Jantar

— Ah, nossa, eu demorei muito, preciso ir! — Levanto da cadeira enquanto pego minha bolsa e olho no celular. Há diversas mensagens de mamãe, ela vai me matar!

— Passamos a tarde toda conversando, não posso te levar para jantar antes de ir para casa? — Ele levanta, se aproximando como se estivesse tentando me segurar ali por mais algum tempo.

— Ah... E-eu não sei. Nos conhecemos há pouco tempo então eu não sei se seria uma boa ideia.

— Poxa... — Ele fala enquanto põe a mão no coração como se estivesse magoado — Pareço um cara ruim?

— Não! Não é isso! É só que não quero parecer que estou dando em cima de você... Não que isso seja um problema, mas é que você é muito bonito e as mulheres não param de olhar para você e se eu estiver com você elas ficarão olhando para mim também, não quero ser um empecilho entre elas sendo que cheguei ontem na cidade.

— E qual o problema em ser um empecilho entre eu e elas? Você não é boa o suficiente para deixar outra mulher morrendo de ciúmes? — Ele provoca, parecendo achar engraçado enquanto tento me explicar, e acabo piorando ainda mais as coisas.

— Ares, eu não preciso dizer o que você já deve saber toda vez que se olha no espelho. Você é muito bonito e eu... eu sou isso! — Aponto para mim mesma e ele arqueia a sobrancelha.

— Você também é muito bonita, Bea. Não estou entendendo onde você quer chegar com isso.

— Só... — Suspiro — Esquece. — Coloco a bolsa no ombro e dou as costas.

Ares me segura pelo braço, virando-me de frente para ele, nossos rostos próximos, nossos corpos próximos um do outro...

— Desde o momento que te vi na lanchonete desejo sair com você, Bea — Sua mão acaricia um lado do meu rosto, seu toque quente me causa cócegas pela suavidade que ele me toca — Não me faça te sequestrar apenas para ter mais alguns minutos na sua presença.

— Me sequestraria? — Engulo em seco e ele ri, me soltando.

— Eu deixo essa parte para meu irmão. Ele costuma gostar de fazer as coisas pelo jeito mais sombrio.

Seu irmão sequestra pessoas? Foi o que desejei perguntar, mas entalei a pergunta no fundo do meu ser para não tornar a cena ainda mais constrangedora do que já estava sendo.

— Você não me respondeu ainda. Vai me dar a oportunidade de te levar para um jantar?

— Tudo bem, eu vou. Apenas vou avisar alguém antes de ir, tá? — Pego o celular da bolsa.

— Certo. Eu te espero.

Me afasto um pouco de onde ele está e ligo para mamãe, que não espera nem um minuto e já está me xingando.

📲 Bea, onde você está? Que merda você tem na cabeça de sair e não ter a decência de me mandar uma mensagem me avisando se estava bem?

📱 Me desculpa, mãe. Eu sei que deveria avisar, mas olha, eu estou bem e eu queria avisar que vou jantar fora.

📲 Jantar fora? Com quem?

Meus olhos vão até o ruivo que me encara de longe sorrindo. Meu coração acelera na hora.

📱 Conheci um amigo... Ele me chamou para jantar...

📲 Hum... Preciso te lembrar de usar camisinha caso ele te chame para casa dele?

📱 Mãe, nós não vamos fazer nada! E ele nunca ficaria com uma garota como eu.

De repente o sorriso que ele tanto esbanjava desapareceu. Parecia irritado, de mal humor. Quase como se estivesse escutando tudo que estou dizendo.

📲 Não seja boba, filha. Bom, aproveitem. Enquanto isso, ficarei aqui sozinha, solitária e sem ninguém.

Que drama...

📱 Maeee

📲 Tchau, tchau. Não me ligue mais hoje e caso volte pra casa com fome, ainda sobrará comida para você esquentar.

📱 Tá bom. Vou indo, beijos.

📲 Beijos.

Ando até ele enquanto guardo o celular na bolsa e ele cruza os braços enquanto me encara sério.

— Aconteceu alguma coisa, Ares? Você parece irritado.

— Não é nada, vamos. Vou te levar para um restaurante maravilhoso. Você com toda certeza vai achar ele encantador.

— Eu acredito que tudo que você escolha seja incrível. Esse restaurante certamente vai me surpreender bastante — Sorrio.

Fomos andando até esse restaurante. No caminho, conversamos sobre algumas coisas das nossas vidas sem entrar em muitos detalhes

, talvez ele não quisesse ser invasivo e talvez eu também não quisesse ser curiosa demais e acabar ultrapassando um certo limite da sua vida também.

O restaurante parecia uma enorme cápsula de cristal. Paredes chiques, mesas redondas e cadeiras com assentos confortáveis e acolchoados em tons azuis. Uma música instrumental sendo tocada de fundo, para deixar o clima ainda mais tranquilo e gostoso.

— Céus... Imagina comer nesse restaurante enquanto chove. Deve ser tão lindo... — Minha boca está aberta para cada detalhe que meus olhos enxergam de segundo a segundo.

— O restaurante abre apenas no final da tarde por motivos óbvios e eu imagino que já saiba qual é. Por ser teto de vidro, o sol com certeza fritaria uma pessoa aqui. Então é aberto nesse horário exatamente pelo motivo de observar o crepúsculo, o céu, as estrelas e um bom dia de chuva.

— Que incrível...

Ele puxa a cadeira para eu me sentar e em seguida se senta na minha frente, empurrando o cardápio para mim.

Quando abro, fecho na hora com o susto com os preços absurdos dos alimentos.

— Ares! Esquece, vamos embora — Ele não me deixa levantar.

— Se eu te trouxe aqui é porque tenho dinheiro para te pagar a comida mais cara que quiser, Bea.

— Mas é muito caro! Não posso te fazer gastar tanto.

— Eu estou gastando o mínimo. Isso não vai fazer diferença na minha conta bancária. Então apenas escolha seu prato ou eu escolherei o mais caro do menu de hoje para nós dois.

Eu aponto para um baratinho e ele revira os olhos, chamando o garçom que se aproxima rapidamente para atender.

— Me dê os melhores pratos de hoje com os acompanhamentos de sobremesa do dia.

— Ares...

— Chegará em breve, senhor — O homem se retira e o ruivo me encara sério.

— Eu disse que vou pagar, apenas coma e aproveite. Não é um pedido de um amigo, Bea. Eu estou mandando você comer tranquilamente, sem se preocupar com os custos. Coma.

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