. Não viu o que aconteceu com Theodoro?...

...Ele estreita o olhar, seus punhos se fecham e é possível ver as veias das suas mãos, eu não quero magoar ele, é meu melhor amigo, afinal....

...— Eu não me importo, Bella....

...— Mas eu me importo! Não quero causar problemas para você, principalmente porque parece que Mary quer algo com você. Ela é maior de idade, só é um anos mais velha que você, aceite-a, Alex. Não quero que você tenha as mesmas consequências que Theodoro e Daniella...

...Posso ver a briga interna dele no brilho dos seus olhos, e isso me dá uma enorme vontade de chorar, porém, tenho que ser firme....

...— Entenda, Bella, o seu avô materno era casado e traiu a esposa para ter a Michelle, e a sua avó paterna também era casada e traiu o Theodoro com um menino de dezessete anos, e após todo aquele alvoroço o verdadeiro pai do Dante revelou tudo. Eu não quero isso com você, eu quero ter um relacionamento contigo, não uma noite....

...Fecho os olhos lentamente, suspirando pesadamente....

...— Mesmo assim, Alex. Eu não o amo, eu amo o Rafael, sempre será ele....

...— O que você sente por ele não é amor e nunca vai ser, ele não é um homem digno para você, Diavoletta, entenda isso!...

...— Não, é você quem tem que entender que eu escolhi ele e aceitar isso!...

...Seus olhos estreitam e Alexsandro desvia o olhar do meu, encarando uma das paredes por alguns segundos, voltando a me fitar após se acalmar....

...— Vamos fazer um acordo, então? Se em algum momento no futuro ele te machucar tanto ao ponto de fazer você terminar com ele, eu ficarei sabendo, e quando isso acontecer, Bella, eu vou lidar com ele, porém, você terá que vir até mim e falar que eu estava certo, e então me usar para se curar....

...— Eu não quero te usar, Alex — interrompi....

...— Mas eu quero ser usado por você. Quero sentir como é ser seu, mesmo que seja somente passageiro. Não me importo de ser usado por você, Diavoletta, e tudo isso porque sei que quando me usar, você não vai me descartar. Pode ser?...

...Meu celular começa a tocar, e vejo que é uma ligação da minha mãe. Mando uma mensagem para Rachel me esperar fora da casa que eu já vou. Logo, olho no fundo dos olhos de Alex e respondo:...

...— Ok, pode ser....

Sento no canto do box, deixando que as lágrimas escorram pelos meus olhos. Eu deveria ter ouvido o Alexsandro naquela época, porém, fui muito ingênua e achava que somente eu estava certa. Meu irmão, Noah, também havia me alertado várias vezes por conta da fama de Lennox, e meus pais nunca gostaram dele, só aceitaram porque eu insisti muito.

A sensação de arrependimento continua a me envolver de uma forma avassaladora, que me fez me encolher ainda mais. Eu deveria ter notado tudo isso. Deveria ter achado estranho quando ele não me respondia, não atendia as minhas ligações e fazia pouco caso com o nosso relacionamento, e também pela forma como ele me tratava. Eu via que era muito diferente da forma que meu pai trata a minha mãe, todavia, me forcei a me enganar que era uma forma de amor, e no fim eu saí como a trouxa.

Limpo as minhas lágrimas, decidida a não chorar mais por Rafael, e então saio do chuveiro, vestindo uma camisa azul-marinho de gola alta e sem manga, junto com uma calça jeans preta wide leg e um tênis branco. A lua está radiante no céu, uma ótima oportunidade para uma caminhada.

Com o meu celular, saio de casa e pego o elevador, indo para o térreo e saindo do meu prédio, decidindo andar pelo parque mais próximo. Deixo que a brisa noturna me acalme e desvie a minha atenção do que está me deixando tão mal. Vejo as crianças brincando e me lembro da época em que eu e meu irmãos vivíamos brincando juntos, até que a responsabilidade da empresa nos fez parar.

Rachel brigou muito com o nosso pai por conta disso, afinal, queria que a gente aproveitasse a infância, e isso fez com que Dante cedesse e só voltasse a falar do assunto quando eu iria entrar na faculdade, e então fizemos a nossa escolha. Noah sempre mostrou interesse em assumir todo o conglomerado, já eu só queria duas empresas, então foi fácil resolver tudo.

Sempre sonhei em casar e ter filhos, pois cresci vendo o amor dos meus pais tanto com eles, quanto comigo e meu irmão. Queria uma vida dessa para mim também e acreditei que todos os homens eram perfeitos, mas estava errada. Meu pai parece ter sido tirado de um livro de quão perfeito ele é, e sei que nunca vou encontrar um mocinho de livro como ele.

— A não ser que você prefira o vilão, minha Diavoletta — Uma voz ecoa ao meu lado, me fazendo dar um sobressalto. Me viro para a direção da voz e vejo que é Alexsandro quem está na minha frente, e também percebo que falei a última parte em voz alta.

— Como assim o vilão?

— Estou falando de mim, amore mio. Se bem que Dante não pode ser enquadrado com um mocinho de um livro, só eu e minha família sabemos o que os meus padrinhos fazem.

— Do que você está falando?

— Você nunca notou?

Nego com a cabeça, me aproximando dele. Alex olha ao redor, parecendo verificar se não tinha ninguém que pudesse ouvir a nossa conversa, e então fica mais próximo de mim.

— Somos sócios, mas a minha família esconde um grande segredo junto com a sua. Meu pai era o chefe da máfia italiana e agora essa posição é minha. E então, o que me diz? Vai atrás de um mocinho ou vai aceitar o vilão, que talvez tenha acabado de matar o homem que destruiu o seu coração?

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